Por favor, não comente!

*Texto e reflexões de Andreia Santana

O título do post não é para impedir comentários aqui no blog. Ao contrário, acredito que vocês terão muita coisa para falar sobre o assunto que abordarei na “filosofagem” de hoje. Só que fiquei pensando em como batizar essas minhas reflexões, que a bem da verdade não são apenas minhas, porque surgiram de um dos meus papos com a menina Alane e de uma frase que li no Orkut de outra amiga. Sim, as minhas camaradinhas, graças aos deuses das boas ideias, são uma mão na roda na hora de arrumar temas para discorrer por aqui. É que elas me provocam – no bom sentido -, estimulam, instigam com suas visões de mundo e de vida. Algumas até brigam comigo, mas com todo respeito (não costumo manter amizades que não me respeitam). E, ao menos, penso assim, de vez em quando uma discussão é até bom. Sempre tem aquele dia em que a gente precisa ouvir umas verdades.

Ajuda também o fato de eu ter amigas de faixas etárias variadas, dos vinte e poucos anos até as senhoras como a minha mãe, que é muito boa para inspirar temas de blogagem. Aquelas amigas que são jornalistas, inclusive, já sabem que alguns dos nossos papos vão virar posts. Uma ex-chefe dizia que seu marido ficava chateado (mas só de brincadeira), porque tudo na vida dos dois virava uma pauta. Não era bem assim tudo, mas boa parte das experiências de um jovem casal com um filho pequeno acabava dando pano para a manga e rendia boas matérias de comportamento na revista que ela editava. É que a gente sempre quer saber da experiência dos outros, acho que nunca deixamos de aprender pelo exemplo. Até depois de velhinhos, sempre gostamos de compartilhar experiências. São os test drives. De vida, não de cosméticos.

Mas, nem tudo precisa ser compartilhado, há maneiras e maneiras de se dizer as tais verdades e, olha aqui o link com o título do post, nem tudo precisa de um comentário. Ou, se for para comentar, um certo cuidado é necessário. Sutileza minha gente, essa é a palavra. Mas, por que essa digressão toda para falar de sutileza? Na realidade não é bem dela que quero falar agora, mas de outra coisa que não tem nada de sutil, o mau e velho hábito de “se meter na vida alheia”. Para vocês não ficarem achando que endoidei, explico.

A troca de ideias com Alane começou com a constatação do quanto é chato as pessoas ficarem monitorando as vidas umas das outras e do quanto irrita quando alguém faz comentários enxeridos. Vejamos: você está feliz da vida diante do espelho do banheiro da empresa ou de um shopping, ou restaurante, ou até de uma festa, retocando sua maquiagem, se curtindo, numa sessão mulherice total, terapia para a autoestima, lembram? Daí, chega aquela conhecida e dispara: “Arff, mas você é vaidosa heim, fulana!” Ela pode dizer também: “Nossa, quantos cosméticos, você gasta o salário todo nisso, não é?” Completamente desnecessário, concordam? Se não concordam, fiquem à vontade para replicar ali na caixa de comentários do post. Não fujo de um bom debate. Adoro!

Mais situações desse tipo: você chega em casa, do trabalho, da balada, não importa de onde, depois da meia-noite, e ao colocar a chave no portão do edifício, aquela sua vizinha que adora cuidar da vida alheia abre logo a porta de casa, para ver quem está chegando. Me pergunto sempre se é da conta dela. Ou, se o síndico do edifício contratou porteiro novo. Não, gente, sou uma moça educada! A pergunta é mental. À vizinha enxerida dou apenas um “Boa noite, dona Cotinha” e subo as escadas para o meu apartamento.

Outra situação, só porque essa me parece das mais absurdas. Você vai comprar uma roupa, ou sapato, ou bolsa nova, ou seja lá o que você está precisando – ou querendo – comprar. Leva uma conhecida junto. Mulher adora fazer comprinhas em bando. Daí, você escolhe suas comprinhas e uma amiga dispara: “Fulana, você vai pagar esse valor todo por uma calça? Tá podendo, heim”. Pois é, também acho. Completamente desnecessário.

Alane defende a teoria de que quem se preocupa tanto em monitorar a vida alheia, é porque carece de ter uma própria. Concordo plenamente. Além disso, acho deselegante ficar reparando dessa forma nas pessoas, no quanto custou o que elas estão vestindo, no tipo de comida que colocam no prato, se sairam de casa com ou sem maquiagem. Atenção! É bem diferente isso que estou dizendo das situações em que uma amiga pede uma opinião ou quando a gente dá uma dica para uma conhecida. Trocar figurinhas, indicar onde é mais barato aquele perfume que a colega tanto gosta, ajudar alguém que está precisando de um apoio para analisar determinada situação sob ângulos diversos, tudo isso é possível e saudável. Não é disso que estou falando. Minha bronca é com a vigilância mesmo, com o interesse mórbido e a intenção má, muitas vezes mesquinha e despeitada, a inveja e a cobiça – não em ter também, mas em se achar mais merecedor que o outro – que se escondem por trás desses exemplos que descrevi. Esses é que são os comentários que prefiro que não sejam feitos. Infelizmente, em momentos constrangedores, já os ouvi.

Querer ter alguma coisa também é diferente de querer ter algo que é do outro. Segundo Zuenir Ventura, autor de Mal Secreto, quem inveja é porque se acha mais merecedor. Que audácia, não é?

Sabe aquela velha fórmula, “se não puder dizer algo bom para alguém, não diga nada”? Em certos momentos, mesmo entre grandes amigas de longa data, guardar silêncio é atitude nobre e elegante. Essa elegância não é a do fashionismo, mas aquela de alma. Ao menos para mim, nem tudo é permitido em nome da amizade. Respeito é bom e tudo mundo gosta. E por um simples motivo: magoa. Sim, pode parecer bobagem, mas há dias e dias na vida da gente. E em determinados dias, estamos tão à flor da pele, como diz o amigo Zeca naquela música, que qualquer comentário mordaz e desnecessário nos faz chorar.

Nunca deixo de enxergar uma criaturinha perversa por trás de certas atitudes como essas de monitorar a vida dos outros ou de fazer comentários que ao invés de elevar, jogam a autoestima do outro no subsolo. E quando o dono do comentário apela para o sarcasmo, então? Nossa! Aí eu enxergo uma “alminha sebosa”, como diz um amigo meu. Pois é, homem também é vítima de “alminhas sebosas”, não somos só nós não!

A frase no Orkut, que somada ao papo com Lane, me fez pensar tudo isso, era essa: “Senhor, proteja-me de todo mal, de todas as pessoas de má fé, e que toda energia negativa que aqui chegar se transforme em amor. Amém!” Bonita, não é? E independe de seguir ou não uma religião. Vejo nessa frase muito respeito e só quem sabe respeitar o espaço dos semelhantes é capaz de atos de nobreza, elegância e…agora sim, sutileza.

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Crianças e fashionismo: Um papo sobre a noção de limites

*Texto e reflexões de Andreia Santana

Já era para ter escrito esse post, mas o tempo nem sempre favorece a vida de blogagem. O tema porém, é daqueles que sempre vale a pena meter a colherzinha e, recentemente, dois bons “ganchos”, como se diz no jargão jornalístico, me fizeram pensar bastante sobre a relação das crianças com o universo da moda e a noção de limites que os adultos precisam estabelecer para evitar distorções na educação da meninada, principalmente das meninas.

Duas amigas acabaram favorecendo minha “filosofagem” sobre o assunto. Uma delas me enviou link do site do Estadão, com reportagem sobre as “mini socialites fashionistas” e uma outra, com a frase “para você, que milita na causa” (referindo-se ao meu interesse por educação infantil, embora eu não seja educadora, apenas mãe), me trouxe um exemplar da Folha de São Paulo do último dia 07 de abril, com reportagem sobre marcas de lingerie que estão fabricando sutiãs com enchimento para meninas de seis anos!

Na primeira reportagem, do Estadão, sobre as fashion kids, o leitor é apresentado a um grupo de meninas na faixa dos cinco aos dez anos, junto com suas respectivas mães. O texto mostra como essas meninas, devidamente estimuladas pelas mães, frequentam semanas de moda e consomem – ou ao menos desejam avidamente – marcas top de linha como Prada e Dior. Uma das mães chega a dizer, em tom casual, que não imagina a filha vestindo uma roupinha das lojas de fast fashion (ela cita a Renner) nem para dormir! Outra, empolgada com a matéria, diz que se considera uma pessoa bem humilde, pois dirige um Vectra, embora more em um apartamento de dois milhões de reais. Mais adiante, uma terceira mãe, questionada sobre de que forma o consumo de alto padrão é tratado na escola das crianças, responde, igualmente de forma casual, que este é um problema muito sério, que na escola discute-se “o que fazer com as crianças que não tem condições de viajar à Disney todo ano”!! Preciso dar mais exemplos?

