Especial Dia da Criança: consumismo infantil

Para abrir a  série de artigos do Especial Dia da Criança, nesta terça, escolhi um texto muito lúcido e realista da pedagoga Rosangela Borba. Sem ser utópica, como ela mesma diz, e achar que todos só consumimos o extritamente necessário e básico, a autora lança importantes pontos de reflexão sobre o quanto “os extras” do consumo podem se transformar em algo vazio e sem sentido, descartável e destoante da verdadeira simbologia que é o ato de presentear alguém. Vale a pena pensar no assunto!

Consumismo Infantil

*Rosangela Borba

Cena do filme A fantástica fábrica de chocolate, versão de 2005, de Tim Burton. Na imagem, a mimada e consumista Veruca Salt, que sempre consegue tudo o que quer dos pais a custo de chantagem e "chiliques"

É impressionante a maneira como as diferentes mídias são utilizadas por meio de estratégias das mais variadas para conduzir as pessoas ao consumo inconsciente. Digo “inconsciente” porque uma parcela significativa do que é adquirido por nós em decorrência do poder da publicidade não é realmente necessário ou importante para nossa existência ou bem-estar. Nesta época de Dia das Crianças, hábitos de consumo como estes aumentam de forma expressiva, atingindo todas as faixas etárias de compradores desenfreados, e, nesse momento, em especial a primeira infância. As crianças, inclusive, são um alvo fácil, pois se seus mestres (familiares e educadores) não conseguirem dar exemplo neste aspecto, dificilmente deixarão de cair na rede viciante da compra desnecessária. Vê-se então o quanto a educação para o consumo se torna fundamental – e quanto antes, melhor.

Não se pretende cair aqui no pensamento utópico de que só devemos comprar às nossas crianças o que é essencialmente indispensável à sobrevivência delas. Este seria outro extremo da história. O que ocorre é que a forma como o consumo de artigos infantis tem sido incentivado pelas mídias fere questões éticas de sustentabilidade e influencia diretamente a maneira como os pequenos valorizam o esforço dos pais para a aquisição de um produto, assim como o relacionamento que elas têm com as brincadeiras.

E aqui, a personagem Veruca dando um "piti", na primeira versão do filme, nos anos 70. A fantástica fábrica de chocolate é uma adaptação da obra infanto-juvenil homônima do escritor inglês Roald Dahl

Antigamente, existiam datas ansiosamente aguardadas pelas crianças para que pudessem ganhar um brinquedo novo. O presente vinha belamente empacotado e, quando recebido, era valorizado, cuidado com zelo e, com ele, seu dono passava dias a fio envolvido nas mais diversas brincadeiras que a criatividade lhe permitia. Atualmente, porém, existem tantas opções de brinquedos que o ato de ganhar um presente pode ser banalizado por parte da criança. Algumas chegam a ganhar uma lembrança destas a cada semana e, quando suas petições de compra são recusadas, o inconformismo e os escândalos públicos são certos.

Nós, pais e professores, nos preocupamos com as notas que as crianças tiram na escola, com as palavras que saem de suas bocas, com a forma como tratam os mais velhos, porém, esquecemos de educar para o consumo. Esta educação começaria com um presentear pontual, em datas específicas, que dessem à criança a sensação de valorização do brinquedo e de merecimento em ganhá-lo. Os pais devem deixar claro o motivo da compra para que o prazer da criança esteja na brincadeira proporcionada e não na sede de se ter algo a mais em um estoque de produtos que, num futuro próximo, será acrescentado ao lixo da humanidade.

*Rosangela Percegona Borba é graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Tuiuti do Paraná e em Metodologia de Ensino pela Universidade Positivo. Especialista em Educação Infantil pelo Instituto de Educação do Paraná, possui MBA em Gestão de Pessoas pela Universidade Positivo. Atualmente, Rosângela Borba é coordenadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Positivo.

**Material encaminhado ao blog pela Lide multimídia.

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Leia os artigos publicados no início da série:

>>Especial Dia da Criança: Preservação ambiental

>>Especial Dia da Criança: Avós e netos

>>Especial Dia da Criança: “ser” criança

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Especial Dia da Criança: “ser” criança

No terceiro artigo da série Especial Dia da Criança, a diretora do Instituto Canção Nova, Shirleya Nunes de Santana fala sobre a missão dos educadores na formação da meninada e relembra a figura da educadora Zilda Arns, morta no terremoto do Haiti, ano passado, e de sua importância para mudar a forma como a pedagogia brasileira passou a encarar a infância depois das ações pioneiras da pesquisadora e militante em prol das causas infantis. Zilda Arns, que era também médida pediatra, tinha um importante trabalho no combate a mortalidade infantil e materna, não só no Brasil, mas em diversos países. Confiram:

E nesta terça-feira, os últimos quatro artigos da série!

A riqueza imensurável do “ser” criança

*Shirleya Nunes de Santana

É impressionante como o conviver com crianças nos leva muitas vezes a lembrar de quão belo é ser criança e de como elas se aventuram nas coisas e situações da vida com todo entusiasmo, sem medo de errar. Amam, choram, caem, sorriem, são amigas, brigam e fazem as pazes rapidamente, pois o ser criança implica em ser “livre” para demonstrar esses e tantos outros sentimentos e ações. Criança é criança e ponto!

A valorização dessa fase é primordial e faz toda a diferença na formação do futuro adolescente, do jovem, do homem ou mulher. E essa preocupação nos ajuda a tocar em tudo o que ela exige. É uma fase de cuidados e descobertas, para cada criança e para cada educador. Quem trabalha com crianças lida com o “novo” e com o “desprender-se” todos os dias. Entender sentimentos e ações é simples. O desafio é amar e demonstrar esse amor. E muitas vezes nós, educadores, premidos pelas responsabilidades do dia a dia, nos distanciamos dessa pureza e decisão de amar.

Pediatria social era uma das especialidades da médica e educadora Zilda Arns, incansável militante no combate a mortalidade infantil

A atividade educacional vai além do cotidiano escolar, estendendo-se a atividades nos finais de semana e inserindo o educador diretamente na vida e família de cada aluno. É uma missão envolvente, de grandes descobertas e de riqueza incalculável. Passam os anos, as turmas se renovam, mas o espírito de dedicação e de mútuo aprendizado é sempre o mesmo. O educador sempre ganha com as crianças a oportunidade de resgatar em si mesmo a “criança” que com o tempo acaba adormecida, impedindo o adulto de ser verdadeiro como os pequenos.

