Revisando a polêmica sobre livro do MEC

Demorei a tocar no assunto para ter tempo suficiente de formatar minha posição, e como nunca é tarde para se discutir educação, decidi trazer o tema e abrir a discussão aqui no blog. A motivação deste post foi a recente polêmica envolvendo o livro didático de português “Por uma Vida Melhor”, adotado este ano pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) em mais de quatro mil escolas públicas em todo o Brasil.

Li bastante a respeito do tema. Imprimi um capítulo do livro, inclusive, para analisar cuidadosamente a forma como a autora organiza suas colocações e ensina a língua portuguesa, antes de vir aqui abrir a discussão e expor minha opinião. E para começar, vou contextualizar, colocando logo abaixo uma das partes consideradas polêmicas no livro e alvo de grande comoção da mídia:

Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro’?” Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião“.

A primeira pergunta a se fazer é: “A autora está falando alguma inverdade?” Não, de fato ela não está. Mas a meu ver o problema é outro. Eu entendo que é fundamental desenvolvermos uma compreensão crítica referente às diferentes formas linguísticas. Precisamos mesmo conseguir visualizar que a comunicação pode funcionar ainda que não estejamos nos expressando por meio da norma culta.

No entanto, também é indispensável conseguir entender que tudo tem o seu tempo, inclusive quando estamos tratando da educação. Para que possamos começar a discutir formas de expressão linguística, entendo eu, precisamos, primeiramente, dominar a norma culta. O cerne da questão é que temos um problema sério na educação brasileira e, antes de polemizar, precisamos resolver este problema.

Não estou aqui para discutir Paulo Freire ou as teorias acerca da educação. Meu objetivo é simplesmente expor o que penso sobre o assunto e abrir espaço para que vocês entrem no debate e se posicionem. Primeiramente, entendo que a criança, inicialmente, precisa de limites e de regras. Antes de levantar qualquer questionamento sobre formas linguísticas, a criança precisa aprender a norma culta.

Não acredito que crianças e adolescentes tenham maturidade suficiente para discutir preconceito linguístico. Até porque, as bancas que corrigem redação do Enem, do vestibular ou de qualquer concurso público, por exemplo, não vão considerar o argumento do preconceito linguístico para aumentar a nota de aluno algum. Também se quiserem prestar um exame em outro país de língua portuguesa, tampouco este argumento será viável.

A meu ver, esta é uma discussão que precisa existir, mas em um outro momento. Em uma fase posterior, em que o indivíduo já tenha consciência da importância de dominar a sua língua. A partir daí, sim, ele poderá desenvolver uma consciência crítica sobre linguística e formas de expressão, sem, entretanto, cair na perigosa armadilha de confiar no argumento do preconceito linguístico.

Eu não sou contra que um livro sobre a língua seja abrangente a ponto de incluir discussões tão relevantes sobre as variedades linguísticas e formas de comunicação. O que eu repudio é que isto seja ensinado às crianças antes mesmo de elas terem o domínio da norma culta. Acredito que a fase da infância e adolescência é fundamental para a formação. Neste momento, ela precisa ter a base. Ela precisa conhecer a norma.

Hoje, os brasileiros mal sabem falar, mal sabem escrever. Concordância, regência e crase, por exemplo, viraram bicho-papão. Difícil hoje em dia ler um texto inteiro sem que identifiquemos um erro de português pelo menos. E precisamos, sim, de um parâmetro, que é a norma culta. E, ao meu ver, precisamos dominá-la antes de levantarmos qualquer bandeira.

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