Dê uma turbinada na sua biblioteca

Não é novidade para os leitores deste blog que as autoras, além de falarem feito duas vitrolas quebradas e escreverem compulsivamente, são traças de biblioteca. Mas gente, convenhamos, livro ainda custa muito caro neste nosso país que injustamente tem fama de não gerar bons leitores. E como é que alguém pode formar uma biblioteca decente com livros que custam o equivalente ao que uma família de quatro pessoas gasta na feira da semana?

A solução para não perder o bonde das letras é pesquisar. Frequentar sebos, futucar as prateleiras das livrarias e não ter vergonha de comprar aquelas edições de bolso, que geralmente custam menos. Desde que essas edições tenham qualidade editorial e tragam o texto na íntegra.

Recentemente, cinco bons livros para começar uma biblioteca de respeito foram lançados pela Edições BestBolso. Detalhe importante: todos custam menos de R$ 20,00. Conversa de Menina, que como toda mulher adora uma promoção, foi atrás saber detalhes. Confira:

Lia Luft
Lia Luft

PERDAS & GANHOS
Lya Luft
140 páginas
Preço: R$9,90
Texto integral, com Nova Ortografia

Este livro, de 2003, vendeu quase 1 milhão de exemplares. Trata-se de uma lição genial de otimismo da escritora Lya Luft. Remexendo nas próprias lembranças, ela compõe ensaios deliciosos, escritos em tom de diálogo com outras mulheres. Não tem como não se identificar.

André Malraux
André Malraux

A CONDIÇÃO HUMANA
André Malraux
Tradução de Ivo Barroso
350 páginas
Preço: R$17,90
Texto integral

China, março de 1927. Um homem corroído pela amargura. Um país sacudido por uma insurreição. Atrás de fachadas insuspeitas de cidades sufocadas por riquixás, automóveis e bondes, fumaça de carvão, excrementos e suores de brancos e amarelos, homens planejam uma revolução, muitos divididos entre a culpa e a ideologia. Publicado em 1933, este livro de André Malraux é um relato dos acontecimentos que deram início à Revolução Chinesa. Um depoimento pessoal sobre um dos momentos históricos mais dramáticos do século XX.

Mario Puzo
Mario Puzo

O ÚLTIMO CHEFÃO
Mario Puzo
Tradução de Geni Hirata
532 páginas
Preço: R$19,90
Texto integral

Quem assistiu ao memorável filme com Marlon Brando e ainda não leu o livro, taí uma oportunidade de conhecer a saga dos últimos mafiosos ítalo-americanos que viveram nos Estados Unidos e sua influência em Hollywood e Las Vegas. O chefão é Domenico Clericuzio, homem determinado a assegurar o futuro de sua família numa era de apostas legalizadas, investimentos no cinema e a constante ameaça dos informantes do governo. O velho Clericuzio está bem perto de alcançar seu objetivo quando um segredo do passado ameaça seus planos e provoca uma guerra entre dois primos de sangue.

A LOJA DE PIANOS DA RIVE GAUCHE
T. E. Carhart
Tradução de Maria Alice Máximo
294 páginas
Preço: R$17,90
Texto integral, com Nova Ortografia

Um romance de rara sensibilidade sobre a redescoberta do amor pela música. A loja de pianos da Rive Gauche é uma silenciosa e apaixonante história sobre o piano e sua importância na vida francesa e na vida do próprio autor. Enquanto caminha pelas ruas de Paris para levar seu filho à escola, o personagem Carhart, um americano que vive em Paris, passa por uma loja de reparos e vendas de pianos e faz amizade com Luc, o restaurador, líder de uma confraria parisiense que se reúne na loja de pianos. A partir desse encontro, Carhart irá reviver sua infância e uma paixão esquecida.

Agatha Christie
Agatha Christie

OS RELÓGIOS
Agatha Christie
Tradução de Carmem Prudente
280 páginas
Preço: R$14,90
Texto integral

Essa é uma das aventuras do detetive Hercule Poirot, um dos personagens mais carismáticos de Christie. Ao visitar um condomínio na pequena cidade de Crowdean, o agente secreto Colin Lamb acaba se envolvendo na investigação de um estranho assassinato ocorrido naquele lugar: um homem desconhecido foi encontrado morto na sala da casa da Sra. Pebmarsh, uma deficiente visual muito independente e peculiar. Curiosamente, na cena do crime são encontrados quatro relógios marcando todos a mesma hora. O caso parece complexo, principalmente quando outros dois crimes são cometidos em circunstâncias igualmente suspeitas. Colin Lamb desafia então o seu amigo Hercule Poirot a desvendar o caso.