Houve uma mulher em nossa sociedade que foi e é referência para o Brasil e o mundo no que diz respeito à busca do entender e respeitar a criança como um todo. E sempre sem olhar onde, como e a quem serviu. Bastava ser uma criança e lá estavam ela e aqueles que com ela acreditavam na ajuda real, afetiva e concreta aos pequeninos. Zilda Arns Neumann, arrancada de nosso convívio durante um terremoto no Haiti, é o nome dessa mulher. Como médica, ensinou a educadores e pais o respeito e o amor pelas crianças, vistas como “um todo” em formação. Isso fez e faz a diferença.

Comemoramos o “Dia da Criança”, mas precisamos comemorar diariamente o dom da vida de uma criança, que se traduz na sua liberdade e simplicidade. As crianças carregam a mais bela forma de amar e o ato de construí-las é um dos mais nobres gestos de amor. Portanto, quando formos comemorar ou pensar na criança, olhemos mais que brinquedos ou travessuras, olhemos o belo presente que é ter uma criança perto de nós. Amor, atenção, educação, saúde e respeito são bons presentes para esses pequenos que se tornarão grandes homens e grandes mulheres, a exemplo da nossa querida Zilda Arns.

*Shirleya Nunes de Santana é diretora do Instituto Canção Nova – Unidade 2 da Rede de Desenvolvimento Social da Canção Nova.

**Material encaminhado ao blog pela Ex-Libris Comunicação Integrada

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Leia os posts anteriores da série:

>>Especial Dia da Criança: Preservação ambiental

>>Especial Dia da Criança: Avós e netos

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Documentário analisa comportamento das crianças modernas

Uma dica interessante que recebi no meu guia de programação da tv fechada e divido com vocês: Nesta terça-feira, dia 04, às 21h, na faixa “GNT.doc”, do canal fechado GNT (Globosat), será exibido o documentário Infância Perdida, de Scott Harper. Inédito na TV brasileira.  A produção faz uma análise do comportamento das crianças contemporâneas, que estão sem tempo para brincar e não podem sair de casa para se divertir. Na produção, Harper explora as mudanças de costumes e avalia as consequências destes novos hábitos na vida das crianças.  Segundo especialistas em psicologia infantil, neurologistas, pedagogos e professores, algumas descobertas científicas sugerem que o isolamento das crianças pode prejudicar desde a sua criatividade até a perspicácia social e a saúde mental.

Ao ler a chamada para o documentário, esta que resumi acima, fiquei pensando na questão da infância atual. Ao menos para mim, perpassa a segurança pública e o medo da violência, que faz com que os pais se tornem mais cautelosos na hora de deixar as crianças brincarem na rua, por exemplo, como era comum até a minha geração. Quem era criança nos anos 80, como eu, brincou bastante na rua.

Outro fator que eu também considero é que as novas tecnologias criam novas formas de interação social. Não estou julgando aqui se as brincadeiras de agora (msn, orkut, facebook, jogos de computador) são melhores ou mais saudáveis do que aquelas do meu tempo, estou apenas constatando uma realidade: as crianças e os jovens de agora se divertem de outra forma; e considerando que existe uma nova forma de interação – tanto devido à insegurança, que confina mais as pessoas em casa, quanto devido a natureza desses novos “brinquedos”, não sei se diria que a infância de agora é perdida (ao menos neste aspecto), antes acredito que seja diferente daquela que eu tive.

Uma criança contemporânea, por exemplo, não brinca na calçada da porta de casa com tanta frequência quanto brincavam seus pais, mas ela conversa com outros amigos, via msn, e joga no PC, ou vai bem mais ao cinema do que eu ia, por exemplo. E aí, nesta questão, enquanto há cientisfas que condenam, outros dizem que jogos de computador estimulam áreas do cérebro responsáveis pela concentração e até aprendizado.

No edifício onde eu moro, crianças ainda brincam no playground, mas também usam computador com muita frequencia. E na periferia, independente da procura pela Lan House, ainda existem grupinhos na rua, batendo papo, jogando bola…A questão do acesso não pode deixar de ser considerada na hora de falar do assunto. Crianças classe média tem infâncias diferentes daquelas mais pobres, com toda certeza.

Tem muito tempo que não vejo ninguém pulando amarelinha, mas em compensação, no meu tempo, eu não conseguia executar nem metade das multiplas tarefas que meu filho executa: falar no msn com até 10 pessoas ao mesmo tempo, fazer a pesquisa escolar, postar no seu blog, baixar um jogo, atualizar a comunidade de bibliófilos (colecionadores de livros) da qual ele faz parte, tudo isso simultâneo.

Existem diversos beneficios e diversos malefícios de se viver em uma sociedade em rede, permanentemente conectada e com muita interação virtual e pouca interação real, mas uma coisa é certa, o mundo não é mais como era no meu tempo, que naquela época, por sua vez, já não era mais como no tempo da minha mãe, muito diferente, acredito, do que era no tempo de vovó e assim até o princípio das eras. Dá uma certa nostalgia, claro, mas é impossível voltar no tempo. O que nós podemos fazer é dar outras opções às crianças, levá-las mais vezes para sair, dar-lhes bons livros para ler, conversar, mas abolir a tecnologia não vai resgatar a tal “infância perdida”.

Além disso, a falta de tempo de algumas crianças, a meu ver, tem relação com uma certa paranoia que domina pais e professores atualmente, a de que você precisa hiperextimular a criança, colocá-la em centenas de aulas e cursos, ocupar todo o seu dia, mal sobrando tempo para não fazer nada. O estímulo é importante desde o nascimento, mas o excesso só provoca estresse e criança estressada, é consequencia do estresse nos pais, na escola, na sintonia do mundo, que anda toda acelarada. Infelizmente, nossa sociedade condena o ócio (no sentido daquela pausa de que todos precisamos de vez em quando, para descanso e acomodar nas camadas do cérebro tudo o que vimos e aprendemos). Para mim, a infância se perde também no consumo excessivo, na falta de diálogo dos pais com seus filhos, na violência doméstica (que não é o tema do documentário).

Enfim, nem vi o programa ainda, mas acredito que há bastante no que pensar.

