Traça de Biblioteca: luto, adultério, contos e outras histórias

A série Traça de Biblioteca desta sexta-feira traz seis dicas de lançamentos da Editora Record, que versam sobre temas diversos como a dor do luto e a superação da perda, o adultério como questão cultural e suas diferenças mundo afora, romance noir britânico sobre serial killers, os contos de Mario Sabino que questionam a fé e a ciência, além de um divertido romance que tem como pano de fundo os homens que trabalham como babás em Nova York. Como diriam os camelôs da Avenida Sete de Setembro, “pode chegar madame, pode se aproximar seu moço,tem pra todo gosto, tem de todo preço”. Escolham um ou mais livros e boa diversão!

CONSOLAÇÃO

O livro de Betty Milan retrata o drama de uma brasileira que perde o marido na França e só encontra o consolo que procura entre os seus conterrâneos, ouvindo os dramas das pessoas de São Paulo, sua cidade natal. Sexto romance da autora, Consolação leva o leitor de Paris a São Paulo, narrando o drama universal do luto e da superação da perda. O livro mostra que não é viver muito o que importa, mas viver bem. Na cidade-luz, a brasileira Laura presencia a agonia do marido francês e luta para que sua vida não seja inutilmente prolongada. De volta a São Paulo, cidade natal da viúva e da amante, ela chora o amado, errando pelo cemitério e pelas ruas. Dialoga com os mortos e escuta os moradores de rua, os que nunca são vistos nem ouvidos. Até perceber que ninguém  deixa de existir porque morre.

Ficha técnica:
Consolação
Autora: Betty Milan
Editora Record
168 páginas
Preço: 32,90

UM BABÁ EM MINHA VIDA
Este é o divertido romance de estréia da americana Holly Peterson. O livro conta a história de Jamie Whitfield, que tem quase tudo: um apartamento luxuoso, empregados em tempo integral e um marido workaholic. O que ela não tem é uma figura paterna para o filho de 9 anos. Então, Jamie faz o que todas as outras mulheres da vizinhança estão fazendo, contrata um homem para fazer às vezes de pai do garoto, pelo menos no que diz respeito a figura masculina, exemplos e apoio. A chegada do babá à casa de Jamie e o comportamento cada dia mais excêntrico do marido, metido em um possível escândalo político, promete situações hilárias e muitas surpresas na vida da protagonista.

Ficha Técnica:
Um babã em minha vida
Autora: Holly Peterson
Editora Record
400 páginas
Preço: R$ 39,90

A BOCA DA VERDADE
Em seu novo livro, Mario Sabino retorna aos contos, mesclando psicanálise, filosofia, religião e literatura. O livro reúne onze histórias que têm como fio condutor as questões da fé, da moral e da angústia da existência. Um papa que duvida da existência de Deus. Um escritor que tenta entender a evolução, questionando a moral de Deus e da biologia. Um advogado e um pintor que se deparam com a essência do mal e lidam de forma extrema com as suas conseqüências. Com narrativa declaradamente cosmopolita, que une cultura erudita a situações cotidianas, além de pitadas de psicanálise, filosofia e religião, os contos de A Boca da Verdade confirmam a força de Mario Sabino na literatura brasileira contemporânea.

Ficha Técnica:
A Boca da Verdade
Autor: Mario Sabino
Editora Record
144 páginas
Preço: R$ 29,00

NA PONTA DA LÍNGUA
O livro de Pamela Druckerman revela como as pessoas de diferentes culturas lidam com o adultério. A partir de uma pesquisa realizada em 24 cidades de dez países, onde entrevistou psicólogos, sexólogos e adúlteros, a jornalista americana traça um panorama da infidelidade ao redor do mundo. O livro traz dados e relatos curiosos e divertidos que mostram como homens e mulheres de diferentes culturas lidam com suas necessidades sexuais e afetivas relacionadas à traição, apontando para conclusões surpreendentes. A autora constata, por exemplo, que os americanos são os menos adeptos dos casos extraconjugais e os que mais sofrem com suas conseqüências, enquanto os russos não consideram infidelidade um caso de verão na praia. Quando era correspondente na América Latina pelo Wall Street Journal, a jornalista surpreendeu-se com a freqüência com que os homens casados tentavam levá-la para a cama. Intrigada com as regras de infidelidade que pôde perceber em sua permanência em diferentes países, Pamela decidiu embarcar em uma jornada pelo mundo para entender como e por que as pessoas traem.

