Artigo: Reflexões sobre a ausência de privacidade

*Texto e reflexões de Andreia Santana

O espelho reflete, na maioria das vezes, o que queremos ver. Enquanto uma fotografia revela nossos ângulos bons e ruins (ao menos antes do advento do photoshop)

Faz tempo que reflito sobre privacidade e o ato de manter a própria vida longe da curiosidade alheia. Com tantas formas de interação disponíveis na internet, tais como o Orkut, facebook, MSN, twitter, comunidades disso e daquilo, sinto que a geração mais nova perdeu a referência do que seja vida privada, num sentido mais profundo da palavra. Não existe mais limite para o que pode ser compartilhado e o que não é de interesse de ninguém mais, a não ser da própria pessoa e de seu círculo mais próximo. Intimidade é artigo raro nesta rede de um milhão de amigos.

Não é uma novidade refletir sobre esse tema, visto que existe todo tipo de estudo sobre o assunto, dos mais sérios aos sensacionalistas. E nem considero hipocrisia também meter minha colher nesse angu, ainda mais que escrevo em blog, tenho twitter, Orkut, facebook, MSN e ainda integro uma rede de bibliófilos, a Skoob, que reúne colecionadores de livros e de leituras (escrevo sobre ela qualquer dia desses). Como usuária das ferramentas, membro das comunidades virtuais e como migrante digital por conta das 36 primaveras de vida, me considero no direito de opinar.

Não é para falar contra a tecnologia ou as novas formas de interação que estou aqui dividindo essa chuva de palavras com quem tiver paciência para ler até o final. Sabemos que o ser humano precisa se expressar. Está aí a arte, em todas as suas manifestações, do cinema a telenovela, do blog ao romance, da pintura a moda, para provar que interação é uma realidade tão antiga quanto o mundo. Os teóricos da comunicação, apesar de se esforçarem para soar “novidadeiros”, não criaram praticamente nenhum conceito novo. Nós, humanos, somos gregários e interativos desde sempre, só funcionamos em bando desde que o mundo é mundo, logo, qualquer ferramenta ou forma de expressão que nos ajude a manter a ideia de comunidade é sempre bem-vinda. Mas, houve um tempo em que mesmo em bando, reservávamos um espaço doméstico e quase sagrado, onde a solidão não era temida, onde a alegria e a tristeza eram divididas apenas com pessoas da maior confiança. Onde o isolamento favorecia a reflexão. Ultimamente, somos papagaios: falamos, reproduzimos outras falas, fazemos um barulho imenso, mas pouco do que é dito importa de fato. Temos medo de ficar sozinhos e em bando, nem sempre dá para refletir.

Interagir com o resto do bando faz parte da natureza humana, mas ultimamente, dizemos muito, só que com pouco significado. A foto é da capa do LP Listen Without Prejudice, de George Michael

Minha inquietação é com a incapacidade cada vez maior das pessoas em perceber limites para a privacidade. A própria e a alheia. Fui criada de uma forma moderna, em alguns aspectos, e completamente antiquada, por exemplo, quando o tema é o respeito ao espaço do outro. Nunca tive permissão para dormir na casa de amigos quando era criança e nem tinha permissão para receber amiguinhos em casa para dormir. Os que vinham brincar, ou quando eu ia brincar na casa de alguém, era sempre na sala de visitas. Abrir a geladeira da casa de outra pessoa? Acredito que seja algo inconcebível para os membros da minha geração. Pelo menos para mim, só funciona se for na casa de  alguém muito próximo, onde me sinta tão à vontade que possa ajudar  na cozinha a lavar e secar a louça. Graças a Deus tenho amigas assim, quase irmãs de tão próximas. A intimidade é tão sagrada e necessária, que não pode e nem deve ser banalizada como tem sido atualmente.

Na minha infância, existia a sala de visitas, que era separada da sala de jantar e de outros cômodos “reservados” da casa, justamente para evitar que as pessoas fossem invadindo, enfiando-se no quarto, vasculhando guarda-roupas. Pelo menos creio que a ideia era essa, manter a visita confortável, acolhida, amada, mas sem deixar que ela se espalhasse por espaços que não lhe pertenciam. A menos que fosse íntima da família.

Depois de adulta, nunca me senti à vontade em abrir o armário de uma amiga, ou de permitir que uma das minhas amigas vasculhasse minha bolsa em busca do celular que estava tocando. Vi uma cena uma vez, ocorrida com uma amiga íntima. Um conhecido em comum nosso, mas sem o mesmo grau de intimidade, sem a menor cerimônia, atendeu o celular dela, depois abriu  a bolsa da minha amiga e jogou o aparelho lá dentro, diante do olhar atônito, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Hoje em dia, as crianças na sala de aula do meu filho, por exemplo, acham que é a coisa mais normal do mundo abrir as mochilas uns dos outros para pegar lápis, esquadros, borrachas ou o que quer que estejam precisando, sem ao menos pedir licença ao dono legitimo daquelas coisas. E estranham o fato dele não fazer o mesmo!

