Traça de Biblioteca: Leitura de volta às aulas

Quem não lembra das provas de literatura no Ensino Médio? São inesquecíveis aqueles dias em que tínhamos de ler os clássicos para responder provas de interpretação de texto. Sabem que eu adorava? Não é de hoje que sou “comedora de livros”. Camilo Castelo Branco, Machado de Assis, José de Alencar, Eça de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado… cresci na companhia desses caras. E de meninas maravilhosas como Clarice Lispector, Raquel de Queiroz, Cecília Meirelles, Lygia Fagundes Telles… Gente, eu sinto saudades das leituras da minha adolescência e é em homenagem a esse tempo gostoso de outrora, que a série Traça de Biblioteca desta semana traz uma dica que além de tudo é perfeita para quem vai começar as aulas logo após o Carnaval. O selo Best Bolso da editora Record lançou obras de alguns dos autores citados acima. Boa parte deles são os livros que as escolas e os vestibulares adotam, em coleção pocket, que dá para carregar por aí sem pesar na mochila. O melhor de tudo é que o precinho é tentador, principalmente para o pais. Aliás, socorro! Meu filho vai cursar a sexta série e eu quase infarto na livraria quando fiz o orçamento dos seus livros didáticos. Em homenagem a outros pais e mães que estão às voltas com as listas de material escolar, confiram os lançamentos da Best Bolso:

======================================

DOM CASMURRO
Publicado pela primeira vez em 1899, Dom Casmurro é o romance mais estudado, comentado e discutido deste autor e tudo por culpa do casal Capitu e Bentinho. Considerado a obra-prima de Machado, é um dos livros mais traduzidos da literatura brasileira. Conta a história de amor entre Capitu e Bentinho desde a infância. A história é narrada pelo ponto de vista dele, que depois de adulto, passa a desconfiar de que a mulher o traiu, sendo que a culpa de Capitu nunca fica provada. Conversa de Menina, claro, já teve post dedicado a Capitu e dedicado ao ciúme doentio e delirante, problema de Bentinho, com toda certeza.
Autor: Machado de Assis
280 páginas
Preço: R$14,90

O CORTIÇO
O cortiço é considerado o livro que inaugura o realismo/naturalismo no Brasil. Publico em 1890, descreve a sociedade brasileira através de personagens que moram em um cortiço do Rio de Janeiro no final do século XIX. Cortiço, para quem não sabe, é o nome pejorativo que se dava aos antigos casarões decadentes, com quartos para alugar, onde geralmente moravam pessoas de camada social mais baixa. O livro não tem uma personagem central, mas várias personagens que, com seus dramas, compõem o panorama de hábitos, costumes e conflitos sociais daquela época.
Autor: Aluísio Azevedo
280 páginas
Preço: R$14,90

MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS
Memórias de um sargento de milícias foi o primeiro grande romance brasileiro a apresentar a vida urbana e os costumes de meados do século XIX. Também considerada precursora do realismo, a obra faz uma “radiografia” do povo brasileiro no período. Conta a história de Leonardo, filho enjeitado de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça, que é criado pelos padrinhos. Às voltas com romances com Vidinha (mulata pobre) e Luisinha (branca e de melhor condição financeira) Leonardo vive articulando planos para escapar das perseguições do severo major Vidigal. A diversão do livro são as interrupções do narrador oculto da história para conversar com o leitor e tecer comentários sobre a trama.
Autor: Manuel Antônio de Almeida
238 páginas
Preço: R$14,90

NOVA REUNIÃO
Nova reunião resgata o melhor da poesia de Drummond. Publicada pela primeira vez em 1969, a obra foi ampliada pelo autor em 1983. São 23 livros de poesia drummoniana divididos em três volumes e que dão um vasto panorama da obra deste que é considerado um dos poetas modernistas mais importantes do país. A produção de Drummond se encontra entre a segunda e terceira geração do Modernismo, movimento literário iniciado em 1922. Nascido em Itabira, Minas Gerais, o poeta morreu em 1987.
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Vol. 1 – 420 páginas; Vol. 2 – 392 páginas e Vol. 3 – 574 páginas
Preço por volume: R$14,90