Serviço:

Documentário Infância Perdida

GNT – Canal Globosat

Terça-feira (4/05), às 21h

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Mais sobre infância no blog:

Artigo: Videograme incentiva atividade física

Artigo: O papel da rotina na vida das crianças

Artigo: Crianças hiperestimuladas, crianças felizes?

Pais e filhos: a importância de brincar e descobrir

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Um tapinha dói mais do que a gente pensa

PalmadasRecebemos um material elaborado pela equipe da ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) sobre castigos físicos e os danos psicológico e morais na infância e adolescência. Deixar de bater em um filho porém, não significa que vamos deixar de dar-lhe limites e de, em certos momentos necessários, usarmos nossa autoridade de pais e mães para recusar alguma coisa que sabemos que naquele momento não é adequado para nossos filhos. Existem outras formas de educar que são muito eficazes e que passam longe de puxões de orelha e surras. No contexto de sociedade em que nossos avós viviam e bem antes deles, a palmatória na escola e o cinto de fivela em casa eram a norma. Ouço muita gente dizendo que naquela época os índices de criminalidade e uso de drogas eram bem menores. No entanto, não era por causa das surras nas crianças, era por todo um conjunto de fatores sociais, incluindo o tamanho da população mundial, bem menor, a quase ausência de vida urbana, resquícios de regimes autoritários que iam do colonialismo às ditaduras do começo do século XX e outras variáveis. Não significa que a violência não existisse. Existia sim, em larga escala, como hoje, contra mulheres e crianças. A diferença é que naquela época, era legitimada pelo patriarcalismo. O que não quer dizer que não estivesse errado. Mas a sociedade evoluiu e é preciso que saibamos lidar com nossos problemas, incluindo a educação infanto-juvenil, de uma forma menos bárbara que antigamente. Do contrário, a ideia de civilização cai por terra. Dizer NÃO para uma criança é uma das formas eficazes de educar, mas sempre dizer um não contextualizado, para fazer a criança entender porque não pode isso ou aquilo. O que vejo por aí são muitos pais que abominam a palmada, mas também não conseguem controlar os próprios filhos, criando verdadeiros “monstrinhos”, pequenos ditadores que desconhecem o respeito ao próximo. Vale a pena ler a reportagem da ANDI e acessar os links indicados pela Agência. Mas vale também refletir sobre o que de fato estamos fazendo para educar as futuras gerações.

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**Castigos físicos, mesmo com caráter “educativo”, causam danos à saúde de crianças e adolescentes

Estudos demonstram que crianças expostas à violência doméstica podem acabar se transformando também em agressores

A linha que separa o castigo corporal autorizado do maltrato infantil é muito tênue

Castigos podem gerar problemas de saúde mental e comportamento anti-social

O castigo físico contra a criança e o adolescente dentro do próprio lar é uma das formas mais comuns de violência familiar cometida no Brasil e no mundo, praticada há tempos e socialmente aceita como método corretivo pela maioria dos pais. Para muitos, dar uma palmada ou puxar a orelha dos filhos quando se comportam mal, entre outras formas de castigo corporal, é uma maneira eficaz de educá-los, contribuindo para o controle e a disciplina.

palmadas 2Segundo o relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) lançado em agosto deste ano, somente 24 países proíbem os castigos físicos legalmente, e destes, apenas três são membros da Organização dos Estados Americanos (OEA): Uruguai, Venezuela e Costa Rica. Por outro lado, países como Peru, Brasil, Canadá e Nicarágua apresentaram recentemente iniciativas legislativas para proibir o castigo corporal contra as pessoas com menos de 18 anos. Em seu documento, a CIDH pede que os Estados proíbam toda forma de violência contra a infância e adolescência e solicita políticas públicas que enfoquem integralmente os direitos da criança. Estabelece, ainda, que até 2011, os países formalizem mecanismos de prevenção contra a violência infantil, incluindo medidas que possibilitem aos meninos e meninas denunciar maus tratos e, principalmente, serem ouvidos.

O relatório Mundial sobre a Violência e a Saúde (2002) e o Relatório sobre a Violência contra as Crianças, produzido pelo especialista Paulo Sérgio Pinheiro em 2006 para a ONU, conceituam a violência como o uso deliberado da força física ou do poder contra uma criança por uma pessoa ou por um grupo, seja por uma ameaça ou de forma efetiva, que cause ou tenha muitas probabilidades de causar prejuízo efetivo ou potencial à saúde dessa criança, à sua sobrevivência, seu desenvolvimento ou sua dignidade. Uma grande proporção de crianças e adolescentes em todo o mundo sofre significativa violência em seus lares. O estudo afirma, ainda, que grande parte da violência exercida contra o público infanto-juvenil permanece, por muitas causas, acobertada, dificultando a aplicação da justiça. Uma das razões para isso é o medo: muitas crianças têm temor de denunciar os episódios de violência que sofrem. Em outros casos, pais e mães, que deveriam proteger seus filhos, também por medo preferem o silêncio, principalmente se o responsável pela violência é o cônjuge ou algum membro da família.

palmadas 3A aceitação social da violência é um fator fundamental. Tanto as jovens vítimas quanto os agressores podem aceitar a violência física, sexual e psicológica como algo inevitável. E a disciplina cumprida mediante castigos físicos e humilhantes, intimidação e abuso sexual, com frequência é percebida como algo normal, especialmente quando não produz danos físicos “visíveis” ou imediatos.

Na publicação Situação Mundial da Infância 2007, o Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef aponta que, todos os anos, 275 milhões de meninos e meninas de todo mundo sofrem violência doméstica e padecem das consequências de uma turbulenta vida familiar. No próprio lar podem ser identificados diferentes tipos de violência como a física, gerada ao se aplicar castigos corporais; a verbal e psicológica, manifestada por palavras ofensivas, xingamentos, humilhações, gritos e insultos; e a violência sexual contra crianças e adolescentes, que consiste em praticar condutas sexuais seja por ameaças, agressão física ou chantagem emocional.

Mesmo que meninos e meninas não sejam o alvo imediato da violência familiar, as consequências para seu desenvolvimento futuro são grandes e graves. Estudos demonstram que algumas crianças que foram expostas à violência doméstica acabaram se transformando também em agressores, perpetuando o círculo vicioso durante gerações. Pesquisas realizadas em alguns dos principais países em desenvolvimento – como China, Colômbia, Egito, Filipinas, Índia, México e África do Sul – indicam que existe uma notável correlação entre a violência contra as mulheres e a violência contra a infância.

