Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor – III

E o terceiro texto do dia é também da psicóloga e educadora Maria Helena Vilela, que foi quem abriu a nossa série Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor. O tema agora é o prazer sexual e sua importância, que é tão grande quanto a necessidade de afeto que todos temos. Nos links abaixo, os dois primeiros textos da série:

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>>Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor – I (namoro virtual)

>>Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor – II (namoro e tempo)

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O DIREITO AO PRAZER SEXUAL

*Maria Helena Vilela

Um beijo, uma carícia especial… E pronto!!! O cérebro é invadido por uma onda gigantesca de excitação que leva a pessoa ao prazer sexual. A explicação para o prazer se esconde atrás de algumas minúsculas partículas químicas encontradas no organismo chamadas endorfinas, substâncias naturais produzidas pelo cérebro que nos relaxam e preservam da dor e que dão enorme prazer.

Este caldeirão químico, associado a uma cadeia de processos físicos e psico-emocionais que começam a interagir logo no despertar do desejo sexual, produzem no indivíduo uma especial sensação de bem-estar que torna a atividade sexual fundamental para a saúde e para a qualidade vida.

O prazer sexual é apenas o acorde final da grandiosa sinfonia, chamada relação sexual. Para que ele aconteça, outras emoções e comportamentos precisam ser apresentados, anterior ou concomitante ao prazer – a expressão sexual. É ela a responsável pelo encontro sexual e amoroso. É no cantarolar uma música, num sorriso, no tom da voz, no jeito de dançar, no perfume que se usa, no humor, numa brincadeira, em tudo isso há um encantamento que chama a atenção do outro e desperta a afetividade e o desejo sexual.

Num casal, os indivíduos devem compartilhar seus desejos, dizendo um ao outro do que gostam sexualmente, conversando sobre as fantasias, ensinando ao outro os segredos do corpo e tocando o outro do jeito que lhe agrada; enfim, revelando-se para que o outro descubra o caminho do prazer. É na descontração da manifestação dos interesses sexuais e no desprendimento do medo de julgamento que se dá o envolvimento sexual do casal e o sucesso do relacionamento.

*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplanwww.kaplan.org.br

**Texto publicado mediante autorização e respeito à autoria e integridade do conteúdo e ideias do autor. Enviado ao blog pela assessoria do Instituto Kaplan, entidade de educação sobre sexualidade para jovens.

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Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor – I

Em comemoração ao 12 de Junho – e aqui tanto faz se você está só ou acompanhada (o) no momento -, selecionei quatro artigos sobre o amor e suas mais variadas formas de expressão para compartilhar aqui no blog ao longo deste domingo. Do namoro virtual aos que afirmam não namorar por falta de tempo, ou oportunidade; da preocupação com o prazer próprio e o do outro, até as muitas definições para o amor, dizem até que ele é uma “eleição”, tem tema de reflexão aí para meninas e meninos de todas as idades e orientações. Dos teens aos adultos. Espero que aproveitem!

Namoro virtual – A ficção é uma realidade

*Maria Helena Vilela

O namoro virtual tá aí, e veio pra ficar. Não adianta os adultos condenarem, ou mesmo achar que é o fim do mundo alguém buscar encontrar sua cara metade pela internet, sem que nunca tenha tido qualquer contato pessoalmente. O que era ficção virou realidade, e faz parte do dia-a-dia de muitos jovens, e adultos também! Apesar das pessoas estarem conectadas por um computador, elas se observam, criam estratégias amorosas, atuam e decidem o rumo de sua própria história.

A comunicação entre os homens passou por sinais de fumaça, ruídos de tambores, mensageiros, correio aéreo, telégrafo, telefone e, agora, a internet… Uma questão de segundos, e pronto! Consegue unir milhares de pessoas que disparam idéias e imagens que podem perfeitamente nos fazer se apaixonar – sejam elas, vinda de pessoas reais ou de personagens criados para chamar a nossa atenção.  A Internet é uma comunicação poderosa; um canal para conversar, trocar experiências, passar o tempo, conhecer pessoas, e por isso muita gente chega a namorar.

O encontro amoroso pode dar certo ou não, ser desastre, mas também pode ser… muito bom!!   Portanto, é preciso estar de olho nos pros e contras de um namoro virtual.

