Minha pele é clara, meu cabelo tem poucos cachos, meus olhos são castanhos escuros, mas eu sou negra. O tempo me fez perceber que raça não tem relação com cor de pele, mas com postura, com cultura, com ideologia. Meu sonho de menina era ter uma cor escura na pele. Minha mãe é negra, minhas melhores amigas são negras. E eu, droga, eu era amarelada, encardida. Ouvi de alguém recentemente que pessoas da minha cor não sabem o que é o preconceito. As lágrimas molharam meu rosto depois que saí dali, porque eu já senti na pele o preconceito.
Senti na pele o preconceito quando manifestei minha vontade de torrar no sol para ver a pele escurecer e fui advertida sobre os problemas que teria se minha cor fosse preta. Mas eu era negra e ninguém conseguia entender. E eu não conseguia entender por que as pessoas não me entendiam. Mas ali foi apenas o início da dor. Eu não sabia, mas ela haveria de piorar bastante. E piorou, quando eu comecei a namorar com um homem lindo, apaixonante, que amei verdadeiramente, e que era negro. Tive de suportar cada olhar, que metralhava as nossas mãos dadas, as nossas manifestações públicas de carinho.
Demorei a entender que as pessoas fitavam a diferença da nossa cor. Cheguei a achar, ingênua, que era admiração pelo amor entre nós. Mas não era. Eram olhares de quem não entendia, de quem não aceitava aquele casal de cores tão opostas. Cada olhar de incompreensão me fuzilava. Uma vez, caminhando pela orla da praia, não resisti e disparei um: “está olhando o quê??”. Percebi o constrangimento da pessoa. E entendi que não era coisa da minha cabeça. Para mim, o conceito de raça não cabe numa aquarela, não cabe numa tela de photoshop. Pra mim, as discussões de raça hoje perpassam essa miudeza.
E, por favor, não me venham dizer que nunca senti na pele o que é o preconceito.
Eu passei por isso. E a cor da minha pele é clara tambem. As pessoas nao entendem que a gente sofre junto. A gente opde sofrer ate mais.
É, Flávio. Só assim pra percebermos o quanto é importante compartilharmos nossas histórias. Acabamos descobrindo que tem um monte de gente na mesma situação. As pessoas nos julgam pela cor da pele, quando deveriam nos julgar pelo que somos, pelo que guardamos no coração… Mas um dia chegaremos lá!
oi alane. seu texto eh bem emocionante. faz a gente pensar que tipo de realidade eh essa q estamos construindo socialmente. eu tb tenho a pele clara. so que os olhos azuis e o cabelo loiro nunca me fizeram pensar nestas coisas que vc fala. eh bom ter acesso a um desabafo assim. a gente começa a refletir muito a respeito dessas coisas.
gostei muito do blog de vcs.
parabens, meninas.
Gray,
O amor, a paixão e o sentimento não escolhem cor nem raça – no meu caso, especialmente. Eu não namoro com homens brancos, amarelos, azuis ou pretos… eu namoro com os homens pelos quais me apaixono… E não me apaixono pela cor da pele de um homem, mas pelo caráter, pela honestidade, pela personalidade… Quantos homens negros eu namorei não importa, não vem ao caso, porque eu nunca escolhi qualquer deles pela cor da pele… Isso, para mim, não é critério.
Abraços
E um homem é apenas um homem…
Suas provocações serão sempre bem-vindas, querido. Mas a questão crucial aqui é o fato de muitos acharem que o problema racial não atinge as pessoas que têm a pele mais clara.. esse post foi escrito depois de um bate-papo que gerou esta discussão… Embora seja assim no mundo inteiro, também temos nossas dores pessoais e estaremos sempre sujeitos a elas… Algumas coisas doem mais, outras menos… isso vai depender de cada um… E quando eu repliquei sua frase com “um homem é apenas um homem”, eu só quis dizer que é o que importa… sem cores, raças ou adereços…
Um abraço bem apertado, amigo querido da Facom, que eu admiro também!!! 😉