Já na maioria dos países da América Latina, segundo a organização Save the Children Suécia, a magnitude do problema do maltrato infantil não está suficientemente visível. As estatísticas que descrevem a violência física contra meninos e meninas correspondem a fontes de informação parciais, uma vez que em nenhum desses países existem dados oficiais centralizados que quantifiquem as diferentes intervenções de instituições públicas e privadas que cuidam das vítimas infanto-juvenis.

Lesões Físicas e Psicológicas – A eficácia do castigo físico diminui com o tempo e o grau de severidade tem que ser aumentado sistematicamente. O castigo corporal contra crianças e adolescentes pode lhes causar não só lesões, mas danos permanentes e até levá-los à morte. Atitudes extremas como essas constituem o maltrato infantil, forma distinta de castigo físico. Nos Estados Unidos, uma revisão de 66 casos de maltrato infantil concluiu que tanto o abuso quanto o maltrato ocorrem na maioria das vezes como “uma extensão de ações disciplinares que, em algum momento, e aos poucos, cruzam a linha que separa o castigo corporal autorizado do maltrato infantil não autorizado”.

O relatório mundial sobre Violência e Saúde da Organização Pan-americana de Saúde, divulgado em 2003, investigou provas de que enfermidades importantes da idade adulta – entre elas a cardiopatia isquêmica, o câncer, doença pulmonar crônica, a síndrome do intestino irritável e a fibromialgia – podem estar relacionadas com experiências de maltrato durante a infância. Em casos extremos, apanhar quando pequeno pode trazer, ainda, consequências mais graves para a saúde, como transtornos psiquiátricos e comportamento suicida.

De acordo com uma investigação feita pelo professor Murray Straus, da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, meninos e meninas castigados fisicamente apresentam, depois de quatro anos, um coeficiente intelectual baixo em comparação com os que nada sofreram. No grupo mais jovem, as crianças que não apanharam apresentaram 4 pontos a mais em seu coeficiente de inteligência do que as crianças que foram castigadas fisicamente. No grupo de crianças entre os 5 e 9 anos de idade, aqueles que não apanharam tiveram 2.8 pontos a mais em seu coeficiente intelectual que do os que sofreram castigos físicos, depois de quatro anos.

violencia criançaJá um informe elaborado por profissionais da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, destacou que o castigo físico põe em risco as crianças, gerando problemas de saúde mental e comportamento anti-social. Os castigos corporais não melhoram a conduta dos pequenos, como se pensa. Ao contrário disso, as vítimas tendem a perder a concentração nos estudos e aumentam suas possibilidades de se tornarem pessoas agressivas, competidoras e com predisposição a desenvolver, no futuro, relações violentas.

Segundo Márcia Oliveira, oficial de Programa para a América Latina e o Caribe da Save the Children Suécia, a temática dos castigos físicos no Brasil já foi vista com muita resistência. Mas foi a partir de 2005 que começou a surgir adesão de alguns grupos locais, provavelmente como reflexo do movimento internacional que estava sendo configurado. “A violência punitiva no Brasil começou com os escravos, depois com a mulher. A mulher lutou muito contra isso e nem em relacionamentos é mais permitido qualquer tipo de agressão, principalmente depois da lei Maria da Penha. Até com os animais é proibido o uso de violência, nos circos existe todo um cuidado, uma cobrança. Só com as crianças que a violência física continua sendo permitida. Temos que pular esta etapa de igual forma, ainda mais quando o que sustenta esta prática é o mito da validade do castigo com fins de educação”, defende.

Márcia lembra que muitas pessoas não percebem os castigos físicos e humilhantes como uma forma de violência. E é essa violência que pode, em alguns casos, levar a criança para a rua. “Não é tanto a questão da pobreza, mas é a violência que leva a criança e o adolescente para a exploração sexual, para as drogas, para a prática do bullying. Não é uma causa única, mas contribui para o processo. Uma criança ou um jovem que pratica o bullying contra os colegas, por exemplo, normalmente está refletindo o que vive em casa, propagando a violência para o ambiente escolar”, aponta. “Se há presença da violência no espaço de maior proteção da criança, que é a família, imagina nos outros espaços”, lamenta Márcia.

Saiba mais:

>>Relatório sobre o Castigo Corporal e os Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2009 – Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) (em espanhol)

>> Situação Mundial da Infância 2007 – Unicef (em PDF)

>>Abuso Sexual Infantil e Exploração Sexual Comercial Infantil na América Latina e no Caribe 2006 – Save the Children Suécia (em espanhol)

>>Rede Não Bata, Eduque

>>Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância

**Material encaminhado ao blog via email pela assessoria de comunicação da ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância)

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Artigo: Que Brasil desejamos para as nossas crianças em 2016?

Recebemos o artigo abaixo da assessoria da Fundação Abrinq, que milita pelos direitos da criança. O texto, escrito pelo presidente da entidade, Synésio Batista da Costa, faz uma análise otimista da escolha do Brasil como sede olímpica em 2016, mas traz também um alerta para que nossos governantes não fiquem deslumbrados com esta conquista a ponto de esquecerem que um desafio como o de montar uma Olimpíada, só é válido, se os milhões investidos se converterem em justiça social, educação e em um futuro real para nossas crianças ainda tão abandonadas e carentes de coisas básicas como saúde e educação. No final de semana que antecede o Dia da Criança, Conversa de Menina divulga o artigo de Synésio e soma esforços na torcida para que sejamos realmente um país campeão em cidadania. Confiram:

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Que Brasil desejamos para as nossas crianças em 2016?

**Synésio Batista da Costa
 
As Olimpíadas do Rio 2016 serão uma nova oportunidade para o Brasil olhar para o futuro. Muitos dos pequenos brasileiros de hoje virão a ser os atletas olímpicos daqui a sete anos. Eles competirão em estádios construídos por operários, muitos deles frutos de uma geração com poucas oportunidades, mas que poderão vivenciar as conquistas de seus filhos.