Falta espaço para reflexão em meio a esquizofrênica necessidade de expressão da contemporaneidade

Não abro a bolsa da minha mãe ou da minha irmã até hoje, nem a das amigas, a menos que elas permitam e ainda assim, só das muito íntimas. Quando preciso abrir as gavetas de mamãe para buscar alguma coisa me sinto como se invadisse um espaço que pertence a ela. Independente de ser minha mãe, ela tem direito a um espaço único e pessoal. Tento ensinar ao meu filho o mesmo conceito, de respeito à individualidade e à privacidade alheia. Só devemos ir até onde nos é permitido, sem forçar uma intimidade que na maioria das vezes não existe e até constrange o outro.

Outro exemplo, só para ilustrar e ajudar a aclarar as ideias: Não costumo acompanhar avidamente cada atualização de perfil do Orkut dos meus amigos. Tento manter o contato por esta ferramenta ou por outras, repito, não tenho nada contra às ferramentas de interação, mas sem exageros. As comunidades virtuais, quem usa sabe, são divertidas, práticas, facilitam manter proximidade mesmo com quem está distante, ajudam na troca de conhecimento e de ideias, mas ao menos para mim, seriam melhor aproveitadas sem a obsessão de saber o que todos fazem ou dizem a cada segundo do dia. Fico conhecendo melhor as pessoas por suas ideias do que, por exemplo, se estivesse xeretando para saber se estão com o status “namorando” ou “solteiro” ativado.

Acredito que a interação atual – a forma como ela é usada – cria um falso sentimento de intimidade. Tão descartável quanto boa parte da produção cultural caça-níqueis que infesta o mundo tanto real quanto o virtual. Ficamos sabendo se determinada pessoa é casada ou não, se gosta de laranja ou azul, se bebe ou fuma, se vai ao cinema ou se é do tipo baladeira, mas não ficamos sabendo como essa pessoa é de fato, o que ela sente, o que ela acredita. Contamos quantos namorados fulano teve em um ano, de acordo com as vezes em que fulano alterou seu status de relacionamento na internet, mas no que isso nos aproxima ou afasta mais de alguém?

Suspeitamos, melhor dizendo, supomos que fulano tem tal tipo de personalidade porque gosta de tal coisa, mas saber de fato como é alguém, acredito que não sabemos nem depois de anos de convivência. E sinceramente, para mim, é bom que seja assim, fica sempre uma margem de surpresa que, no mínimo, vale para manter o interesse pelo outro. Um pouco de mistério sempre seduz. Não quero saber todos os segredos dos meus amigos, eles têm direito a manter guardadas coisas que não querem mostrar para ninguém. Não me sinto menos amiga por isso. Antes até, crio um laço invisível, como se nos aproximássemos mais pelo que não é dito do que pelo que está exposto para todo mundo ver.

Querem ver outra coisa que me incomoda nessa falta de privacidade generalizada? É quando as pessoas te cobram para manter o twitter 24 horas por dia com novidades. Um post a cada minuto, de preferência. Começam a te seguir numa espécie de desespero e frenesi e quando você não corresponde à velocidade de atualização, param de te seguir e vão atrás de outra pessoa mais “interessante” (?) Tudo bem, a ideia da ferramenta é comunicação instantânea, mas será que vale a pena dizer alguma coisa apenas por dizer, apenas para manter a legião de seguidores? Será que todo ávido seguidor lê mesmo o que o outro está tentando dizer naqueles módicos e telegráficos 140 caracteres? Não costumo blogar se não tiver algo interessante para publicar, seja escrito por mim ou por terceiros. Ou me sinto inclinada a dividir algo que realmente valha a pena ou guardo silêncio. E o conceito de silêncio, tanto no ambiente virtual quanto fora da rede, tem mais nuances do que simplesmente ausência de ruído. Guardar silêncio, quando não se tem nada que valha a pena ser dito, é uma atitude sábia e respeitosa com os demais.

O Grande Irmão, personagem onipresente é criação do escritor George Orwell no romance 1984. Vigilância constante sobre todos os invíduos

Voltando à questão da privacidade. O exemplo que a meninada segue com cada vez mais freqüência é o das celebridades que expõem as conquistas e as mazelas com o mesmo empenho em todo tipo de revista, algumas com linha editorial duvidosa. Nada mais é segredo, nada mais é pessoal, tudo é compartilhado e coletivo. A dor de alguém tem de ser a dor de muitos, a felicidade de alguém tem de ser a felicidade de muitos. Se uma pessoa é legal e é artista, tem de virar modelo de comportamento e namoradinha do Brasil. Se comete um erro e é também artista, a queda na lama e a redenção precisam ser públicas. Mas, atualmente, nem precisa ser celebridade, de fato ou instantânea, para fazer da vida um “livro aberto”. Qualquer pessoa expõe mais do que seria recomendado, apenas pelo prazer de expor ou pela necessidade de saciar a doentia curiosidade de quem lê. Nem os mortos podem ser chorados em casa, porque seus perfis permanecem eternamente cultuados como numa seita fanática, assombrando orkuts e facebooks. Pessoalmente, acho de uma morbidez assustadora.