Cena de concurso de beleza infantil no belo filme Pequena Miss Sunshine. A pequena Oliver (Abigail Breslin), é discriminada pelos organizadores do concurso por ser "fora do padrão"

O objetivo aqui não é criticar os ricos ou bancar uma Robin Hood de saias, porque seria hipocrisia e leviandade. Não tenho absolutamente nada com a vida alheia, não me considero palmatória do mundo e tampouco quero ensinar a quem tem dinheiro como gastá-lo. Só digo que esta não é a minha realidade e nem a de milhares de pessoas. Mas, se alguém tem cacife para pagar luxos, pequenos ou grandes, que os pague. Não sou contrária ao consumo dos itens do universo de beleza também, seria uma contradição, já que mantenho um blog feminino que fala entre outras coisas, de consumo e produtos de beleza, que eu uso, bastante. Também não sinto inveja das socialites que podem vestir as grifes internacionais. Pessoalmente, gostaria até de ter algumas peças que me falaram ao senso estético, mas como meu bolso não permite, sou bastante feliz garimpando peças nas fast fashions e demais lojas ou marcas que se adequam à minha realidade financeira, inclusive nos magazines e sacoleiras da vida. Isso não significa que não admire o trabalho dos deuses da moda. Mas para mim, por enquanto ao menos, é como admirar uma bela obra de arte em um museu: posso ver, desejar, mas não dá para levar para casa. Simples assim.

O que me leva a refletir aqui no blog sobre essa reportagem das mini fashionistas e a outra sobre os sutiãs com enchimento para meninas que sequer tem peitos ainda não é a questão de ter ou não roupa de grife, mas a noção de limite, da formação cidadã das crianças, do tipo de mundo que está sendo mostrado para elas e que só se sustenta dentro de uma bolha, do microuniverso onde elas gravitam, mas que, fatalmente, vai resultar em choque com a realidade aqui de fora. Até porque, em algum momento, as crianças crescem e saem da bolha. O choque é tanto para elas quanto para quem sofrerá o preconceito. Até porque, nem todo mundo vai circular na mesma rodinha. “O que fazer com as crianças que não podem ir à Disney todo ano”, lembram?

Foto tirada de reportagem sobre vaidade infantil no site da Abril

Exclusão, dificuldade em aceitar a diversidade do mundo, incapacidade de interferir em uma realidade desigual e divergente daquela da “bolha”. Isso é o que me assusta.

Me preocupa muito, por exemplo, que uma sociedade combata a pedofilia com tantas campanhas e ao mesmo incentive a sexualização precoce das meninas, vestindo-as como miniadultas, fazendo-as comportar-se como mulheres e consumir produtos que seriam mais adequados depois que elas tivessem maturidade suficiente para administrar as consequências. Não sou a favor que meninas de dois, cinco, sete anos de idade pintem as unhas, façam progressiva no cabelo, usem maquiagem. Me dá sempre a sensação de que estão roubando uma fase importante da vida dessas meninas, que estão abreviando suas infâncias e levando-as a parecer maduras, quando na verdade são apenas o simulacro de um adulto que, por amadurecer praticamente à força e antes da hora, acabará infantilizado.

A indústria da beleza quer vender e não importa para quem. E quanto mais cedo o consumo começar, melhor. Essa é a lógica do capitalismo, que é antropofágico, se alimenta de si mesmo. E isso aqui não é discurso político e nem fui eu quem inventou a roda. Séculos antes de eu meter minha colherzinha enxerida nesse angu, filósofos e teóricos da economia já haviam decifrado a lógica que rege a nossa sociedade. Principalmente no ocidente.

A pequena Sure Cruise se tornou celebridade badalada não apenas por ser filha do casal de astros de Hollywood Tom Cruise e Katie Holmes, mas por "ditar" moda para menininhas e até interferir no guarda-roupas da mãe

Portanto, lógico que donos de marcas de cosméticos e lingeries vão dizer que não tem nada demais vender seus produtos para meninas recém-saídas dos cueiros. E, ironia, vão jogar com os arquétipos da psicologia para empurrar cada vez mais produtos, para criar cada vez mais “necessidades” urgentes de ter algo que seria perfeitamente dispensável se a coisa fosse pensada de modo racional. Mas o consumo, e nós mulheres adultas que vez por outra caímos em tentação e compramos mais do que nossos cartões aguentam, bem sabemos, não é racional, mas emotivo. É a busca por prazer que nos leva a adquirir coisas que, racionalmente, não temos necessidade de possuir. É uma massagem no ego, um alento, um refinamento de gostos, ou de alma (cada um busca suas desculpas), cobiçar o belo, estar bela. É questão de autoestima – eu acredito nisso –  e de projeção: o que queremos mostrar aos outros? Nosso melhor lado, claro! Ninguém quer parecer mal na fita, nunca.

As crianças, tanto quanto nós, também querem a sensação de prazer. Se são ensinadas a tirá-la apenas do consumo, vão consumir como formigas saúvas na plantação, vorazmente. A diferença é que enquanto nós – na maioria das vezes – sabemos quando parar, nem que seja porque o limite do cartão acabou, elas não sabem. A menos que a gente ensine.

Freud e cia. explicam melhor que eu, inclusive, essa relação/necessidade que temos do prazer e da busca pela felicidade para dar sentido à vida, que a bem da verdade, ninguém descobriu ainda o que é.

Quando digo sexualização precoce, não estou falando nas teorias da psicologia que já demonstraram que as crianças possuem sexualidade latente, que o ato de mamar, por exemplo, é prazeroso e é preciso que seja assim, para que o bebê empregue a força necessária na sucção e com isso sobreviva, cresça, e a espécie garanta sua perpetuação. Se mamar fosse repugnante, os bebês fatalmente não vingariam. Se fosse um tormento indizível para as mães, o lado primitivo do ser humano, que foge da dor, iria impedi-las de alimentar suas crias. Então, tem componentes biológicos envolvidos aí, óbvio, e tem também toda uma construção de identidade, que é subjetiva e gradativa. Mas existe um ritmo próprio tanto para a natureza ancestral quanto para que a identidade atuem e se consolidem. Minha angústia é que esse ritmo natural vem sendo atropelado pelo consumo sem qualquer reflexão e consciência.

A personagem Mabi, da novela Ti Ti Ti. Aos 11/12 anos, era uma blogueirinha de moda super influente e um ícone de fashionismo. Mas revelava visão crítica tanto da moda quanto das posturas nada éticas que algumas pessoas adotam nesse meio

Quando éramos meninas, muitas vezes imitávamos nossas mães. As crianças aprendem por imitação – outra teoria científica já bem batida – e seus primeiros jogos e brincadeiras reproduzem o que veem no universo adulto. Brincam de escritório, brincam de mamãe, de papai, de guerra, de policia, de desfile, de salão de beleza e por aí vai… As meninas vestem as roupas das mães desde sempre. Vesti muito as da minha, suas camisolas de seda e renda eram as minhas preferidas, nas minhas brincadeiras elas viravam sempre vestido de princesa, lençóis viravam cabelos de sereia.

Mas há uma diferença – e essa é a noção de limite do título do post – entre uma criança espontaneamente reproduzir e interpretar o mundo adulto em jogos lúdicos e esse mundo ser empurrado para cima dela por meio de sutiãs, cintas ligas, estojos de make, concursos de beleza quase selvagens e que servem mais para satisfazer egos frustrados das mães do que de fato beneficiar as filhas. Há uma diferença gritante que está na inocência da criança que, aos cinco anos, olha maravilhada para o corpo da mãe e o dela própria, captando as mudanças de forma sutil; ou que veste um sutiã achando aquela peça engraçada; ou até o coloca na cabeça porque não sabe direito para que serve; e a malícia da indústria, que se apropria dos jogos infantis e os adapta a essa lógica muitas vezes perversa, que faz a roda do consumo girar e, fatalmente, excluir, segregar.

E quem pode dar um basta nisso? Provavelmente ninguém. A ideia não é estabelecer censura ou patrulha ideológica, abolir a indústria que gera empregos ou pregar o politicamente correto; mas apenas advertir que crianças que crescem depressa demais fatalmente vão se tornar adultos com problemas de autoestima. Não é uma regra, lógico, mas dados sobre anorexia nervosa ou dismorfia corporal em garotas de 14 anos, gravidez precoce por uma entrada na vida sexual antes da hora e sem preparo, índices de doenças sexualmente transmissiveis e Aids aumentando entre o público jovem, transtornos compulvisos, aumento no consumo de drogas pesadas (na maioria das vezes como muleta para aguentar a crueza do mundo), crises depressivas e uma infinidade dos chamados “males da civilização moderna” estão aí para provar que alguma coisa de grave está sendo feita com a formação das nossas crianças.

O sutiã infantil com enchimento está no centro da polêmica. Para especialistas em psicologia, o sutiã em si, que já foi símbolo de dominação machista, reconfigura-se em fetiche e erotização, símbolos esses que ainda não se adequam ao repertório das crianças de seis anos, mesmo num mundo de informação ultraveloz e ao alcance como o nosso

Não é preciso ter lido todos os psicanalistas para saber que quando se cria uma criança numa bolha, fazendo-a acreditar que o mundo se curvará ao seu desejo, não se está preparando essa criança para as frustrações da vida adulta, que de uma forma ou de outra sempre virão. A menina rica poderá comprar Dior e Prada a vida inteira, botar botox, morar em coberturas de milhões de dólares, ter todos os assessórios e cosméticos que seu dinheiro puder comprar, fazer lipo, botar silicone, mas nada disso irá livrá-la de uma possível rejeição, ou decepção amorosa, ou da solidão e da velhice. A tecnologia, até agora, só conseguiu retardar, mas parar o tempo ainda não é possível.