Do ponto de vista econômico, conseguimos inúmeros avanços, temos hoje uma economia com bases sólidas, a inflação sob controle e parâmetros financeiros de primeiro mundo, atingimos “Investment Grade” (recomendação de investimento), fomos os últimos a entrar na crise e os primeiros a sair dela. Enfim, sopram ventos favoráveis para mudanças estruturais na educação, na saúde e na qualidade de vida, especialmente para as crianças.

Por isso, com a missão de organizar o principal evento esportivo do planeta, e com indicadores econômicos tão positivos, os nossos governantes têm pela frente a chance de serem os operários na construção de uma geração campeã, vitoriosa na formação educacional, com ampla oferta de oportunidades e de um horizonte mais glorioso. Um exemplo de que os jogos poderão trazer avanços é a medida que prevê o ensino de inglês, a partir de 2010, aos adolescentes das escolas municipais cariocas. Muitas outras mudanças e inovações como essa também estão por vir.

Afinal, hoje somos uma das maiores economias do mundo e um dos principais países emergentes ao lado da Rússia, Índia e China (BRIC), também integramos o G20 e, por diversas vezes, somos reconhecidos como liderança na América Latina e no cenário mundial.

Entretanto, em relação à educação, de acordo com um ranking elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que monitora o cumprimento de metas alcançadas pelos países para melhorar o ensino, o Brasil ocupa a 80ª posição em uma lista de 129 países, ficando atrás de nações como Paraguai, Venezuela, Argentina, Kuwait e Azerbaijão.

olimpico 1

Além disso, o Brasil é o 75º colocado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) medida esta que compara a riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros indicadores de 182 países do mundo. Isso se deve ao fato de milhões de crianças brasileiras serem de famílias que vivem abaixo da linha da pobreza, se encontrarem sem vagas em creches, nunca terem ido à escola, frequentarem escolas de péssima qualidade e morrerem por doenças que poderiam ser facilmente evitadas como a diarreia e a desnutrição.

Apesar de termos muitos desafios pela frente, nossa visão é otimista, vemos as Olimpíadas como marco de uma nova nação rumo ao primeiro mundo, não só nos esportes, mas em todos os aspectos. E para que esse objetivo seja atingido, será necessário um investimento de aproximadamente 30 bilhões em obras públicas que também irão beneficiar e inspirar as milhares de crianças que, em 2016, certamente serão 60 milhões* de vencedores.

Nosso desejo é o de sermos protagonistas do futuro do Brasil que terá 100% das crianças matriculadas em creches e escolas de qualidade, livres do trabalho infantil, com registro civil, bem nutridas, protegidas de qualquer forma de violência ou opressão. Enfim, que os nossos futuros campeões tenham todos os seus direitos garantidos e possam se orgulhar por fazerem parte do primeiro país da América do Sul a sediar uma Olimpíada.

Esperamos que em 12 de outubro de 2016 possamos comemorar o cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Que o espírito olímpico vivenciado por aqui traga consigo todo o progresso que exige. Este é o Brasil que desejamos para as nossas crianças daqui a alguns anos.

*(número de crianças e adolescentes, de acordo com a PNAD-IBGE 2007)

**Synésio Batista da Costa é presidente da Fundação Abrinq

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Artigo: O papel da rotina na vida das crianças

Quando somos mais velhos o que mais desejamos é fugir da rotina, pelo menos de vez em quando. Embora reconheçamos que existe necessidade de manter o mínimo de organização na vida diária, a fuga do padrão é a utopia de todo adulto, principalmente porque vivemos presos ao tempo, escravos do relógio. No entanto, segundo os especialistas, há um momento na nossa vida em que a presença ou ausência completa de rotina (hora para comer, tomar banho,estudar, brincar, dormir) é fator crucial para o nosso desenvolvimento: na infância. A psicoterapeuta Blenda Oliveira analisa a importância da rotina na vida das crianças, no artigo que reproduzimos abaixo. Confiram:

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**O papel da rotina na vida das crianças

 Blenda Oliveira*

Bebês e crianças têm necessidade de sentir seu ambiente organizado e previsível. A rotina funciona como uma espécie de moldura que organiza os três grandes domínios na área da saúde: o físico, o psicológico e o social, auxiliando numa maior integração dessas áreas, já que há uma interligação e uma afeta a outra. Bebês e crianças muito pequenas ainda não possuem maturidade neurológica e psicológica para suportar todas as inconstâncias em suas rotinas. Por isso, muitas mudanças externas podem gerar experiências precoces de instabilidade. Não precisamos imprimir mudanças no dia a dia da criança, porque já existe um movimento intenso da natureza em cada uma. Ela por si só vive uma interessante transformação no seu corpo, na sua percepção e na capacidade de se locomover. A rotina prepara a criança e ajuda no desenvolvimento da confiança e perseverança, qualidades imprescindíveis para uma futura autonomia.

Escola e família são uma das parcerias mais produtivas. Se uma escola tem como valor o cumprimento de certas rotinas e a família não compartilha, ou vice-versa, podem ser gerados na criança sentimentos de confusão, dúvidas e desconfiança. A escola, dependendo da sua orientação e da formação do seu corpo docente, tem competência para orientar a melhor maneira com que a família pode dar continuidade ao trabalho. Porém, é importante deixar claro que a escola não é responsável sozinha pelo desenvolvimento das crianças. Enfatizo que o papel da família é intransferível, isso não quer dizer que não seja possível fazer parcerias e receber orientações. As ações serão mais significativas quanto maior for o envolvimento da família.

A rotina é um dos pilares para o desenvolvimento da autonomia das várias áreas do desenvolvimento infantil. Vale lembrar que uma rotina adequada vem acompanhada de afeto e flexibilidade, mas não é preciso usar de rigor em detrimento das vivências de afetividade e espontaneidade entre as crianças e seus cuidadores. Sabemos que disciplinas duras, rigorosas e inflexíveis não necessariamente criam indivíduos comprometidos e autônomos, o mesmo ocorre com rotinas por demais permissivas. Qualquer extremo contribui para o aparecimento na criança, no adolescente e nos futuros adultos, de insegurança, medo e desconfiança quanto à própria capacidade de dar conta da vida. A rotina na medida adequada gera referência à criança. Depois o adolescente vai aprendendo quanto pode, em alguns momentos, modificar aquilo que lhe foi ensinado pelos seus pais e professores.

“Não se educa pela razão, apenas.