O ATENEU
O ateneu, lançado em 1888, impressiona pela sua riqueza de estilos: apresenta elementos realistas, naturalistas, expressionistas, que fogem de qualquer padronização literária. Em tom reflexivo e autobiográfico, o autor narra o período em que Sérgio, o protagonista, viveu no internato chamado Ateneu. O livro é um rico panorama da vida nos internatos no final do século XIX, explorando temas como a sexualidadse reprimida pela igreja, as descobertas da adolescência, o medo de crescer e sair do ninho familiar e até o bouling (prática de humilhações e assédio moral praticada entre crianças e adolescentes no ambiente escolar).
Autor: Raul Pompeia
322 páginas
Preço: R$14,90

CAETÉS

Caetés é o primeiro romance de Graciliano Ramos e foi publicado originalmente em 1933. Através de um texto conciso e sintético, o escritor apresenta o cotidiano da classe média da pequena cidade que dá nome ao livro. Conta a história de  João Valério, o personagem principal, homem introvertido e fantasioso, que apaixona-se por Luisa, mulher do dono da firma onde ele trabalha. O caso é denunciado por uma carta anônima, levando o marido traído ao suicídio… Graciliano destaca-se como o principal romancista da segunda fase do modernismo brasileiro.
Autor: Graciliano Ramos
210 páginas
Preço: R$14,90

RIACHO DOCE
Riacho doce, que virou minissérie na tv na década de 90, apresenta a uma visão dos desequilíbrios sociais e dos dramas humanos, individuais e coletivos, provocados pela exploração do petróleo em Alagoas. A história é impregnada de oralidade e tem como cenário uma pacata vila de pescadores em Maceió. Um casal de suecos chega ao local e a loura Edna se apaixona por Nô, um rústico pescador nordestino. O romance gira em torno do caso extraconjugal de Edna e das suas descobertas numa terra tropical e cheia de sensualidade e mistérios. Ao mesmo tempo, o marido de Edna, funcionário da companhia petrolífera, representa o impacto de cultura e interesses com a instalação de uma multinacional num vilarejo perdido no tempo.
Autor: José Lins do Rego
280 páginas
Preço: R$14,90

OS MELHORES CONTOS DE FERNANDO SABINO
Seleção feita pelo próprio autor, com 50 contos publicados em jornais e revistas, que trazem relatos curtos de fatos colhidos da vida real, com tratamento de ficção.
Autor: Fernando Sabino
196 páginas
Preço: R$14,90

50 CRÔNICAS ESCOLHIDAS
Considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, Rubem Braga produziu entre 1935 e 1977 o material reunido nesta antologia. Os textos foram extraídos da famosa coletânea 200 crônicas escolhidas, organizada pelo próprio autor.
Autor: Rubem Braga
168 páginas
Preço: R$12,90

O PRIMO BASÍLIO
Eça de Queirós divide com Machado de Assis o título de representante da melhor escrita realista em língua portuguesa. Em O Primo Basílio, publicado em 1878, o escritor analisa a burguesia urbana do século XIX, expondo as mazelas sociais que assolavam o país. O livro conta a história de um caso extra-conjugal entre Luiza e seu primo Basílio, que reaparece depois de anos, quando Luiza está casada com Jorge. O personagem mais forte da trama é a empregada Juliana, que chantageia Luiza, que revela-se uma heroína fraca e incapaz de assumir as consequencias pelos próprios atos.
Eça de Queirós
490 páginas
Preço: R$ 19,90

A CIDADE E AS SERRAS
A cidade e as serras (1901), romance póstumo de Eça de Queirós, abandona o projeto contestador do mundo luso-burguês e faz uma comparação entre a vida bucólica da serra em Portugal e a agitação de Paris.
Autor: Eça de Queirós
238 páginas
Preço: R$14,90

AMOR DE PERDIÇÃO
Amor de perdição conta a trágica história de dois jovens apaixonados, Simão e Teresa – o Romeu e a Julieta portugueses. Escrita em 1961, este é o título mais famoso do autor que escreveu mais de uma centena de obras e ficou conhecido por suas novelas passionais. Neste livro, o autor explora o amor obsessivo, daqueles doentios, que fazem definhar e que tiram o foco para qualquer outra coisa na vida e que geralmente levam a atos desesperados.
Autor: Camilo Castelo Branco
210 páginas
Preço: R$14,90

>>Confira outros títulos da Editora BestBolso no site: www.record.com.br.