Ficha Técnica:
Na Ponta da Língua
As linguagens do adultério do Japão aos EUA
Autora: Pamela Druckerman
Tradução: Fátima Marques
Editora Record
304 páginas
Preço: R$ 43,00

O TURISTA ACIDENTAL
O consagrado romance de Anne Tyler chega ao Brasil depois de anos fora de catálogo. O livro, que originou a premiada versão cinematográfica, selou o reconhecimento da escritora como uma das maiores autoras americanas contemporâneas. Adaptado para o cinema em 1988, com William Hurt, Kathleen Turner e Geena Davis no elenco e diversas indicações para o Oscar e o Globo de Ouro, O Turista Acidental é o décimo e mais aclamado romance de Anne Tyler. O livro conta a história de Macon Leary, um metódico escritor de guias de viagem que detesta viajar. O trágico assassinato do filho, seguido do divórcio, resulta numa crise que o leva de volta à casa dos irmãos, onde foi criado. A harmonia da família é interrompida pelo comportamento de seu incontrolável cão Edward. É quando entra em cena Muriel Prichett, com quem ele acabará formando um improvável casal que mudará vidas ao seu redor, quebrando velhos hábitos e dissipando antigas tristezas.

Ficha Técnica:
O Turista Acidental
Autora: Anne Tyler
Tradução: Adriana Lisboa
Editora Record
448 páginas
Preço: R$ 55,00

CARNE E SANGUE
Escrito pelo britânico John Harvey, considerado um dos expoentes da literatura noir contemporânea, Carne e Sangue revela uma trama de mistério e morte. O investigador aposentado Frank Elder leva uma vida aparentemente tranqüila no interior da Inglaterra. Suas noites, porém, são atormentadas por terríveis pesadelos. Frank não consegue se desligar de um caso não resolvido 15 anos antes, quando levou à prisão os suspeitos Shane Mcdonald e Alan McKeirnan, mas nunca descobriu o paradeiro da vítima, Susan Blacklock. Quando Shane recebe a liberdade condicional, Elder se vê impelido a retomar o caso, mas o suspeito foge e mais uma jovem desaparece, mergulhando o investigador novamente no sinistro mundo dos serial killers.

Ficha Técnica:
Carne e Sangue
Autor: John Harvey
Tradução: Fábio Pinto
Editora Record
384 páginas
Preço: R$ 48,00

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Traição, infidelidade e afins

Tudo bem que prestar atenção na conversa dos outros não é lá uma coisa muito bacana de se fazer. Em certos momentos, no entanto, acho isso meio inevitável. Talvez o fato de ser jornalista (curiosa por natureza), aliada à condição de mulher (que consegue se concentrar em coisas diversas ao mesmo tempo) seja decisivo… Não importa. Fato é que o diálogo alheio é sempre recheado de elementos para se discutir, analisar. 

Nesse papo que segue lá embaixo, as mulheres são sonsas, os homens são canalhas e imbecis… sem considerar os adjetivos, verdade é que eles têm razão em um ponto: a fidelidade é cada vez mais rara em nossa sociedade, tanto entre os homens quanto entre as mulheres. Eu já ouvi de tudo nessa vida. Um amigo certa vez sugeriu que eu enveredasse pela psicologia, de tanto que as pessoas vêm me pedir conselhos. Mas não tive essa ambição. Já basta conviver com meus próprios problemas e os dos meus amigos.

TraiçãoMas, voltando à questão, o que eu já ouvi de histórias sobre traições… Tem umas que me deixam realmente de boca aberta. Uma das mais cabeludas que ouvi, compartilho com vocês. A menina disse ao namorado que estava na casa da amiga e esqueceu de avisar à tal amiga da sua trama. Tarde da noite, o namorado da menina começa a ligar insistentemente para o celular da tal amiga… Desconfiada, a amiga pega outro telefone e liga para a namorada do rapaz e descobre que ela estava com um outro carinha em qualquer lugar da cidade.