Situações positivas:

>>Encontrar a pessoa que interessa – O grande lance da internet é a quantidade de pessoas que você pode conhecer. Ela cria a possibilidade de se acha de tudo: mulheres, homens, homossexuais e bissexuais, solteiros, casados, velhos, novos, engraçados, sérios, cultos… é uma espécie de vitrine virtual, de pessoas que como a gente, trabalham, estudam, e querem ser felizes.

>>Namorar – Não existe mais o problema de garotas e garotos estarem limitados ao relacionamento com pessoas que fazem parte do seu ciclo social. Se uma garota, por exemplo, é uma pessoa caseira, ou mora numa cidade muito pequena, com poucas oportunidades para conhecer gente nova; com um computador e um pouco de tempo, logo, logo estará namorando. Segundo os entendidos, o negócio funciona! A internet é uma boa alternativa para quem quer flertar, namorar e até casar. Para se ter uma idéia, há um site de relacionamento que já conseguiu reunir um total de 16 milhões de cadastrados e, segundo o próprio site informa, recebe uma média de 2,5 milhões de visitantes únicos por mês.

>>Amplia o conhecimento afetivo e sexual – O anonimato deixa as pessoas mais a vontade para por em prática seus desejos e confessar o seu pensamento sobre a vida, suas vontades e seus sonhos. Isto pode ajudar as pessoas a conhecer melhor como garotos e garotas agem, pensam e se comportam sexualmente,  ampliando o olhar para a relação a dois.

>>Treino amoroso – Namorar ao vivo, a cores, com alguém de carne e osso que pensa, fala, acaricia e tem desejos a serem compartilhados e negociados pode ser, inicialmente, muito difícil para o adolescente.  Alguns por terem vários amigos, se enturmam com facilidade e o “ficar” e namorar acontece naturalmente. No entanto, há jovens mais tímidos e reservados, que quase não têm amigos e esse contato afetivo não acontece, ou é até assustador. Ao mesmo tempo em que ele deseja, também tem medo. Há alguns anos, pouca coisa poderia ser feita a não ser enfrentar o medo ou ficar sem namorar. Hoje, o namoro virtual pode ser muito útil nestes casos. Ele permite treinar habilidades para um relacionamento real no futuro – aprendem-se palavras, gostos e interesses do sexo oposto, ao mesmo tempo em que ajuda o jovem a desinibir e a se soltar de uma maneira mais segura.

 Situações negativas:

>>O risco de decepção é maior – O namoro virtual não é um objetivo em si mesmo, é uma estratégia para conhecer alguém que possa vir a viver um amor no real. No contato direto com a pessoa que nos interessa, isso é fácil de se estabelecer: o olho no olho e a proximidade nos permite ver, admirar, sentr o cheiro, e dificilmente, mentir. Pois, quando mentimos, logo somos traídos pelas atitudes e gestos… Já no mundo virtual, as pessoas se relacionam com alguém que ela cria na sua imaginação. Portanto, ao se conhecer pessoalmente, é muito comum haver uma decepção – se tem a sensação de estar com alguém estranho.

>>Dependência do site – A facilidade e disponibilidade do contato sexual e afetivo com as pessoas na internet aumentam a curiosidade e gera uma excitação que pode tornar muito difícil desligar o computador e voltar para vida real.  Isto é um problema! Só querer o namoro virtual, pode demonstrar uma dificuldade mais séria, um medo e incapacidade de enfrentar e conviver com o outro que afeta o desenvolvimento pessoal. No namoro real, você aprende as sensações que vem do contato com o corpo do outro, e aprende a respeitá-lo. No namoro virtual não há contato visual e físico e principalmente, é possível não respeitar o outro, não gostou, deleta.

>>Exige muita Cautela – É preciso muito cuidado e cautela para entrar no mundo do amor virtual. E como cautela ou paciência não é fácil de encontrar na adolescência… o namoro virtual pode ser muito arriscado e desastroso! A dica é para que vocês façam este namoro acontecer como conseqüência de uma amizade, e não de buscas desesperadas. Conversem muito antes de um contato real, investigue, pesquise e, observe pra ver se a pessoa está entrando em contradição. E quando for conhecê-la, lembrem-se: nunca se sabe o que pode encontrar!! Portanto, não vá sozinha e sempre marque o encontro em local público, bastante freqüentado.

*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplanwww.kaplan.org.br

**Texto publicado mediante autorização e respeito à autoria e integridade do conteúdo e ideias do autor. Enviado ao blog pela assessoria do Instituto Kaplan, entidade de educação sobre sexualidade para jovens.