Educa-se, principalmente,

pela qualidade do afeto”

Quanto mais os bebês se desenvolvem, maior a conquista da independência e, portanto, mais de olho é preciso estar. Crianças a partir de um ano iniciam movimentos mais autônomos, a marcha fica mais firme, a verbalização é maior e, assim, a curiosidade e a descoberta vão ganhando complexidade. Na realidade, criar rotina para crianças em qualquer fase exige que os adultos também sejam pessoas com uma adequada relação com a rotina. Não existe fácil ou difícil, cada momento requer um tipo de cuidado, assim como cada criança tem seu ritmo de adaptação. Podemos comprovar isso desde o nascimento. Alguns bebês se adaptam mais rapidamente ao ritmo das mamadas, outros demandam maior flexibilidade por parte da mãe.

No caso da berçarista, ele consegue manter uma rotina, desde que exista um bom planejamento e orientações coerentes de quem a contratou. É importante ressaltar que as pessoas escolhidas para a função precisam ter equilíbrio emocional, formação adequada, não só intelectual, mas, e principalmente, formação pessoal. É esse conjunto que mantém uma boa rotina. As berçaristas são pessoas crucias, com ela, além da família, laços afetivos serão construídos, e esses serão o melhor meio de comunicação, por onde informações importantes serão passadas e transformadas em hábitos. Não se educa pela razão, apenas. Educa-se, principalmente, pela qualidade do afeto. A qualidade de vida inicia-se desde a concepção, quando os pais recebem seu filho com prazer, comprometimento, alegria e celebração.

*Blenda Oliveira é coordenadora da Casa Movimento (www.casamovimento.com.br), doutora em psicologia clínica pela PUC-SP, psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – SBP-SP -, além de psicoterapeuta.

**Conteúdo enviado ao blog através da assessoria de comunicação da Casa Movimento.

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Artigo: Crianças hiperestimuladas, crianças felizes?

Recebemos um artigo muito interessante da psicoterapeuta Blenda Oliveira, doutora em psicologia clínica pela PUC – SP. Para quem tem filhos, é bastante esclarecedor. Confiram:

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Crianças hiperestimuladas, crianças felizes?

Blenda Oliveira*

O foco intenso na criança atinge seu auge por volta do século xv. Até a idade média, a infância não era valorizada. Quando desmamada, lá pelos 3 ou 4 anos, a criança passava a viver no mundo adulto. Não havia escolas formais e a família não era nuclear como agora. Na mesma casa conviviam pessoas de várias procedências.

Na idade moderna, junto com as grandes invenções, a revolução liberal e, mais tarde, com o iluminismo e a formação da burguesia, surge à infância. A criança passa a ser mais cuidada e os laços familiares se fortalecem. Pais e filhos são mais próximos e a criança passa a ser vista como um indivíduo que precisa de atenção e formação essencial.  A infância passa a se constituir como uma ideia de momento especial, uma idade de ouro. Logo se começava a perceber que valia a pena investir nesses seres tão pequenos e dependentes.

crianças brincando 2A infância surge no momento em que se decide deixar as crianças irem à escola, brincarem e serem crianças. Com a modernidade, a infância passa a ser mais estudada e vista como a época de formação.

Liliana Sulzbach (2000) em seu curta-metragem A invenção da infância retrata de uma maneira objetiva e profunda os conceitos de trabalho infantil, comparando as exigências em classes mais pobres e nas classes médias altas. As diferenças são cruciais, mas em ambas acompanhamos uma espécie de corte e de invasão nos territórios do mundo infantil. Crianças assumem funções inapropriadas à sua idade.

Uma criança do interior pobre do nordeste suspira ao dizer: “Que jeito tem? Tem que trabalhar…”. Enquanto a menina de classe media alta fala com um misto de satisfação e dúvida: “tenho hora para tudo! Tenho vida de adulto, mas é melhor assim!”, referindo-se à sua agenda lotada e, por vezes, pouco construída com base no seu desejo ou perfil, tal como o menino que suspira pela falta de alternativa e diz “tem que trabalhar!”.

Almejar para os nossos filhos o melhor dos mundos é perfeitamente compreensível, entretanto o objetivo que subjaz as práticas são questionáveis. Os pais, a pedido das escolas ou por expectativas próprias, tornam a rotina de seus filhos uma maratona desenfreada de cumprimento de tarefas. Os próprios pais não conseguem dar conta numa cidade como São Paulo de levar e trazer de um lado para outro seus filhos das mais diversas atividades.  O tempo acelera para os pequenos e passa a ser um bem de alto valor para eles.

Na ansiedade de fornecer aos filhos todos os recursos creditados como necessários ao desenvolvimento, os pais correm o risco de subverter os valores em função de ter filhos mais competitivos, mais preparados para enfrentar o futuro.

desenhos_blogNo meu dia-a-dia, como psicóloga, atendo crianças e converso com seus pais e com aqueles responsáveis pela vida escolar e ouço afirmações como: “meu filho é muito inteligente”, “é incrível a capacidade dessa criança captar todas as coisas”, “é uma criança brilhante, mas que por algum motivo não vai bem na escola”, “meu filho tem uma inteligência acima da média, mas não tem amigos e não se relaciona”, “ele é um atleta nato, tem um talento surpreendente”  ou, o contrário, “ele é lento para fazer as atividades”, “não tem noção do tempo”, “não consegue se organizar com as lições”, “se distraí com facilidade” e  tantas outras afirmações que nos fazem pensar: qual o elo dessa cadeia que se perdeu?  O que será que tem levado as crianças mais e mais a profundos estados de tristeza, insônia, hiperatividade e déficit de atenção?

Felizmente hoje temos um repertório de conhecimentos vindos da medicina, psicologia, neurociência, que faz toda diferença para conhecermos a etiologia de alguns quadros e poder tratá-los. Fato que há 50 anos era incomum e, portanto, as providências de tratamento eram precárias.

Assim, não podemos somente atribuir à vida corrida que levamos o aparecimento dos distúrbios da infância. Sem dúvida, os fatores do dia-a-dia como violência, exigências competitivas, acesso fácil aos meios de comunicação e diminuição do tempo de infância, contribuem para aumentar quadros antes mais freqüentes na idade adulta.