 

A sociedade torna-se pouco a pouco tão sem identidade pessoal quanto as abelhas operárias de uma colmeia. Fala-se em diversidade, mas vejo uma homogênea massa de pessoas idênticas querendo parecer diferentes

Perdemos a identidade de individuo e vivemos a era da identidade de grupo. Angustia-me essa superexposição e a patrulha de ideias que advém de tanto interesse na vida uns dos outros. É como se vivêssemos em eterno estado de big brother (falo daquele de George Orwell e seu emblemático livro 1984 e não do programa do Pedro Bial, que aliás, fabrica celebridades instantâneas e nada discretas).

Outro dia, conversando com minha irmã, ela questionou qual é o sentido, por exemplo, de alguém se preocupar tanto com a opção ou orientação sexual de outra pessoa? Comentávamos uma reportagem que vimos, mais uma da série “fulano saiu do armário”. Para mim, tanto faz se saiu ou entrou. Pessoalmente, me interesso mais pelo caráter das pessoas do que em saber com quem elas dormem. Gostaria que os movimentos que elegem seus símbolos dessem ao escolhido o direito de optar se querem mesmo tornar-se símbolo desta ou daquela militância. Se quer virar mito e inspirar outras pessoas, incentivar ou fortacelecer o movimento, ótimo, vá lá e diga para todo mundo que escancarou a porta do armário. Mas se não quer dividir seu armário com mais ninguém, beleza também, respeito você do mesmo jeito. A cobrança para que a pessoa faça isso ou aquilo, diga isto ou aquilo, é que me tira do sério. Se a estrelinha da tv quiser manter-se virgem até casar ou se já deu para o prédio inteiro onde mora, o que é que eu tenho com isso?

Tornar a vida um grande acontecimento público é cansativo e é uma armadilha. Além de ser fake. Soa falso pelo simples fato de que ao nos mostrarmos para os outros, conscientemente, buscamos sempre exibir nosso lado mais gente boa e tendemos a esconder o chamado dark side. A falta de privacidade cria uma sociedade de espelhos de narciso. Já repararam que somos sempre mais bonitos no espelho do que numa fotografia, por exemplo? Aprendi esse conceito nos tempos da faculdade. É o seguinte, relembrando as aulas do meu velho mestre: isso acontece porque o espelho nos reflete tal qual nos imaginamos, o espelho mostra o que queremos ver, e a fotografia nos mostra tal qual somos de fato, com nossos ângulos bons e ruins.

Só que agora existe o photoshop para dar uma melhorada no que a fotografia mostra e a fotografia se converte cada vez mais em espelho.

Nem é a essência das coisas que eu busco, porque acredito que as coisas tem mais de uma essência. Na verdade, todas as coisas são formadas pela mistura dessas infinitas essências. Ainda bem, porque ansiar por pureza me lembra nazismo. Deus me livre!

Confesso é que ando em busca de um pouco de retorno ao individuo, sinto falta do ser humano, único, pessoal, intransferível, secreto, privado, íntimo. Mas tudo o que vejo é sempre multidão…

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Um ensaio de retrospectiva para 2009

*Texto e reflexões de Andreia Santana

Se você pretende refrescar a memória, relembrando os fatos mais marcantes de 2009, lamento informar que este ensaio de retrospectiva é um pouco menos global do que deveria e não pretende tratar da morte de Michael Jackson, da eleição de Obama para a presidência dos EUA ou da crise econômica mundial. Embora sejam fatos marcantes,  não é disso que quero falar. Ainda assim, se atraído pelo título do post, você entrou aqui querendo saber como foram os 365 dias do ano que finda hoje, ao menos podemos te mostrar o que aconteceu em Salvador. Para isso, recomendo que leia o texto escrito pela nossa querida Giovanna Castro, e publicado no portal A TARDE On Line.

Este ensaio porém, é uma retrospectiva mais íntima, pessoal, pertencente às meninas deste blog. Em 2009, completamos um ano no ar. Em 2009, também conhecemos, através de comentários emocionantes, pessoas com histórias de vida incríveis. Este ano, batemos pela primeira vez a casa das 100 mil visitas e terminamos o ciclo alcançando quase 200 mil, tudo o que podemos dizer é muito obrigada! Em 2009, minha amizade com Giovanna, que tem mais de uma década, rendeu o fruto de trazê-la para o blog. Minha amizade com Alane, que tem quase meia década, fortaleceu e rendeu muitos sonhos de um futuro promissor, na rede e fora dela. Principalmente o de consolidar este filho virtual que geramos juntas. Somos três pessoas completamente diferentes, com visões de mundo particulares, que viveram altos e baixos em 2009, como boa parte dos nossos leitores, acredito, mas ainda assim, apesar das diferenças, nos completamos. O que falta em uma, sobra na outra e isso enriquece a todas nós.