Me pergunto: as crianças erotizadas precocemente (porque tem diferença entre a sexualidade infantil latente e o erotismo adulto imposto às crianças), acostumadas a julgar as pessoas pelo ter e não pelo ser, criadas para cobiçar sempre as super marcas e desprezar os coleguinhas que não podem vestir Dior ou passar férias na Disney, essas crianças estarão preparadas para a vida e seu eterno jogo de ganha aqui, perde ali? Saberão lidar com a frustração? Conhecerão o que é respeito, solidariedade? Estarão livres dos preconceitos que vêm agregados à  essa ideia – excludente em si – de perfeição?

Me pergunto sempre no que essa fúria consumista que não poupa nem o curso natural da infância irá nos levar. Por que os pais perderam a capacidade de dizer não aos filhos, criando pequenos ditadores que se acham acima de tudo e de todos?

Não tenho as respostas e nem quero culpar a indústria da beleza pelas mazelas da sociedade, mas quando leio reportagens em que menininhas competem entre si para saber qual delas é a mais it girl dentre as its, com suas mães deslumbradas incentivando a voracidade infantil, confesso que tenho um certo medo do que está por baixo da ponta desse iceberg!

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Artigo: De volta ao começo do ciclo

Recebi um artigo muito interessante, nesta quinta, via email, e que de certa forma tem relação com o último “texto filosófico” que escrevi aqui para o blog, sobre como a TPM é tratada de maneira rasa por um programa de TV. No artigo, a coach Melissa Setubal relata uma experiência pessoal. Ao divulgar o texto, não estou dizendo que todas as mulheres devem ou precisam seguir o mesmo caminho que ela escolheu. Mas creio que o depoimento sincero rende uma reflexão. As questões que Melissa levanta são sobre os benefícios e os malefícios da pílula. Ela, porém, não deixa de ressaltar que, ao abrir mão da pílula, precisou buscar outro método contraceptivo. Vale lembrar ainda para quem estiver lendo, que além de evitar gravidez indesejada, os contraceptivos como a camisinha, por exemplo, protegem das DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e do vírus da Aids. Boa leitura!

De volta ao começo do ciclo

*Melissa Setubal

Acabo de ter um dos melhores resultados que eu aguardava da minha caminhada na alimentação e estilo de vida saudáveis: meu primeiro ciclo menstrual natural em 16 anos!

Foi há cerca de um ano que comecei meu desafio de retomar as rédeas do meu sistema reprodutivo. Iniciei um tratamento que usa apenas comida e suplementos naturais para limpar o organismo feminino de problemas típicos de nossa era.

Não vou dizer que é moleza, mas para mim, que já estava mudando muita coisa no meu estilo de vida, foi quase natural. Comecei aprendendo a como comer para dar suporte ao meu sistema endócrino, depois comecei a tomar algumas ervas e suplementos vitamínico-minerais para dar aquele apoio extra, e finalmente conversamos muito sobre energia feminina.

Foi então que tomei uma decisão que jamais imaginei que iria acontecer nessa vida: parar de tomar a pílula anticoncepcional depois de usá-la initerruptamente desde os 15 anos. Para quem tem Ovário Polimicrocístico, isso é quase como uma condenação, pois logo cedo aprendi que, para controlar suas manifestações temidas (acne, pelos, excesso de peso, menstruação irregular, resistência à insulina, etc), a única saída é a pílula, e não há cura.

Ainda mais porque eu passei a tomá-la sem parar para menstruar por cerca de 7 anos, na tentativa de controlar uma TPM forte e enxaquecas excruciantes, sem muito sucesso.

Aprendi que a pílula causa coisas ainda piores, como predisposição a trombose, doenças cardíacas, derrame, entoxicação do fígado, e muitas outras coisas assustadoras. Eu que já vinha com bronca da indústria farmacêutica convencional, fiquei mais revoltada ainda por nunca ter sido devidamente orientada sobre tudo isso.

Mas e o medo de largar essa muleta que me “sustentava” há tanto tempo? Como será que meus ovários iriam se comportar? Minha cara ia voltar a ficar cheia de espinhas? Eu iria continuar tendo os sintomas terríveis antes e durante a menstruação das quais eu tentava fugir? Como eu iria evitar a gravidez?

Sabia que exigiria da minha paciência, que me desafiaria a cada instante, e que volta e meia eu teria vontade de desistir e usar alguma “pílula mágica” para fazer parar qualquer sofrimento que eu estivesse sentindo no momento. E assim foi: passei 7 meses sem menstruar, com episódios de depressão, irritação, rosto e corpo cobertos por acne, cabelo caindo, dentre outras coisas “divertidas”. Minha impressão era, naquele momento, que minha vida era melhor com a pílula. Mas volta e meia alguma coisa acontecia para me lembrar o porque escolhi esse caminho.

Uma das mais incríveis foi a melhora em 90% da minha enxaqueca, algo que jamais imaginei que me livraria. Isso vinha atrapalhando minha vida tão profundamente, que há algum tempo atrás eu tinha crises fortíssimas de não conseguir sair do quarto pelo menos uma vez por semana. Agora, fiquei sem nenhuma manifestação por mais de 3 meses, e quando ela veio no dia antes da menstruação, não passava de um pequeno desconforto e uma leve dor de cabeça, que não me impediu de continuar minha atividades normais.

Hoje, tenho apenas poucas e pequenas espinhas, meu cabelo está nascendo novamente, minha energia e humor estão mais estáveis, meu fígado funciona melhor do que nunca, a glicose no meu sangue estável, e um sorriso no rosto ao ver que a menstruação está descendo.

Essa para mim é a maior vitória de todas: me sentir confortável no meu corpo de mulher, celebrar cada etapa do meu ciclo e usá-lo ao meu favor no meu dia-a-dia, e abraçar o feminino em mim que esteve reprimido por tantos anos, aprendendo a usar seu grande poder de transformação no mundo.

*Melissa Setubal é coach de Saúde Integrativa especialista em saúde da mulher

**Texto enviado ao blog pela SBPNL e publicado mediante citação da autoria e respeito à integridade do conteúdo.

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Artigo: Hormônios, chatices e chateações

Adoro os textos da jornalista Marli Gonçalves e fico bem feliz quando recebo email com um dos artigos dela. Me divirto demais lendo e paro para pensar em um monte de coisas legais que ela nos diz, de um jeito nada metido, super gostoso e informal. Claro que tinha de compartilhar com vocês 🙂 Esse de hoje tem bem cara de blog feminino, mas não significa que os meninos não devam ler. Recomendo que vocês leiam, viu moços, porque são tão movidos a hormônios quanto nós…

Hormônios, chatices e chateações

*Por Marli Gonçalves

Tem uns assuntos que são bem chatinhos, e a gente evita a todo custo até lembrar-se deles, quanto mais comentar ou tocar neles. Entre alguns, o de pensar e avaliar nossas próprias limitações, o que acontece no nosso organismo, ou admitir dores, fraquezas, cansaços e idiossincrasias, inclusive sexuais. Cobrar amigos também é um porre, igual aguentá-los quando eles estão de porre. A lista é enorme. E dependem de nossas descargas hormonais do dia. Descobri o culpado pelos males do mundo: os hormônios.

Prato do dia: hormônios efervescentes à Provençal. Oferta do dia: hormônios equilibrados, com baixas calorias e irritações. Na sobremesa, altas taxas de compreensão e, de quebra, um livrinho iogue qualquer, com exercícios para manter a cabeça no lugar quando o que se quer mesmo é arrancá-la do tronco, se não for a sua própria, especialmente aquela cabeçorra de quem está aborrecendo você.

Nos meus retiros espirituais, como diria Gilberto Gil, descubro certas coisas tão normais. Só que eu não tenho tempo para retiro algum, e ando vendo as coisas normais absolutamente anormais. Por exemplo, você faz uma compra pela internet justamente por causa da urgência que tem. Os caras não só não te entregam logo, como ainda cozinham seu galo em banho-maria. Só resolvem quando você ameaça, e mais, você precisa brigar e lutar via todos os canais competentes, com a boca no trombone e a mão na catapulta. Não seria mais fácil resolverem sem isso? Levei um mês para conseguir receber uma lavadora. Uma saga.

Hormônios? Isso é coisa da sua cabeça!

Nada mais se faz – me parece – de forma simples. Outro dia resolvi me libertar, em minha casa, do jugo da Telefonica. Gastava e pagava sem usar. Quando usava pagava mais do que gastei. Enfim, resolvi. Vocês já tentaram se livrar de uma operadora? Foram quase duas horas de puro desgaste, espere um momentinho, departamento x, para departamento y, perguntas, respostas, mesmas perguntas e, claro, as mesmas respostas. Parecia aula de jornalismo. Por que, quando, onde.