Prática, a namorada foi com o tal carinha para a casa da amiga e de lá ligou para o namorado, explicando que tinha esquecido o celular em casa, numa outra bolsa, blá, blá, blá… depois de dois minutinhos de discussão, o pobre coitado do namorado se convenceu da história, afinal ela tinha ligado pra ele do celular da amiga, então, só poderia estar com ela!!!! Ao desligar o telefone, ela seguiu com o tal carinha pelo mundo, o namorado sabe-se lá o que foi fazer e a amiga foi dormir na santa paz do Senhor…

Pois é. Pergunto-me onde tudo isso vai parar… Será que vamos voltar ao tempo em que vivíamos relações conjugais em grupos? Seremos futuramente uma sociedade poligâmica, onde ninguém é de ninguém, ou, aliás, onde muitos serão de muitos? Alguns argumentam falando que isso é da natureza animal… exemplificam com as relações que a maioria dos animais mantêm, sem vínculos de afeto. Para mim, no entanto, tem um aspecto importante a ser levado em conta: somos racionais. Temos sentimentos… Nos magoamos, sofremos, amamos…

InfidelidadeNuma conversa com um amigo, ouvi dele que “o que os olhos não veem, o coração não sente”. Realmente, não há como duvidar disso. O que eu questiono, no entanto, é com relação à honestidade. Porque a gente não precisa estar com alguém. Podemos, inclusive, manter várias relações simultâneas, sem assumir qualquer tipo de compromisso. Contanto que haja honestidade. E se você não está a fim de abrir mão de parte de sua liberdade, ou abrir mão de outras mulheres ou homens maravilhosos que vão te dar o maior mole por aí, pra que assumir um compromisso com alguém? Pra que fazer promessas que você não está disposto a cumprir?

Tudo perpassa pela fase social pela qual passamos. Os valores estão soltos por aí, muitos deles invertidos. As pessoas tentam encontrar um lugar ao sol, embora esqueçam de se preocupar com o caminho que precisam seguir. Os homens andam assustados com esta mulher moderna que chega junto, que ataca. As mulheres, cansadas de serem vítimas da sociedade machista, começaram a agir como homens. Incorporamos as coisas boas e as ruins também. As pessoas se orgulham de ser infiéis, de trair. A verdade perdeu credibilidade e chegamos ao estágio onde tudo pode não passar de uma grande mentira.

O PAPO DOS OUTROS QUE GEROU ESSE POST

Ela: “Os homens são uns cafajestes mesmo… Não valem nada. Na frente da namorada é “meu bem” pra cá, “eu te amo” pra lá… Mas quando estão com os amigos a conversa é só sobre as gostosonas todas que eles querem pegar, sobre os zigs que vão dar na namorada…”

Ele: “Mas as mulheres não ficam atrás não, viu? São umas sonsas… Tenho umas amigas mesmo… Fico pensando como é que elas conseguem… E mulher ainda é pior, porque esconde até das amigas pra não correr o risco de ser denunciada. Depois ficam falando dos homens…”

Ela: “Pior é que está tudo igual mesmo. Ninguém mais presta… É um querendo se dar melhor que o outro. Agora, quem trai é que é bem visto, é quem tem moral… Ser fiel e respeitar virou cafonice… Eu vejo nas minhas rodas de amigos. Quando um deles é fiel, coitado, fico até com pena. Os amigos castigam.”

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De onde vem a família moderna

Família. O que vem à sua cabeça ao pronunciar esta palavra? Talvez a primeira coisa em que você pense seja seus pais, irmãos, avós, tios e primos. O assunto família é um dos que mais me instiga. Talvez por isso eu tenha fuçado alguns livros que falam sobre sua evolução histórica. “Que assunto mais chato”, há quem pense assim. Pra mim, esse conhecimento do contexto de formação da unidade familiar contemporânea ajuda muito a compreendermos tantos dramas sociais que se desenvolvem hoje nas relações conjugais. Ajuda a entendermos nossos papéis, de mulheres, nisso tudo.

Fazendo uma passagem relâmpago pelo estudo da evolução das relações conjugais, a gente vai perceber que houve momentos históricos bem pontuais. Passamos das relações grupais para as individuais. Tudo começou com uma fase de promiscuidade sexual, anos lá atrás. Apesar do significado pejorativo que o termo já adquiriu na sociedade moderna, aqui estou tratando a promiscuidade apenas como as relações carnais desenvolvidas em uma determinada época em que não havia restrições impostas pelos costumes sociais. A sociedade não exigia a fidelidade masculina, então, naquela época, trair fazia parte do sistema.

