O Big Brother Brasil vai além de um programa de monitoramento contínuo do comportamento humano. A casa mais vigiada do Brasil é, na verdade, um fenômeno comercial. Só para se ter uma ideia da grana que está por trás da produção, as estimativas de lucro desta nona edição estão na casa dos R$ 280 milhões, o que significa R$ 100 milhões a mais do valor arrecadado em 2008. E isso, mesmo com os menores índices de audiência já registrados desde a criação do reality show, em 2002. Aliás, desde 2004, a audiência do programa vem caindo. De lá para cá, já houve redução de 33% no número de telespectadores. Mas o faturamento, ao contrário, tem crescido aos montes.
Sem dúvida alguma o BBB é um dos produtos mais rentáveis da rede Globo hoje. A expectativa comercial em torno do programa é tanta que, logo depois do episódio de estreia, todos os intervalos já haviam sido comercializados. E por que você acha que a edição foi esticada em mais uma semana? Para agradar o grande público? Claro que não. Tudo uma questão de exigência comercial. Surgiu a demanda, a empresa quer embolsar o dinheiro, então vamos alargar a edição. E os números não param por aí. O BBB9 bateu recorde de vendas de pacotes pay-per-view, para aqueles que querem ter o “privilégio” de acompanhar tudo o que acontece na casa 24 horas por dia. Em 2009 foram vendidos cerca de 200 mil pacotes, contra os 163 mil do ano passado.
O que leva milhares de pessoas a dedicarem algumas – ou várias – horas do seu dia acompanhando o que acontece na vida de um grupo de pessoas que nem mesmo conhecem? Por que o BBB é esse sucesso? O Big Brother Brasil, a meu ver, é uma vitrine da sociedade de consumo moderna. Lembro bem em uma entrevista da ex-sister Iris, em que ela dizia que perdeu peso, fez plástica e o escambau a quatro para poder concorrer a uma vaga na oitava edição. Funcionou. No ano de 2000, Afonso Romano de Sant´Anna publicou um artigo em O Globo, no qual concluía que os reallity shows demonstravam que na sociedade moderna “o indívíduo prefere a vidraça ao espelho”. Ou seja, em nome de qualquer coisa (fama, dinheiro, reconhecimento, vaidade…) a pessoa se mostra cada vez mais e cada vez com menos roupa. Dizia ele, é mais fácil do que olhar para si.
São dois lados da moeda. Em um deles, você simplesmente abre mão de sua intimidade, da privacidade, e permite que sua vida seja despejada na casa de milhares de pessoas. Do outro lado, essas milhares de pessoas, ansiosas por assistir cada movimento dos que se sujeitaram à invasão de suas vidas. O pouco que já li sobre comportamento humano me aponta uma possível vertente, pela qual imagino que, como acontece com as próprias novelas, as pessoas tentam se enxergar naquelas outras em exibição. É a vida que muitas queriam ter, a casa em que muitos queriam viver, o milhão que tantos gostariam de conquistar. Fora a própria curiosidade de saber o que está acontecendo com a vida do outro, o exercício de poder julgar o comportamento alheio sem qualquer piedade ou constrangimento, afinal, eles estão ali pra isso. Para serem julgados e expulsos do jogo quando não corresponderem à expectativa (indecifrável) do público.
=======================
Leia também:
>> Escravos da beleza: quando você vai se libertar?
>> Mulher fruta: É para chupar e cuspir o bagaço?
>> Mulheres possíveis (e sem culpa)
========================
A submissão à exposição desenfreada é reflexo de uma sociedade que anda “perdida”, com valores pouco contornados, diria ainda, controversos. Se me preocupo mais em me mostrar fisicamente do que compreender quem sou e tentar me transformar em um ser humano coletivamente melhor e mais atuante, significa que mais vale o que o alheio vê externamente em mim do que aquilo que contribuo para a coletividade. Para isso, imagino que a visão do outro sobre mim será tanto melhor quanto mais arrendondados e duros forem meus seios, ou mais musculoso e definido for o meu corpo e maior for a minha bunda. Me pergunto: que sociedade é essa que estamos construindo para as futuras gerações? Querer se mostrar, tudo bem. O que me impressiona é o querer se mostrar pelo que há por fora, como se embalagem determinasse a qualidade do conteúdo. Como ouvi um dia desses: “se ela for gostosa e trepar bem, também é sinal de bom conteúdo em boa embalagem”. É isso, meninas, o que vocês querem que pensem de vocês? Que ter conteúdo é fazer sexo bem feito depois de lutar pelo corpo perfeito?
A vaidade é positiva, desde que não te torne escravo da beleza, e com o propósito de se sentir bem para você. Você pode até querer fica bela aos olhos do outro, não há nada de mal nisso. O mal é fazer disso um objetivo desmedido, é acreditar que este deve ser o propósito de toda uma vida.
========
Para refletir:
>> Artigo: A televisão como objeto de reflexão: o Big Brother Brasil
========
Comentário Recentes