O melhor foi uma enorme e variada quantidade de coisas que me ofereceram tentando me demover da ideia, só faltou (uma pena) oferecerem um cruzeiro no Caribe. Se podiam me dar tudo isso, porque não deram antes? Juro: foi difícil demais da conta. As atendentes só faltaram me contar histórias de como elas seriam açoitadas caso me deixassem partir. Agiram como amantes abandonadas à própria sorte, grávidas, no meio do Congresso Nacional assistindo a discurso do Suplicy.

Eu, de minha parte, senti-me uma carrasca, com a no final, como está tanto na moda, a fria, a insensível por abandonar uma empresa tão “legal” depois de dezenas de anos de convivência. Deve ser mais fácil separar-se do marido do que desvencilhar-se das operadoras. Eu consegui, mas ando atormentada se algumas dessas atendentes não foram demitidas por minha causa. As pessoas do caso da máquina de lavar, ao contrário, não me comoveram. Por mim, desejei que todas elas e eles comprassem no mesmo lugar e tivessem o mesmo problema para ver como é bom para a tosse, e enfiassem aquelas respostas cretinas que me davam em um lugar bem legal.

A mim parece que o mundo todo está no limite, ou sendo levado até ele. O tempo. A política. A natureza. O bom senso. As relações humanas. Será que estamos recebendo descargas atômicas junto com todas essas chuvas? Será a nossa alimentação? Não há teses falando dos hormônios das carnes dos animais que comemos, e dos efeitos dos agrotóxicos, que nem barato dão? Será o ar que respiramos? Será culpa do governo? Do Obama?

Aí, saquei o que acontece. Os hormônios – verdade! – parece que têm, sim, boas partes de culpa no cartório. Eles estão na corrente sanguínea ou em outros fluídos corporais. Esses casos nervosos acabam envolvendo todos, os masculinos, os femininos, os vegetais (é, são fundamentais), os dos adolescentes. Sou a favor de penas mais leves, por exemplo, para mulheres que cometeram crimes durante o período de TPM.

Fui fazer uma pesquisa sobre isso, tentando entender o meu próprio organismo. Estou num tal de climatério, palavra bonita, mas que acaba irritando mais porque lembra calor e cemitério. Dizem por aí que o citado dá ondas de calor, suores noturnos, insônia, menor desejo sexual, irritabilidade, depressão, ressecamento vaginal, dor durante o ato sexual, diminuição da atenção e memória. Ufa! Não cheguei a tudo isso, mas pensei que se tem quem passa por metade, imagine pisar sem querer no calo dessa mulher.

É tudo culpa dos hormônios, sim! Só pode ser a falta ou excesso de estradiol, progesterona, testosterona, esterona, cortisol, melatonina, um bando a quatro, os culpados pelos males do mundo. Descobri até um que chama premarim, estrogênio artificial receitado com frequência, porque protegia pessoas com problemas cardíacos, mas também já contribuía para o aumento do câncer de mama e do endométrio (parte interna do útero). Os médicos tentaram melhorar a coisa, aliando-o ao provera (progesterona sintética), mas o risco de doenças cardíacas aumentou de novo. O pior vem agora: segundo consta, o premarim é feito com urina de éguas prenhas que são aprisionadas, tratadas estupidamente e sacrificadas para este fim. Socorro!. O que uma veggie, vegan, vegeta diria?

Não sei se estou certa ou não, mas fico mais tranquila em saber que não sou só eu que passa por tantos perrengues. Que esses hormônios atacam todo mundo, desde que nascemos até nossa morte. Nos adolescentes que quase piram, tantas transformações. Nas mulheres, por outro tanto. Nos homens, nos ossos, nos órgãos, nos acúmulos de gordura aqui e ali.

Por via das dúvidas já fui ao médico, fiz todos os exames e as coisas – por dentro – estão normais. O que me faz crer que, então, as chatices e chateações são da natureza.
São do dia-a-dia que temos que viver. Calma. Take it easy

São Paulo, o que ajuda na irritação, 2011

*Marli Gonçalves é jornalista e consultora de comunicação. Ela adora trocar uma ideia com novos amigos e é generosa para compartilhar seus textos, desde que a fonte original seja devidamente citada e a integridade do material respeitada. Grita quando pisam no seu calo. Ia esquecendo de contar que descobriu que existe um tal de hormônio estradiol, que os pesquisadores dizem que eleva a autoestima e faz com que as mulheres traiam porque acabam se sentindo menos satisfeitas com seus parceiros e menos comprometidas com eles, em um comportamento que chamaram de “monogamia oportunista em série”. Segundo os cientistas, isso se deve a um instinto de buscar parceiros com mais qualidades. Bonitinho esse desequilíbrio, não?

>>Para seguir a Marli no Twitter: www.twitter.com/MarliGo; para acessar esse e outros artigos dela na fonte original: www.brickmann.com.br ou no blog pessoal: marligo.wordpress.com. E ela também recebe emails em: [email protected] e [email protected].

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Outros textos de Marli Gonçalves aqui no blog:

>>Artigo: A vitória das ruas

>>Artigo: “Violência contra a mulher”

>>Artigo: Impaciências

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Para as meninas que adoram um saltão e um bolsão

O artigo selecionado para dar seguimento ao conteúdo da Semana da Mulher, neste sábado, foi elaborado pelo ortopedista Fabio Ravaglia e trata da vaidade feminina. O médico, dando mostras de entender bastante de fashionismo, pesquisou as tendências do Inverno 2011 e dá conselhos sobre uso correto de saltos altos e bolsões. O bacana é que ele analisa cada tipo de salto e mostra seus efeitos no corpo (coluna e pernas) e de que forma podemos ficar lindas, mas mantendo a saúde. Lendo o texto aprendi bastante e acredito que vocês também vão aproveitar as orientações do especialista. Confiram!

Sapatos e bolsas para conciliar moda e saúde

*Dr. Fabio Ravaglia

É um fato inegável que as mulheres adoram estar na moda e sei que quando o médico recomenda, por exemplo, “não use salto alto”, nem sempre é ouvido. Moda não é a minha especialidade, mas tenho o hábito reunir informações que possam facilitar minhas orientações às pacientes. Sites e revistas femininas, por exemplo, já indicam que o salto-tijolão e o bolsão serão destaque nas coleções de inverno 2011. O sapato da próxima estação, apresentado nos desfiles do último São Paulo Fashion Week, é aquele usado por Carmem Miranda – plataforma, meia pata ou anabela. E as bolsas têm que ser grandes para comportar tudo: maquiagem, agenda, celular… Já que moda é moda e não se discute, gostaria de fazer considerações sobre como seguir as tendências sem deixar que a saúde fique comprometida.

Salto agulha, sou frouxa, tenho coragem não! Essa imagem é do encontrodasjoaninhas.blogspot.com

Salto ideal – O salto-tijolão é o que dá mais conforto entre os saltos altos. Com plataforma conjugada o salto faz a mulher ganhar em altura e não prejudica tanto a saúde, por reduzir a inclinação entre o calcanhar e os dedos e distribuir mais uniformemente o peso do corpo por toda a sola do pé. Tem boa estabilidade ao pisar, porém, não deixa o pé com toda a flexibilidade para praticar o movimento de andar. É preciso ter cuidado para não virar o tornozelo. O meia pata, uma variação do plataforma, elevado na frente e com salto mais grosso independente, também tem boa estabilidade. O modelo anabela, inteiriço com plataforma e salto, é o que dá maior estabilidade e é um dos melhores para quem precisa ficar muitas horas em pé.

Salto anabela, adoro! Esse da foto é do blog sabrinasiqueiraa.blogspot.com

O salto agulha ou stiletto, considerado o mais elegante e sexy, e que pode chegar a dez centímetros de altura, dá a menor estabilidade. Muito fino, sua base de contato com o chão é mínima, sem contar que a ponteira muitas vezes provoca escorregões em piso liso ou entra em vãos e buracos de pisos irregulares, resultando em torções de tornozelos. Oferece risco à saúde de mulheres que ficam muito tempo em pé ou estão com sobrepeso, por forçar a coluna e os joelhos e obrigar o corpo a buscar um outro ponto de equilíbrio que não o natural. Associados ao bico fino, podem incentivar um joanete ou calosidades. O elegante salto Luís 15 ou carretel é mais confortável por causa da base mais larga. O salto quadrado é ainda mais confortável, por oferecer uma base de apoio maior para o calcanhar, diminuindo a pressão aos dois primeiros dedos dos pés e permitindo maior facilidade para os movimentos. Com ele, o ganho de altura pode ser grande, conferindo elegância à mulher. O salto cubano é uma opção, mais grosso no calcanhar e com a ponta fina. No geral, ele se apresenta como alternativa para o sapato social, delicado e com altura de cerca de três centímetros, o que não cansa tanto no dia a dia e dá a impressão de elegância. O salto vírgula também está presente em algumas coleções. Por ter uma curva, pode não apresentar uma boa estabilidade para o pé.