Quantas pessoas novas vocês conheceram este ano? Quantas pessoas antigas que estavam afastadas, voltaram a se aproximar e o quanto da personalidade delas vocês descobriram e se fascinaram? Muitas vezes, pensamos em relembrar os fatos mais marcantes do ano que finda no mundo, mas esquecemos de olhar para os fatos marcantes da nossa vida que nos fez crescer, que nos fez caminhar para a frente. E esses fatos muitas vezes são simples, coisinhas que mudam de forma tão sutil, que, cegos, à espera das grandes mudanças, nem percebemos que nossa vida está moldando-se pouco a pouco, a partir das pequenas ações. Lembrei de um verso de Cecília Meirelles, “de tanto olhar para longe, não vejo o que passa perto”. E é pertinho da gente, no microcosmo formado pela família, amigos, pelo trajeto de casa até o trabalho, com os colegas da empresa, que as mudanças começam e da junção de todas as mudanças, de todos os microcosmos de todas as pessoas no mundo, aí sim, é que a realidade global é afetada. Acredito nisso, de verdade.

Em um ano cabe muita coisa. Pessoas nascem, outras nos deixam para viver outra realidade ou para fazer uma viagem que algum dia, todos iremos empreender, porque é do ciclo da natureza. Ganhamos dinheiro ou perdemos? Compramos a casa dos sonhos? Ainda moramos de aluguel? Fizemos mais amizades ou menos que o ano passado? Quantos livros você leu este ano? Foi ao cinema alguma vez? Caminhou na praia? Quantas vezes sorriu? É recomendável que sorria ao menos uma vez por dia. Riu das próprias mancadas ou ficou se maldizendo? Eu tentei rir bastante, mas em alguns momentos chorei, em outros ainda, me enfureci. Ainda assim, acredito que o saldo foi positivo. No mínimo, deu empate. Algumas frivolidades, que nem por isso deixam de ser importantes: Chequei aos 35, uau! Coloquei aparelho nos dentes para corrigir um defeito de infância. Engordei mais um pouco porque foi um ano de intensa atividade profissional e acadêmica, mas uma negação no quesito ginástica, me exercitei menos do que deveria, comi mais chocolate do que era necessário e começo o ano novo disposta a retomar a atividade física, não por obsessão de virar manequim, não é meu estilo, mas pelo prazer de movimentar-me, de mover a energia dentro e fora do meu corpo, ao meu redor.

Me tornei uma mãe um pouco mais orgulhosa em 2009 também, porque meu filho, aos 12 anos, é um garoto cheio de opiniões, que cresce para se tornar um rapazinho encantador. Tira boas notas, tem uma cabeça boa, como costumamos dizer, e tem um senso de humor que faz o sol brilhar na minha alma, principalmente nos dias que ameaçam chuva. Voltei a estudar em 2009, o que foi fantástico. Dez anos depois da graduação, cá estou eu às voltas com novos desafios.  Sempre fui meio CDF e isso é um dos pontos em comum com as parceiras do Conversa. Somos três traças de biblioteca, com muito orgulho por sinal. Rolaram algumas discussões familiares, claro, mas também ocorreram reconciliações daquelas que fazem  a relação fortalecer. Rolaram algumas discussões com amigos e as amizades que eram legítimas, sobreviveram às tempestades. No trabalho, houve momentos de realização plena e outros de quase frustração, o que também é normal. Com o passar do tempo aprendi, na verdade ainda estou aprendendo, que as frustrações não são causadas pelos outros, mas pelo nosso excesso de expectativa e idealização. Quando aprendemos a lidar com a realidade, não que para isso deixemos de sonhar ou projetar, mas quando aprendemos a jogar com os dados que a vida nos oferece (como sabiamente me diz minha mãe), nos tornamos mais protegidos contra a frustração.

Algumas vezes, damos dois passos para a frente e recuamos um, para logo mais à frente, avançarmos cinco passos de uma vez. Cest la vie, “é a vida”, como dizem os franceses. E quem disse que gostariamos mais dela se fosse fácil? Não é fácil, mas é bem menos difícil do que acreditamos. O bom de terminar um ano e começar outro é que temos a chance de seguir em frente, ou de recomeçar. E não há idade padrão para recomeçar, sempre podemos refazer um caminho ou trocar de estrada, se aquela que tomamos não estiver boa. Não é loucura, é busca. Todos nascemos com essa tarefinha inconsciente, buscar a felicidade. Muitas vezes, durante o trajeto, encontramos diversos momentos de alegria saudável, desses que fazem a busca valer a pena. Mesmo que essa FELICIDADE graúda, plena, seja só utopia, as pequenas felicidades, entremeadas de algumas tristezas, contribuem para equilibrar a balança.

