Resenha: O demônio do meio-dia

Nomear o mal para assim, conhecendo-o, poder lutar contra ele. O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão, de Andrew Solomon (Companhia das Letras, 2014), não só batiza, como faz a autópsia de um dos males mais cruéis e, ainda hoje, incompreendidos, embora a notificação de casos venha aumentando no rastro da busca cada vez maior por esclarecimento sobre os transtornos depressivos. 

O livro, lançado em 2001 e publicado no Brasil em 2014, com um epílogo exclusivo para a edição brasileira ,onde o autor atualiza alguns fatos da edição original, contribui significativamente para diminuir o estigma sobre a doença. Mérito, aliás, do excelente trabalho de reportagem do autor, que é também um paciente em tratamento, com histórico de pelo menos três grandes surtos depressivos, como ele mesmo descreve. 

Mas, o livro vai além de um relato pessoal ou de uma pesquisa aprofundada e desenvolve no leitor que não conhece o assunto na carne, a empatia por quem luta para não ser devorado por esse ‘demônio’. Me senti tocada e muito próxima das pessoas que sofrem da doença. Ao menos, mais capaz de compreendê-las.

Esclarecedor, sensível, rico em detalhes e extremamente didático, o que ajuda bastante como introdução ao tema para quem é leigo no assunto, a obra traz ainda muitos relatos de pacientes, com seus dramas e histórias de vida, bem como as tentativas de vencer a depressão. 

O livro é denso e recheado de informações. Exige atenção na leitura, oferece quase 100 páginas só com notas explicativas, mas ainda assim é uma leitura agradável, sem academicismos, que dialoga com o leitor comum e descortina para ele um tema espinhoso, sem simplificar demais e sem complicar só por puro pedantismo.

Vale destacar as análises bastante lúcidas do autor sobre a atuação da indústria farmacêutica no tratamento da doença e do quanto, se por um lado, doentes de depressão precisam muito dos remédios para lutar contra o mal; por outro, existe uma tendência meio irresponsável de certas áreas da medicina em banalizar a prescrição de antidepressivos para quem não necessariamente precisa dessas drogas.

Solomon também passa em revista as psicoterapias, mostrando o quanto tomar coquetéis de remédios sem ter um acompanhamento psiquiátrico adequado é ineficaz para evitar recaídas. Do mesmo jeito que apenas fazer terapia sem o uso dos fármacos, para muitos doentes, não surte efeito e agrava os episódios da doença.

Os problemas da mente, como Andrew Solomon diz tão bem, ainda acarretam preconceito e falar do assunto é tabu, daí ele afirmar que “a depressão é uma doença solitária”. Por medo, por desconhecimento, por indiferença, a depressão ainda não recebe a atenção e cuidados compatíveis com o impacto que provoca não só na vida dos doentes, mas na de todos ao redor dele e na própria sociedade, em termos, por exemplo, da produtividade, criatividade e participação laboral e social dos afetados.

A depressão estigmatiza e enche os doentes de culpa. Pessoas com depressão acumulam quantidades impensáveis para quem não sofre da doença de sofrimento psíquico justamente por tornarem-se incapazes de ser elas mesmas e de produzir como fariam se não estivessem doentes. 

Se enchem de tristeza ainda maior porque têm consciência do quanto suas famílias sofrem. E Solomon ilustra o quanto a doença é cruel ao trazer para o leitor de O demônio do meio-dia as inúmeras histórias de depressivos e de suas batalhas contra a doença incapacitante. Principalmente de mães depressivas que acabaram arrastando os filhos para esse mesmo poço, criando um ciclo difícil de quebrar.

Por outro lado, ele também faz um alerta para as famílias sobre a forma correta de acolher e amparar seus membros acometidos pelo problema. Segundo o autor, fingir que não está acontecendo nada, mantendo o demônio trancado no armário não faz com que ele desapareça ou diminui os estragos que é capaz de causar.

De forma bastante franca, o autor toca ainda no maior dos tabus dentro do espectro da depressão, o suicídio. E faz isso expondo a própria tentativa de se matar e contando as experiências de outros entrevistados. As histórias das pessoas entrevistadas pelo escritor, inclusive, são comoventes e dramáticas, mas o autor, até por viver a realidade da doença, não explora os dramas de suas fontes de forma banal, nem mesmo quando aborda a sombra do suicídio.

Andrew Solomon (Foto: Divulgação)

Ao contrário, ele dá voz a um grupo invisível e, em até certa medida, marginalizado e desumanizado por tratamentos que ao invés de buscar o modo peculiar como a doença mental se manifesta de pessoa para pessoa, homogeniza todos os pacientes em um amálgama sem contornos. 

Se o doente depressivo já é estigmatizado, o doente depressivo que tentou se matar representa quase uma mácula indesejada para uma sociedade que não admite a existência sequer das pequenas tristezas cotidianas, que dirá de um abismo que oferece a morte como solução final.

Considerado um dos melhores tratados sobre o tema não escritos por psiquiatras, O demônio do meio-dia deriva de artigos que Andrew Solomon escreveu ao longo da década de 1990 para a revista New Yorker. O livro foi finalista do Prêmio Pulitzer, em 2002, e também recebeu homenagens como a do National Book Award, em 2001. 

Todo esse reconhecimento, bastante merecido ressalte-se, não é nada comparado às histórias de gratidão – que chegam a ele por meio de cartas – que o autor compartilha no epílogo brasileiro. Com sua sinceridade profunda e a coragem de expor a própria vida, Andrew Solomon transformou seu reconhecido best-seller em uma pequena luz na escuridão que, se não tem a dádiva de oferecer cura, tem ao menos o consolo de ajudar os depressivos a apaziguar o monstro que os assombra…

Um trecho do livro:

“Essa triste reunião para compartilhar a dor era um momento singular de libertação para muitas pessoas presentes. Lembrei dos meus piores momentos, daqueles rostos ansiosos e inquiridores, do meu pai dizendo: ‘Está se sentindo melhor?’, e do quanto me sentia desapontado ao dizer: ‘Não, na verdade não”. Alguns amigos tinham sido ótimos, mas, com outros, senti a necessidade de ser mais cuidadoso. E de fazer piadas. ‘Adoraria vir, mas estou no meio de uma crise nervosa, será que não podemos combinar outra hora?’ É fácil guardar segredos sendo sincero num tom de voz irônico. Aquela sensação elementar no grupo de apoio – eu trouxe minha consciência hoje, e você? – dizia muita coisa e, quase sem perceber, comecei a relaxar naqueles momentos. Muito não pode ser dito durante a depressão, só pode ser intuído por aqueles que conhecem. ‘Se eu estivesse de muletas, eles não me pediriam para dançar’, disse uma mulher a respeito dos esforços incansáveis de sua família para que ela fosse se divertir. Há tanta dor no mundo, e a maioria das pessoas guarda as suas em segredo, rodando por vidas de agonia em cadeiras de rodas invisíveis, dentro de um gesso ortopédico invisível cobrindo todo o corpo. Nós apoiávamos uns aos outros com o que dizíamos. Certa noite, Sue, agoniada, as lágrimas escorrendo pelo rímel pesado, disse: ‘Preciso saber se algum de vocês já se sentiu assim e sobreviveu. Alguém me diga isso, vim até aqui para ouvi-lo, é verdade, por favor, digam-me que é’. Outra noite alguém disse: ‘Minha alma dói tanto; preciso ter contato com outras pessoas'”.

(O demônio do meio-dia – Uma anatomia da depressão, Andrew Solomon, Companhia das Letras, 2014, pág. 155).