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Artigo: Sexo frágil e a prevenção da AIDS no carnaval

Para reforçar a campanha sobre sexo seguro no Carnaval, que este ano tem como foco o público feminino jovem, o blog abre espaço para mais um artigo de autoria de Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan. Além de falar da campanha e trazer dados sobre o avanço do HIV/Aids entre as mulheres, Maria Helena dá dicas importantes sobre a sexualidade e autoestima femininas. Mas, embora o foco sejam as garotas na faixa dos 15 aos 24 anos, os conselhos sobre autopreservação valem para as mulheres maduras e também para todos os casais, independente da orientação sexual. Cuidar de si e de quem se ama não é questão restrita a um determinado gênero. Boa leitura!

Sexo frágil e a prevenção da AIDS no Carnaval

*Maria Helena Vilela

A campanha de Carnaval de 2011 terá como público as mulheres de 15 a 24 anos.  O público feminino foi escolhido porque a infecção entre as mulheres está em constante crescimento. Apesar de haver mais casos da doença nos homens, essa diferença diminui ao longo dos anos. Segundo o Ministério da Saúde – Departamento de DST/Aids, em 1989, a razão de sexos era de cerca de 6 casos de aids no sexo masculino para cada 1 caso no sexo feminino. Em 2009, chegou a 1,6 caso em homens para cada 1 em mulheres.

As mulheres lutaram por seus direitos sexuais, pelo direito de estudar, desenvolver uma carreira profissional e conquistar sua autonomia econômica e pessoal. Mas, quando a questão é amor e sexo, a garota volta no tempo, e ainda se comporta de forma submissa aos desejos do namorado e, presa a mitos e tabus que colocam sua vida em risco, como por exemplo, a virgindade. A virgindade ainda é muito valorizada na mulher. Sabendo disso, muitas garotas acabam cometendo equívocos incríveis para não romper o hímen – fazer sexo anal; prática sexual que quando realizada sem preservativo é a de maior risco de infecção pelo HIV. Na contra mão dos fatos, pesquisas mostram a dificuldade de a garota negociar o uso da camisinha por medo de perder o namorado, de ser julgada “galinha”, ou ainda pior: não usar preservativo em nome do amor, acreditando que “quem ama confia”. Tais comportamentos fazem da mulher o verdadeiro sexo frágil.

A infecção pelo HIV se dá pelo contato direto com o sangue, o sêmen e as secreções vaginais, e isto pode acontecer no sexo oral, mas principalmente, na relação vaginal e no sexo anal. O ânus e a vagina são órgãos muito vascularizados, revestidos por um tecido delgado chamado de mucosa. Na relação sexual, especialmente durante a penetração, o pênis provoca atrito na vagina ou no ânus, causando micro-fissuras nas paredes das mucosas, aumentando o risco de que o HIV presente no esperma entre na corrente sangüínea.

Outro fator que aumenta a vulnerabilidade da mulher à Aids é a menstruação. Quando a mulher está menstruada, a descamação da parede do útero o deixa completamente exposto ao HIV. Fazer sexo menstruada é “entregar o ouro para o bandido”, pois o vírus atinge a corrente sangüínea sem precisar fazer esforço.

Como se não bastasse tudo isso, o canal vaginal é um órgão interno, o que dificulta à mulher perceber qualquer alteração na vagina. Muitas vezes, ela só descobre que tem uma infecção, ou mesmo uma DST, se consultar um ginecologista, ou quando a doença já está bastante adiantada. Uma infecção agrava ainda mais a fragilidade da parede vaginal, aumentado a vulnerabilidade da mulher à Aids.

Meninas sejam espertas e fiquem fora desta estatística da Aids. Se existe sexo frágil, estes são o sexo anal e o vaginal, quando o assunto é Aids. Portanto, alguns cuidados são fundamentais na sua vida, e especialmente, no carnaval:

>> Nunca delegue o cuidado com o seu corpo. O corpo só tem um dono, e este é você. Quando você delega, o outro pode não priorizar os seus interesses.

>>Só se previne quem tem convicção dessa necessidade. Busque informações sobre razões para se prevenir, sexualidade, prevenção, DST/Aids e métodos contraceptivos.

>>Não faça qualquer negócio sexual no Carnaval. A auto-estima da mulher está condicionada a sua capacidade de despertar o interesse nos homens, principalmente, em festas como o Carnaval. Se achar que está invisível, mesmo assim, não faça nenhum acordo que possa lhe colocar em risco.