Leia Mais

Museu da Língua homenageia Cora Coralina

Vi a reportagem na TV de madrugada: O Museu da Língua Portuguesa abre nesta quarta uma mostra em homenagem à poeta Cora Coralina. Pensei com meu teclado (não estava usando roupa com botões), taí uma boa oportunidade de falar de Cora no blog. Vamos saber um pouco mais sobre ela? Reproduzo também alguns de seus belos e delicados poemas. Aproveitem!

==================================

Quem é?

Cora CoralinaCora Coralina nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, em 20 de agosto de 1889, as margens do Rio Vermelho, na cidade de Goiás, em uma casa antiga, de construção datada do século XVIII; e morreu em 10 de abril de 1985, em Goiânia. Passou a vida entre o interior de Goiás e o interior de São Paulo, para onde se mudou após casar-se e onde morou por 45 anos.

Cora começou a escrever aos 14 anos, embora só tivesse cursado as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Exercia oficialmente a profissão de doceira, mas também trabalhou vendendo livros e fabricando linguiça, após ficar viúva. A notoriedade porém, só viria aos 75 anos, quando Carlos Drummond de Andrade escreveu um artigo elogioso ao primeiro livro da poeta, Poemas dos Becos de Goiás.

Cora 2Além de escrever poemas, Cora Coralina também era contista e cordelista. Seu primeiro conto, escrito aos 14 anos, foi publicado em um jornal da sua cidade natal. A prosa e os versos da autora são ricos em simplicidade e em cenas do cotidiano do Brasil do interior. A vida doméstica e as cenas da infância e juventude de Cora servem de inspiração para compor pequenos libelos a vida. Muito difícil alguém que tenha nascido em cidade pequena, não se identificar com a autora.

Uma das filhas de Cora Coralina, Vicência Tahan, escreveu a biografia romanceada Cora coragem, Cora poesia, lançada pela Global editora, em 1989.

====================================

Cora em versos:

Versos… não
Poesia… não
um modo diferente de contar velhas histórias

Cora Coralina (Poemas dos Becos de Goiás )

Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera
das obscuras!

Cora Coralina

Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina  (Outubro, 1981)

O Passado…

Homens sem pressa,
talvez cansados,
descem com leva
madeirões pesados,
lavrados por escravos
em rudes simetrias,
do tempo das acutas.
Inclemência.
Caem pedaços na calçada.
Passantes cautelosos
desviam-se com prudência.
Que importa a eles o sobrado?

Gente que passa indiferente,
olha de longe,
na dobra das esquinas,
as traves que despencam.
-Que vale para eles o sobrado?

Quem vê nas velhas sacadas
de ferro forjado
as sombras debruçadas?
Quem é que está ouvindo
o clamor, o adeus, o chamado?…
Que importa a marca dos retratos na parede?
Que importam as salas destelhadas,
e o pudor das alcovas devassadas…
Que importam?

E vão fugindo do sobrado,
aos poucos,
os quadros do Passado.

Cora Coralina

Considerações de Aninha

Melhor do que a criatura,
fez o criador a criação.
A criatura é limitada.
O tempo, o espaço,
normas e costumes.
Erros e acertos.
A criação é ilimitada.
Excede o tempo e o meio.
Projeta-se no Cosmos

Cora Coralina

=====================================

>>Para saber mais sobre a mostra em homenagem a Cora (Estadão)

>>Post no blog sobre o Museu da Língua (publicado em 21 de março)

Leia Mais