Ficha Técnica:

O demônio do meio-dia – uma anatomia da depressão

Autor: Andrew Solomon

Tradução: Myriam Campello

Editora: Companhia das Letras

584 páginas

*R$ 29,90 (e-book) e a partir de 64,90 (livro em papel, capa comum)

*Pesquisado em 30/07/2019 na Amazon

 

*Texto originalmente publicado no Mar de Histórias e na rede de bibliófilos Skoob.

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Dica de série: Grace and Frankie

Os quatro protagonistas de Grace and Frankie: Martin Sheen, Jane Fonda, Lily Tomlin e Sam Waterson

A Netflix estreou no último dia 18 a quinta temporada da série Grace and Frankie, de Marta Kauffman, a mesma criadora da badalada Friends. A série, protagonizada por Jane Fonda e Lily Tomlin, conta a história de duas mulheres que, na terceira idade e depois de mais de 40 anos de casadas, descobrem que os maridos das duas, Sol e Robert, (vividos, respectivamente, por Sam Waterston e Martin Sheen), sócios em um escritório de advogacia, são gays e amantes há 20 anos. Os dois decidem sair do armário, pedem o divórcio e se casam um com o outro. Grace, uma sofisticada empresária do ramo de cosméticos acaba indo morar com Frankie, uma artista plástica hippie, ativista e deliciosamente ‘porra loca’…

Vou deixar a sinopse só até aí, para não entregar spoiler a quem nunca assistiu. E, se você faz parte do grupo que não viu ainda essa belezura e passou batida pela série no catálogo da rede de streaming, não perca mais tempo e agarre a chance de assistir uma das coisas mais divertidas e interessantes dos últimos tempos.

Os episódios, são 13 por temporada, são curtinhos, de menos de 30 minutos, ideais para maratonar e de bônus, lavar a alma. Um incentivo extra: nem bem a quinta temporada estreou, a Netflix já confirmou a sexta para 2020. E acredite, a cada episódio que termina, a gente sente saudade das personagens e quer mais.

O elenco é maravilhoso. Além de Jane Fonda, Lily Tomlin, Sam Waterson e Martin Sheen que estão magníficos nos papeis principais, os atores e atrizes que vivem os quatro filhos deles são fantásticos, com destaque especial para June Diane Raphael, que interpreta Brianna, a sarcástica filha mais velha de Grace e Robert.

Completam o grupo de filhos e filhas: Brooklin Decker, a romântica Mallory, caçula de Grace e Robert; Ethan Embry (Coyote) e Baron Vaughn (Nwabudike, chamado de ‘Bud’), os dois filhos adotivos de Frankie e Sol. O primeiro é um carismático dependente químico em tratamento, e o segundo, um sisudo e meio neurótico advogado.

Grace e Frankie tem personalidades bem diferentes, mas encontram o caminho de uma sólida amizade

Boa para espairecer e pensar

Grace and Frankie é cheia de vigor, refresca a cabeça, alimenta o espírito e de quebra nos coloca para pensar em várias questões que ainda são tabu, como a sexualidade na terceira idade e a ideia machista de que mulheres não podem ser amigas porque são rivais.

Grace e Frankie são senhoras beirando os 80, que têm vida social e sexual ativa, são despachadas, desbocadas, independentes e livres como só pessoas bem resolvidas conseguem ser.  As duas conviveram socialmente por décadas, porque os maridos eram sócios, mas não tinham uma amizade profunda. Com personalidades bem diferentes, são unidas inicialmente a contragosto, depois dos conturbados divórcios que enfrentam. Mas, aos poucos, descobrem uma na outra a inspiração para superar a crise e transformam-se em amigas-irmãs. Ver a construção da amizade e da cumplicidade das duas já vale a série.

Elas também enfrentam dilemas e questões ligadas ao envelhecimento, à forma como a sociedade trata as pessoas idosas – principalmente as mulheres -, com exigências em termos de comportamento. Cansadas das convenções, chutam o pau da barraca e não estão nem aí para o que é socialmente adequado na faixa etária delas. Querem mais é zerar a vida que lhes resta da forma mais intensa possível. São inspiradoras!

Sol e Robert. A química entre Sam Waterson e Martin Sheen é muito boa

O casal formado por Sam Waterston e Martin Sheen também quebra outros tabus como o do envelhecimento das pessoas LGBT+. Os dois vivem os dilemas de todo casal, com o adendo da surpresa e do encantamento pelas descobertas do universo gay, pois se reprimiram a vida toda e só tomaram coragem de sair do armário na terceira idade. Ou seja, naquele momento que entendemos como um dos mais frágeis da vida, eles enfrentam as ex-mulheres, os filhos, os clientes e as dificuldades do cotidiano.

Embora no começo a gente fique com a pulga atrás da orelha porque eles enganaram as duas mulheres por 20 anos, logo percebemos que a questão é muito mais profunda. Começamos a enxergar Sol e Robert pelos olhos de Grace e de Frankie e vivemos cada estágio do processo delas desde a descoberta, a revolta, a negação e a aceitação, até a compreensão da situação vivida pelos ex-maridos. É bacana ver como elas conseguem desconstruir o machismo de Robert, o que o ajuda também na autoaceitação enquanto homem gay.

Não se trata de compreensão compassiva, do tipo que sempre se espera que as mulheres tenham com os homens. E nem tampouco é caso de ‘passar pano para macho escroto’. A traição existiu e eles são cobrados por isso, mas existem diversas camadas nos relacionamentos prévios de Grace e Robert e no de Sol e Frankie que tornam possível para elas – e para as espectadoras – superar a traição dos ex e estabelecer novos laços.

Trata-se de uma forma de compreensão genuína, que nasce da empatia e de uma amizade construída ao longo dos relacionamentos de mais de 40 anos que os dois ex-casais tiveram. E nada é gratuito ou maravilhosamente resolvido do dia para a noite. O roteiro de Kauffman respeita, com competência, o fato da sexualidade humana não ser algo óbvio e rasteiro, que se decifra em um passe de mágica.

Quebra de paradigma

Os quatro idosos protagonistas – e já é uma quebra de paradigma uma série com o elenco principal todo na terceira idade – são pessoas querendo manter sua liberdade e independência em um mundo que é averso ao envelhecimento e que costuma tratar os mais velhos como incapazes, mesmo quando são ativos e perfeitamente donos de si.

Grace e Frankie chutam o balde e mostram o poder da maturidade

A série mostra também que, embora a chegada da velhice nesse mundo que cultua a juventude eterna seja cruel para homens e mulheres, existem hierarquias no tratamento que a sociedade dispensa a eles e a elas quando estão envelhecendo. Enquanto os homens são vistos como ‘distintos cidadãos experientes e sábios’; as mulheres acabam sendo tratadas com condescendência. Qualquer ato feminino em direção à liberdade e ao empoderamento na terceira idade é visto, de início, como ‘birra de velhinhas que estão ficando esclerosadas’.

Apesar das dificuldades que aparecem com a idade, como a adaptação mais lenta ao mundo hipertecnológico e as limitações físicas e de saúde, Grace e Frankie mostram sua força justamente ao abraçar suas limitações e aceitar o envelhecimento como mais um trecho da jornada pela vida. As duas sabem que já viveram bastante e que a longevidade tem um preço, mas não significa que seja hora de sentar em frente à lareira para fazer tricô.

Terceira idade com leveza

A velhice mostrada na série é abordada de forma leve, pois trata-se de uma comédia dramática que não pesa muito nas tintas do drama. Embora o programa questione várias coisas que atingem boa parte dos idosos, a opção é sempre fazer isso pelo viés do humor.

Nem todo mundo que assistir Grace e Frankie vai se identificar ou encontrar correlações imediatas com idosos do seu convívio. A história trata da realidade de idosos de boa condição financeira, norte-americanos e que não sofrem, por exemplo, de doenças demenciais. Mas existem questões do envelhecimento que são universais e fazem parte da cultura da sociedade ocidental e isso é o suficiente no programa para cativar a atenção.