>>Antes de cair na folia escreva uma lista com os nomes das pessoas que você considera importantes e que lhe amam. Isto ajudará você a não esquecer que é amada

>>Sei que é difícil, mas se for transar não beba. A bebida atrapalha o prazer e faz você esquecer seus limites.

>>Nunca negocie o uso da camisinha na hora da transa. O tesão embriaga e lhe deixa entregue a sorte, ou azar!

>>Conheçam a camisinha feminina. Ela é uma opção, e já existem modelos mais simples que facilita a sua colocação.

>>Na falta da camisinha, você não precisa abrir mão do prazer sexual. O casal pode realizar práticas sexuais que não sejam de risco, como a masturbação simultânea entre os parceiros

>>Existem camisinhas de vários tipos e qualidades. Portanto, sempre haverá uma que se adeque ao seu parceiro.

>>Sexo é uma brincadeira de verdade. Quando a gente se machuca, a cicatriz fica para sempre.

*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplanwww.kaplan.org.br

**Conteúdo enviado pela Vera Moreira Comunicação e publicado com autorização, mediante citação da autoria e respeito à integridade do texto.

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Especial Dia da Criança: sexualidade da criança

Fechando a série Especial Dia da Criança publico um texto de Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, entidade especializada em arte-educação, com foco na questão da educação sexual e prevenção à gravidez precoce. Neste texto, Maria Helena fala, de maneira resumida e de fácil compreensão, da sexualidade infantil, abordando temas tabu como masturbação e prazer sexual. É um material para orientar os pais e professores a lidar com a descoberta da sexualidade. Confiram:

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Outros artigos de Maria Helena no blog:

>>Artigo: *É possível evitar gravidez na adolescência

>>Especial Semana da Mulher: Sexo frágil e a Aids

>>Artigo: Verdades e mitos sobre a homossexualidade

>>Saúde & Fitness: Dia de prevenir a gravidez precoce

>>Mais um papo sobre a gravidez na adolescência

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Sexualidade da criança – atenção para pais e educadores

*Maria Helena Vilela

É difícil para o adulto aceitar que é natural a criança sentir prazer sexual. Mas, é na infância que construímos os alicerces que compõem os elementos centrais da sexualidade: a vinculação afetiva, a configuração da imagem corporal, a identidade sexual básica como homem ou mulher, a segurança e conforto como ser sexual, os medos e as preocupações… e também as sensações eróticas.

Quando pensamos em prazer sexual, imediatamente nos remetemos à excitação sexual e ao orgasmo. Mas para chegarmos até aí, antes, foi importante vivenciar outras formas de prazer decorrentes da descoberta do corpo, do carinho e da intimidade que irão interferir diretamente na relação afetivo-sexual, permitindo a entrega, a confiança e a cumplicidade.

Tudo começa no decorrer do primeiro ano de vida. A primeira fase é aquela que Freud chamou de fase oral, na qual a sucção é a manifestação sexual característica. Mas, o prazer não está unido, apenas, à estimulação e à riqueza de sensações da mucosa da cavidade bucal e dos lábios. O alimento, o leite materno ou de mamadeira, morninho, desliza pelo seu aparelho digestivo, aliviando a dor causada pela fome. Neste momento, além de saciar, o ato de amamentar propicia o aconchego e o calor do colo materno, a conversa e a troca de olhares. Este contato materno propicia a consolidação da imagem corporal, o estabelecimento de zonas erógenas e a experimentação de emoções e sentimentos associados às sensações de prazer e desprazer que ajudam a confirmar o vínculo afetivo.

Amamentação, Pablo Picasso

É a forma como a criança é atendida em suas necessidades que dá a ela a dimensão de sua importância e a aprendizagem do amor. A criança ama do jeito que se sente amada. Por isso, que acredito que a melhor forma do professor ensinar um aluno a amar e a ter auto-estima é amando, respeitando e valorizando suas necessidades.

Em torno do segundo ano de vida, a criança adquire a capacidade de aumentar a percepção e a coordenação motora. Ela consegue cada vez mais explorar o ambiente, adotar maneiras de expressar emoções e perceber a importância do controle de certas vontades. É o início da sociabilização! Quem exerce maior influência neste processo são os pais, mas os professores também significam muito para os seus alunos e despertam neles, o desejo de agradá-los e sentir confirmado seu bem querer e aprovação.