FamiliaConsaguínea, punaluana, sindiásmica – Quando nasceu a família consanguínea, em que os grupos conjugais classificavam-se por gerações, ainda havia as relações grupais. E assim permaneceu com a chegada da família punaluana, quando foram proibidas as relações sexuais entre irmãos dentro dos grupos. O primeiro passo para as relações individuais veio com a família sindiásmica, em que um homem vivia com uma mulher, sem, contudo, perder o direito à infidelidade casual. E, então, vimos nascer a tal da monogamia, que, a princípio, garantia o direito à infidelidade masculina. O Código de Napoleão trazia expressamente esse direito, desde que a concubina não fosse levada ao domicílio conjugal.

O que eu acho mais curioso de tudo isso é a razão da formação das relações monogâmicas. A principal finalidade, naquela época, era tornar indiscutível a paternidade dos filhos. Não, meus caros, os homens não se tornaram fiéis por amor à mulher, por valores maiores. Nada disso. A aparente fidelidade masculina nasceu para garantir que a riqueza fosse mantida dentro da família. Porque com a morte dos pais, os filhos tornavam-se herdeiros diretos de seus bens (se bem me recordo das aulas de direito de família, antigamente o parentesco era considerado juridicamente até o 10º grau, justamente para garantir que a herança ficasse dentro daquele círculo familiar).

Nesse contexto, nós mulheres precisávamos aceitar tudo isso e, mais ainda, precisávamos ser fiéis. Imagina carregarmos em nosso ventre um filho de outro homem? Imagina descentralizarmos as riquezas de nossa família? É fácil perceber que a monogamia nasceu para escravizar um sexo ao outro e acabou fazendo surgir na sociedade expressões como “o amante da mulher casada” e, até, “o marido corneado”. Em toda a trajetória, a mulher sempre foi reprimida e submetida aos desmandos masculinos. Passamos a história caladas, obrigadas a nos manter em silêncio, obrigadas a aceitar tudo isso.  Fico um pouco angustiada lendo sobre estas questões, porque vejo que sempre acabamos nos reafirmando a serviço do capital, como falei certa vez em um post anterior.

Familia modernaHora de comemorar – Mas por outro lado, conseguimos conquistas valiosas ao longo da história. A ponto de hoje assumirmos uma produção independente, por exemplo, e, ainda assim, podermos chamar de família este núcleo familiar composto por duas pessoas, sem a presença de um homem para garantir o sustento. Esse novo conceito de família, devo dizer, me traz um certo alívio. Podemos decidir, escolher, podemos ter filhos sem mesmo precisar que um homem aceite a idéia. E isso, de alguma forma, traz uma sensação de liberdade.

Minha intenção aqui não é fazer julgamentos. Não vou tratar de qual a melhor forma de se criar um filho, ou qual o melhor tipo de família…  O propósito deste post é apenas de fazer com que nós, mulheres, possamos sentir orgulho de termos superado fases tão cruéis, de termos sobrevivido a tantas agressões sociais e, hoje, podermos estar aqui, discutindo estas questões. Podermos estar aqui decidindo que tipo de família queremos constituir. É um avanço, meninas. Um avanço considerável. Claro que há muito ainda a alcançarmos, mas preciso dizer que, analisando de onde começamos até onde chegamos, só posso concluir, orgulhosa, que somos vencedoras.

DICAS PARA SE APROFUNDAR NO ASSUNTO
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A origem da familia, da propriedade privada e do estadoNa livraria 
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Trecho do livro, para refletir:  “Assim, pois, o que podemos conjecturar hoje acerca da regularização das relações sexuais após a iminente supressão da produção capitalista é, no fundamental, de ordem negativa, e fica limitado principalmente ao que deve desaparecer. Mas o que sobreviverá? Isso se verá quando uma nova geração tenha crescido: uma geração de homens que nunca se tenham encontrado em situação de comprar, à custa de dinheiro, nem com a ajuda de qualquer outra força social, a conquista de uma mulher; e uma geração de mulheres que nunca se tenham visto em situação de se entregar a um homem em virtude de outras considerações que não as de um amor real, nem de se recusar a seus amados com receio das conseqüências econômicas que isso lhes pudesse trazer. E, quando essas gerações aparecerem, não darão um vintém por tudo que nós hoje pensamos que elas deveriam fazer. Estabelecerão sua próprias normas de conduta e, em consonância com elas, criarão uma opinião pública para julgar  a conduta de cada um. E ponto final.”

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