Além disso, a série também não deixa de abordar problemas como o Mal de Alzheimer, a iminência da morte e o confinamento de idosos perfeitamente capazes em asilos, mesmo quando as famílias têm condições de criar outra estrutura para atendê-los.

Provavelmente, quem tem uma mentalidade mais conservadora e não pretende mudar essa visão, não vai gostar tanto assim quanto quem tem a cabeça mais aberta para a diversidade, porque a proposta é bem libertária e o máximo possível focada em desconstruir preconceitos. Os próprios personagens aprendem uns com os outros e com os próprios erros, pois Grace e Frankie também provam que nunca é tarde para evoluir.

Assista ao trailer oficial da série (legendado)

*Também publicado no blog Mar de Histórias

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Análise: Eu não sou um homem fácil (ou de como um filme ajuda a reforçar preconceitos)

SPOILER: esse texto é uma análise do filme e contém descrição de várias cenas.

O filme francês Eu não sou um homem fácil, produção original da Netflix dirigida por Eleonore Pourriat, é daqueles que promete revolução, mas descamba para a mais pura decepção. A ideia é interessante, mas a execução ficou aquém das expectativas. O filme promete mostrar aos homens como é difícil e sofrido ser mulher em um mundo machista, mas na verdade reforça estereótipos tanto machistas quanto masculinistas. Fiquei muito triste que uma coisa tão misógina foi dirigida por uma mulher.

O mote do filme é criar uma realidade paralela, onde os homens fazem o papel de mulheres na sociedade e as mulheres fazem o papel de homens. A inversão acontece depois que o protagonista leva uma pancada na cabeça e desmaia, acordando nesse mundo alternativo onde o poder pertence a mulheres masculinizadas e os submissos são homens feminilizados.

Os erros já começam dessa forma binária e estereotipada de definir o que é papel de homem e o que é papel de mulher como um tipo de ‘ordem natural’ das coisas. Sendo que, em nenhum momento, o filme questiona o erro que é considerar os papéis femininos como inferiores. Feminilidade e masculinidade estereotipadas da forma mais rasteira são a base do filme. Como se as mulheres precisassem virar homens – e ainda por cima do tipo mais torpe, que é homem machista – para serem respeitadas. A concepção do filme parte da crença equivocada e apregoada por machistas e masculinistas em uma ‘natural’ inferioridade feminina.

O título já dá indícios da bomba. Mas confesso que resolvi dar uma chance mesmo sabendo que o modelo de mulher a ter o papel invertido com o de um homem no longa é aquele que se convencionou chamar de ‘difícil’, em contraste, óbvio, com as mulheres ‘fáceis’, aquelas que segundo os machistas: ‘estão pedindo’. E nem é tradução infeliz, como muitas vezes acontece nas adaptações para o português. Nesse caso, o nome original do filme é Je ne suis pas un Homme Facile. A tradução foi literal.

A produção se pretende sátira social com tons de comédia, mas é rasa e destila diversos outros preconceitos, como homofobia e lesbofobia, daí que não tem a menor graça. O problema maior é que faz isso de forma disfarçada. O filme se vende como feminista, mas confunde de maneira tosca a luta por igualdade de direitos e por respeito das mulheres com o mais rasteiro femismo.

A mistura de conceitos entre feminismo e femismo é feita de forma tão sutil que eu tive a tristeza de presenciar, nas discussões da rede de cinéfilos Filmow, da qual faço parte, dezenas de mulheres caindo no engodo da proposta e defendendo esse filme. Inclusive, parte do texto que escrevi nos meus comentários sobre a produção lá na rede social, uso para rechear essas reflexões no blog.

Damien vai trabalhar de moleton porque no mundo invertido, ele considera suas roupas ‘afeminadas’. A palavra hot (quente e gíria para gostosa/o) só transforma a objetificação feminina em piada

Veneno mortal

Eu não sou um homem fácil tenta dar aos homens um pouco do próprio veneno, mas só desrespeita ainda mais as mulheres e o feminismo, fazendo de uma luta justa uma caricatura. O feminismo não existe para transformar as mulheres em um outro tipo de homem. O feminismo existe para reivindicar que as mulheres sejam livres, respeitadas e tenham oportunidades iguais às dos homens para ser e fazer o que quiserem, sendo elas mesmas.

Ao confundir feminismo com femismo, o roteiro reforça argumentos falaciosos dos machistas e masculinistas para deslegitimar e destratar o feminismo e para minimizar as reivindicações das mulheres por um mundo de oportunidades iguais e de respeito igual, sem que para isso nós tenhamos de reproduzir justamente os comportamentos que abominamos nos machistas.

O roteiro cai no engodo de que as “mulheres tem inveja do falo”, algo que já caiu por terra. “Falo” aqui usado para representar poder e não o pinto no sentido literal. Mas já vimos ao longo da história que um mundo onde o poder é majoritariamente masculino, é um mundo doente. A forma masculina, machista e patriarcal de exercer poder faz mal às mulheres e aos próprios homens.

A cena inicial do filme mostra o quanto o machismo é doentio com bastante clareza. O personagem Damien, protagonista da história, vivido por Vincent Elbaz, aparece inicialmente na infância, em uma peça da escola. A menina que faria o papel da Branca de Neve na peça adoece e uma professora pergunta para as outras crianças do elenco quem gostaria de usar a roupa de princesa. Damien pede para usar e, ao entrar no palco, é ridicularizado.

Todos os adultos que assistem ao espetáculo, supostamente os pais e mães das crianças, apontam para Damien e gargalham, humilham uma criança pequena que ainda não tem nenhuma ideia do que seja identidade de gênero. Criança só quer brincar e ser feliz.

A socialização das crianças ainda acontece de uma forma muito errada, com a escola, as famílias e a sociedade em geral estabelecendo normas diferentes para meninos e meninas, separando desde os tipos de brinquedos à cor das roupas. Pais e mães, infelizmente, ainda exigem dos filhos uma postura máscula e das filhas que sejam delicadas. (Se quiser saber mais sobre o assunto, recomendo reportagem do jornal Correio* sobre ‘crianças viadas’).

Um dos discursos dos masculinistas é o de que homens que assumem suas responsabilidades no cuidado da casa e dos filhos são emasculados (perdem a virilidade). O filme reforça essa ideia absurda

Clichês infelizes

Infelizmente, esse filme engana muita gente com a falácia de que a inversão de papéis faz os homens sentirem na própria carne o que é ser mulher. Mas ele não faz, só reforça o preconceito e a noção equivocada de que a mulher é mais frágil e, portanto, tem menos valor.

O filme é um acumulado de clichês infelizes. Os homens com papéis inversos são colocados em posição inferiorizada porque os machistas e masculinistas acreditam que mulher é um ser inferior. O aspecto de feminilidade mostrado nesse filme é o tempo todo menosprezado e isso não cria consciência do inferno que nós mulheres vivemos, apenas reforça convicções equivocadas de que valemos menos que qualquer homem.

Todos os homens em papéis inversos são colocados em posição afeminada de forma pejorativa, como se ser afeminado fosse algo desqualificante, por isso o filme é absurdamente homofóbico. Mostra ainda que um pai assumir a paternagem tira a virilidade dele. As mulheres pegadoras do filme precisam ter atitude de ‘macho alfa’ para serem admiradas. O filme desconsidera que uma mulher tem todo o direito de ter quantos parceiros sexuais ela quiser sem precisar se masculinizar.

