Fechando a série Especial Dia da Criança publico um texto de Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, entidade especializada em arte-educação, com foco na questão da educação sexual e prevenção à gravidez precoce. Neste texto, Maria Helena fala, de maneira resumida e de fácil compreensão, da sexualidade infantil, abordando temas tabu como masturbação e prazer sexual. É um material para orientar os pais e professores a lidar com a descoberta da sexualidade. Confiram:
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Outros artigos de Maria Helena no blog:
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>>Artigo: Verdades e mitos sobre a homossexualidade
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>>Mais um papo sobre a gravidez na adolescência
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Sexualidade da criança – atenção para pais e educadores
*Maria Helena Vilela
É difícil para o adulto aceitar que é natural a criança sentir prazer sexual. Mas, é na infância que construímos os alicerces que compõem os elementos centrais da sexualidade: a vinculação afetiva, a configuração da imagem corporal, a identidade sexual básica como homem ou mulher, a segurança e conforto como ser sexual, os medos e as preocupações… e também as sensações eróticas.
Quando pensamos em prazer sexual, imediatamente nos remetemos à excitação sexual e ao orgasmo. Mas para chegarmos até aí, antes, foi importante vivenciar outras formas de prazer decorrentes da descoberta do corpo, do carinho e da intimidade que irão interferir diretamente na relação afetivo-sexual, permitindo a entrega, a confiança e a cumplicidade.
Tudo começa no decorrer do primeiro ano de vida. A primeira fase é aquela que Freud chamou de fase oral, na qual a sucção é a manifestação sexual característica. Mas, o prazer não está unido, apenas, à estimulação e à riqueza de sensações da mucosa da cavidade bucal e dos lábios. O alimento, o leite materno ou de mamadeira, morninho, desliza pelo seu aparelho digestivo, aliviando a dor causada pela fome. Neste momento, além de saciar, o ato de amamentar propicia o aconchego e o calor do colo materno, a conversa e a troca de olhares. Este contato materno propicia a consolidação da imagem corporal, o estabelecimento de zonas erógenas e a experimentação de emoções e sentimentos associados às sensações de prazer e desprazer que ajudam a confirmar o vínculo afetivo.
É a forma como a criança é atendida em suas necessidades que dá a ela a dimensão de sua importância e a aprendizagem do amor. A criança ama do jeito que se sente amada. Por isso, que acredito que a melhor forma do professor ensinar um aluno a amar e a ter auto-estima é amando, respeitando e valorizando suas necessidades.
Em torno do segundo ano de vida, a criança adquire a capacidade de aumentar a percepção e a coordenação motora. Ela consegue cada vez mais explorar o ambiente, adotar maneiras de expressar emoções e perceber a importância do controle de certas vontades. É o início da sociabilização! Quem exerce maior influência neste processo são os pais, mas os professores também significam muito para os seus alunos e despertam neles, o desejo de agradá-los e sentir confirmado seu bem querer e aprovação.
Para a criança sentir prazer nesse processo de aprendizagem ele precisa ser gradativo, desenvolver-se num contexto de baixa tensão e sem desgaste emocional dos pais ou educador. A criança é simplesmente levada a imitar o comportamento correto e recompensada sempre que o fizer.
Aos 3-4 anos de idade, por meio da observação, manipulação e percepção das sensações corporais, a criança faz a diferenciação sexual de si e do outro, descobrindo que quem tem “o pipi para fora” é homem e o “pipi encoberto” é mulher. É um período de investigação sexual. Daí surgirem os famosos porquês. Como se de repente a criança começasse a enxergar as coisas. Ela precisa conhecer e entender o que acontece à sua volta. Através de perguntas, vai testando as diferenças entre os sexos (homem tem barba, mulher tem seios) e demonstra interesse tanto em relação aos adultos como a outras crianças.
Os bebês pequenos e as barrigas de mulheres grávidas exercem grande atração sobre ela, desencadeando uma série de perguntas do tipo: Como se faz um bebê? Como ele entrou na barriga? Por onde saiu? As respostas devem ser dadas numa linguagem que a criança compreenda: clara, curta e convincente. Se a criança voltar a perguntar a mesma coisa para outra pessoa, não se irrite e nem se sinta frustrado na sua resposta – crianças costumam testar as respostas dadas.
Mas a curiosidade não para aí! Descobre que é gostoso tocar em determinadas partes do corpo, principalmente a região genital. E tudo que lhe causa prazer, ela tende a repetir. É quando pode começar os episódios de masturbação, se bem que o termo não me parece apropriado para essa fase. A masturbação envolve pensamento erótico e isso a criança ainda não tem. O adequado é falar manipulação dos genitais.
Nesta fase, que Freud designou de genital, se constrói, entre outras coisas, o alicerce da intimidade com o prazer genital. Quando a criança pode identificar e perceber as sensações que seu corpo é capaz de produzir, isto permite uma intimidade consigo mesma, que será importante por toda a sua vida.
Esta fase, no entanto, costuma ser crítica dentro da escola, porque em geral os professores não sabem que atitude tomar ao surpreender a criança tocando nos genitais. Em vez de fazer a adequação deste comportamento sexual para o ambiente social, o adulto acaba entrando em pânico e não fazendo nada; e, a criança, não aprendendo as regras e repetindo o ato. Na escola, o professor deve lidar com naturalidade diante da manifestação sexual das crianças, mostrando claramente que aquilo é natural, mas, que o local e o momento não são adequados. Para a criança compreender melhor, se pode ensinar o conceito de público e privado, dizendo que os genitais são partes íntimas que não ficam expostos e, portanto, não devem ser tocados na frente de outras pessoas. Mas, atenção! Se depois desta conversa a criança continua a se tocar de maneira insistente, o professor deve ficar atento ao fato da criança estar querendo chamar a atenção, ou para a necessidade de ser examinada por um pediatra para avaliar a possibilidade de alguma coceira ou infecção nesta região.
Brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança. Através da brincadeira, ela treina ações futuras, aprende novos papéis, ensaia como deve ser o comportamento esperado do seu sexo, elaborando as informações que foram transmitidas para ela.
E, assim, vai atravessando diversas etapas no processo de identificação sexual: no início, imita as pessoas que têm para ela grande valor afetivo. Depois, ao descobrir que é homem ou mulher, trata de repetir os comportamentos da pessoa do mesmo sexo.
Através destas vivências, a criança incorpora aspectos de seu cotidiano que vão reforçar ou inibir a sua identificação com pessoas do mesmo sexo. Neste processo, é importante que reconheça no pai e na mãe que vale a pena ser desse sexo. E mais: que o progenitor do mesmo sexo seja valorizado pelo do sexo oposto.
A escola deve estar atenta a essas situações e os pais devem orientar suas crianças desde cedo a exercer a sexualidade com responsabilidade.
*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplan.
**Material encaminhado ao blog pela Vera Moreira Comunicação.
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Leia os seis artigos anteriores da série:
>>Especial Dia da Criança: Preservação ambiental
>>Especial Dia da Criança: Avós e netos
>>Especial Dia da Criança: “ser” criança
>>Especial Dia da Criança: consumismo infantil
>>Especial Dia da Criança: o cuidador
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