O meia pata eu já encaro. Essa equilibradinha na frente é fundamental para mim, que sou descordenada total! Esse maravilhoso da foto é do culturamix.com

Sei que há o consenso de que a pessoa usando salto alto parece mais magra e alta; emocionalmente, a mulher se sente mais atraente e “sexy”, melhorando a autoestima, mas não convém exagerar no tamanho do salto nem abusar do tempo de uso. Alterne o sapato e a altura do salto para não forçar apenas alguns músculos e não movimentar outros. Com salto alto, a mulher pisa na ponta dos pés, forçando os dois dedos maiores e a parte da frente da musculatura da canela. Lembre-se de fazer um alongamento, principalmente para movimentar a musculatura posterior. Outra dica interessante é levar um sapato mais confortável para andar na rua ou no shopping ou mesmo para dirigir, assim, o tempo de uso do salto alto fica reduzido apenas ao necessário.

Salto Plataforma também é bom para equilibrar o andar. Esse da foto é do blog sosmodaeestilo.zip.net

Sapato adequado – Pessoas que trabalham muito tempo em pé ou que caminham muito para chegar ao trabalho sabem que uma escolha errada de um sapato pode provocar dores nas costas, problemas nos joelhos e até chulé. Nem sempre o sapato mais caro ou o mais bonito é o adequado. O modelo ideal precisa ser confortável, o que significa permitir que os movimentos de pés e pernas sejam executados livremente, Também não deve ocasionar problemas ou dores. O andar deve ser realizado com naturalidade e sem impacto sobre as articulações. Precisa deixar que a pele respire. Recomendo que se faça um test drive na loja, isto é, antes de comprar um sapato, ande e fique um pouco com ele antes, dentro da loja. Verifique a estabilidade. Os reforços do calçado ajudam a firmar o pé, o que pode evitar entorses. O número precisa ser o seu, pois o sapato não deve ficar largo nem folgado. O certo é deixar um centímetro sobrando na ponta para os dedos se mexerem. Considere também o formato de seu pé, porque não adianta querer colocar um sapato bico fino em um pé largo ou bem alto. Neste caso, a opção seria o falso bico fino, largo o suficiente para caber o pé e só com uma ponta fina, que fica vazia. Os calçados de bico redondo ou quadrado são mais confortáveis. Conhecer a maneira como se pisa também é bom. Sabendo a maneira da pisada, você pode procurar por sapatos que deem apoio ao arco do pé ou que tenham reforço na lateral interna ou externa ou no calcanhar. Observe se o revestimento da sola e do salto é antiderrapante. Não custa lembrar também que, para atividades físicas, o tênis é sempre o ideal. É o calçado que menos faz sofrer com bolhas ou calos.

Os bolsões não precisam ser descartados, mas têm de conter menos quinquilharias se quisermos manter a saúde da coluna. Essa linda aí da foto é do brechonadella.blogspot.com

Bolsões – A bolsa grande não representa nenhum problema para a saúde. O problema é o peso que se carrega nela. A bolsa muito pesada pode provocar dores nos ombros, inflamação nas costas e – o pior – problemas na coluna. Um adulto pode carregar, no máximo, o equivalente a 10% do peso de seu corpo. As mulheres não largam suas bolsas e ficam horas seguidas carregando. Não estou falando de apenas cinco minutos entre o ponto do ônibus e o escritório, mas de um período de uma ou duas horas, quando as mulheres fazem compras em supermercados ou shoppings, por exemplo. E por mais que seja bonita, a “maxibolsa” sobrecarrega a coluna, sim! Entre os vários riscos destaco os problemas de postura e um possível processo inflamatório. O excesso de peso é responsável por doenças na coluna como escoliose (desvio da coluna vertebral, que pode ser cervical, toráxica ou lombar), lordose (aumento da curvatura lombar) e a sifose, conhecida popularmente como corcunda – quando a pessoa joga os ombros para frente. A degeneração da coluna é resultado de vários fatores como genética, hábitos de vida, atividade física, obesidade e sobrecarga, entre outros. A sobrecarrega na coluna lombar pode acelerar o processo degenerativo. Sabemos que alguns problemas podem ser evitados ao mudarmos nossos hábitos.

Mochila é indicada porque equilibra nos ombros, distribuindo o peso nas costas. Essa da foto é da Overend

A mochila é mais indicada para carregar peso, já que as alças ficam equilibradas nos dois ombros – evitando incliná-los para um dos lados – e o peso permanece nas costas, a parte do corpo mais forte e mais apropriada para carregar peso. É importante lembrar que os problemas na coluna são a quinta causa responsável pelo afastamento de pessoas do trabalho, segundo o Ministério da Saúde. Para evitar esse transtorno é preciso manter a postura corporal correta e evitar o esforço desnecessário. Mas, o que fazer? As mulheres devem abrir mão da praticidade e beleza oferecidas pela “maxibolsa”? De forma alguma… até porque conheço as mulheres e sei que jamais vão abrir mão de um item que esteja na moda! Vencido por essa constatação, acredito que seja melhor oferecer algumas alternativas em prol da saúde ao invés de apenas alertar para os problemas.

Ilustrações que simulam Escoliose, Cifose e lordose. A imagem é do colunacomsaude.blogspot.com

Anote dez dicas básicas:

1. Deixe a bolsa mais leve! Tire da bolsa os livros, cadernos e papéis; opte por transportá-los em pastas.
2. Tire a nécessaire e carregue a maquiagem, absorventes e escovas em uma valise – que pode ficar, inclusive, no carro ou no escritório.
3. Deixe na bolsa somente o que é realmente necessário.
4. Leve uma sacola à parte com o lanche.
5. Faça uma “faxina” regularmente na bolsa para retirar o que não precisa mais.
6. Leve somente o que vai usar naquele dia!
7. Mude frequentemente a bolsa de ombro. Também pode segurá-la pela mão durante algum tempo.
8. Para deixar a coluna em ordem e fortalecida para carregar as maxibolsas, recomendo a prática de exercícios físicos, no mínimo três vezes por semana. Nunca esqueça de se alongar antes e depois da atividade. O aquecimento no início prepara o corpo para as tarefas e, no final, relaxa.
9. Atenção para quem está acima do peso. A obesidade – ou sobrepeso – são em si prejudiciais à coluna.
10. Não carregue peso desnecessário, além da bolsa.

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*Fabio Ravaglia é médico ortopedista graduado pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), com especialização em coluna vertebral pelo Instituto Arnaldo Vieira de Carvalho (Santa Casa de Misericórdia de São Paulo) e mestre em cirurgia pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Atuou como cirurgião ortopédico em hospitais ligados à Universidade de Bristol, na Inglaterra e na Alemanha e é membro emérito da Academia de Medicina de São Paulo e membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT. Desde 2005, preside o Instituto Ortopedia & Saúde, Ong que tem a missão de difundir informações sobre saúde e prevenção a doenças e que organiza o Projeto Cidadania – Caminhadas com Segurança.

>>Aqui no blog, vocês acessam outros artigos do especialista neste link.

**O artigo de Fabio Ravaglia foi enviado ao blog pela Printec Comunicação e publicado mediante a citação da autoria e respeito ao conteúdo. Como todo trabalho intelectual, está protegido por direitos autorais e pedimos que, caso tenha interesse no tema e queira usar dados desse artigo, entre em contato com o autor ou sua assessoria para pedir autorização.

P.S.: Como o Dia Internacional da Mulher este ano aconteceu em pleno Carnaval, quando tinhamos outros conteúdos para compartilhar com vocês, os textos, artigos e pesquisas recebidos referentes à data serão publicados ao longo dos próximos dias.

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Leia também no Especial Semana da Mulher 2011:

>>Mulheres ditam novos padrões de consumo on line

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Mulheres ditam novos padrões de consumo on line

Consumo é tema importante dentro do vasto universo feminino. Mas, ao contrário do senso comum, somos bem menos impulsivas na hora de gastar dinheiro do que dizem por aí. No artigo que separei para publicar aqui no blog nesta quarta, dentro da Semana da Mulher, vocês veem dados interessantíssimos sobre a relação das meninas com as compras. Estamos dominando o segmento on line e o novo boom do e-commerce nacional: os sites de compras coletivas. Já existe até uma terminologia nova, “mães digitais” (me identifiquei, embora ainda esteja longe dos 45). Confiram o texto de Stella Susskind sobre o tema:

Mulheres “dominam” os sites de compras coletivas e ditam novos padrões de consumo online no Brasil e na Europa

*Stella Kochen Susskind

Um contingente significativo de mulheres brasileiras e europeias está promovendo uma verdadeira revolução no consumo online. No Brasil, levantamentos atestam que 60% das pessoas cadastradas nos portais de compras coletivas – portanto, internautas com real potencial de compra e com tíquete médio entre R$ 30 e R$ 40 – são do sexo feminino. Em 2010, as compras coletivas movimentaram R$ 10,7 bilhões e a expectativa é ultrapassar a marca dos R$ 14 bilhões neste ano. Por ser membro da Mystery Shopping Providers Association Europe, tive acesso ao estudo francês Les Digital Mums – conduzido pela WebMediaGroup – que identificou o surgimento do fenômeno “mães digitais”. É claro que os números relacionados à movimentação financeira do negócio impressionam, mas o que me chama a atenção são as novas tendências comportamentais.