Tem outras cenas de dar vergonha alheia. Em uma delas, um rapaz entra aos prantos na casa de uma mulher que o teria trocado por outro e começa a quebrar objetos e a pichar as paredes com xingamentos. Precisa explicar que a tal sátira sai pela culatra porque atribui às mulheres – lembre que no filme os papéis são inversos – um temperamento histérico, inseguro e lamuriento? Tudo o que os caras que aprontam  perversidades em relacionamentos abusivos querem é passar a ideia de que as ex são loucas. E o filme dá munição para eles.

Outro exemplo de matar: o melhor amigo de Damien é casado e chega à academia de ginástica revoltado porque a mulher dele o estaria traindo. O detalhe sutil, ele vai fazer Pilates, como se a modalidade não fosse ‘coisa de macho’. No filme, as mulheres fazem boxe e musculação, porque essas modalidades no mundo invertido são atributos exclusivamente masculinos. Só aviso que o Pilates foi inventado por um homem, inclusive, para tratar sequelas de feridos em batalha. E me decepciono com o fato do filme ser tão sexista que estabelece até quais atividades físicas são de homem e quais são de mulher. No mundo de quem escreveu esse roteiro não existem rondas rouseys.

O marido traído em questão, diz que pretende tirar satisfação com o rival porque “ninguém toma o que é dele”. Mais uma vez, se os papéis são invertidos, o filme está dizendo literalmente que as amantes é que são as culpadas pela traição dos maridos safados que existem por aí e que esposas traídas deveriam ter ódio dessas amantes, porque afinal, seus maridinhos coitados, são homens e por isso seus pecados devem ser todos perdoados pelas ‘leis da natureza.’ Afinal, pinto não pensa e homem é imaturo, tsc tsc!

Paródia desrespeitosa com os grupos feministas que utilizam a nudez como ferramenta de protesto

Cada um com sua responsabilidade

Não digo que mulheres que se envolvem com homens que elas sabem ser comprometidos não tenham sua parcela de responsabilidade na infelicidade alheia. Elas têm. Embora sejam solteiras, poderiam ser mais solidárias com as outras mulheres e não dar trela para homem escroto que desrespeita a pessoa com quem é casado. Mas daí a vilanizar amantes e absolver os homens que têm até mais culpa porque eles é que são os casados na história, definitivamente, não dá! É agressão demais à inteligência das expectadoras.

Outras cenas que me deixaram triste, aliás, eu queria ‘desver’ esse filme: quando a mulher do amigo de Damien está assistindo futebol na TV e usa palavras como ‘biscate’ e ‘vadias’ para xingar as jogadoras do time adversário; quando o filho mais velho do amigo de Damien sai de casa para ir à aula de balé (como se meninas adolescentes só pudessem fazer balé na vida!); quando, em um bar, Damien bebe demais e começa a ser molestado por um grupo de mulheres e a esposa do amigo dele chega para ‘defendê-lo’ e cai na porrada com outras mulheres, mais uma atitude de ‘macho alfa’ invertida; as cenas de homens se depilando, colocando máscara facial e cuidado da beleza física com o objetivo de ser mais atraentes para suas mulheres, partindo da ideia de que mulher só se arruma para agradar homem e não para ela mesma; e, por fim, as mulheres no banheiro do boteco mijando em pé com a tampa do vaso abaixada e arrotando, como qualquer homem ogro que se preza.

O olhar desse filme sobre diversidade e respeito é tão distorcido que também desconsidera todas as outras possibilidades de vivência da identidade de gênero e da sexualidade humana para além de homens e mulheres e das relações heterossexuais. Um exemplo de lesbofobia que vi nos comentários do Filmow: mulheres dizendo que a personagem Alexandra, a namorada de Damien, é sapatão, como se ser lésbica fosse desqualificante.

O mais irônico é que as mesmas pessoas que acharam a reinvenção da roda ver mulheres bancando as opressoras, também acharam estranho a atitude masculinizada da personagem e já rotularam de sapatão como se ser sapatão fosse ofensivo!

Ou seja, o filme só complica mais ainda o parco entendimento da média da população sobre gênero, sexualidade e identidade. Ao invés de desconstruir preconceitos, reforça estereótipos. A sensação que dá é que quem escreveu o roteiro milita na causa masculinista, que tem como foco justamente desacreditar o feminismo e pregar que as mulheres desejam ‘subverter a ordem natural’ e dominar o mundo, oprimindo os ‘pobres coitados’ dos homens. Masculinistas são misóginos e o filme prega a misoginia disfarçando o discurso em sátira e humor duvidoso.

Damien e o uso equivocado do shortinho. Um reforço do filme à cultura do estupro

O outro lado da moeda

Em outra cena, Damien vai trabalhar de shortinho e recebe cantadas bizarras na rua, como a maioria das mulheres recebe diariamente. Só que ele ri dos comentários grosseiros e ainda passa a ideia errada de que mulher, ao sair de roupa curta, ‘está pedindo’ para ouvir baixarias! Damien veste o shortinho com o intuito deliberado de seduzir a nova chefe. O filme transmite outra ideia totalmente errada, pois mulher não veste roupa curta para se objetificar deliberadamente. Vestimos o que gostamos e o que nos deixa confortáveis, de acordo com a estação do ano, o humor, a nossa vontade. Quem lança olhares objetificadores sobre nossos corpos são os homens, que com isso querem nos controlar e tolher. 

Mulher também não ri de cantada grosseira, ela fica constrangida e amedrontada, porque os índices de estupro alarmantes estão aí para nos mostrar que vivemos em um mundo cruel, onde as mulheres que vestem roupas curtas ‘estão pedindo’ (olha o discurso machista aí de novo) e onde o espaço da rua é hostil para as mulheres porque convencionou-se de achar que a rua é lugar de homem e o lar é o lugar da mulher.

Desonestidade intelectual e má fé

Damien é um personagem consciente da inversão dos papéis. Ele é o único personagem do filme que lembra de como era o mundo antes da troca de posições e, na maioria das vezes, suas reações diante da opressão das mulheres e da submissão dos homens no mundo invertido é uma atitude de ‘macho alfa’ que se sente ameaçado e que quer que as coisas retornem a ser o que eram.

A inversão do mundo, e atentem que para haver uma ideia de inversão é preciso antes haver a ideia de uma ‘norma’, é um delírio do protagonista, mais uma prova de que ele é o alter-ego de todo machista e masculinista de plantão que morre de medo de virar a presa, ao invés do predador.

Do meio para o fim, o filme junta Damien com um grupo de homens que militam no ‘masculismo’ contra a opressão feminina. O ‘masculismo’ do filme seria o feminismo inverso. E é aí que o roteiro, mais uma vez, erra rude! Os caras preparam um ato de protesto vestindo próteses de silicone que simula seios femininos, em uma paródia de mau gosto dos grupos feministas que utilizam o corpo nu como arma de resistência.

Tentei assistir a Eu não sou um homem fácil com o coração aberto, apesar desse título infeliz e da cena inicial que me partiu a alma. Mas dei um voto de confiança e achei que no avançar das cenas, a produção poderia ser educativa para homens que insistem no machismo e para mulheres que ainda reproduzem julgamentos machistas sobre outras mulheres. Mas, infelizmente, a produção só utilizou a opressão vivida por nós mulheres como pano de fundo para tecer uma narrativa perigosa, que menospreza o tamanho das nossas dores e faz propaganda antifeminista e misógina. Deseducativo para homens e mulheres até dizer chega!

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O Aprendiz: aprendizado de deselegância e insensibilidade

Quando você ouve falar em um programa chamado “O Aprendiz”, o que vem em mente? Claro que quem conhece ou já assistiu a algum episódio sabe que a proposta é promover uma série de desafios gerenciais. No final, um vencedor será coroado e receberá como prêmio um mega contrato de trabalho na empresa do apresentador, que nesta edição é João Dória. Nunca assisti ao programa sob a direção de Roberto Justus, portanto, não farei qualquer comparação nem menção às primeiras edições. O que posso falar aqui é da série na versão atual, e o conjunto de atrocidades e absurdos proporcionados pelo apresentador.

