Um papo sobre sexualidade, menarca e dúvidas na “gineco”

A jornalista Vera Moreira enviou ao blog um pingue-pongue com oito perguntas mais frequentes que as mães fazem no consultório ginecológico, quando precisam levar as filhas pré-adolescentes à uma consulta pela primeira vez. Quem responde às dúvidas é a ginecologista e obstetra Denise Coimbra, que tem uma experiência de atendimento em consultório de mais de 20 anos. Segundo a especialista, junto com a primeira menstruação, ou menarca, de uma menina, é preciso refletir sobre a educação sexual que ela recebe, a saúde e os cuidados que ela precisará ter ao entrar na idade reprodutiva e que garantirão qualidade de vida até ela tornar-se avó. Geralmente, a primeira menstruação acontece entre os 10 e os 13 anos. Mas há casos de meninas que menstruam pela primeira vez antes ou depois desse período.

Confiram as perguntas dos pais e as respostas da Drª Denise:

1 – Como o corpo da criança indica que a menstruação está  próxima?

R= Antes da menarca (primeira menstruação) acontece a pubarca, o aparecimento e o engrossamento dos pelos em região pubiana, com distribuição triangular que recobre o Monte de Vênus. Em seguida acontece o desenvolvimento mamário com crescimento das mamas, muitas vezes com assimetria.

2 – Qual é a idade natural para começar a menstruar?

R= Entre 12 e 15 anos, mas hoje tem meninas que menstruam aos 9 anos.

3 – Ao menstruar, o que muda no corpo da menina?

R= Muda tudo! Alterações na distribuição de gordura para coxas e quadris, que dão o formato arrendondado, e o afinamento da cintura. É comum depois de alguns ciclos anovulatórios (sem ovulação) a menina apresentar um muco cervical, que faz apresentar umidade na calcinha no período ovulatório, que se confunde com um corrimento. E as modificações psicossociais, fazendo a menina ter atitudes mais delicadas e sensuais.

4 – Quais as conseqüências da menstruação precoce?

R = Menarca precoce pode atrasar o crescimento, além de gerar conflitos com o papel social da menina.

5- Em quais casos é recomendável retardar a menarca?

R = Se a estatura não está adequada, respeitando o padrão genético dos pais, ou se ela ocorrer muito precocemente entre 5 e 9 anos.

6 – Como é feito o retardamento da menstruação?

R = Com o uso de hormônios para bloquear a ação da hipófise sobre os ovários por meio de medicação oral ou implantes subcutâneos.

7- Por que as meninas estão menstruando mais cedo?

R = A poluição e os agrotóxicos devem ter uma interferência direta nesta mudança de idade para a precocidade da menarca.

8 = Como devo deve proceder se estou preocupada com a menarca da minha filha?

R = É importante saber das mulheres da família (irmãs, tias e mãe) qual foi a idade da menarca. Não tenha preocupação se acontecer entre os 12 e 15 anos, mas a mãe deve se preocupar se: o histórico familiar apontar antecipação para 10 anos, vendo também a estatura e o desenvolvimento de caracteres secundários; bem como a menarca tardia, depois dos 16 anos. Nesses casos, deve-se procurar um ginecologista para orientação e investigação, necessitando muitas vezes de um cariótipo por causa de mosaicismo (alteração cromossômica) em algumas síndromes.

Saiba mais:

Denise Coimbra, além de ginecologista e obstetra, é especialista em fertilidade humana. Ela mantém um site com informações importantes sobre adolescência, menopausa, hpv, saúde reprodutiva e com reportagens em texto e video. Há ainda uma sessão para contato com a especialista. Para conferir: www.dradenisecoimbra.com.br

Em tempo – Quem se interessa pelo tema sexualidade na infância, como pais e educadores devem lidar com a questão, o instituto Kaplan – publicamos aqui no blog um excelente artigo da entidade sobre gravidez na adolescência -, está promovendo o curso “Sexo também é coisa de criança”, nos dias 23 e 24 de abril, em São Paulo.

O curso tem carga horária de 16 horas, apostilas e material lúdico-educativo. Os temas abordados serão: Sexualidade e suas funções; Educação sexual e cidadania; O papel do educador no desenvolvimento da criança; a construção da sexualidade na infância; a preparação da criança para a puberdade; Sexualidade e prevenção e um módulo com propostas de ações em educação sexual na infância.

Interessados em se inscrever devem entrar em contato pelo telefone (11) 5092-5854 ou email: [email protected]

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Artigo: *É possível evitar gravidez na adolescência

Neste sábado, 26, é o Dia Mundial de Prevenção da Gravidez na Adolescência, uma das mais importantes causas de abandono escolar entre meninas de 15 a 17 anos. Para lembrar a data, o Conversa de Menina publica um artigo assinado por Maria Helena Vilela, diretora do Instituto  Kaplan, ong voltada para educação e estudos sobre sexualidade, que atua principalmente com foco na adolescência. O Instituto criou o programa Vale Sonhar, que tem o objetivo de reduzir o índice de gravidez na adolescência a partir de um curso de capacitação de profissionais em educação. O projeto piloto foi desenvolvido no Vale do Ribeira (SP), onde constatou-se entre 2004 e 2006, uma redução de 91% de casos de gravidez na adolescência em 14 municípios. O Kaplan desenvolve projetos com as Secretarias de Educação dos estados de S.Paulo, Alagoas e Espírito Santo. Confiram o artigo:

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É POSSÍVEL EVITAR GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

*Maria Helena Vilela

gravidez na adolescenciaOs índices de gravidez na adolescência são alarmantes num país como Brasil, em pleno crescimento econômico e com maior participação de pessoas de baixa instrução no mercado consumidor. Pelos dados oficiais do Datasus – Ministério da Saúde – 24% dos bebês nascidos vivos no Brasil em 2005 são filhos de meninas entre 10 a 19 anos. No estudo Juventudes Brasileiras, realizado pela UNESCO, 25% das meninas que engravidam na adolescência abandonam a escola. A evasão escolar é uma das conseqüências imediatas da gravidez na adolescência.

Os pais transferiram para a escola a obrigação de ensinar e discutir educação sexual.  Há 15 anos, o Instituto Kaplan desenvolve metodologias que promovem capacitação de profissionais para explicar como a sexualidade deve ser vivida, sem interromper sonhos. Quando trabalhamos com educação e saúde pública, temos que ter em mente nossa responsabilidade. Descobrimos que, com vontade política e investimento no capital humano, é possível diminuir a gravidez na adolescência.

O Instituto Kaplan, com parceria da Pfizer, elaborou um projeto em 14 municípios do Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres do Estado de S.Paulo. O “Vale Sonhar” conseguiu diminuir 91% o índice de gravidez na adolescência em 14 municípios, por meio de um curso de capacitação em sexualidade para professores das escolas estaduais e educadores do Programa Escola da Família; além de formação da rede comunitária de prevenção de gravidez na adolescência – REGA. A dramatização de situações como: fazer uma viagem ao futuro estando grávida e perceber o adiamento dos sonhos de estudar e fazer uma carreira, foi uma eficaz aliada da informação para conscientizar os adolescentes.

Esse trabalho foi emblemático e as secretarias de educação dos estados de Alagoas, Espírito Santo e São Paulo adotaram o Projeto Vale Sonhar, capacitando seus professores da rede pública, totalmente voltados para o bem estar do adolescente, a diminuição da evasão escolar e a prevenção de saúde. Ganha a sociedade, que terá um adolescente se preparando para o mercado de trabalho e menos crianças na rua ou criadas pelos avós, engrossando estatísticas de país subdesenvolvido.

O Projeto Vale Sonhar tem seus reflexos no comportamento desses jovens, mas impacta positivamente no sistema de saúde, na produção escolar e na possibilidade de formar talentos para o mercado. Os professores ficam motivados porque o resultado se vê na maturidade dos alunos e na perspectiva de vida melhor pelo estudo.

É necessário encarar a gravidez na adolescência como um problema da sociedade! Criar um círculo virtuoso é dever do estado, apoiado pela responsabilidade social de empresas, dos profissionais de ONG´s e OCIP´s, de professores comprometidos com o futuro intelectual da nação, de profissionais de saúde envolvidos e de pais que querem um futuro melhor para seus filhos.

A escola representa o principal espaço de sociabilização de crianças e adolescentes. Isto, associado ao tempo cada vez mais reduzido que os pais ficam com seus filhos, faz da escola uma das principais fontes de aprendizagem da convivência em grupo que podem contribuir para a  saúde e da qualidade de vida de seus alunos.

Cena do filme Juno, que mostra a história de jovem que engravidou aos 16 anos
Cena do filme Juno, que mostra a história de jovem que engravidou aos 16 anos

É preciso entender que os paradigmas da sexualidade mudaram exponencialmente na última década. Os jovens têm acesso a informações com todo tipo de conteúdo pela internet, além da motivação para ter comportamentos sexuais, porque isso é da natureza humana e a nossa sociedade está mais permissiva em relação à sexualidade.

 

Isso exige dos adultos diálogo franco, honesto, sem meias palavras. Com a mãe levando sua filha ao ginecologista, explicando como usar os métodos contraceptivos, esclarecendo que não é inteligente segurar o namorado com uma gravidez e confirmando que a adolescência não é o melhor momento para se ter um filho. É preciso desenvolver a auto-estima nessa garota. O mesmo vale para os meninos: é preciso entender que usar camisinha é um ato de autonomia e controle de sua paternidade. Um filho é bem vindo se planejado e na hora certa.

A escola, através de seus professores capacitados com metodologia eficiente, será a maior aliada dos pais e do Governo para combater e prevenir a gravidez na adolescência. Precisamos desbancar a hipocrisia, olhar para nossos jovens com a perspectiva de fazer uma nação qualificada e com força para fazer o Brasil crescer em inovação, em trabalhos que utilizem nossa capacidade intelectual e não por ser mão-de-obra barata.

Investir nas políticas de educação e saúde, visando os adolescentes, é apostar num país com perspectiva de crescer mais justo, mais igualitário em oportunidades. Um jovem casal pobre, com filho para criar, encarece o estado, rouba os sonhos e diminui a possibilidade de mudar o patamar econômico de uma família.

*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplan

Visite o site da entidade: www.kaplan.org.br

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