Quem é essa mulher que virou alvo da revista feminina?

A mulher da revista é independente mas continua tendo que agradar seu homem
A mulher da revista é independente mas continua tendo que agradar seu homem

*Texto da jornalista Giovanna Castro

Sempre tive por perto várias revistas femininas diferentes, com as mais variadas linhas editoriais. A depender da publicação, é claro que toda regra tem sua exceção, muito raramente encontro coisas interessantes nelas. Acabo lendo algumas matérias como que movida por uma curiosidade antropológica, a fim de descobrir qual o grande achado da vez. A decepção é recorrente. Estas revistas não mudam. E explico.

Minha relação com este tipo de publicação começou pela famosa Capricho, nos anos 80, bem tardiamente. Devia ter lá pelos meus 19 anos. Enquanto as meninas da escola já tinham suas enormes coleções, eu estava comprando a minha primeira. Até gostava, mas não entendia o motivo daquela paixão toda por aquele conjunto de folhas coloridas e cheias de fofuritchas para adolescentes.

Em primeiro lugar, como acontece até hoje, eu não me via naquelas revistas. Meu cabelo não estava lá, minha cor de pele não estava lá, meu nariz não estava lá, minha pele não estava lá, minha origem não estava lá. Comecei a entender o motivo de tanta identificação das coleguinhas de classe. O tempo foi passando e eu abandonei a Capricho, cansei dela, não me atendia mais. Cresci.

Mudei de foco, de publicação, mas minhas características continuavam a não ser retratadas. Mantive minha postura crítica mas dei uma chance a elas me voltando para as matérias mais consistentes, históricas ou comportamentais. Só que aí também há problemas. Por trás de todo aquele verniz de revista voltada para a mulher moderna, a meu ver, todas elas reforçam o estereótipo da mulher que faz de tudo, mas tudo mesmo, para agradar o homem.

Se não, vejamos. As matérias sobre sexo são o exemplo mais notório. O foco do prazer é o homem. Ali, em várias páginas, a mulher é orientada sobre como ter a melhor performance na cama com seu par. Como fazer um bom sexo oral “para levar seu amor às alturas”, que lingerie usar porque “seu homem vai amar”, como se manter magra “os homens que gostam de gordinhas são exceções”.

No trabalho, no cuidado dos filhos, a linha é a mesma. Nenhuma delas se arvora a incitar a mulher a virar a mesa da tripla, quádrupla ou quíntupla jornada do trabalho – “a mulher hoje tem que equilibrar diversas funções, então já me acostumei com a culpa de ter que ficar menos com os filhos”. O homem é aquele que é chamado a “ajudar” nas tarefas ao invés de ser estimulado a “compartilhar” as atividades. É aquele ser a quem se deve prestar todas as homenagens. Grávida? De mal humor? Cheia de hormônios enlouquecendo o juízo? “Se esforce para não deixar a chama do casamento apagar”.

Então, onde está a modernidade? Que mulher é essa que as revistas querem incutir na mente de todas nós? A super mulher maravilha? A que faz de tudo no trabalho, em casa, na cama, na família, exerce múltiplas funções, mas não pode mesmo esquecer de servir ao maridão que, afinal de contas, é a razão e objetivo de vida de todas as mulheres… Será mesmo?

11 comentários em “Quem é essa mulher que virou alvo da revista feminina?

  1. Uaaau! Mas que excelente artigo! A-do-rei! Parabéns! :-))

    Lembrei-me de que há pouco tempo, em um salão de beleza, comecei a folhear uma destas revistas femininas, não lembro o nome, agora. Havia um artigo que tratava a respeito de “tantos motivos” para se fazer sexo, com palavras como “dar”, “na seca” e outras mais xulas. Confesso que fiquei estupefata.

    Em primeiro lugar, pensei: que motivo as mulheres teriam a fazer sexo senão para ter prazer? E outra: “dar”? Oras… Isso lá é forma de se quebrar um tabu? Muito pelo contrário, o reforça ainda mais.

    Por isso, nem leio tais revistas, elas irritam-me. Trazem um padrão absoluto, ao qual não me encaixo, assim como a maioria das mulheres também não. Só reforçam o cunho machista que ainda impera fortemente na sociedade e também o papel de submissão da mulher. Ou seja, não acrescentam nada de bom.

  2. Geralmente as mulheres que acumulam muitas funções acabam por não fazer nada direito. A gente não precisa ser mulher maravilha o tempo inteiro, essa “mulher moderna” que inventaram não é compatível com a realidade. As revistas femininas só se preocupam com artigos de beleza e compras, deixando as mulheres cada vez mais insatisfeitas porque não conseguem atingir os mesmos resultados que ilustram inúmeras páginas. E além de insatisfeitas ficam burras e alienadas.

    Sorte que existem exceções!

  3. Ah, vou sair em defesa das revistas femininas, que eu adoro! Na verdade, existem publicações de todo o tipo e, lógico, aquelas que são exatamente o que Andrea falou: machistas, pouco inteligentes e que tentam acompanhar a modernidade feminina de uma forma muito limitada. Mas existe muita coisa sendo publicada nas revistas femininas, matérias que retratam as nossas necessidades, os nossos desejos e que retratam mulheres de verdade, que contam histórias de mulheres de verdade, que lutam, que conseguem quebrar barreiras, que se viram como podem e que são felizes… Eu tive uma gravidez complicada e um início de maternidade que seguiu a mesma linha e me vi em muitas matérias publicadas em revistas femininas, reconheci e conheci mulheres que passaram por dificuldades reais e conseguiram vencer. Não vamos generalizar…

  4. Giovana,

    Excelente artigo. Acrescentaria o culto a magreza. Recentemente, aguardando na fila de um supermercado contei pelo menos quatro capas dessas revistas com dietas para emagrecer.

    Não conhecia o blog, parabéns para todas. Com certeza passarei outras vezes por aqui.

    Muita Luz!

    Silvia Costa – Jornalista

  5. hehhe meus parabéns moça ^_^! Mas vou te citar um fato curioso: eu já vi artigos feminitas muito boens em revistas femininas antigas,tipo Desfile,nos meados da Decada de (0 e vi um artigo muito bom desmitificando a virgindade,numa revista Cláudia da década de 80..Acho que era uma “heresia”,tanto que tiraram estas sessões,agora é a versão séc.21 da Amélia e muitas mulheres aceitam sem questionar.Nem páram para pensar que,enquanto estão nas revistas fúteis,os homens estão lá com uma Playboy na mão.Resuminod: nós som,os ensinadas asermos objetos,enquanto eles,a nos consmumir como objetos.

    Isso me dá muita revolta >_<! Falta ainda muita conscientização e poder político nas mãos dos movimentos de mulherss para que tal quadro acabe.

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