E antes que eu comece a chorar, porque desde criança pertenço ao grupo das “manteigas derretidas”, me despeço de 2009 e de vocês todos, muito feliz por ter compartilhado tanto e por ter recebido tanto de volta, em frases de elogio, crítica, incentivo, em carinho anônimo, mas nem por isso menos importante. Que 2010,  o ano do tigre, que vem a ser o meu signo no horóscopo chinês, traga muita sorte, vida longa ao  Conversa de Menina e muitas oportunidades e surpresas agradáveis para vocês aqui no blog e nas suas vidas. Desejo-lhes muita paz, muito amor, saúde e um pouco mais de dinheiro no bolso, que não faz mal a ninguém. Mas principalmente, desejo que cada um que lê essas divagações, que Alane chama tão bem de “digressões”, tire daqui uma lição para viver plenamente e com sabedoria, seja nas pequenas coisas do dia-a-dia ou nas grandes conquistas que mudam a história do mundo.  Mesmo sem conhecer a todos que visitam esta página, amo vocês, por serem humanos, por serem lutadores, por serem belos ao seu modo e principalmente, por fazerem parte desse grande acorde universal e dessa canção criada por um Deus ou por diversos deuses,  que chamamos VIDA. Que venha 2010!

beijos no coração e na ponta do nariz!

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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“Ano Novo, Vida Nova”. Prometa o que pode cumprir

Receita de sucesso existem várias. Cada um tem a sua ou adota uma em livros. Ou ainda, depois de fazer anos de terapia e contratar um coach (espécie de personal trainer para o desenvolvimento pessoal). Venha de onde vierem as receitas de sucesso, o importante é que todas visam um único objetivo: melhorar o nosso ser e estar no mundo e nos fazer encontrar um caminho para a felicidade, que mesmo que não seja plena -, uma vez que estamos sempre desejando alguma coisa e não conseguindo todos os desejos -, ao menos que nos faça conciliados conosco, com os outros e com a vida. Como 2009 está acabando e chegou aquele momento clássico do exame de consciência e das listinhas de promessas de ano novo, “promessas de uma nova vida”, acredito que valha a pena publicar o artigo da coach Lygya Maya, ela mesma uma mulher que passou por várias dificuldades na vida, até encontrar o caminho para o seu sucesso, pelo menos para aquilo que a faz feliz. Mesmo correndo o risco de algumas pessoas interpretarem as palavras da autora como auto-ajuda ou filosofia de almanaque, recomendo a leitura. Até porque, a psicologia, a psicanálise, as investigações fisolóficas, se for reparar bem, servem todas de apoio para que, uma vez conciliados, centrados, possamos nos auto-ajudar. Pensem nisso e aproveitem as lições de Lygya Maya:

Como ser bem sucedida nas resoluções de Ano Novo

*Lygya Maya

Hora de começar a pensar na faxina de ano novo

Por que algumas pessoas são mais bem sucedidas que outras nas resoluções de Ano Novo? Por que, entra ano e sai ano, as pessoas não cumprem as promessas de fazer academia, perder peso, estudar ou de mudar determinados hábitos?

Comecei a vida com poucas vantagens. Não cheguei a cursar faculdade, passei fome na infância, fiquei sem pai aos nove anos e era limitada em minha autoconfiança e nas finanças. Até que um dia, cansada dos desafios para sobreviver, me perguntei por que algumas mulheres são mais bem sucedidas que outras.  A resposta desta pergunta mudou minha maneira de entender como obter sucesso na vida.

Comparecendo a seminários em diversos países sobre sucesso profissional e pessoal, pude constatar que as razões para se alcançar o sucesso já foram descobertas e vem sendo discutidas e divulgadas há mais de dois mil anos.  E descobri que há algo comum entre os antigos filósofos e os professores e especialistas da atualidade: todos concordam que, para obtenção do sucesso, é necessário autodisciplina.

Um dos maiores especialistas no assunto, o norteamericano M. R. Kopmeyer, autor de quatro livros com dicas de sucesso, disse uma vez que “há milhares de fórmulas de sucesso que descobri em meus estudos e experiência, mas nenhuma vai funcionar se você não tiver autodisciplina”.

A autodisciplina é a chave da nossa vitória pessoal. É a qualidade mágica que abre todas as portas para nós e faz tudo se tornar possível. Com autodisciplina, uma pessoa comum pode se tornar extraordinária, desde que tenha talento e inteligência suficientes que o guiem para frente. Já uma pessoa sem autodisciplina, mesmo que tenha tudo nas mãos, como educação, oportunidades e dinheiro, dificilmente conseguirá alcançar mais do que mediocridade.

