Making off: saiba como se monta um editorial de moda

Tem um tempo que estou para publicar esse material muito bacana que a jornalista Jane Fernandes preparou para vocês, com todo o carinho, mostrando os bastidores de um editorial de moda. Corre daqui, corre dali, às vésperas de encarar a maratona de plantões carnavalescos, tiro da gaveta, para deleite das fashionistas e pesquisadoras deste vasto mundo da beleza feminina. Os bastidores de uma produção de moda sempre rendem uma curiosidade enorme. Nesse caso, o texto e as fotos tratam da realização de um ensaio da revista europeia ModaCycle, que movimentou as ruas do Centro Histórico de Salvador, em meados de fevereiro. A produção de maquiagem contou com a experiência de Valeria Meier, make up artist baiana radicada na Suiça, que também em fevereiro, deu curso de automaquiagem e foi convidada especial do encontrinho do blog (relembrem aqui).

Em tom de crônica, de quem observa a cena, Jane une jornalismo e subjetividade. As fotos, também de sua autoria, só ajudam a compor o cenário montado na nossa imaginação a partir da sua narrativa. Deu vontade de estar lá, mas como não estávamos, saibam o que está por trás do glamour que vemos nas revistas e divirtam-se! Eu me diverti…

Por trás da cena fashion

*Jane Fernandes

Quando vemos fotos maravilhosas que nos fazem desejar a roupa da modelo, o sapato que ela usa ou a maquiagem perfeita que exibe, mal podemos imaginar a trabalheira por trás de um editorial de moda. No último dia 14 estive nos bastidores de um editorial produzido em Salvador para a revista europeia ModaCycle e aproveito o espaço para dividir essa experiência com vocês.

Tudo começou com um imprevisto, a van alugada para servir de camarim, armário, transporte e o que mais fosse preciso teve um problema mecânico. Assim que a locadora enviou uma van substituta, a maquiadora Valéria Meier partiu para buscar a modelo Bruna Cabral e seguirem para a sede da D’Malicuia. O relógio marcava 10h quando Valéria e a prima Andressa começaram a arrumar o cabelo de Bruna. O calor era escaldante e a modelo a cada instante ganhava mais volume no cabelo, formando um moicano pra lá de estilizado.

O clima era de colaboração, o fotógrafo Fábio Abu-chacra definia com a modelo que a linha era natural, enquanto seus assistentes ajudavam a segurar o material de maquiagem, as meninas da D’Malicuia (Diane Lima e Mari França) ajudavam a definir os detalhes da make up e Andressa bancava a manicure. Eu, me limitava a observar, fotografar e, às vezes, perguntar. Como fiz quando Valéria colou um fita crepe na testa da modelo após preparar a pele da menina com base, corretivo e todos os produtinhos mágicos que usa para esse fim. Me assustei por não saber detalhes da proposta, mas a fita era para delimitar bem a área dos olhos a ser pintada, assim como se faz com as paredes, hehehe.

A tarde já tinha começado quando saímos em direção ao Santo Antônio Além do Carmo. Primeira parada: Antoniu’s Bar. Hora de descarregar todo o equipamento, medir a luz e fazer todos os ajustes para as primeiras fotos. A modelo vai entrando no clima de não fazer pose e logo está “esbarrando” no balcão deste bar com ares de armazém das antigas. Lembrei de Seu Elias, do Sítio do Pica-pau Amarelo, claro que foi viagem minha, mas fazer o quê se eu lembrei?

Sequência concluída e hora de trocar de roupa, sapato e acessórios, enquanto Fábio e equipe preparam tudo para o cenário de rua, que inclui uma parede que mescla grafite e pichação. As trocas de roupa são feitas na van, tarefa facilitada por um figurino composto de vestidos, saias e blusas. Ao longo do ensaio a modelo usou seis looks diferentes e era para carregar todas essas peças que a van fazia as vezes de armário.

Nessa locação,  a ideia é colocar a modelo em movimento, então ela caminha em direção aos rebatedores, enquanto o fotógrafo a enquadra em diferentes ângulos. Bruna vem direto, vem e gira, vem e pula, vem, vem e vem inúmeras vezes, e o cabelo começa a exigir os primeiros retoques: um grampinho (ou vários) no lugar certo e muito laquê para segurar o topete. Para compensar, na próxima parada, uma pousada cheia de charme, a modelo fica o tempo todo sentada numa rede. Aí, o trabalho maior foi de Fábio e seus assistentes às voltas com todos os ajustes necessários para conseguir um perfeito jogo de luz e sombra.

Ao escurecer, fizemos um pequeno lanche em frente à igreja do Boqueirão. O dia começou com sanduíches, coxinhas e refrigerantes ainda na D’Malicuia, passou por pastéis bem recheados e neste momento estava no sanduíche de padaria. Nada de parada para almoço ou qualquer refeição mais substancial. Para matar a sede, além de refrigerante tinhamos bastante água na caixa térmica, mas com a temperatura nada amena de Salvador, no final do dia a água estava longe de ser gelada.