O custo de compor uma família também é alto. Preparar os filhos tornou-se um grande e complexo investimento. Pais trabalham incansavelmente para manter seus filhos, para assegurar que recursos não lhes faltem. Na outra ponta temos crianças exigidas e cansadas, com pouco aproveitamento do tempo para brincar e aprender na escola.

O que seria esperado? Não oferecer as possibilidades de aprendizagem? Não, absolutamente.  Talvez o elo que precisamos encontrar em nosso dia-a-dia como pais seja o cultivo pelo aprender, pelo estudar e pelo conhecimento. Aprender não é um processo de cumprimento de tarefas, mas sim um processo de descobrir coisas novas, todos os dias, das mais simples às mais complexas.

Oferecer os recursos a partir da convicção de que mais do que resultados, esperamos que pais e educadores ajudem nossas crianças a criarem ideais construtivos.  Nem sempre as crianças têm idéia do processo no qual estão envolvidas, quais são as etapas de todo e qualquer aprendizado. Empenho, dedicação, perseverança são valores pouco sublinhados nos processos de aprendizagem.

*Blenda Oliveira é diretora da Casa Movimento – www.casamovimento.com.br -, doutora em psicologia clínica pela PUC-SP, psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – SBP-SP -, além de psicoterapeuta.

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Abuso sexual de crianças, vergonha nacional

pedofiliaEstava hoje em um consultório médico e comecei a folhear uma revista. Era de maio deste ano, mas o tema da reportagem de capa, o abuso sexual contra crianças e adolescentes, continua muito recente e recorrente, para a vergonha deste país. Diariamente, basta abrir as páginas policiais dos jornais  para se deparar ao menos com uma nota do tipo: “padrasto é preso por abusar de enteada” ou “pai estupra a filha”. É doloroso para quem tem filhos pequenos pensar que existem crianças que não encontram abrigo e proteção dentro de casa, que são traídas por aqueles em quem deviam confiar. Sim, porque o abusador na grande maioria dos casos é alguém muito próximo da criança. O pai, ou irmãos, primos mais velhos, tios, padrastos, vizinhos, amigos da família que se aproveitam da proximidade e da confiança que as crianças têm neles para violentá-las. E a pedofilia na internet? Cresce assustadoramente e as pessoas simplesmente acham que clicando em outros sites se livram do problema. Sem contar que, nos casos em que a violência resulta em gravidez, muitas vezes de meninas de nove, dez anos de idade, se discute mais se é cristão ou moralmente correto um aborto do que o fato de que uma criança foi molestada, estuprada e ainda corre risco de vida.

Já falamos da violência sexual aqui, bem no início do blog e ao menos uma vez por mês, temos um post sobre violência doméstica. E é em tom de campanha mesmo, pessoal. Como mulher e mãe, não posso deixar de defender essa bandeira. Infelizmente, são temas que ainda precisam ser abordados com campanhafrequencia, que não podem, não devem ser empurrados para baixo do tapete. Cabe a nós, cidadãos, cobrarmos para que a lei seja mais rígida na hora de punir o abusador e o estado mais responsável para acolher a vítima. Não basta apenas garantir que o nosso filho navegue em páginas seguras, isso é imprescindível, mas somente quando começarmos a nos preocupar também com os filhos dos outros vamos ser uma sociedade evoluída. O acolhimento é fundamental para reconstruir o emocional dilacerado de quem sofre abuso. Pensem nas marcas que essas crianças irão carregar pelo resto da vida e no que elas podem se transformar devido a esse trauma. Muito tem se falado do tema abuso ultimamente, devido as excentricidades do cantor Michael Jackson, morto em junho passado. O comportamento do artista ao longo da vida sempre foi associado aos maus-tratos e abusos sofridos na infância. Mas, vamos olhar, por minuto que seja, para  vida real e não para o faz-de-conta da vida de um astro pop. Vamos esquecer um pouco as notícias dos tabloides ingleses ou americanos e pensar no drama de uma criança que mora aqui mesmo no Brasil, no nosso Estado, que pode até ser nossa vizinha de porta. Vamos pensar na humilhação que essas crianças sofrem, na dor que carregam para o resto da vida, na falta de confiança em si mesmas e nos seus semelhantes, no fato de que, quando uma criança é ferida e cresce traumatizada, a esperança do que ela poderia vir a ser e  a esperança do que nós, como sociedade, poderíamos vir a ser, morre. Que Michael Jackson descanse em paz, mas que todos nós, cidadãos, não tenhamos descanso na campanha contra a violência!

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Leia também os posts:

>>Violência que faz calar, publidado em fevereiro

>>Internet segura, controle o acesso dos filhos, publicado em fevereiro

>>O que estão fazendo com nossas crianças? Publicado em 03 de julho

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Livro traz relatos de vítimas de abuso sexual

“A violência sexual, seja estupro ou atentado violento ao pudor, é um problema constante na vida de muitas mulheres de todas as idades, raças, tradições e religiões. Por isso a importância de abordar esse assunto. A idéia é fazer o tema ser lembrado com freqüência na mídia e no diálogo das pessoas, porque, quanto mais se fala sobre uma determinada problemática, mais a sociedade e as autoridades competentes se sensibilizam a debater e buscar soluções cabíveis para a questão.”

Assim inicia a narrativa do livro Cicatrizes – Relatos de Violência Sexual, da jornalista e artista plástica paulista Dalila Penteado.

A publicação, além de depoimentos comoventes, reúne dados atualizados sobre o problema no Brasil.

A autora nos conta o drama de mulheres como Girassol (nome fictício), que junto com o namorado e duas amigas, foi torturada e estuprada. Cicatrizes ainda traz um pingue-pongue com Sidney Barbosa, coordenador do setor de Artes Forenses da Delegacia Geral de Polícia de São Paulo, responsável pelo retrato falado do ‘Maníaco do Parque’; e compila notícias atualizadas sobre casos de violência contra mulheres e crianças na atualidade. O livro detalha também o funcionamento do Disque-Denúncia — o Disque 100 — destinado às vítimas de violência sexual que, muitas vezes, sem informação, acabam silenciando.