As provas são bem interessantes. As tarefas exigem dos candidatos liderança, proatividade, iniciativa, criatividade e muita agilidade nas decisões. Os candidatos dividem-se em dois grupos, que se enfrentam em cada prova. Aos vencedores, uma viagem dos sonhos. Aos perdedores, uma reunião na sala de Dória, na presença de dois assistentes. Até aí tudo bem, seria espetacular, não fossem os exageros nas críticas, as palavras pesadas e o desrespeito pelos profissionais que ali estão, tentando conquistar a vaga, e se empenhando nas tarefas, ainda quando tomam a decisão estratégica equivocada.

Entendo perfeitamente o objetivo do programa. Aliás, comecei a assistir enquanto me recuperava de uma cirurgia, acreditando que dali tiraria algum aprendizado para minha vida profissional. Achei bacana a ideia, me interessou muito acompanhar o planejamento e as tomadas de decisões dos participantes, aprendi, inclusive. Mas fique completamente chocada no final, no momento da reunião dos perdedores e da decisão de quem seria demitido. O que vi ali foi um verdadeiro massacre dos perdedores, com direito a uma enxurrada de palavras grosseiras, hostis e deselegantes.

Os integrantes do grupo perdedor na tarefa são sempre tachados de “incompetentes”, “burros”, “medíocres”, “imbecis”, com todas as letras em tamanhos garrafais e negrito. Claro que quem perde a tarefa, é porque tomou decisões erradas, fez escolhas equivocadas. Mas, a meu ver, todo esforço empregado na execução, o empenho e dedicação precisam ser reconhecidos, ainda que tenham sido empregados na direção errada. Não é que o programa vá elogiar condutas precipitadas e resultados falhos, o que acredito é que tudo pode ser dito, desde que haja respeito pelo ser humano. Existem formas diferentes de se falar a mesma coisa.

Ninguém precisa humilhar o outro e pisar em suas capacidades, para fazer uma crítica. As críticas devem servir como propulsores, a finalidade deve ser educativa, construtiva. O programa poderia ser muito mais interessante, mais produtivo, se as pessoas que já estão ali expostas fossem tratadas com dignidade e respeito nos momentos em que erram. São profissionais, são pessoas. Acertam algumas vezes, erram em outras. Ninguém é perfeito. Tudo bem que errar ali pode ser fatal, mas a fatalidade não deve ser maior que o respeito. Nunca.

Tentei compreender qual seria o propósito. Acredito que há um certo masoquismo ali. A feição de Dórea parece mostrar que ele está bastante confortável naquela situação. Lamentável. Triste. Por que não apostar em uma conversa franca, em que os erros são apontados, as falhas, com críticas construtivas? Não estou defendendo que ninguém passe a mão na cabeça de ninguém. As críticas podem, sim, ser duras e incisivas. Mas nunca devem ser mal-educadas. Depois de perceber que o que eu estava vendo não era o exagero de um único capítulo do programa, mas uma fórmula comum a todos eles, decidi desligar minha televisão. Foram três episódios para perceber que aquilo ali podia ser jogado no lixo.

Vergonhoso não são os erros dos participantes do programa, mas a postura deselegante, grosseira e antiprofissional dos que têm o poder de demitir. Imbecilidade é a série de críticas desenfreadas que são atiradas contra os candidatos com o único propósito de humilhá-los. Burra é esta fórmula, que, ao invés de motivar o candidato e levar conhecimento sobre empreendedorismo e planejamento estratégico ao telespectador, aposta em atitudes questionáveis. Se alguém precisa ser demitido neste programa, esse alguém é o apresentador e sua equipe.

Um líder precisa saber motivar sua equipe nos momentos de fracasso. Ele não destrói ainda mais a autoestima dos seus subordinados. Ele tenta recuperá-la, até porque um desafio virá a seguir e será preciso vencê-lo. Um líder precisa saber lidar com seres humanos, entender suas necessidades. E, ali, Dórea é um líder. Um líder lamentável. Infelizmente.

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Por favor, não comente!

*Texto e reflexões de Andreia Santana

O título do post não é para impedir comentários aqui no blog. Ao contrário, acredito que vocês terão muita coisa para falar sobre o assunto que abordarei na “filosofagem” de hoje. Só que fiquei pensando em como batizar essas minhas reflexões, que a bem da verdade não são apenas minhas, porque surgiram de um dos meus papos com a menina Alane e de uma frase que li no Orkut de outra amiga. Sim, as minhas camaradinhas, graças aos deuses das boas ideias, são uma mão na roda na hora de arrumar temas para discorrer por aqui. É que elas me provocam – no bom sentido -, estimulam, instigam com suas visões de mundo e de vida. Algumas até brigam comigo, mas com todo respeito (não costumo manter amizades que não me respeitam). E, ao menos, penso assim, de vez em quando uma discussão é até bom. Sempre tem aquele dia em que a gente precisa ouvir umas verdades.

Ajuda também o fato de eu ter amigas de faixas etárias variadas, dos vinte e poucos anos até as senhoras como a minha mãe, que é muito boa para inspirar temas de blogagem. Aquelas amigas que são jornalistas, inclusive, já sabem que alguns dos nossos papos vão virar posts. Uma ex-chefe dizia que seu marido ficava chateado (mas só de brincadeira), porque tudo na vida dos dois virava uma pauta. Não era bem assim tudo, mas boa parte das experiências de um jovem casal com um filho pequeno acabava dando pano para a manga e rendia boas matérias de comportamento na revista que ela editava. É que a gente sempre quer saber da experiência dos outros, acho que nunca deixamos de aprender pelo exemplo. Até depois de velhinhos, sempre gostamos de compartilhar experiências. São os test drives. De vida, não de cosméticos.

Mas, nem tudo precisa ser compartilhado, há maneiras e maneiras de se dizer as tais verdades e, olha aqui o link com o título do post, nem tudo precisa de um comentário. Ou, se for para comentar, um certo cuidado é necessário. Sutileza minha gente, essa é a palavra. Mas, por que essa digressão toda para falar de sutileza? Na realidade não é bem dela que quero falar agora, mas de outra coisa que não tem nada de sutil, o mau e velho hábito de “se meter na vida alheia”. Para vocês não ficarem achando que endoidei, explico.

A troca de ideias com Alane começou com a constatação do quanto é chato as pessoas ficarem monitorando as vidas umas das outras e do quanto irrita quando alguém faz comentários enxeridos. Vejamos: você está feliz da vida diante do espelho do banheiro da empresa ou de um shopping, ou restaurante, ou até de uma festa, retocando sua maquiagem, se curtindo, numa sessão mulherice total, terapia para a autoestima, lembram? Daí, chega aquela conhecida e dispara: “Arff, mas você é vaidosa heim, fulana!” Ela pode dizer também: “Nossa, quantos cosméticos, você gasta o salário todo nisso, não é?” Completamente desnecessário, concordam? Se não concordam, fiquem à vontade para replicar ali na caixa de comentários do post. Não fujo de um bom debate. Adoro!

Mais situações desse tipo: você chega em casa, do trabalho, da balada, não importa de onde, depois da meia-noite, e ao colocar a chave no portão do edifício, aquela sua vizinha que adora cuidar da vida alheia abre logo a porta de casa, para ver quem está chegando. Me pergunto sempre se é da conta dela. Ou, se o síndico do edifício contratou porteiro novo. Não, gente, sou uma moça educada! A pergunta é mental. À vizinha enxerida dou apenas um “Boa noite, dona Cotinha” e subo as escadas para o meu apartamento.

