Tentei me fazer prolixa, me exceder – complicar, confesso. Divaguei além do que eu mesma compreendia. Escolhi as metáforas mais impróprias, abusei dos pleonasmos. Me apropriei dos sons, exagerei nas paronomásias. Não resisti a acrescentar uma inversão aqui, outra ali. Não, eu nada escrevia. Discorria verbalmente, ligeira e impensadamente. Me recuso a aceitar a ideia do exercício mental, teste, prova. Só não queria ser compreendida. Seria mais fácil assim.
A ironia poderia ter dado melhores resultados, mas não quis ser tão cruel. Meus excessos bastaram-se naquela reunião irritante de vernáculos. Linguagem, pensamento, som… figuras. Sim à antítese; sim à gradação; sim à metonímia… Elas saíam de mim uma após a outra, tropeçavam entre elas. Quanto mais absurdas as expresões ficavam, mais absurdas eu as tornava. Mais e mais, cada hora mais, cada momento mais. O tempo passava lentamente, enquanto eu vomitava novas sílabas.
O céu já estava acinzentado, quando me dei conta de que havia chegado ao fim. Coloquei um ponto final na minha explanação bruscamente. Ele ouvira cada linha, calado. Sua feição inerte me afligia. Não fez qualquer comentário, qualquer interrupção. Não me pediu a palavra um momento sequer. Aqueles segundos de silêncio que se seguiram pareciam horas inteiras pra mim. Cheguei a crer que ele nada falaria. Que levantaria, mudo, e sumiria na escuridão. Meus pensamentos já iam distantes, quando ele se pronunciou:
-Eu não vou desistir de nós dois.
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