Para a criança sentir prazer nesse processo de aprendizagem ele precisa ser gradativo, desenvolver-se num contexto de baixa tensão e sem desgaste emocional dos pais ou educador. A criança é simplesmente levada a imitar o comportamento correto e recompensada sempre que o fizer.

Aos 3-4 anos de idade, por meio da observação, manipulação e percepção das sensações corporais, a criança faz a diferenciação sexual de si e do outro, descobrindo que quem tem “o pipi para fora” é homem e o “pipi encoberto” é mulher. É um período de investigação sexual. Daí surgirem os famosos porquês. Como se de repente a criança começasse a enxergar as coisas. Ela precisa conhecer e entender o que acontece à sua volta. Através de perguntas, vai testando as diferenças entre os sexos (homem tem barba, mulher tem seios) e demonstra interesse tanto em relação aos adultos como a outras crianças.


Os bebês pequenos e as barrigas de mulheres grávidas exercem grande atração sobre ela, desencadeando uma série de perguntas do tipo: Como se faz um bebê? Como ele entrou na barriga? Por onde saiu? As respostas devem ser dadas numa linguagem que a criança compreenda: clara, curta e convincente. Se a criança voltar a perguntar a mesma coisa para outra pessoa, não se irrite e nem se sinta frustrado na sua resposta – crianças costumam testar as respostas dadas.

Mas a curiosidade não para aí! Descobre que é gostoso tocar em determinadas partes do corpo, principalmente a região genital. E tudo que lhe causa prazer, ela tende a repetir. É quando pode começar os episódios de masturbação, se bem que o termo não me parece apropriado para essa fase. A masturbação envolve pensamento erótico e isso a criança ainda não tem. O adequado é falar manipulação dos genitais.

Nesta fase, que Freud designou de genital, se constrói, entre outras coisas, o alicerce da intimidade com o prazer genital. Quando a criança pode identificar e perceber as sensações que seu corpo é capaz de produzir, isto permite uma intimidade consigo mesma, que será importante por toda a sua vida.

Freud

Esta fase, no entanto, costuma ser crítica dentro da escola, porque em geral os professores não sabem que atitude tomar ao surpreender a criança tocando nos genitais. Em vez de fazer a adequação deste comportamento sexual para o ambiente social, o adulto acaba entrando em pânico e não fazendo nada; e, a criança, não aprendendo as regras e repetindo o ato. Na escola, o professor deve lidar com naturalidade diante da manifestação sexual das crianças, mostrando claramente que aquilo é natural, mas, que o local e o momento não são adequados. Para a criança compreender melhor, se pode ensinar o conceito de público e privado, dizendo que os genitais são partes íntimas que não ficam expostos e, portanto, não devem ser tocados na frente de outras pessoas. Mas, atenção! Se depois desta conversa a criança continua a se tocar de maneira insistente, o professor deve ficar atento ao fato da criança estar querendo chamar a atenção, ou para a necessidade de ser examinada por um pediatra para avaliar a possibilidade de alguma coceira ou infecção nesta região.

Brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança. Através da brincadeira, ela treina ações futuras, aprende novos papéis, ensaia como deve ser o comportamento esperado do seu sexo, elaborando as informações que foram transmitidas para ela.

E, assim, vai atravessando diversas etapas no processo de identificação sexual: no início, imita as pessoas que têm para ela grande valor afetivo. Depois, ao descobrir que é homem ou mulher, trata de repetir os comportamentos da pessoa do mesmo sexo.

Através destas vivências, a criança incorpora aspectos de seu cotidiano que vão reforçar ou inibir a sua identificação com pessoas do mesmo sexo. Neste processo, é importante que reconheça no pai e na mãe que vale a pena ser desse sexo. E mais: que o progenitor do mesmo sexo seja valorizado pelo do sexo oposto.

A escola deve estar atenta a essas situações e os pais devem orientar suas crianças desde cedo a exercer a sexualidade com responsabilidade.

*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplan.