Outra situação, só porque essa me parece das mais absurdas. Você vai comprar uma roupa, ou sapato, ou bolsa nova, ou seja lá o que você está precisando – ou querendo – comprar. Leva uma conhecida junto. Mulher adora fazer comprinhas em bando. Daí, você escolhe suas comprinhas e uma amiga dispara: “Fulana, você vai pagar esse valor todo por uma calça? Tá podendo, heim”. Pois é, também acho. Completamente desnecessário.

Alane defende a teoria de que quem se preocupa tanto em monitorar a vida alheia, é porque carece de ter uma própria. Concordo plenamente. Além disso, acho deselegante ficar reparando dessa forma nas pessoas, no quanto custou o que elas estão vestindo, no tipo de comida que colocam no prato, se sairam de casa com ou sem maquiagem. Atenção! É bem diferente isso que estou dizendo das situações em que uma amiga pede uma opinião ou quando a gente dá uma dica para uma conhecida. Trocar figurinhas, indicar onde é mais barato aquele perfume que a colega tanto gosta, ajudar alguém que está precisando de um apoio para analisar determinada situação sob ângulos diversos, tudo isso é possível e saudável. Não é disso que estou falando. Minha bronca é com a vigilância mesmo, com o interesse mórbido e a intenção má, muitas vezes mesquinha e despeitada, a inveja e a cobiça – não em ter também, mas em se achar mais merecedor que o outro – que se escondem por trás desses exemplos que descrevi. Esses é que são os comentários que prefiro que não sejam feitos. Infelizmente, em momentos constrangedores, já os ouvi.

Querer ter alguma coisa também é diferente de querer ter algo que é do outro. Segundo Zuenir Ventura, autor de Mal Secreto, quem inveja é porque se acha mais merecedor. Que audácia, não é?

Sabe aquela velha fórmula, “se não puder dizer algo bom para alguém, não diga nada”? Em certos momentos, mesmo entre grandes amigas de longa data, guardar silêncio é atitude nobre e elegante. Essa elegância não é a do fashionismo, mas aquela de alma. Ao menos para mim, nem tudo é permitido em nome da amizade. Respeito é bom e tudo mundo gosta. E por um simples motivo: magoa. Sim, pode parecer bobagem, mas há dias e dias na vida da gente. E em determinados dias, estamos tão à flor da pele, como diz o amigo Zeca naquela música, que qualquer comentário mordaz e desnecessário nos faz chorar.

Nunca deixo de enxergar uma criaturinha perversa por trás de certas atitudes como essas de monitorar a vida dos outros ou de fazer comentários que ao invés de elevar, jogam a autoestima do outro no subsolo. E quando o dono do comentário apela para o sarcasmo, então? Nossa! Aí eu enxergo uma “alminha sebosa”, como diz um amigo meu. Pois é, homem também é vítima de “alminhas sebosas”, não somos só nós não!

A frase no Orkut, que somada ao papo com Lane, me fez pensar tudo isso, era essa: “Senhor, proteja-me de todo mal, de todas as pessoas de má fé, e que toda energia negativa que aqui chegar se transforme em amor. Amém!” Bonita, não é? E independe de seguir ou não uma religião. Vejo nessa frase muito respeito e só quem sabe respeitar o espaço dos semelhantes é capaz de atos de nobreza, elegância e…agora sim, sutileza.

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Test Drive: Protetores solares da Natura

*Texto e testes de Andreia Santana

O verão de Salvador é famoso país afora pelo calor intenso, os dias ensolarados e as festas da “estação do Axé Music”. Mas para mim, que tenho a pele sensível ao sol, é um tormento. A cidade tem altíssima incidência de raios solares e usar proteção contra os raios UVA e UVB por aqui é recomendado até no inverno. Vivo testando várias marcas de protetores, principalmente para o rosto, porque tenho pele oleosa e com tendência a acne. Já usei desde os vidrinhos que vendem em farmácia e deixam a gente com “cheiro de praia” até os indicados pela dermatologista. Mas esses, geralmente, me levam à falência de tão caros!

Meus últimos testes com proteção solar foram adquiridos na revista da Natura, via uma amiga que é consultora da marca. Comprei o Hydra, da linha Chronos, um hidratante para o rosto que tem fator 15 de proteção e, pela propaganda no folheto, é a base de água e por isso se adequa a todo tipo de pele; e uma loção facial protetora “não oleosa” – é o que diz a embalagem -, da linha Fotoequilíbrio, fator 60. Gastei exatamente R$ 64,00 nos dois produtos: R$ 32,00 na loção Fotoequilíbrio e R$ 32,00 no Hydra. Agora, conto para vocês se o investimento valeu a pena…

Hydra Chronos Hidratante Protetor Diário para o Rosto, fator 15:

A embalagem de 30 ml é super prática de carregar na necessaire e quem trabalha em ambiente com ar condicionado e lâmpada fluorescente, é bom saber que ao longo do dia será necessário reaplicar o protetor e hidratar a pele. Nesse caso, o produto junta as duas coisas num vidrinho só. O fator de proteção, 15, é baixo para os padrões de Salvador, mas o nível de hidratação bastante satisfatório. A cobertura do produto é muito boa, um pouquinho faz uma camada de um filminho invisível sobre a pele. É fresquinho também e não faz meleca (quem tem pele oleosa não gosta e nem deve usar produtos melequentos, embora seja essencial usar hidratante). A absorção é quase instantânea, daí que não atrasa a maquiagem (vivo correndo para lá e para cá, meu tempo é literalmente cronometrado). No entanto, apesar dos benefícios de hidratação, de fato a pele fica macia por no mínimo oito horas, notei que agrava minha acne. Poucos produtos não surtem esse efeito em mim (vocês podem conferir outros testes que já fiz na nossa página do Test Drive). Decidi então abolir o uso no rosto e adotei no pescoço, colo e ombros. Aí sim, o resultado beira os 100% de satisfação. Hidrata, deixa uma textura aveludada gostosa ao toque e o mais importante, protege do sol e do ressecamento provocado pela exposição prolongada.

Loção Facial Protetora Fotoequilíbrio, fator 60:

Confesso que me enchi de expectativa quando vi no folheto da Natura uma loção facial “não oleosa” fator 60 de proteção. É o que toda mulher que mora numa cidade quente como o inferno pediu a Deus. Mas, me decepcionei com o uso dessa loção no rosto bem mais do que com o uso do Hydra. Apesar de vir grifado na embalagem “não oleoso”, o produto é sim, muito oleoso e a absorção na pele não é tão instantânea quanto o prometido. Me senti como se tivesse usado um dos protetores solares comuns, que chegam a deixar a pele brilhando de tanta gordura. Não recomendo para quem tem pele oleosa, mas quem não sofre desse problema, ou até tem a pele seca, com certeza terá um protetor solar potente nas mãos. A vantagem é que o fator de proteção realmente bloqueia os raios solares, não deixa passar nada e para um dia de praia, com certeza será mais que útil. A embalagem, também pequena, 50 ml, e fácil de transportar, serve para levar em dias de atividade física ao ar livre, pois cabe em qualquer bolsinho do acasalho de corrida, por exemplo.  Também testei nos ombros e no colo, onde não tenho acne (que se limita só ao rosto) e onde a pele não é oleosa. O resultado nessa região foi muito melhor, mas ainda prefiro o Hydra, que tem uma secagem/absorção mais rápida.

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Artigo: “Violência contra a mulher”

O artigo da semana escolhido para esta quarta-feira bate numa tecla que as meninas deste blog vivem tocando em alto e bom som: a militância para acabar com a covardia que é a violência contra as mulheres. O texto é da jornalista Marli Gonçalves e reflete sobre os casos mais recentes de violência aqui no Brasil e no resto do mundo (onde ainda se matam mulheres apedrejadas, como há dois mil anos atrás!!). O texto mostra ainda uma história de superação na vida da própria autora, que já viu e sentiu a violência na pele, mas deu a volta por cima. Vale muito a pena ler. No final, tem os contatos da Marli e os links para acessar suas páginas pessoais.

