Artigo: diferença entre responsabilidade social e caridade

O artigo desta quinta é de autoria da assistente social Denise Pavani Scucuglia. No texto abaixo, ela analisa a prática da responsabilidade social pelas empresas e diferencia conceitos como filantropia e caridade. O texto é um bom começo para entidades ou pessoas que pretendem iniciar algum tipo de trabalho voluntário em 2010. Hoje, no twitter de um amigo, li uma frase interessante: “A mobilização mundial pró-Haiti é um belo exemplo para todos. Imagine se isso ocorresse todo ano para ajudar uma região diferente do mundo?”. Acredito que o artigo de Denise e a frase de Rodrigo se completam e no mínimo, dão muito material sobre o qual refletir…

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Responsabilidade Social? Filantropia, caridade?  De quem? Para quem?

*Denise Pavani Scucuglia

Nada mais atual do que se falar em “responsabilidade social”…

Poucas vezes um tema foi debatido por tantas pessoas diferentes, por tantos segmentos e com tantas propostas como esse. Discute-se sobre crescimento auto-sustentável, camada de ozônio, reflorestamento, subemprego, trabalho infantil, camadas sociais abaixo do nível da pobreza, abuso moral, etc. Por mais diferentes que esses assuntos possam ser, todos, de alguma forma, remetem à responsabilidade social.

O tema possui até uma norma internacional específica chamada SA 8000 – Norma de Responsabilidade Social, da SAI (Social Accountability International), que diferentemente do que alguns leigos possam entender, refere-se única e exclusivamente às questões inerentes ao público interno das Organizações.

Sem dúvida nenhuma, trata-se de um excelente avanço, pois parametriza algumas questões bastantes polêmicas, criando padrões e regularizando questões importantes. Porém, esta Norma não pressupõe nenhum tipo de ação social que extrapole os limites de atuação dos colaboradores das empresas. Apesar de incentivar e até valorizar estas práticas, elas não têm nenhum peso no processo de certificação.

Partindo desta premissa, é que chegamos ao ponto que gostaria de trazer à reflexão: que tipo de ação social as empresas podem ou devem manter para gerar um benefício sustentável às comunidades onde atuam? Como definir a ação de responsabilidade social a ser desenvolvida e como acessar o público alvo eleito? Muitas ONGs, Fundações e Instituições Filantrópicas vêm realizando trabalhos sérios e merecidamente reconhecidos pela sociedade. Porém, percebe-se uma lacuna interessante nesta área.

Nós encontramos ações meramente assistencialistas, onde a doação de cestas-básicas, medicamentos e vestuário são essenciais para a sobrevivência de uma comunidade. Nesses casos, as necessidades básicas são tão gritantes que mais nada faria sentido, pelo menos inicialmente.

Outra ação muito comum é a multiplicação de um conhecimento que objetiva a possibilidade de ampliação da renda familiar, onde normalmente encontramos pessoas de boa vontade multiplicando suas habilidades como, por exemplo: o ensino do artesanato, crochê, pintura ou mesmo atividades mais técnicas como informática, eletricidade, serviços de pedreiro, pintor, etc.

Isto, sem contar, é claro, com as instituições mais alicerçadas que contribuem para a implantação de projetos, atendendo uma demanda de captação de recursos de comunidades que contam com uma infra-estrutura já melhor elaborada.

Porém, a lacuna a que me referi é quanto à CAPACITAÇÃO INTELECTUAL. Quando a proposta é aumentar o nível de conhecimento de um público menos favorecido e, conseqüentemente, sem condições de buscar uma reciclagem do saber, o caminho é tortuoso. A sociedade não está preparada para oferecer, nem tampouco receber, este tipo de “doação”, que difere completamente da linha assistencialista, mas que gera uma oportunidade de reflexão e crescimento pessoal, antes de tudo.

Será que um adolescente que, a duras penas, conseguiu finalizar seu curso médio e agora precisa inserir-se no mercado de trabalho para ajudar no orçamento familiar, consegue perceber o quanto pode ser importante para ele alguns cursos complementares? Normalmente, ele acredita que um curso universitário está fora de seus planos, pois não possui condições financeiras para tanto e se acomoda a repetir uma história de vida tão fragilizada, mas que já reconhece muito bem e, de alguma forma, lhe mantém em sua “zona de conforto”. Essa reciclagem de conhecimento poderia agregar a ele um potencial que lhe traria melhores oportunidades profissionais e, consequentemente, maiores proventos, dando-lhe até a real possibilidade de freqüentar a tão sonhada faculdade.