Pode ser que você pense que será difícil ter autodisciplina, já que não tem tempo, energia ou dinheiro. E essas são desculpas que podemos usar para NÃO fazer algo. Então aqui vão três dicas para que não haja sabotagem neste assunto:

1.    Combine com uma amiga para que, uma vez por semana, ela questione sobre suas resoluções, por e-mail ou telefone.

2.    Antes de dormir, escreva suas decisões em um papel e no dia seguinte cumpra o que escreveu.

3.    Conte para os amigos que está progredindo, assim fica mais difícil voltar atrás e sabotar o que seu coração deseja.

Também é bem-vinda a ajuda de profissionais no ramo de autodesenvolvimento para obter os melhores resultados possíveis nas áreas profissional e pessoal. Todos os grandes líderes mundiais têm um ou mais especialistas de estratégia mental e emocional, que os guiam em direção à vitória de forma rápida e eficiente, assim como os personal trainers  ajudam as pessoas a se prepararem fisicamente, sem prejuízos à saúde.

Caso você já tenha autodisciplina e esteja pronto para conquistar seus desejos em 2010, serei sua fã e adoraria saber de suas vitórias.

Espero que este artigo tenha ativado sua consciência e paixão para desenvolver um trabalho de autodisciplina divertido, envolvido e compartilhado com seus amigos e concentrado na direção do sucesso em suas resoluções de Ano Novo.

Ano Novo, Vida Nova!

* Lygya Maya é coach e autora do e-book Ame as Emoções que Você Odeia, disponível em www.lygyamaya.com.br.

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Sobre o mundo, o tempo e a esperança

PensadorO  seu direito termina quando começa o do outro. Quem nunca ouviu isso? Que pena, no entanto, que as pessoas esquecem do ditadinho na vida cotidiana. O mundo anda individualista demais. A briga por um lugar ao sol tem feito os indivíduos deixarem ao relento o outro. Aliás, tudo virou motivo de guerra, encaramos verdadeiras disputas e o outro passou a ser um adversário. Não há lugar para todos no mercado de trabalho, também não há vagas universais na fila do SUS, nem nas instituições de ensino públicas.

Tenho andado preocupada com isso. O tempo deixou de ser relativo. Agora é absoluto, porque ninguém tem mais tempo pra nada. Aliás, falar em tempo provoca calafrios. Provavelmente deixou de fazer alguma coisa importante porque esqueceu, ou não teve tempo. Mas uma engrenagem do individualismo. Parece que tudo se vira contra nós. Os dias se seguem corridos e nós, tensos. Mal temos tempo de olhar o outro, bater um papinho descontraído, relaxar. É tanta coisa com que se preocupar que não nos sobra muito tempo.

Ainda acredito que o amor ao próximo e a solidariedade humana podem mudar nossas vidas. A partir do momento em que o outro se torna importante pra você, como pessoa, o inverso acontece espontaneamente. Me assusta um pouco o rumo que a humanidade está tomando. O capitalismo desenfreado, regimes autoritários, a impotência. Às vezes me sinto em uma roda-gigante, mas daquelas que não param. Sabe quando você já está meio zonzo, quer descer de qualquer forma, mas ela não para? É como tenho visto o mundo ultimamente.

Pode parecer uma visão romântica da sociedade. Muitos defendem que o ser humano é combativo por natureza, que guerrear é intrínseco à natureza humana. Talvez seja assim, mas ainda que seja assim, continuo acreditando em sentimentos mais fortPensandoes, que poderiam contornar a “razão”. Está aí outro conceito tão discutido. O que é mesmo ser racional, hein? Razão e emoção precisam ser equilibradas. Mas a teoria é simples, não é? Enfim. Embora as expectativas não sejam as melhores, eu prefiro manter as esperanças.

Um dia ouvi que esperança alimenta. Hoje eu compreendo melhor o que quiseram me dizer àquela época. Já andei mais descrente, até decidir respirar fundo e acreditar novamente. De uma forma diferente, mais real. Já criei uma série de teorias sobre a evolução humana nesse meio tempo. Uma delas, inclusive, que daqui a alguns milênios nasceremos com quatro braços para que possamos dar conta de tantas tarefas. Quem sabe nesse tempo cheguemos a pensar em usar um destes braços para fazer carinho no outro.

Acho que estou viajando um pouco. Falando de tanta coisa ao mesmo tempo, usando tão pouco espaço para discutir assuntos de tamanha grandiosidade. Mas o que eu mais gosto na ideia de fazer blogs é justamente essa possibilidade. A gente pensa tanto, divaga, desenha… Muita coisa fica a sete chaves, não sei dimensionar quanto dos nossos pensamentos exteriorizamos. Mas creio que seja muito pouco. Fato é que os pensadores mudaram o mundo ao longo do tempo. Dediquemos, então, um pouquinho desse tempo tão corrido a isso.