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**Violência contra a mulher: eu me manifesto. E você? Vai ficar olhando?

*Marli Gonçalves

Mulheres apedrejadas, esquartejadas, violentadas, exploradas, baleadas, surradas, torturadas, mutiladas, coagidas, reguladas, censuradas, perseguidas, abandonadas, humilhadas. Até quando a barbaridade inaceitável vai vigorar?

Eu me manifesto, sim, contra tudo que considero inaceitável. E não é de hoje. Desde pequena meto-me em encrencas por causa disso. Uma vez, tinha acho que uns 12 anos, e brincava na portaria do prédio quando ouvi um homem brigando com uma mulher do outro lado da calçada, ameaçando-a de morte, dando-lhe uns sopapos. Não tive dúvidas. Atravessei, entrei pequenina no meio deles, gritando forte por socorro, o que o assustou e fez com que ele parasse as agressões. Para minha surpresa, ao olhar para os lados, vi que havia muitos adultos assistindo à cena, impassíveis.

Nunca me esqueci disso. Inclusive porque, quando voltei para casa, tomei uma bronca daquelas. Atraída pelos meus gritos, minha mãe tinha ido à janela, e assistiu. “E se ele estivesse armado e te matasse?” – ouvi. Creio que respondi que nunca ficaria quieta vendo aquela cena, onde quer que fosse, e que jamais seria resignada. Dentro de minha própria casa já havia assistido a cenas que teriam ido para esse lado, não tivesse sido minha mãe uma guerreira baixinha e desaforada, ela própria vítima de um pai tão violento que não o aceitava nem em sua carteira de identidade, nem em sobrenome. Minha avó materna teria sido morta por um “acidente”, em que um motorista de ônibus, que por ele teria sido pago, acelerou quando ela descia. Caiu, bateu com a cabeça na sarjeta, morrendo horas depois, de hemorragia, na pequena cidade do interior de Minas.

Sakineh Mohammad Ashtiani, condenada a morte por adultério no Irã

Anos depois, senti em minha própria pele o desespero solitário da agressão, da humilhação, do medo. Em plena juventude e viço, em uma ligação amorosa complicada, de paixão e amor intenso que vi virar violência, agressão, loucura e insegurança, só saí viva porque mal ou bem sou de circo, e protegida pelos meus santos e anjos, daqui e do céu… Tentei não envolver ninguém, resolver, e quase virei primeira página policial. Tive a minha vida quase ceifada, ora por ameaça de facadas; ora por canos e barras de ferro, ora pela perda de todas as referências, ora pela coação verbal. Os poucos e únicos amigos que ainda tentaram ajudar também entraram no rol da violência. E os (ex) amigos que viraram as costas, ou faziam-se de cegos, desses também me lembro bem; inclusive de alguns que conseguiam piorar a situação e pareciam gostar disso, insuflando. Ou se calando. Ou me afastando. Deve ser bonito ver o circo pegar fogo.

Desespero solitário, sim. Não há a quem recorrer. Polícia? Apoiam os homens. Delegacia da Mulher? Na época não existia, mas parece que sua existência só atenuou a dimensão do problema, que pode acontecer em qualquer lar, lugar, classe social. Lei? Veja aí a Lei Maria da Penha. Pensava já naquele tempo, meu Deus, e se eu ainda tivesse filhos para proteger, além de mim? Não poderia ter me livrado – concluo ainda hoje, pasma em ver como a situação anda, em pleno Século XXI. Hoje, acredito que curei minhas feridas, que não foram poucas, especialmente as emocionais.

O que choca no caso Eliza Samudio, tanto quanto a violência em si, é o fato de muitas pessoas julgarem o comportamento da vítima, como se isso justificasse a violência que ela sofreu

Há semanas venho tentando defender, aqui do meu cantinho, a libertação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, mais uma das mulheres iranianas cobertas da cabeça aos pés pelo xador, a vestimenta preta que é uma das versões mais radicais do véu muçulmano. Mas esse, a roupa, não é o maior problema dela e de outras iranianas. Viúva, dois filhos, em 2005 Sakineh foi presa pelo regime fundamentalista do Irã. Em 2007, julgada. A pena inicial foram 99 chibatadas. O crime, adultério! Sua pena final, a morte por apedrejamento.

Uma história que lembra a fascinante personagem bíblica de Maria Madalena, a moça que aguardava a morte por apedrejamento até ser salva por Jesus Cristo. Cristo provocou com uma frase que ficou célebre, e revelou-se futurista: “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Esses iranianos estão querendo matar Sakineh e outras a pedradas, e com pedras pequenas, para que sofram mais; talvez porque sejam, acreditam, muito puros? A sharia, lei islâmica, devia prever cortar dedos, língua, furar os olhos desses brucutus modernos, hitlers escondidos sob mantos religiosos, protegidos por petróleo e riquezas?

Não bastasse a novela de Eliza Samudio que, morta ou não, faltou ser chutada igual bola, e de tantas jovens, inclusive adolescentes, mortas pelos namoradinhos, a advogada que morreu no fundo da represa. Todo dia tem violência. No noticiário ou na parede do lado da sua, no andar de baixo, no de cima, na casa da frente.

Cartaz da campanha Basta!, organizada por entidades civis e femininas

Nem bem a semana terminou e outro caso internacional estava na capa da revista Time, com o propósito de pedir a permanência das tropas de ocupação no Afeganistão. Na foto, na capa, a imagem chocante da afegã Aisha, 18 anos, que teve o nariz e as orelhas decepados pelo Talibã. Foi a punição à sua tentativa de fugir de casa, de uma família que a maltratava. Agora, Aisha está guardada em lugar sigiloso, com escolta armada, paga pela ONG Mulheres pelas Mulheres Afegãs. Deve ser submetida a uma cirurgia para a reconstrução do rosto. No Irã, ou melhor, globalmente, porque lá nada se cria, se estabeleceu a campanha “Um Milhão de Assinaturas exigindo mudanças de leis discriminatórias”, com protestos e abaixo-assinados, de grupos internacionais de mulheres e ativistas, organizações de direitos humanos, de universidades e centros acadêmicos e iniciativas de justiça social, que manifestam o apoio às mulheres iranianas para reformar as leis e conseguir o mesmo estatuto dentro do Irã legal do sistema.

O que há? O que está havendo? Mulher é menos importante? A realidade: em cerca de 50 pesquisas do mundo inteiro, de 10% a 50% das mulheres relatam ter sido espancadas ou maltratadas fisicamente de alguma forma por seus parceiros íntimos, em algum momento de suas vidas; 60% das mulheres agredidas no ano anterior à pesquisa o foram mais de uma vez; 20% delas sofreram atos muito fortes de violência mais do que seis vezes. No Brasil, a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos; 20% das mulheres do mundo foram vítimas de abuso sexual na infância; 69% das mulheres já foram agredidas ou violadas. No Nordeste, 20% das mulheres agredidas temem a morte caso rompam a relação; no geral, 1/3 das mulheres agredidas continuam a viver com os seus algozes. E continuam sendo agredidas. É pau, é pedra, é o fim do caminho.

Cartaz de campanha contra a violência

Estudos identificam, ainda, uma lista de “provocadores” de violência: não obedecer ao marido, “responder” ao marido, não ter a comida pronta na hora certa, não cuidar dos filhos ou da casa, questionar o marido sobre dinheiro ou possíveis namoradas, ir a qualquer lugar sem sua permissão, recusar-se a ter relações sexuais ou suspeitar da fidelidade, entre eles.