E vamos além… Tantos profissionais desempenham suas funções durante anos a fio, sem jamais almejar algo diferente (para não dizer melhor). Fazem aquilo que sabem e que têm experiência, sem poder pensar num crescimento profissional, pois, para tanto, necessitariam de uma reciclagem de conhecimento, cujo preço não lhe é acessível.

Dentro deste quadro, o que nós, empresários, estamos fazendo para alterar esse panorama? Que ações teríamos que ter para alcançar este público e, inicialmente, fazê-lo acreditar que, assim como qualquer pessoa, todos têm o direito de sonhar e buscar a realização de seus sonhos.

A experiência tem nos mostrado que não é uma missão simples atingir este público. Várias são as barreiras que separam o desejo de aprender com a vontade de ensinar.

Alguns conceitos são importantes para nos balizar, a saber:
· VOLUNTARIADO – atividade não remunerada, prestada por pessoa física à entidade pública de qualquer natureza, ou à instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.
· FILANTROPIA – Originário do Grego: Philos = Amor, e Antropos = Homem. Relaciona-se ao amor do homem pelo “ser humano”, ao amor pela “humanidade”. No sentido mais amplo, pressupõe o amor ao próximo e a COMPAIXÃO. Compaixão, no sentido de TER PAIXÃO e não como se costuma pensar: ter piedade. Para se ter compaixão é necessário a EMPATIA (colocar-se no lugar do outro).
· AGENTE DE MUDANÇA: A ação voluntária deve ser facilitadora do desenvolvimento e do crescimento.
– Se for Assistencialista – cria dependência.
– Se for Autoritária – cria a baixa auto-estima.
– Se for Clientelista – cria uma cultura de adesão.
– Se for Democrática – cria CIDADANIA e AUTONOMIA.

Quando o enfoque para a elaboração de um Projeto Social for o Voluntariado e a Filantropia e obtiver um Agente de Mudança convicto de que precisa ter uma ação democrática, estaremos caminhando para a criação de seres humanos “CIDADÃOS e AUTÔNOMOS”.

Que cada um faça a sua parte!

Embora ninguém possa voltar atrás
E fazer um novo começo…
Qualquer um pode recomeçar agora
E fazer um novo fim”.
(Chico Xavier)

*Denise Pavani Scucuglia é Assistente Social e especialista em Análise Transacional, formada pela UNAT Brasil. Também é diretora administrativa financeira da Gauss Consulting.

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Livros infantis para mudar o mundo

A leitura transforma os seres humanos. Como diz Guiomar de Grammont, no seu ensaio Ler devia ser proibido, a literatura abre portas para a imaginação, nos torna “perigosamente humanos”, nos dá visão crítica, capacidade de julgar, avaliar, escolher e, principalmente, opinar. E é com uma sociedade opinativa, crítica e imaginativa que podemos mudar o mundo, melhorá-lo e torná-lo mais justo. Por acreditar nessas premissas e para incentivar que o gosto pela leitura comece na infância, é que o Conversa de Menina apresenta para vocês a coleção Jeitos de mudar o mundo, da editora Escala Educacional. Idealizada pelo ilustrador Fernando Vilela e pela escritora Stela Barbieri, a coleção é formada por livros que se baseiam nas oito metas do milênio estabelecidas pelas Organização das Nações Unidas no ano 2000. Abaixo, uma pequena sinopse de cada livrinho da coleção e a meta do milênio ao qual ele está ligado…

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Leia também:
>>Livros que todo adulto precisa ler
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Na sombra do Baobá (mortalidade infantil)

baobaO livro conta a história de uma comunidade que vive à sombra de um imenso baobá. A árvore é o reservatório de água da aldeia em tempos de seca e a proteção da comunidade contra o terrível dragão devorador de crianças Nguma Monene. Um dia, Mafuane, uma mulher que queria muito ter filhos, reza embaixo do baobá para ter um bebê. Nasce Ilunga, uma criança minúscula, que cabia na palma da mão da sua mãe, mas era bastante forte. Certa feita, o terrível dragão ataca e rouba as crianças da aldeia, junto com elas, o pequeno Ilunga. Apesar do seu tamanho, ele demonstra que é capaz de grandes feitos…