De acordo com a pesquisa francesa, as mulheres com menos de 45 anos e que têm filhos estão ditando novos padrões de consumo na internet. Entre as 552 entrevistadas, 57% das mulheres afirmaram que fazem pelo menos uma compra por mês pela internet; 44% gastam mais de 20% do orçamento familiar em compras online. Ativa nas redes e fóruns sociais, essa consumidora tem como motivação a economia de tempo (59%) e o fato de poder comprar quando quiser (58%) – afinal, as lojas virtuais estão abertas 24 horas. As “mães digitais” – entre as quais me incluo, embora não seja francesa – usam a internet, também, para pesquisar e trocar ideias sobre educação infantil. Além disso, essas mulheres estão usando a rede como instrumento de e-commerce, ou seja, 83% das entrevistadas afirmaram que visitam, no tempo livre, sites especializados em compra, venda e troca de produtos usados.

Tanto no Brasil quanto na Europa – e a pesquisa Les Digital Mums mostra esse comportamento – as mulheres não compram por impulso. Não estou afirmando que são compras 100% racionais, mas que são fruto de pesquisas nas quais as consumidoras comparam o custo–benefício do produto. Embora o emocional seja extremamente importante para o consumo feminino, a nova consumidora é criteriosa e cautelosa, especialmente nas compras online. Ao analisarmos o comportamento feminino nas compras coletivas, por exemplo, vemos que a opinião de outras consumidoras que já utilizaram o serviço, sobretudo de amigos e parentes, é determinante. Contudo, a compra online ainda está restrita à praticidade. Explicando melhor, os objetos de desejo das mulheres – sapatos, bolsas, perfumes, maquiagem e roupas – continuam a demandar a compra presencial; o namoro às vitrines.

Seja no ambiente virtual ou real, o atendimento permanece como fator crucial para a fidelização de clientes. De acordo com os relatórios da Shopper Experience, elaborados a partir de relatos dos clientes secretos – a empresa conta com um módulo de pesquisa pioneiro, dedicado à avaliação de e-commerce, compras coletivas, Twitter e Facebook de empresas do varejo e do setor financeiro – , o atendimento online requer melhorias urgentes. De um lado temos um novo consumidor que realiza compras (online e em lojas); de outro, marcas que levaram para as lojas virtuais os mesmos desmandos e atendimentos impróprios que têm nos estabelecimentos físicos. Essa miopia tem causado sérios transtornos aos Procons do país que estão repletos de processos e reclamações de consumidores. Em um futuro próximo e com a crescente conscientização do consumidor brasileiro, essas empresas não terão mais espaço no mundo real e virtual. As mulheres, tudo indica, serão agentes dessa transformação do consumo. Afinal, já são elas que estão ditando os novos rumos das compras online.

*Stella Kochen Susskind preside a Shopper Experience – empresa de pesquisa – e a divisão latino-americana da Mystery Shopping Providers Association. A executiva atua, ainda, como diretora da Mystery Shopping Providers Association Europe.

Já publicamos da autora no blog:

>>Mulheres e Compras: O segredo dos quatro “Ps” do consumo feminino

**O artigo de Stella Kochen Susskind foi enviado ao blog pela Printec Comunicação e publicado mediante a citação da autoria e respeito ao conteúdo. Como todo trabalho intelectual, este está protegido por direitos autorais e pedimos que, caso tenha interesse no tema e queira usar dados desse artigo, entre em contato com a autora ou sua assessoria para pedir autorização.

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Ainda o estereótipo da mulher como presa fácil

*Texto e reflexões de Andreia Santana

Esse texto vai pular a fila e passar à frente da Carol de Camila Pitanga (preciso comentar essa personagem, gente, é ponto de honra!), porque a urgência do fato se sobrepõe e, como se diz no jargão jornalístico, o tema está na ordem do dia.

Recebi a dica de uma amiga, via G-Talk: “pra você que gosta de refletir sobre as representações da mulher”. Ela deu RT no Twitter, igualmente chocada com o conteúdo. Detalhe: o RT foi do Twitter de um amigo, para vocês verem que os homens de bom-senso também se sensibilizam com essas coisas. Trata-se de um post num dos blogs da NOVA On Line (Taça em Y). A revista, considero abertamente machista tanto na versão impressa quanto na virtual, mas, infelizmente, engana meia dúzia de incautas. Se você pensa que as dicas de “como enlouquecer seu gato na cama” ou “como conseguir ter mais orgasmos que suas amigas” te tornam super poderosa, lamento informar, companheira, a NOVA vende as velhas “amelinhas” de outrora, submissas, objetos de decoração e dispostas a tudo para “agradar” o macho alfa, competitivas e nada solidárias com outras mulheres, de uma forma que considero negativa e que não ajuda em nada a imagem coletiva que se faz do feminino. A diferença é que as novas “amelinhas” estão embaladas para presente em fashionismo fake. Mulheres de atitude, de verdade, passam longe da intenção editorial da revista, do contrário, não se justificaria um post desses, em pleno Carnaval.

O título sugestivo: “Como descolar um gringo no Carnaval”, já mostra por quais caminhos vai a minha análise. Felizmente, ao acessar a página novamente, vi que tiraram o conteúdo do ar, provavelmente porque repercutiu mal nas redes sociais (280 RTs no Topsy -Twitter Trackbacks) e a ira de outros blogueiros em portais grandes como o Uol, mas o título continua registrado, para provar que não foi delírio coletivo (acesse aqui). Além disso, na internet, já ficou provado, a palavra dita e publicada é igual a tatuagem, pode até apagar, mas a cicatriz fica (aqui a versão salva pelo São Google).

Fico exultante de felicidade quando vejo a twittosfera e a blogosfera descendo o sarrafo nesse tipo de conteúdo que em nada ajuda a diminuir os índices de desrespeito e violência contra a mulher e que fazem questão de nos rotular sempre pejorativamente e de preferência como presas fáceis da lascívia masculina. Inclusive, o tema da representação feminina, como lembrou minha amiga, é corriqueiro por aqui, porque me irrita profundamente ver que esse tipo de visão distorcida é vendida como “ideal feminino”.

Como assim dar conselhos para que as brasileiras solteiras na folia arranjem um gringo “com cara de perdido” para “chamar de seu” durante o Carnaval? Estamos no século XXI, mas essa tendência de achar que as mulheres abaixo da linha do Equador são todas lanchinho fácil remonta há pelo menos 200 anos. Quem me conhece sabe que sou fascinada por crônicas de viagem e que os cronistas do século XIX, entre eles membros da realeza como o arquiduque Maximiliano da Áustria, já incentivavam o turismo sexual ao descrever, embasbacado e com artes literárias, o efeito devastador nos seus nervos, que exerciam os ombros à mostra das “belas mulatas baianas”. O príncipe esteve em Salvador lá pelos idos de 1800 e escreveu um livro inteiro sobre suas impressões da visita, dedicando um capítulo à beleza e ao “sangue quente” das mulheres daqui.

O mínimo que o post da NOVA faz é aconselhar as moças dispostas a fisgar o gringo “a pegar um bronze e ficar da cor do pecado”. Movimento Negro Unificado, por favor, manifeste-se!

Que no século XIX se tivesse essa visão limitada de mundo e de respeito ao feminino – principalmente às mulheres negras – , eu entendo, embora não aceite, porque existe toda uma construção histórica milenar por trás dos aparentes elogios à sensualidade tropical. Entendo também  que o texto tenha sido escrito, naquela época, por um homem, da realeza, ou seja, não era qualquer homem, sabemos o que um europeu, branco e da nobreza, era capaz de fazer naqueles tempos. Agora, que nos dias de hoje, uma mulher se dê ao trabalho de montar um manual que ensina outras mulheres a “caçar” e vender-se como banana na feira para um estrangeiro no Carnaval me envergonha demais.

Esse é o arquiduque Maximilian, que pelo visto fez escola

Além disso, o texto é racista – tanto no que diz respeito a empurrar as “morenas” brasileiras para cima de “gringos” que, não todos, mas uma parte, chegam por aqui atrás  dessa promessa de Sangri-la do sexo; quanto racista e xenofóbico em relação à figura dos estrangeiros que visitam o país no verão e ao qual os órgãos de turismo nos dizem com todas as letras, o tempo todo, massivamente, para tratar bem. Tratar bem significa, inclusive, dormir com eles, coitados, tão carentes e sozinhos desse lado do oceano!

É xenofóbico pois reúne os visitantes num pacote único: “gringo otário que pode ser seduzido e explorado” nos dias de reinado de Momo. Cadê o respeito, não ao fato de serem visitantes que deixarão dólares (ou euros) na nossa economia, mas por serem estrangeiros que recebemos em casa e a quem, infelizmente, mostramos nosso pior lado, quando poderiamos aproveitar a oportunidade para desfazer equivocos que perduram há 200 anos! Mas que nada, Maximiliano da Áustria deixou sucessores (e sucessoras)…

Escrever, todo mundo pode escrever o que bem quer, até porque a liberdade de expressão existe para isso. Mas é temerário publicar qualquer coisa, mesmo que sob a desculpa do “estávamos apenas zoando ou tentando ser engraçadinhos no clima momesco”. Mais temerário ainda se torna quando o texto é publicado em site ou veículo impresso de grande repercussão, que forma opinião e que acaba moldando padrões de comportamento, como todo conteúdo de cultura faz. Da novela ao blog, sempre vai ter quem “leia” a mensagem e assuma aquilo como verdade absoluta, disseminando ideias que boa parte das vezes escondem (pre)conceitos absurdos. A ideia aqui não é exercer patrulha ideológica e nem bancar a moralista, porque abomino as duas coisas, mas apenas alertar para que se pense com calma antes de escrever e publicar coisas desse tipo.