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Hannah Arendt: filósofa, judia e mulher

Hannah Arendt integra a minha lista pessoal das mulheres mais importantes da história da humanidade. Não apenas porque sua trajetória de vida nos apresenta uma mulher guerreira, de origem judia, nascida na Alemanha, e que sofreu na pele a perseguição do regime nazista de Hitler, mas também porque se impôs e fez-se reconhecer como pensadora, filósofa, que se dedicou a mudar as ideologias Hannah Arendtsociais de sua época, através de seus escritos sobre, por exemplo, os regimes totalitários, a política e o conceito de liberdade. Ela foi uma verdadeira cientista política, uma mulher que se empenhou nos estudos críticos e conseguiu transformar o pensamento ocidental.

Para quem quer se aprofundar nos estudos sobre a ideologia política contemporânea, é salutar acrescentar Hannah Arendt à lista de bibliografia essencial. Depois de concluir o doutorado em filosofia, na Universidade de Heidelberg (1928), ela sofreu os efeitos do racismo anti-semita e foi obrigada a se refugiar em Paris. Lá, trabalhou com refugiados judeus e teve o privilégio de estudar com Karl Jaspers e Martin Heidegger (com quem manteve um complicado relacionamento amoroso). A vida não foi das mais fáceis para ela. Já no início da década de 40, a França foi ocupada pelos nazistas e Hannah precisou novamente fugir, desta vez para os Estados Unidos, naturalizando-se cidadã norte-americana. É nessa época que ela lança sua primeira obra “Origens do Totalitarismo” (1951), que virou um clássico e entrou para o rol das grandes contribuições literárias para a compreensão do regime totalitário.

A narrativa começa com a ascenção do anti-semitismo na Europa oitocentista e segue pela análise do imperialismo colonial europeu de 1884 até a deflagração da Primeira Guerra Mundial. Um dos grandes méritos da publicação está em dissecar a Alemanha nazista e a Rússia estalinista. A escritora faz um desenho preciso da transformação por que passou as classes sociais e a formação das massas, ressaltando inclusive a função da Hannah Arendt propaganda no território não totalitário. Ela consegue, com maestria, explicar como a manipulação do terror e do medo são indispensáveis para a manutenção destes tipos de governo, e arremata com uma análise detalhada do estado de solidão dos indivíduos enquanto condição determinante para o domínio absoluto do Estado totalitário.

Novas polêmicas ancoraram com “Eichmann em Jerusalém” (1963), em que denunciava a participação das lideranças judaicas no extermínio promovido pelos nazistas na 2ª Guerra Mundial. O livro, que faz uma análise do julgamento do oficial nazista responsável pela organização dos campos de extermínio, Adolf Eichmann, fez brotar o conceito da banalidade do mal. Em linhas gerais, ela pontua que embora os atos cometidos pelos seguidores de Hitler sejam considerados monstruosos, muitos deles não eram sádicos nem pervertidos. Eles apenas cumpriam ordens. E completa: “mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais”. O estudo do inquérito policial, do seu comportamento durante o julgamento e do histórico de vida de Eichmann levaram-na à conclusão de que as suas atitudes derivavam de uma “curiosa e bastante autêntica incapacidade de pensar”. Esta é a essência da banalidade do mal, e, basta uma observação supercial da nossa realidade, veremos que se aplica perfeitamente aos nossos dias.

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Livros: veja a cotação dos preços e compre
>> Eichmann em Jerusalém
>> A condição Humana
>> Entre o Passado e o Futuro
>> Origens do Totalitarismo
>> Nos Passos de Hannah Arendt (biografia escrita por Laure Adler)
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Juntos, os dois livros mostram-se absolutamente indispensáveis para o entendimento do que foi o século XX. A eles, somam-se tantos outros, como “Entre o Passado e o Futuro”, no qual aborda o discurso político do século XX. Afinal, foi ela personagem de toda essa transformação por que passou a sociedade da época. E não há como esquecer de “A Condição Humana”, uma ampla reflexão sobre as práticas políticas do século passado e a teoria que as envolve. O que mais me fascina em Hannah Arendt, além de sua linguagem ousada e das críticas fundamentadas, é a forma como remonta toda uma era, adotando uma postura de enfrentamento da realidade e combate. É importante destacar que, apesar do berço judeu, Hannah Arendt não foi criada sob os dogmas religiosos e tradicionais.  

Alguns autores se referiram a Hannah Arendt como a teórica do inconformismo. Pra mim este rótulo consegue refletir a importância do pensamento dela. Inconformada, disseminou seus ideais, ganhou adeptos e contribuiu para a transformação social. Hannah Arendt é uma mulher que disse muita coisa, mas que poucas pessoas leram. Revisitar as obras de pensadores como Hannah Arendt me faz recordar uma frase de Pascal, matemático e filósofo francês. Ele dizia: “Nada é mais difícil que pensar”. Embora difícil, é uma arte que precisa de exercício contínuo. É o exercício constante da mente que nos faz adquirir elementos para a resolução dos tantos problemas. Que muitos se inspirem nela e comecem agora, porque nunca é tarde, a pensar.

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