Recomeços: um livro sobre vida e superação

Capa do livro Recomeços, de Lina de AlbuquerqueTodos um dia passarão por momentos difíceis, terão de superar perdas ou conviver com realidades doloridas. Acontece que a imagem que temos dos outros é aquela que nos é passada, da qual tomamos conhecimento. Muitas dessas dores e perdas nem chegam ao nosso saber, assim como muitas das nossas dores e perdas não são derramadas no mundo. A superação acaba sendo um processo contínuo, diário, e, na maioria das vezes, interior. Tomamos algumas pauladas da vida e somos obrigados a aprender a conviver com os hematomas, a adaptar a nova circunstância que se impõe.

Daí que um dia nos chegam aos ouvidos os dramas vividos por alguém, aquele alguém que nem imaginávamos ter passado por tanta coisa. Ter contato com estas histórias e com a forma com que estas pessoas deram a volta por cima faz nascer na gente uma força extra. Faz-nos perceber que a felicidade é possível, que o recomeço é possível, que os problemas virão, mas precisamos ter forças para enfrentá-los e vencer. O livro “Recomeços”, da jornalista Lina de Albuquerque, nos faz parar para repensar sobre tudo isso.

A publicação reúne 26 depoimentos de pessoas famosas e anônimos sobre como deram a volta por cima. Cada um deles passou por problemas particulares, por situações difíceis que os obrigaram a aprender uma nova forma de viver. A própria autora do livro se viu diante de uma dessas fatalidades da vida, um acidente de carro que tirou a vida, simultaneamente, dos seus pais e do único irmão. Só de pensar, já dá um aperto no peito. A gente se pergunta, como é possível seguir em frente depois de tamanha tragédia? Mas, sim, é possível.

Ao ler o livro, nos damos conta de que não temos a dimensão do que as pessoas passam na vida. Algumas têm problemas mais graves, outras não tão trágicos. Fato é que não estamos livres das dificuldades, e, basta-nos viver para nos colocarmos à mercê das casualidades da vida. Não, o livro não é uma publicação de auto-ajuda, que tenta ensinar como ser feliz, como vencer, como conquistar seus objetivos. É apenas um livro sobre como algumas pessoas conseguiram superar os obstáculos.

As histórias, apesar de trágicas, são lindas. Alguns podem se perguntar neste instante de que maneira é possível encontrar beleza na tragédia. Mas eu diria que a beleza está justamente em se reencontrar depois de chegar a crer que a vida não fazia mais sentido. Claro que há beleza nisso. Eu acredito, inclusive, que o segredo da felicidade perpassa um pouco por isso, aprender a lidar com as adversidades. No fundo, no fundo, somos todos astros da nossa própria história, os grandes responsáveis pela forma como ela será contada.

As histórias são emocionantes. Os relatos, cheios de sentimentos. Passamos junto por todos aqueles problemas, revivemos as histórias. A cada linha, me perguntava como eles conseguiram. Em algumas passagens, lágrimas escorreram dos meus olhos. Cheguei à conclusão que quanto mais humanos nos tornamos, mais nos dói a dor alheia. Se eu recomendo a leitura do livro? Sim, recomendo. Não para saciar a curiosidade sobre a vida alheia, mas para sensibilizar. Para que as pessoas consigam enxergar que, mesmo quando o mundo parece desabar em nossas costas, ainda assim há esperanças.

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Pedaços de vida
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Não tenho mais a pretensão de entender o que está por trás do mistério da maior perda que sofri. E desconfio um pouco de quem tenta me fornecer uma explicação” – Gerado Silva Júnior: pai de Janus Lucas Leite, uma das 199 vítimas do voo 3054 da TAM.

“De outro jeito, como explicar – se é que existe explicação – todos os acidentes que sofri com a parte do corpo de que um pianista mais necessita para exercer a sua arte?” – João Carlos Martins: pianista, regente, considerado um dos maiores intérpretes de Bach do mundo.

Já que não iria voltar a andar, raciocinei assim que deixei de sentir os membros inferiores, como daria para continuar trabalhando e não ser um peso para minha família?” – Georgette Vidor: técnica de ginástica artística que ficou paraplégica, após acidente de ônibus em viagem com a equipe do Flamengo. 

“Antes fazia sinal para o ônibus e nada acontecia; ele continuava em frente. Meu marido me chamava de ogro; hoje é ex-marido… Eis diferenças que 75 quilos a menos fazem na vida de uma muher” –  Joice Alves: vendedora de uma joalheria de São Paulo.

“No dia seguinte da operação, até a maçã tinha um sabor melhor. Na véspera de o meu novo rim completar o segundo aniversário, desejo a ele muitos anos de vida. Muitas felicidades eu já tenho” – Aleksandra Pinheiro, jornalista e fotógrafa, perdeu um rim ainda bebê e precisou de um transplante mais tarde.

“Quem sabe se eu batesse na porta do jornal A Noite, um dos vespertinos cariocas mais poderosos da época, alguém não me ajudaria a realizar um sonho? Eu tinha 10 anos e tudo o que eu queria na vida era estudar” – Josepha Britto, representante dos idosos e aposentados no Congresso.

E mais: Adriana Bombom, Barbara Paz, Chico César, Dorina Nowill, Elza Soares, Evando dos Santos, Giuliana Marsiglia, José Hamilton Ribeiro, Lama Michel, Lily Marinho, Lucinha Araújo, Luislinda Dias de Valois, Santos, Luiz Mott, Mãe Carmem, Maria Rita Pontes, Paulo Borges, Reinado Polito, Rita Cadillac, Soninha Francine, Zé Pedro.

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SERVIÇO
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Recomeços
Lina de Albuquerque
Editora Saraiva
160 p. | R$ 29
www.editorasaraiva.com.br

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