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Espiritualidade: Mente sã em um corpo são

Vou pedir licença ao poeta romano Juvenal, para utilizar uma de suas frases mais famosas, dentro do contexto que eu quero construir. “Mens sana in corpore sano” foi escrita como parte integrante Espiritualidadede um texto que tenta explicar o que as pessoas deveriam desejar na vida. Para mim, trata de uma expressão que implicitamente fala de equilíbrio. Equilíbrio entre o corpo, nossa parte física e palpável, e a mente, o lado imaterial, espiritual, de cada um. Estar saudável, então, passa a significar algo além dos resultados positivos nos exames médicos de rotina. Ganha um significado maior, que traduz um estado no qual tanto o corpo quanto a mente trabalham em sintonia.

A palavra espiritualidade tem hoje uma conotação pejorativa. Muitos fazem uma associação equivocada e imediata à religião. É como se o cuidado com a espiritualidade tivesse necessariamente de passar por visitas frequentes a algum templo religioso. Não, necessariamente, na minha compreensão de espiritualidade. Cuidar do corpo é até fácil, nos basta fazer os tais exames periódicos, adotar uma alimentação saudável e construir uma rotina que englobe exercícios físicos constantes. Mas cuidar do nosso lado imaterial não é tão simples assim e vai exigir da gente um esforço maior, uma dedicação ao “eu”.

O ser humano precisa sempre cuidar e orientar seu desejo
para que ao passar pelos vários objetos de sua realização – é irrenunciável que passe – não perca a
memória bem aventurada do único grande objeto que o faz descansar, o Ser,
o Absoluto, a Realidade fontal, o que se convencionou chamar de Deus.
O Deus que aqui emerge não é simplesmente o Deus das religiões,
mas o Deus da caminhada pessoal, aquela instância de valor supremo,
aquela dimensão sagrada em nós, inegociável e intransferível.
Essas qualificações configuram aquilo que, existencialmente, chamamos de Deus.

Leonardo Boff

Falar de espiritualidade exige uma compreensão maior do ser humano, a de que ele é resultado da conjugação de espírito e corpo. Boff alerta para a visão atual, distorcida, de que há uma dualidade entre estes dois vértices. “Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo que é a convivência dinâmica de matéria e de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados”, é o que ele diz em um de seus textos que tratam da espiritualidade. O que sinto diariamente é que precisamos mesmo entender a importância desta conexão. Hoje estamos mais preocupados com o corpo sarado, o cabelo arrumado, o seio empinado. Esquecemos que nosso interior também precisa de Espiritualidadecuidado, e é muito mais delicado.

Não acho que seja fácil se distanciar deste mundo insano, dos barulhos diários, do tic-tac do relógio, das buzinas dos carros, por exemplo. É complexo. Muito, até. Mas é necessário, e quando conseguirmos perceber isso talvez encontremos uma forma de chegar a este estágio de interiorização, do encontro consigo e com Deus, o Deus maior que não está preso aos alicerces de uma igreja qualquer. Nesse processo, o silêncio é importante, a meditação é importante, a concentração em nossas próprias energias também.  Imprescindível é se afastar da aceleração social, buscar um lugar calmo, tranquilo, sossegado, aquele lugar que transpira paz.

Por fim o ser humano possui profundidade.
Tem a capacidade de captar o que está além das aparências, daquilo que se vê, se escuta,
se pensa e se ama. Apreende o outro lado das coisas, sua profundidade.
As coisas todas não são apenas coisas. Todas elas possuem
uma terceia margem. São símbolos e metáforas de outra realidade
que as ultrapassa e que elas recordam.

Leonardo Boff

Podemos nos esforçar um pouco mais. Podemos aceitar essa complexidade do nosso ser. Podemos, depois disso, buscar a mente sã em um corpo são. É só dedicarmos um pouquinho do nosso tempo àquele momento da consciência que nos ajuda a compreender o sentido e o valor do mundo, que nos ajuda a nos compreender como parte de um todo. Boff fala na necessidade de o homem “experimentar a sua própria profundidade”. Gente, o que eu estou falando aqui é de uma atitude nova. Mas uma atitude em relação a você mesmo. Pode parecer bobagem, exagero, insignificância… mas nós não precisamos deixar apenas parecer, se podemos praticar e tirar as nossas conclusões com relação a isso.

Esse post daqui é um convite. Um convite para que todos nós nos dediquemos um pouco mais ao que os outros não podem ver com os olhos, mas podem sentir com suas almas. A gente pode se despir dos preconceitos e pensar na ideia. Pelo menos pensar na possibilidade de sair dessa loucura em algum momento da sua semana, do mês, e colocar em prática a possibilidade de dedicar estes momentos a cuidar do seu interior. Não tem uma fórmula secreta, porém há iniciativas. Uma oração, uma meditação, alguns momentos dedicados à reflexão… Que tal?