A ponte (trabalho comunitário/ voluntariado)

ponte1Essa é a história de Guadalupe e Diego, amigos de infância que crescem e se casam.
O casal recebe um pedaço de terra de presente dos pais de Guadalupe. Com a ajuda dos homens e das mulheres da comunidade, erguem uma casa e depois preparam a terra para plantar o milho. O grande problema de todos os que moram no povoado é transportar os alimentos que produzem, por meio de canoas, até o outro lado do rio onde fica a cidade. O sonho deles é construir uma ponte…

O amigo dos animais (respeito ao meio ambiente)

amigos-dos-animaisCauã vive numa aldeia no meio da floresta dos tucanos. Todos em sua aldeia vivem felizes e só matam os animais para seu próprio sustento. Mas, os caçadores aparecem para matar milhares de animais com armas de fogo e Cauã não entende o porquê, pois aquela matança poderia alimentar seu povo por um ano; além disso, a cada dia a quantidade de animais diminui. Incomodado, Cauã pergunta ao pajé porque os caçadores matam tantos bichos e o Pajé explica que o homem branco não queria a caça, mas a riqueza que a caça trazia com a venda de sua pele. Indignado com essa situação, Cauã pensa numa forma de ajudar a floresta…

Gênio do poço encantado (combate às doenças endêmicas)

genioA Vila do Poço Encantado tem um reservatório de água limpa cuidado por um gênio generoso. Na vila, vivem os irmãos Kiri e Arun, filhos da lavadeira Sovann. Tudo vai bem na aldeia, as crianças adoram cantar e seu canto atrai reis e rainhas, até que um dia algumas pessoas da cidade começam a ficar doentes. A doença se espalha e cada dia mais e mais homens, mulheres e crianças adoecem. As ervas e os remédios disponíveis não conseguem curá-los. Arun, o filho da lavadeira Sovann também fica doente. Até que o gênio descobre que o povo está enterrando lixo perto do poço…

A menina do feijão suculento (fome e combate à miséria)

menina-e-feijaoMahura mora na roça, numa casa de barro vermelho. Seu divertimento predileto é andar pela estrada de terra e visitar os sítios vizinhos para brincar com as outras crianças.
Um dia para de chover, as plantações morrem, os animais começam a definhar e os rios a secar. As pessoas que vivem ali começam a passar fome e todos ficam desanimados, com exceção da menina. Ela encontra alguns grãos de feijão em um pote. Junto com sua mãe, resolve plantá-los. O rio é longe, mas todos os dias elas trazem um pouco de água para regar as sementes. Quando os feijões são colhidos não são suficientes para alimentar todas as pessoas, então Mahura tem uma ideia…

Radija e seus tapetes mágicos (igualdade de gênero)

radijaA narrativa mostra como Radija, estimulada pelas histórias contadas pelos mercadores de tapetes, desperta o desejo de ser livre em uma sociedade que valoriza os homens em detrimento das mulheres. Ela quer partir com as caravanas e viajar pelo mundo, mas seu pai não deixa porque ela é uma menina, até que Radija consegue mostrar o valor das mulheres na sociedade…

O reino dos mamulengos (educação)

mamulengosEssa é a história de Severino, um rapaz que resolveu sair pelo mundo em busca de sua sorte. Sua especialidade é fazer e manipular mamulengos. Ele aprendeu com o pai, que por sua vez aprendeu com o avô, que aprendeu com o bisavô, que aprendeu com o tataravô. Desse modo, faz parte de uma linhagem de bonequeiros, que criam mamulengos e interpretam histórias cheias de encanto e humor. Severino não sabe ler, o que o impede até de se defender de algumas ciladas. Mas, no Reino das Terras Altas, ele muda o seu destino…

Satiko e o vulcão (atenção à saúde da gestante)

satiko“Satiko e o vulcão” narra à história de Satiko que está grávida de sete meses e vive em uma aldeia às margens do lago de águas claras, aos pés do grande vulcão em uma pequena casa com o pai, senhor Sho, a mãe e o marido. Um dia, o pai de Satiko diz que o vulcão vai entrar em erupção e por isso todos precisam se mudar da aldeia. Mas, ninguém acredita nele. Então, o senhor Sho prepara embarcações de madeira para que todos possam fugir quando o vulcão entrar em erupção e depois da fuga, todos partem numa grande jornada em busca de outro lugar para morar…

Serviço:
Coleção Jeitos de mudar o mundo
Autora: Stela Barbieri
Ilustrador: Fernando Vilela
Editora: Escala Educacional
Preço sugerido: R$ 24,50 por livro

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