Em nada ajuda a diminuir o desrespeito, violência, humilhações e estereótipos dos quais nós mulheres somos vítimas em potencial ou rotuladas diariamente. Ainda existe uma onda machista que se renova e disfarça em várias formas, perigosa e à espreita, pronta para nos engolir e levar de enxurrada tudo o que conquistamos até agora, após décadas de tentativa de conseguir sermos tratadas como seres humanos que merecem tanto respeito quanto qualquer outro, independente do sexo biológico, da orientação sexual, da cor da pele ou da conta bancária. Vamos acordar por favor e usar o poder da mídia – quanto o temos em nossas mãos – para disseminar uma cultura positiva de feminilidade e não para nos expor na prateleira como a mercadoria mais pitoresca do Carnaval brasileiro.

Era por isso que a Simone de Beauvoir dizia que ninguém nasce mulher, torna-se uma. Só que essa construção do feminino não pode ser de uma mulherzinha vendida em revistas e cartazes de cervejaria com a falsa promessa de liberdade sexual e ser dona do próprio nariz se quem dita as regras do jogo são os machinhos que ainda nos dividem em “para casar” e “para passar o tempo”, como o integrante do reality show da moda tanto alardeia.

Engana-se tremendamente quem pensa que bancando a femme fatale para “gringo” ver é que se conquista espaço e se afirma uma identidade de mulherão.  Mulher retada, na real, não é a que assume atitude masculina na caçada. O exercício pleno e livre da nossa sexualidade tão demonizada ao longo dos séculos não passa por esse caminho de degradação. Um recado para quem ainda compactua com esse tipo de ilusão: “acordem e pensem na frase da Simone – que tipo de mulher vocês querem se tornar?”

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Artigo: Sexo frágil e a prevenção da AIDS no carnaval

Para reforçar a campanha sobre sexo seguro no Carnaval, que este ano tem como foco o público feminino jovem, o blog abre espaço para mais um artigo de autoria de Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan. Além de falar da campanha e trazer dados sobre o avanço do HIV/Aids entre as mulheres, Maria Helena dá dicas importantes sobre a sexualidade e autoestima femininas. Mas, embora o foco sejam as garotas na faixa dos 15 aos 24 anos, os conselhos sobre autopreservação valem para as mulheres maduras e também para todos os casais, independente da orientação sexual. Cuidar de si e de quem se ama não é questão restrita a um determinado gênero. Boa leitura!

Sexo frágil e a prevenção da AIDS no Carnaval

*Maria Helena Vilela

A campanha de Carnaval de 2011 terá como público as mulheres de 15 a 24 anos.  O público feminino foi escolhido porque a infecção entre as mulheres está em constante crescimento. Apesar de haver mais casos da doença nos homens, essa diferença diminui ao longo dos anos. Segundo o Ministério da Saúde – Departamento de DST/Aids, em 1989, a razão de sexos era de cerca de 6 casos de aids no sexo masculino para cada 1 caso no sexo feminino. Em 2009, chegou a 1,6 caso em homens para cada 1 em mulheres.

As mulheres lutaram por seus direitos sexuais, pelo direito de estudar, desenvolver uma carreira profissional e conquistar sua autonomia econômica e pessoal. Mas, quando a questão é amor e sexo, a garota volta no tempo, e ainda se comporta de forma submissa aos desejos do namorado e, presa a mitos e tabus que colocam sua vida em risco, como por exemplo, a virgindade. A virgindade ainda é muito valorizada na mulher. Sabendo disso, muitas garotas acabam cometendo equívocos incríveis para não romper o hímen – fazer sexo anal; prática sexual que quando realizada sem preservativo é a de maior risco de infecção pelo HIV. Na contra mão dos fatos, pesquisas mostram a dificuldade de a garota negociar o uso da camisinha por medo de perder o namorado, de ser julgada “galinha”, ou ainda pior: não usar preservativo em nome do amor, acreditando que “quem ama confia”. Tais comportamentos fazem da mulher o verdadeiro sexo frágil.

A infecção pelo HIV se dá pelo contato direto com o sangue, o sêmen e as secreções vaginais, e isto pode acontecer no sexo oral, mas principalmente, na relação vaginal e no sexo anal. O ânus e a vagina são órgãos muito vascularizados, revestidos por um tecido delgado chamado de mucosa. Na relação sexual, especialmente durante a penetração, o pênis provoca atrito na vagina ou no ânus, causando micro-fissuras nas paredes das mucosas, aumentando o risco de que o HIV presente no esperma entre na corrente sangüínea.

Outro fator que aumenta a vulnerabilidade da mulher à Aids é a menstruação. Quando a mulher está menstruada, a descamação da parede do útero o deixa completamente exposto ao HIV. Fazer sexo menstruada é “entregar o ouro para o bandido”, pois o vírus atinge a corrente sangüínea sem precisar fazer esforço.

Como se não bastasse tudo isso, o canal vaginal é um órgão interno, o que dificulta à mulher perceber qualquer alteração na vagina. Muitas vezes, ela só descobre que tem uma infecção, ou mesmo uma DST, se consultar um ginecologista, ou quando a doença já está bastante adiantada. Uma infecção agrava ainda mais a fragilidade da parede vaginal, aumentado a vulnerabilidade da mulher à Aids.

Meninas sejam espertas e fiquem fora desta estatística da Aids. Se existe sexo frágil, estes são o sexo anal e o vaginal, quando o assunto é Aids. Portanto, alguns cuidados são fundamentais na sua vida, e especialmente, no carnaval:

>> Nunca delegue o cuidado com o seu corpo. O corpo só tem um dono, e este é você. Quando você delega, o outro pode não priorizar os seus interesses.

>>Só se previne quem tem convicção dessa necessidade. Busque informações sobre razões para se prevenir, sexualidade, prevenção, DST/Aids e métodos contraceptivos.

>>Não faça qualquer negócio sexual no Carnaval. A auto-estima da mulher está condicionada a sua capacidade de despertar o interesse nos homens, principalmente, em festas como o Carnaval. Se achar que está invisível, mesmo assim, não faça nenhum acordo que possa lhe colocar em risco.

>>Antes de cair na folia escreva uma lista com os nomes das pessoas que você considera importantes e que lhe amam. Isto ajudará você a não esquecer que é amada

>>Sei que é difícil, mas se for transar não beba. A bebida atrapalha o prazer e faz você esquecer seus limites.

>>Nunca negocie o uso da camisinha na hora da transa. O tesão embriaga e lhe deixa entregue a sorte, ou azar!

>>Conheçam a camisinha feminina. Ela é uma opção, e já existem modelos mais simples que facilita a sua colocação.

>>Na falta da camisinha, você não precisa abrir mão do prazer sexual. O casal pode realizar práticas sexuais que não sejam de risco, como a masturbação simultânea entre os parceiros

>>Existem camisinhas de vários tipos e qualidades. Portanto, sempre haverá uma que se adeque ao seu parceiro.

>>Sexo é uma brincadeira de verdade. Quando a gente se machuca, a cicatriz fica para sempre.

*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplanwww.kaplan.org.br

**Conteúdo enviado pela Vera Moreira Comunicação e publicado com autorização, mediante citação da autoria e respeito à integridade do texto.

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Artigo: Você está comprometido com você?

Como prometido, publico hoje o segundo texto resgatado do meu email e que reflete as questões sobre as quais ando “filosofando”: tempo, trabalho, cotidiano corrido, falta de amor nas relações e também, no caso deste artigo abaixo, do Christian Barbosa, o compromisso com os próprios projetos, o que não deixa de ser uma falta de amor consigo mesmo. Muitas vezes, pensamos dezenas de coisas bacanas para fazer ao mesmo tempo, começamos uma meia duzia dessas dezenas e no final das contas, respiramos aliviados se conseguimos concluir uma ou duas delas. Isso quando a rotina não nos engole sem sequer mastigar. Pode ser desorganização e falta de compromisso – como diz o Christian – com os próprios objetivos (praticamos autosabotagem por diversas razões, inclusive medo); ou ainda investimento no projeto errado. Sim, pode acontecer de apostarmos as fichas no objetivo errado e demorarmos para nos dar conta. Ando naquela fase de revisão de conceitos, ideias, projetos, parcerias, relações e caminhos – ou seja, passando a vida a limpo -, então esses dois textos, o de ontem  e o que segue abaixo, representam mais uma etapa nessa minha jornada de autoconhecimento. Espero que sirva para vocês também!

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Leia o primeiro post sobre o tema:

Artigo: Agenda cheia, coração vazio

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VOCÊ ESTÁ COMPROMETIDO COM VOCÊ?

*Christian Barbosa

O ano está começando e, pelo andar da carruagem, será intenso. Raríssimas vezes tive a agenda tão abarrotada nos primeiros meses do ano como em 2011. Tenho recebido e-mails de muitas pessoas falando que 2011 será o ano de colocar os projetos para andar, as metas para acontecer e que será o ano da mudança. A pergunta que faço é: será mesmo que esse vai ser o Seu Ano?