**Material encaminhado ao blog pela Vera Moreira Comunicação.

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Leia os seis artigos anteriores da série:

>>Especial Dia da Criança: Preservação ambiental

>>Especial Dia da Criança: Avós e netos

>>Especial Dia da Criança: “ser” criança

>>Especial  Dia da Criança:  consumismo infantil

>>Especial Dia da Criança: o cuidador

>>Especial Dia da Criança: hábito de leitura

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Mais um papo sobre a gravidez na adolescência

No post da série Saúde & Fitness deste domingo, abrimos espaço para um material do Instituto Kaplan sobre o Dia Mundial de Prevenção à Gravidez na Adolescência (comemorado ontem), tema que envolve saúde e comportamento. Pois bem, por questão de espaço, senão o post ia ficar gigante, não deu para colocar o artigo da Maria Helena Vilela, que segue publicado agora. Vale a pena ler as suas dicas de como os pais podem abordar a questão da educação sexual com os filhos adolescentes:

Uma conversa com os pais – gravidez na adolescência

*Maria Helena Vilela

O mito do sexo na adolescência
“Na adolescência não se deve fazer sexo, muito menos, as meninas”.  Este é um mito que caiu e, muitos pais ainda não se deram conta.  A pesquisa UNESCO em 2004 já identificava a média da idade da primeira relação sexual dos meninos por volta dos 14 anos e das meninas entre 15 e 16 anos. O sexo é uma função natural do ser humano que desperta na adolescência. Nesta fase, o corpo já consegue reagir aos estímulos sexuais, se excitar e provocar o desejo de ir mais adiante – transar. No momento, a realização do sexo é extremamente prazerosa e gratificante, independente do fato de ter sido realizado com ou sem segurança. Isto só começa a preocupar depois do fato consumado e passada a euforia da excitação. É muito difícil para o ser humano conseguir se negar a fazer sexo quando há estímulo e oportunidade de se seguir ir adiante. Mas, nossos adolescentes não são, apenas, um corpo! O adolescente é uma pessoa que tem uma determinada vivência, valores, crenças, e expectativas. Por outro lado, o sexo não é só prazer: é entrega e responsabilidade com a prevenção de gravidez e DST/Aids. E meus queridos pais, esta oportunidade existe! Mas, num ambiente liberal, numa idade em que os hormônios estão em alta e a curiosidade sexual é grande, esperar que nossos filhos resistam à motivação de fazer sexo é esperar que eles sejam super homens e as meninas super mulheres!

A solidão dos filhos
A maioria dos nossos filhos está só no quesito sexo. Todas as pesquisas sobre comportamento sexual dos jovens que tenho acesso mostram os pais como uma das últimas opções na busca de informações sobre sexo, e em contra partida, os sites eróticos e os que abordam a sexualidade, são cada vez mais procurados pelos jovens. A falta de diálogo com os pais é um ponto forte na vulnerabilidade dos adolescentes à gravidez na adolescência! Os estudos mostram que as meninas que conversam com seus pais sobre sexo, engravidam menos na adolescência do que aquelas que não têm esta mesma oportunidade. Muitas meninas desejam ir ao ginecologista, mas tem medo de pedir aos pais para fazer esta consulta. Assim, resolvem sem conversar com familiares ou consultar um médico, a contracepção ou a “não” contracepção que lhe convier, segundo a sua própria avaliação – alguém que está no início de sua estrada de vida e que pouco pode enxergar das consequências de se ter um filho na adolescência.

Vamos criar o “chega-te” com os filhos
Na minha terra, em Alagoas, a gente usa uma expressão abreviada de “saia para lá” (afastar alguém) que é “sai-te”. Outro dia, conversando com um cantor local muito perspicaz, perguntei se ele tinha um site, e ele, com o seu humor, em trocadilhos, me respondeu: não, estou construindo um “chega-te”.  E é este o convite que quero fazer a todos os pais, que cheguem mais perto de seus filhos. A adolescência apronta armadilhas difíceis de serem vencidas pelos jovens. Vários fatores contribuem para isto, mas, principalmente, em relação à gravidez, é muito importante que os adultos de sua confiança encarem a realidade atual da sexualidade na adolescência e promovam o diálogo como alguém que sabe ouvi-lo de verdade e respeite seus valores e atitudes. Seguem algumas dicas para os pais que queiram experimentar criar o movimento do “chega-te”:
·      Comente ou leia uma matéria sobre gravidez na adolescência com seu filho ou sua filha e pergunte se isto acontece entre os amigos deles;
·      OUÇA a opinião deles;
·      Conte para eles o que significava na sua época de adolescente, uma garota ficar grávida e o que acontecia com o casal adolescente;
·      FALE a sua opinião, justificando o seu ponto de vista e ao mesmo tempo preenchendo lacunas do pensamento deles;
·      Leve sua filha ao ginecologista e apóie o uso do método contraceptivo indicado;
·      Estimule seu filho a usar a camisinha, pois, esta é a única forma dele ter o controle sobre sua paternidade;
·      Fale dos seus sonhos profissionais em relação a eles, mostrando sua expectativa. Mas também ouça e respeite o sonho deles, ajudando-os a enxergar as vantagens e desvantagens que ainda não consigam ver.
·      Descubra e realize alguma coisa que você e seu filho(a) gostam de fazer juntos;
·      Conheça os amigos, ficantes e namorados e, os deixe lhe conhecer também.
·      Promova as informações sobre sexualidade e contracepção que os jovens precisam saber. Se não souber como conversar, indique a leitura de artigos. “Chega-te” e Boa sorte!