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Hannah Arendt: filósofa, judia e mulher

Hannah Arendt integra a minha lista pessoal das mulheres mais importantes da história da humanidade. Não apenas porque sua trajetória de vida nos apresenta uma mulher guerreira, de origem judia, nascida na Alemanha, e que sofreu na pele a perseguição do regime nazista de Hitler, mas também porque se impôs e fez-se reconhecer como pensadora, filósofa, que se dedicou a mudar as ideologias Hannah Arendtsociais de sua época, através de seus escritos sobre, por exemplo, os regimes totalitários, a política e o conceito de liberdade. Ela foi uma verdadeira cientista política, uma mulher que se empenhou nos estudos críticos e conseguiu transformar o pensamento ocidental.

Para quem quer se aprofundar nos estudos sobre a ideologia política contemporânea, é salutar acrescentar Hannah Arendt à lista de bibliografia essencial. Depois de concluir o doutorado em filosofia, na Universidade de Heidelberg (1928), ela sofreu os efeitos do racismo anti-semita e foi obrigada a se refugiar em Paris. Lá, trabalhou com refugiados judeus e teve o privilégio de estudar com Karl Jaspers e Martin Heidegger (com quem manteve um complicado relacionamento amoroso). A vida não foi das mais fáceis para ela. Já no início da década de 40, a França foi ocupada pelos nazistas e Hannah precisou novamente fugir, desta vez para os Estados Unidos, naturalizando-se cidadã norte-americana. É nessa época que ela lança sua primeira obra “Origens do Totalitarismo” (1951), que virou um clássico e entrou para o rol das grandes contribuições literárias para a compreensão do regime totalitário.

A narrativa começa com a ascenção do anti-semitismo na Europa oitocentista e segue pela análise do imperialismo colonial europeu de 1884 até a deflagração da Primeira Guerra Mundial. Um dos grandes méritos da publicação está em dissecar a Alemanha nazista e a Rússia estalinista. A escritora faz um desenho preciso da transformação por que passou as classes sociais e a formação das massas, ressaltando inclusive a função da Hannah Arendt propaganda no território não totalitário. Ela consegue, com maestria, explicar como a manipulação do terror e do medo são indispensáveis para a manutenção destes tipos de governo, e arremata com uma análise detalhada do estado de solidão dos indivíduos enquanto condição determinante para o domínio absoluto do Estado totalitário.

Novas polêmicas ancoraram com “Eichmann em Jerusalém” (1963), em que denunciava a participação das lideranças judaicas no extermínio promovido pelos nazistas na 2ª Guerra Mundial. O livro, que faz uma análise do julgamento do oficial nazista responsável pela organização dos campos de extermínio, Adolf Eichmann, fez brotar o conceito da banalidade do mal. Em linhas gerais, ela pontua que embora os atos cometidos pelos seguidores de Hitler sejam considerados monstruosos, muitos deles não eram sádicos nem pervertidos. Eles apenas cumpriam ordens. E completa: “mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais”. O estudo do inquérito policial, do seu comportamento durante o julgamento e do histórico de vida de Eichmann levaram-na à conclusão de que as suas atitudes derivavam de uma “curiosa e bastante autêntica incapacidade de pensar”. Esta é a essência da banalidade do mal, e, basta uma observação supercial da nossa realidade, veremos que se aplica perfeitamente aos nossos dias.

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Livros: veja a cotação dos preços e compre
>> Eichmann em Jerusalém
>> A condição Humana
>> Entre o Passado e o Futuro
>> Origens do Totalitarismo
>> Nos Passos de Hannah Arendt (biografia escrita por Laure Adler)
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Juntos, os dois livros mostram-se absolutamente indispensáveis para o entendimento do que foi o século XX. A eles, somam-se tantos outros, como “Entre o Passado e o Futuro”, no qual aborda o discurso político do século XX. Afinal, foi ela personagem de toda essa transformação por que passou a sociedade da época. E não há como esquecer de “A Condição Humana”, uma ampla reflexão sobre as práticas políticas do século passado e a teoria que as envolve. O que mais me fascina em Hannah Arendt, além de sua linguagem ousada e das críticas fundamentadas, é a forma como remonta toda uma era, adotando uma postura de enfrentamento da realidade e combate. É importante destacar que, apesar do berço judeu, Hannah Arendt não foi criada sob os dogmas religiosos e tradicionais.  

Alguns autores se referiram a Hannah Arendt como a teórica do inconformismo. Pra mim este rótulo consegue refletir a importância do pensamento dela. Inconformada, disseminou seus ideais, ganhou adeptos e contribuiu para a transformação social. Hannah Arendt é uma mulher que disse muita coisa, mas que poucas pessoas leram. Revisitar as obras de pensadores como Hannah Arendt me faz recordar uma frase de Pascal, matemático e filósofo francês. Ele dizia: “Nada é mais difícil que pensar”. Embora difícil, é uma arte que precisa de exercício contínuo. É o exercício constante da mente que nos faz adquirir elementos para a resolução dos tantos problemas. Que muitos se inspirem nela e comecem agora, porque nunca é tarde, a pensar.

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