Eu tenho pesquisado muitas coisas interessantes nesses últimos meses, até porque estou escrevendo um novo livro e isso me coloca em estado “nerd” (leio e pesquiso muito). Uma das pesquisas em que estou trabalhando é sobre execução de metas e projetos, e uma palavra constante nesse meio é “commitment” ou “comprometimento”, em português.

A consultoria Gallup publicou diversos trabalhos exclusivamente sobre essa questão de comprometimento e, sem dúvida, é líder nesse assunto. Em uma recente pesquisa apontou que apenas 21% dos profissionais estão engajados em suas empresas, ou seja, a maior parcela dos colaboradores, entre cargos operacionais e gerenciais (79%), simplesmente não está nesta mesma sintonia.

É muita gente sobrevivendo a um trabalho sem paixão, sem sentimento de conexão e colaboração com a empresa. Talvez isso explique o péssimo atendimento que temos em diversos segmentos públicos e privados no País. O interessante é que o mesmo sentimento se replica na vida pessoal – ou talvez o sentimento da vida pessoal se replique na empresa.

Questionei algumas pessoas que tiveram uma nula ou baixa realização dos seus planos no ano anterior. E depois de um mar de desculpas vagas, o que realmente parece é que eles não estavam comprometidos com nada que planejaram. Triste realidade, mas muita gente está vivendo exatamente desse mesmo jeito agora. São apenas zumbis, que ligaram o piloto automático e estão sobrevivendo ao dia a dia. Talvez, até mesmo você, não esteja profundamente comprometido com a sua meta de emagrecer, viajar, falar inglês, prosperar, de fazer a empresa crescer etc.

São insanas as pessoas que buscam resultados diferentes no ano novo, fazendo tudo do mesmo jeito que fizeram no ano passado. São insanas as pessoas que acham que as coisas vão cair do céu, que vão acontecer por osmose, que alguém vai fazê-las subir rapidamente na empresa. São insanas as pessoas que criticam a sorte pelo resultado. São insanas as pessoas que culpam o tempo por ser tão rápido.

Semana passada, fechamos o planejamento estratégico da Triad e, nas minhas férias, fechei o meu planejamento pessoal do ano. Foi muito legal descobrir que Eu fui um insano! Um dos meus projetos está andando muito devagar há dois anos. Devagar porque eu, sem perceber, repeti um plano medíocre nesses dois anos, fiz poucas atividades diferentes! Comparado a tudo que andou de forma excepcional no ano, esse especificamente ficou bem tímido. Fantástico acordar para isso! Na verdade, não me comprometi profundamente com esse objetivo, apesar de querer muito que ele aconteça. Não coloquei foco, energia, não ousei, revisei o plano poucas vezes, arrisquei pouco, fechei os olhos em alguns momentos.

Isso acontece a todo o momento, com quase todo mundo! Quando a falta de comprometimento está controlada em uma ou outra coisa o impacto é pequeno, mas tem gente que não se compromete com a própria vida. Deixa tudo para depois, não se compromete com o amanhã porque não se comprometeu nem com o hoje. Não consegue descobrir o seu importante, pois nunca se comprometeu em parar e refletir profunda e honestamente sobre isso.

Quer saber se 2011 será o SEU ano? É simples, basta saber o quanto você está realmente comprometido em fazer com que as coisas aconteçam! Comprometa-se com você mesmo antes de reclamar que as coisas simplesmente não acontecem e faça de 2011 um ano diferente. Quem sabe esse não é o ingrediente que falta para você sair do lugar e fazer com que as metas de ano novo se concretizem?

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*Christian Barbosa é especialista em administração de tempo e produtividade, fundador da Triad PS, empresa multinacional especializada em programas e consultoria na área de produtividade, colaboração e administração do tempo e ministra treinamentos e palestras para as maiores empresas do país e da Fortune 100. Também é autor dos livros A Tríade do Tempo e Você, Dona do Seu Tempo, Estou em Reunião e co-autor do Mais Tempo, Mais Dinheiro. Mais nos sites: www.triadps.com.br e www.maistempo.com.br.

**Texto enviado ao blog pela Image Press e publicado com autorização, mediante citação da autoria e respeito a integridade do material.

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Artigo: Agenda cheia, coração vazio

Reflito bastante sobre o tempo, o trabalho, a correria cotidiana e a falta de amor nas relações atuais. Me irrito bastante também, “Nossa Senhora me dê paciência”, diria o velho Manoel Bandeira. É a idade, minha gente, quanto mais ela avança, mais me torna pensativa. Dando uma geral no meu email por esses dias, vi dois artigos que também refletem essas minhas “inquietações”, para usar uma palavra bem contemporânea, e resolvi trazer o conteúdo para a nossa Conversa. Antes de vocês encherem os olhos com as Curtinhas do Mundo Fashion do dia (sim, a coluna vai ser diária!!), publicarei os dois artigos que estavam na minha caixa de entrada. O primeiro, agora, e o outro, neste domingo. Este que abre a micro série é da Erika de Souza Bueno, consultora do portal Planeta Educação. Vale muito a pena ler e pensar no que ela nos diz. Encham a alma!

Agenda cheia, coração vazio

*Erika de Souza Bueno

Agenda cheia, coração vazio. É assim que muitas pessoas se sentem nestes dias tão tumultuados, com uma pauta imensa de obrigações como reuniões, congressos, e-mails a ser encaminhados/respondidos, contas e mais contas a pagar.

Mas será mesmo que os assuntos que tomam todo o nosso dia e levam o nosso vigor, deixando-nos exaustos, são mesmos indispensáveis ao nosso bem-estar? Para responder a isso é necessário responder primeiro o que realmente nos proporciona o conforto, a satisfação e a paz.

Prioridades. Esta é a palavra-chave para aqueles que não têm mais tempo para aproveitar o dia ou, ainda, aproveitar enquanto é dia e a luz ainda está a brilhar, mesmo que muitos não tenham tempo para nem sequer perceber isso.

Os dias e os anos passam em velocidade muito maior que a de anos atrás, alguns podem pensar. Porém, acredito que não é o tempo que está correndo e, sim, nós mesmos. Somos nós que quando resolvemos tirar o pé do acelerador, já não temos mais nenhuma energia para direcioná-la em momentos que nos conduzirão, realmente, à plenitude do sucesso.

Ao me referir ao pleno sucesso, estou dizendo que o sucesso só será completo se lançarmos sobre a vida um olhar mais amplo, que contemple tanto o lado do sucesso profissional quanto o sucesso pessoal e familiar.

Pessoas que vivem numa busca enlouquecida pelo sucesso na carreira, mas não dispensam o devido cuidado com a saúde física e emocional, incluindo a construção de laços afetivos, por exemplo, estão buscando o sucesso apenas numa área da vida, esquecendo-se de outras que são fundamentais para sermos realmente felizes.

É como um carro indo na contramão. Os motoristas de outros veículos buzinam num sinal de alerta, dizendo que ali não é a direção certa, mas disso até uma mudança de atitude/direção muita coisa pode acontecer e, não se tomando as devidas providências, o resultado desta viagem insana pode ser fatal.

Conheço algumas pessoas que chegaram à velhice com uma confortável aposentadoria, resultado de árdua dedicação ao trabalho, mas ao olharem do lado não veem ninguém. Estão sozinhas, não tiveram tempo em suas agendas para construir bases sólidas para as suas vidas.

Nossa vida é curta demais para vivermos todas as experiências de todas as pessoas. Por isso, é importante olharmos do lado e atentarmos para a experiência daqueles que já viveram situações que, possivelmente, nós não teremos chances de viver.

Ouvi alguém dizendo que só nos damos conta de que aquilo que fazíamos era errado quando não temos mais chances de mudar mais nada. Resta-nos a sabedoria de aprendermos com o outro, enquanto ainda há tempo para mudar nosso modo de ver o mundo e repensar nossa lista de prioridades.

Nosso trabalho precisa de dedicação, mas de forma alguma esta dedicação precisa ou deve ser integral. Dedique-se ao planejamento sábio, visando todas as áreas de sua vida. Se for preciso, acorde ou durma mais cedo. Passeie com seu filho, brinque com ele, vocês dois se recordarão destes momentos algum dia.

Saia de férias, descanse até mais tarde para repor suas energias. Se achar que não tem tempo, comece a pensar que todos nós temos as mesmas 24 horas no dia. Ninguém, afortunado ou não, tem 25. Se algumas (poucas) pessoas conseguem dedicar-se à família, ao trabalho e a si próprias, nós também conseguiremos. O que nos diferencia é, basicamente, a forma como organizamos nossos dias e nossas vidas. Pense em maneiras de aproveitar o dia, sem deixar a luz da esperança e do amor se apagar.

*Erika de Souza Bueno é Editora e Consultora-Pedagógica de Língua Portuguesa do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br), Professora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa e família.

**Texto encaminhado ao blog pela Ex-Libris Comunicação Integrada e publicado com autorização desde que citados os créditos e respeitada a integridade do material.

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