*Maria Helena Vilela é sexóloga e diretora do Instituto Kaplan – www.kaplan.org.br

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Artigo: Verdades e mitos sobre a homossexualidade

Conversa de Menina, em defesa da diversidade, coloca a colherzinha em um tema tabu: a homossexualidade. Frequentemente, discuto com amigos o porque do ser humano ter tanto interesse na sexualidade alheia, sua orientação, e as escolhas que faz na vida: se opta por assumir determinado comportamento, se o esconde, se fala ou não do assunto, com quem dorme ou deixa de dormir. Pessoalmente, creio que a sexualidade de cada um é tema de interesse próprio e privado. Mas, diante do preconceito dominante, algumas bandeiras precisam ser carregadas e estratégias de luta estabelecidas. Luta essa para que se conquiste o direito tanto à livre expressão pública quanto a manter o assunto na esfera do pessoal, se essa for a vontade de alguém. Luta para que uma pessoa não seja julgada por sua sexualidade, mas pelo caráter e postura ética na vida. Certa vez, motivada pelo comentário de um leitor do jornal onde trabalho, travei longo debate com um colega sobre se o correto é dizer “orientação” ou “opção” sexual. Minha resposta, na ocasião, acabou meio parecida com a opinião da Maria Helena Vilela, que preside o Instituto Kaplan, focado em educação e sexualidade. Orientação é o termo que define, enquanto opção é o que vai marcar a escolha do indivíduo em assumir ou não determinada orientação. No fim das contas, são termos complementares, que vêm sendo usados como sinônimos ou mesmo confundidos e reconfigurados para depreciar, ao invés de incentivar a compreensão e aceitação.

Neste domingo, dia 6, acontece a 14ª Parada do Orgulho LGBT, em São Paulo, manifestação pela diversidade sexual que é considerada a segunda no mundo em tamanho e importância. Motivada pela data, Maria Helena Vilela escreveu um artigo sensível e, em certa medida, didático, desconstruindo alguns mitos sobre a homossexualidade. A linguagem educativa tem razão de ser: o Instituto Kaplan trabalha há 18 anos com capacitação técnica de professores para abordar a educação sexual nas escolas, mas também direciona seu foco ao público jovem. Aqui no blog, por exemplo, já publicamos um artigo da Maria Helena, sobre gravidez na adolescência, que é um dos nossos posts mais lidos.

Confiram o novo texto da pesquisadora:

*Verdades e mitos sobre a homossexualidade

**Maria Helena Vilela

Quando se trata de comportamento sexual, a lógica pode significar preconceito. A probabilidade de se fazer uma avaliação errada é muito alta. Cada pessoa é única e traz consigo histórias e circunstâncias de vida, das quais nem sempre é capaz de dar conta.

Dia 6 de junho, realiza-se em São Paulo a 14ª Parada do Orgulho LGBT. Um marco nos direitos civis. No trabalho de estudo da sexualidade humana, o Instituto Kaplan defende, no desenvolvimento de metodologia para capacitar professores e técnicos de saúde, a aplicação da educação sexual nas escolas e empresas, sem preconceitos, explicando os direitos sexuais de todos cidadãos.

É preciso deixar claro que a homossexualidade é o desejo de se vincular emocional e sexualmente com alguém do mesmo sexo. Ou seja: um outro jeito de ser, no que se refere à pessoa por quem se sente tesão. Apesar de ser um fenômeno aparentemente simples, ainda há muitas idéias erradas sobre ele. Até bem pouco tempo, a homossexualidade era considerada uma doença. Hoje já se sabe que não é.

Muitas teorias tentam explicá-la, mas ainda não existe um consenso. A mais aceita das teorias é aquela que fala sobre a combinação entre uma predisposição genética e fatores psicológicos (a forma como cada pessoa registra fatos, sentimentos e impressões) e sociais (o meio em que vive, a forma como a família lida com a valorização sexual e a cumplicidade entre os sexos).