Ficha técnica:

cp_cicatrizes_gdeCicatrizes – Relatos de Violência Sexual

Autora: Dalila Penteado

Editora: Palavra&Prece

192 páginas

Preço sugerido: R$ 24,90

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Links úteis:

>>Campanha Nacional de Combate à Pedofilia na Internet

>>Safernet Brasil – ong de proteção aos direitos humanos na internet

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Violência contra crianças em foco

violencia contra criançaO Dia da Criança é só em outubro, mas o mês de junho tem importantes datas para a proteção dos direitos da infância. No próximo dia 04, é o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão. No dia 12, é o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil. Paralelo a essas duas datas, uma psicóloga brasileira acaba de lançar um livro em que discute o fenônemo de bullying nas escolas. Para quem não sabe o que é, bullying é a violência psicológica, geralmente praticada pelos próprios colegas, que perseguem, humilham, agridem verbalmente e às vezes até fisicamente, um outro coleguinha, praticando a intimidação, com consequências desastrosas para a autoestima da vítima.

Michael Moore discute a fixação americana por armas e o bullying nas escolas em Tiros em Columbine
Michael Moore discute a fixação americana por armas e o bullying nas escolas em Tiros em Columbine

A psicopedagoga Carmen de Paula escreveu o livro Bullying nas Escolas a partir de uma triste experiência pessoal. Seu filho foi vítima de violência por três anos. Muita gente já deve ter ouvido falar do fenômeno através de documentários sobre as escolas norte-americanas, onde o problema é recorrente, ou em reportagens que mostram desfechos trágicos para situações de maus-tratos, atitudes agressivas, intimidação, opressão e humilhação tanto entre crianças pequenas, quanto entre os jovens. Tiros em Columbine, o filme premiado de Michael Moore, que fala sobre um crime ocorrido em uma escola americana e cujas causas podem ter profunda ligação com o bullying, é um exemplo. Por trás das agressões, muitas vezes, esconde-se a intolerância, seja religiosa, segregação social, ou racismo, misoginia e homofobia.

bullyingO livro de Carmen define e descreve a incidência do bullying nas escolas de Ensino Fundamental e ajuda a identificar as ações necessárias para que pais e profissionais reajam com eficácia nesses casos.  A publicação foi baseada no trabalho de pós-graduação da autora. E o fenômeno é mais comum do que a gente pensa. Pesquisa realizada em 2008 em seis estados brasileiros aponta que 70% de 12 mil alunos consultados afirmaram ter sido vítimas de violência escolar. O problema é que tem gente que ainda acha que isso “é coisa de criança”. Por pensar assim, às vezes pais e professores demoram para identificar a ocorrência do fenômeno.

No livro, a autora alerta para alguns sintomas de que a criança está sendo vítima de agressão no ambiente escolar tais como falta de interesse de ir para a escola, nunca ser chamado para a casa de colegas, não convidar colegas para vir em casa, baixo rendimento, não querer falar da escola em casa, tristeza profunda, agressividade quando se fala da escola, complexo de inferioridade, chegar em casa com machucados e não contar o motivo.

Para ler e saber mais:

Bullying nas Escolas

Autora: Carmen de Paula

Editora: Pajú

Páginas: 95

Preço: R$20,00

Livros falam de outras formas de agressão

Aproveitando a proximidade do 4 de junho, Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão, a Edições SM lança alguns títulos que ajudam a conscientizar contra o problema.

Em Diferentes somos todos, a brasileira Alina Perlman retrata a exclusão social, a qual também pode ser considerada uma forma de violência. O livro conta a história de Carminha, que ganha uma bolsa de estudos para frequentar uma escola de pessoas mais ricas. Mas se sente excluída, pois mora na periferia. Esse sentimento irá mudar quando encontra Laura e descobre que tem algo em comum com a amiga: ambas têm irmãos com Síndrome de Down. Juntas, elas resolvem batalhar pela inclusão das crianças e resgatam valores importantes como companheirismo e respeito pelos outros.

Com linguagem poética e ilustrações delicadas que revelam o abismo entre os sonhos da infância e a violência das guerras, Nenhum peixe aonde ir, da canadense Marie-Francine Hébert, conta a história de uma menina e de sua família, que são obrigados a fugir de casa num dia ensolarado. Pode o inimigo ser alguém de quem gostamos? O que levar quando é preciso fugir? Deixar para trás o peixe a quem se prometeu o mais belo universo? A leitura é indicada para crianças a partir dos 10 anos e ajuda a entender os conflitos que agitam muitas partes do mundo e que chegam para a maioria em cenas nos telejornais.

Meninas eram proibidas de frequentar a escola no Afeganistão dominado pelos radicais talibãs
Meninas eram proibidas de frequentar a escola no Afeganistão dominado pelos radicais talibãs

Nakusha, a indesejável: mulheres oprimidas na Ásia, da francesa Laurence Binet, é outra boa indicação. O livro traz dois depoimentos ficcionais sobre meninas que são perseguidas simplesmente por terem nascido mulheres. No primeiro, Nakusha vive na Índia como uma verdadeira escrava, submetida às vontades do pai. No segundo, Latifa, que vive no Afeganistão, vê sua liberdade roubada pela guerra civil e pelo fanatismo religioso.

Ja Crianças feridas: uma mina, uma vida amputada, da francesa Reine-Marguerite Bayle, traz dois relatos ficcionais sobre crianças que sofreram mutilações decorrentes de minas explosivas enterradas durante períodos de conflito armado. A primeira narrativa se passa no Camboja, Ásia, e a outra em Moçambique, África. Por meio dos relatos, a autora discute com sutileza um tema forte e atual: como a guerra continua destruindo vidas mesmo depois de encerrada.

Para saber mais sobre estes e outros títulos, visite o site da Edições SM

Campanha contra o trabalho infantil

trabalho infantilO Congresso Nacional lança nesta quarta, dia 03, a campanha “Com Educação nossas crianças aprendem a escrever um novo presente, sem trabalho infantil”. Encabeçada pelo Fórum Nacional de Proteção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI).

A iniciativa conta com o apoio da Agência de Notícia dos Direitos da Infância (ANDI), Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança, Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, Organização Internacional do Trabalho (OIT), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Plenarinho, da Câmara dos Deputados.

12 de Junho – Desde 2002, a Organização Internacional do Trabalho escolheu o 12 de junho como o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, data em que foi lido relatório sobre o tema na Conferência do Trabalho que ocorre anualmente em Genebra (Suíça). No Brasil, a data foi decretada como o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Infantil pela lei 11.542 de 2007, sancionada pelo presidente Lula.

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