Até quando ficaremos assistindo a esse filme? Chega. Foi como li a conclamação da amiga e uma das mais respeitáveis profissionais de comunicação do país, Lalá Aranha, em seu Facebook: “Não posso entender como em pleno século XXI as mulheres brasileiras são tão molestadas. Precisamos fazer algo neste sentido. Quem me acompanha?”

Adivinhem quem foi a primeira a responder? Eis, assim, aqui, também, minha primeira contribuição.

*Marli Gonçalves é jornalista, blogueira, escritora, radialista, twitteira e um monte de outras coisas legais.

Para falar com a Marli: [email protected] ou [email protected]

Para ler mais Marli: www.brickmann.com.br e marligo.wordpress.com

**Texto enviado por email e publicado neste blog mediante autorização da autora, desde que citada a autoria e respeitada a integridade do texto.

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Redes Sociais: uma nova interação com o mercado

Cena de 1984, inspirado em obra emblemática de George Orwell

Começamos 2010 – após  o recesso de virada de ano – com um post mais focado no mundo dos negócios. Afinal, este é o ano do ambicioso tigre, o ano que promete muitas realizações de projetos pessoais e corporativos. O tigre é bom estrategista, é persistente e portanto, vamos usar a influência do felino para desengavetar aquelas ideias que podem dar uma guinada na nossa vida profissional, que tal? Como jornalistas, vivemos em contato permanente com a opinião alheia, sejam especialistas ou leitores das mais diversas áreas. Como blogueiras, compartilhamos um pouco dos pensamentos de vocês. Mas, sabiam que o que vocês dizem na rede está sendo monitorado? Sim, vivemos no big brother previsto por George Orwell em 1984, livro emblemático e profético sobre um futuro em que todas as nossas relações seriam vigiadas (para o bem e para o mal). O advento da internet mostra que Orwell não era nenhum visionário maluco e as redes sociais só confirmam. Agora, juntando o ano do tigre (ênfase nos negócios) com as redes sociais, temos o artigo abaixo, escrito pelo analista de sistemas Samuel Gonsales.  No texto, ele analisa a importância dessa “vigilância” estilo big brother, possível em boa parte graças às redes sociais, para o desenvolvimento das marcas e corporações. Empresas de RH dão uma checada no orkut dos colaboradores. E mesmo que exista uma polêmica jurídica por trás da questão, a verdade é que cada vez mais a nossa vida se torna pública (mais uma vez, para o bem e para o mal). Marcas de produtos e empresas prestadoras de serviço não querem ter seus nomes em boca de matilde, mas ficam atentas ao que dizem os usuários e clientes. Quantas vezes você, antes de viajar, checou se em alguma comunidade do orkut ou do facebook comentaram sobre o hotel ou pousada onde pretende se hospedar? Quantas vezes já deixou de comprar uma marca de cosméticos porque leu num blog que aquele produto provoca acne em determinado tipo de pele? Lógico que, confiabilidade é a palavra de ordem nesse tipo de situação. E responsabilidade social também. Não dá para ser leviano e sair falando mal de todo mundo só pelo prazer de prejudicar essa ou aquela empresa. Mas eu, particularmente, costumo ler blogs onde alguém testou e aprovou, ou reprovou, determinado serviço. É a opinião de alguém como nós que buscamos e as empresas sabem a importância disso. É a velha propaganda boca a boca, só que potencializada pela realidade virtual.

Aos que se interessam pelo tema, confiram o artigo de Gonsales:

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Redes Sociais: uma nova interação com o mercado

*Samuel Gonsales

Redes sociais são modelos de relacionamentos criados ou expandidos a partir de ferramentas da internet, com o objetivo de conectar pessoas de todo o mundo por meio de suas afinidades, gerando amizades, comunicação e vínculos sociais. Essa experiência se dá pela criação de perfis com exibição de textos (pensamentos, comentários, etc.), imagens, músicas, fotos e vídeos pessoais.

Mais do que a exibição de um perfil, as redes sociais buscam um novo comportamento das pessoas para garantir compartilhamento de idéias e colaboração mútua. Não obstante os aspectos citados acima, é preciso destacar ainda que a opinião de cada indivíduo é cada vez mais valiosa, e que através das redes sociais, podemos aprender a ouvir nossos amigos, clientes, colaboradores, fornecedores, comunidade local e concorrentes, para que possamos entender suas opiniões, peculiaridades e características.

A palavra de ordem das redes sociais é interação. Comparando a internet com outros meios de comunicação em massa como televisão, rádio e jornal, estes deixam muito a desejar na interação com seu público.

A experiência única de rever amigos distantes, ou conhecer pessoas que curtem e conhecem coisas que também admiramos, é feita por meio de páginas da internet onde as pessoas se cadastram, tornando-se membros e passando a compartilhar sua vida ou parte dela com outras pessoas.

Vale ressaltar, também, que as redes sociais estão promovendo desenvolvimento social, idéias inovadoras, novos valores e atitudes. Pessoas acostumadas ao silêncio estão agora colocando a boca no trombone e enfatizando suas opiniões.  A difusão da internet e o acesso à informação tornaram-se muito mais democráticos.

Houve um caso muito interessante outro dia em que uma amiga estava contratando um buffet para uma festa. Ela conheceu o lugar, verificou as instalações e acertou o orçamento, mas antes de assinar o contrato, procurou no Orkut pessoas que já haviam promovido festas no mesmo lugar. Nessa busca, descobriu comentários de vários clientes sobre os pontos fortes e fracos do buffet. A decisão por fazer ou não a festa no local foi definida, desta forma, através das experiências compartilhadas pela internet com pessoas que já haviam utilizado o local. Finalmente, minha amiga desistiu do negócio e optou por outro buffet com feedbacks mais positivos no Orkut.

Quem usa? – Com todo esse sucesso e mais e mais pessoas aderindo à novidade, as empresas e pessoas públicas começam a perceber que as redes sociais são uma valiosa ferramenta de publicidade, com retornos muito expressivos. Percebendo nelas a chance de um bom negócio, algumas empresas estão contratando mão-de-obra voltada especificamente para a comunicação via redes sociais, buscando se firmar nesse novo mercado.

Veja alguns casos reais:

– O Presidente dos EUA, Barack Obama usou as mídias sociais a seu favor, durante a sua campanha à presidência e também depois de eleito.

– O governo britânico incentiva seus soldados a utilizarem redes sociais para que mantenham contato com familiares e amigos. No início, os soldados precisavam de permissão para acessar sites de relacionamento – mas depois, foram liberados até mesmo para relatarem experiências no exército.

– Os bancos criam discussões e iniciativas para adentrar as redes sociais, pois sabem que seus clientes estão cada vez mais engajados em canais de comunicação de caminho duplo.

Marcas em evidência – Uma finalidade também muito interessante para as empresas é saber o que estão falando sobre sua marca ou produto. Ao entrar em qualquer uma dessas redes e buscar o nome do produto ou marca, é possível tomar conhecimento de muitas informações desconhecidas internamente pela organização.

De ferramentas voltadas para interconectar pessoas ao redor do mundo, as redes sociais estão se tornando uma aposta cada vez mais comum para construir e manter relacionamentos sólidos com clientes, prospects, parceiros e colaboradores – seja para criar novas oportunidades de negócios, intensificar a fidelização de clientes ou fortalecer a marca.

O crescente número de internautas interessados em acompanhar novidades sobre diversas empresas mostra que a estratégia pode trazer grandes resultados. Até mesmo para a indústria brasileira de moda, que aos poucos supera a desconfiança desse mercado diante das novas formas de relação comercial que surgiram após a popularização da internet.

*Samuel Gonsales é Gerente Executivo da Millennium Network e analista de sistemas pela Universidade Paulistana, com especialização (MBA) em sistemas de gestão empresarial pela Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP).

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