O objetivo deste texto é esclarecer alguns tabus e preconceitos que existem sobre o tema. E existem muitos: homossexualidade seria uma escolha, ou resultado da falta ou do excesso de sensibilidade, ou ainda da frustração amorosa em relação às pessoas do sexo oposto. E ainda há os que pensem que a homossexualidade é uma doença mental, ou um desvio psicológico.

Os preconceitos:

1. Uma questão de escolha?!

Ninguém é capaz de escolher por quem sentirá tesão. Não conheço nenhum trabalho que traga o depoimento de um único homossexual que faria a escolha da homossexualidade, se pudesse, porque, mais que ninguém, o homossexual sente o peso da discriminação social. Do mesmo jeito que as pessoas não escolhem suas preferências entre loiros ou morenos, “sarados” ou barrigudos, sérios ou divertidos, elas também não conseguem determinar se o desejo é por alguém do mesmo sexo, do sexo oposto ou de ambos. Apenas realizar ou não o desejo afetivo-sexual, pôr em prática o relacionamento é que é uma questão de opção que pode ser feita ou não pelo indivíduo.

2. Uma questão de sensibilidade?!

Existe uma crença popular de que um homem sensível e delicado é homossexual. A sensibilidade é a capacidade de sentir e perceber o que está acontecendo a nossa volta e não tem nada a ver com a orientação sexual de uma pessoa. A garota pode ter um jeito mais grosseiro de lidar com as pessoas e nem por isso ser lésbica, ou o garoto ter certo trejeito e não ser gay. O papel sexual, ser masculino ou feminina, não tem nada a ver com a orientação sexual (a orientação do desejo). Muitos meninos agressivos e meninas delicadas podem ser homossexuais.

3. Frustração amorosa?!

Muitas pessoas acreditam que as lésbicas são mulheres que não conseguiram arranjar namorado, ou que sofreram algum trauma com homens. Esta explicação existe, porque é difícil para as pessoas heterossexuais imaginar que o prazer sexual feminino seja possível sem a presença do pênis. Quanto aos gays, muita gente acha que a homossexualidade é decorrente de uma experiência traumática nas primeiras relações sexuais com uma mulher. Os homossexuais não são heterossexuais frustrados! São pessoas, cujo desejo sexual está no outro, que é do seu mesmo sexo.

4. Homossexualidade é doença mental ou desvio psicológico?!

Nem uma coisa e nem outra! Durante muito tempo, a homossexualidade foi interpretada pela medicina como uma doença. Mas, na década de 70, todas as associações de profissionais de saúde mental, inclusive a OMS (Organização Mundial de Saúde) concluíram que não se tratava de uma doença mental ou de distúrbio psicológico. Portanto, não existe tratamento para uma pessoa “deixar de ser homossexual”. O que a medicina ou a psicologia podem fazer é prestar ajuda para que o homossexual aprenda a lidar com o seu jeito de ser, sexualmente diferente do que a sociedade deseja para ele, sem deixar que isto atinja as outras características pessoais. Ou seja, é possível ser homossexual e ser, ao mesmo tempo, um profissional competente, um filho amoroso, um amigo corajoso, um cidadão que conhece e respeita seus direitos e deveres, uma pessoa divertida, feliz e que pode e deve conquistar o respeito de todos.

Cena do filme O Segredo de Brokeback Montain, de Ang Lee

Mudar o rumo da História

Muitas pessoas não se conformam com a existência da homossexualidade, principalmente quando o homossexual é alguém próximo e querido. Todos querem saber o que podem fazer para conseguir ajudar alguém a “não ser homossexual”. Não existe esta possibilidade. Até o momento, ainda não foi cientificamente comprovado nenhum tipo de procedimento que faça de alguém homo, bi ou heterossexual. O que nós sabemos é que, na nossa sociedade, existem jeitos sexuais diferentes de ser. E o que se pode fazer é aprender a lidar com as diferenças. Diferença não é sinônimo de deficiência! É um outro jeito de ser humano.

A sexualidade se desenvolve em contextos diversos, a partir de experiências distintas. Portanto, é inútil se ter o desejo de que todas as pessoas correspondam ou se ajustem a um único modelo para ser sexualmente feliz.

*Material encaminhado ao blog pela jornalista Vera Moreira

**Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplanwww.kaplan.org.br

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