Mas ninguém sofria, claro que depois das fotos na escadaria e na ladeira do Passo (últimas locações) estávamos todos exaustos, mas o saldo era super positivo, pois o dia também teve muita diversão e todos estavam super instigados.  Não acompanhei a seleção das fotos, então só verei o resultado quando a ModaCycle publicar o material, mas a mistura daqueles looks, com o cenário do Santo Antônio e a competência da equipe só pode resultar num editorial sensacional.

*Jane Fernandes é jornalista e proprietária da Quarta Via

**O texto foi cedido pela autora para o blog Conversa de Menina e publicado mediante citação da autoria e respeito à integridade do conteúdo. Todos os direitos são reservados à Jane Fernandes/Quarta Via.

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Caixa lança campanha de ajuda às vítimas da chuva

Santa Rita, em Teresópolis - RJ. As fotos são de Vladimir Platonow, da Agência Brasil, que é a assessoria de comunicação do governo federal. O material da ABr é de uso gratuito, desde que citados os créditos

Recebi, via email, um release da Caixa Econômica Federal sobre uma campanha que o banco iniciou para ajudar as vítimas da chuva no país. Para não gerar mal-entendidos, vou publicar abaixo, a íntegra do documento. Volto a frisar que a campanha é da Caixa e o texto foi redigido pela assessoria nacional do banco, portanto, o blog está apenas divulgando a iniciativa. Estamos fazendo nossa parte como jornalistas, que é ajudar a informação a circular. Quem quiser dar uma força também, pode divulgar o post nas redes sociais que frequenta. Solidariedade, – lembram? – não sai de moda!

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Leia também:

Campanha #SOS Chuva

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CAIXA LANÇA CAMPANHA PARA AJUDAR VÍTIMAS DAS CHUVAS

Conjunto de ações prevê abertura de conta para doação, atendimento diferenciado, pagamento de benefícios sociais para famílias atingidas e linhas de crédito especiais para empresas e trabalhadores

A Caixa Econômica Federal lançou, na sexta-feira (14), o plano Ação Integrada Caixa – Rio Solidário, para atendimento às famílias, ao setor produtivo e ao poder público dos municípios em estado de calamidade ou situação de emergência provocados pelas chuvas das últimas semanas.

As medidas incluem ações de atendimento, como criação de força-tarefa com horário estendido para informações gerais, liberação do escalonamento do calendário do Bolsa-Família, pagamento do Abono Salarial e Rendimentos do PIS, além dos benefícios do INSS e Seguro Desemprego, liberação e pagamento de FGTS, indenizações de sinistros, reforço das equipes das agências; informações diferenciadas no SAC CAIXA (0800 726 0101) específico para regiões atingidas, reforço do quadro de engenheiros e analistas, para agilização dos procedimentos técnicos, ação estruturada com o poder público, para diagnóstico da situação, e proposição de soluções e orientação na elaboração de projetos.

A CAIXA destinará linhas de crédito habitacional e comercial, em condições diferenciadas, para a região atingida. Estão previstas ainda campanhas de arrecadação de donativos nas agências da região. Além disso, também foi aberta uma conta corrente para ajudar as vítimas. As doações aos moradores das regiões em estado de emergência podem ser feitas na conta da Defesa Civil do Rio de Janeiro, número 2011-0, agência 0199, operação 006.

CONDIÇÕES PARA PAGAMENTO DO FGTS

O pagamento do FGTS acontece após o recebimento da Declaração de Área Atingida, a ser emitida pelas Prefeituras das cidades envolvidas. Serão beneficiados os trabalhadores das localidades que se enquadrem nas condições estabelecidas pelo Decreto 5.113/2004:

a) decretação de estado de calamidade pública ou situação de emergência pela Prefeitura Municipal;

b) reconhecimento dessa decretação pelo Ministério da Integração;

c) entrega, pela Prefeitura, de Declaração de Áreas Afetadas à CAIXA;

d) habilitação do trabalhador junto à CAIXA, mediante comprovação de titularidade de conta vinculada e de residência em uma das áreas afetadas, constantes da declaração citada acima;

e) o trabalhador tem 90 dias, após a publicação do ato do Ministério da Integração Nacional, reconhecendo o estado de calamidade/emergência decretado pela municipalidade, para solicitar o saque.

Os atos mencionados nas alíneas “a” e “b” já foram editados pelas autoridades competentes.

PARA O SAQUE DO FGTS

Os trabalhadores deverão apresentar os seguintes documentos:

– Identidade, carteira de habilitação ou passaporte;

– Comprovante de residência ou Declaração da Prefeitura;

– Carteira de Trabalho;

– Cartão do Cidadão (opcional).

BOLSA FAMÍLIA

– Cartão social e senha ou Documento de identificação;

Nos casos em que o beneficiário tenha perdido o cartão e documentos de identificação, poderá sacar o benefício mediante apresentação de Declaração da Prefeitura.

*O Cartão Social (Cartão do Cidadão) facilita o recebimento do FGTS, Bolsa Família, Seguro Desemprego, e outros benefícios, permitindo o saque nas Lotéricas, Correspondentes CAIXA Aqui ou autoatendimento no limite de até R$ 1.000,00.

SERVIÇO

CONTA PARA DOAÇÃO

Conta da Defesa Civil – RJ
Banco: Caixa Econômica Federal -104
Agência: 0199
Operação: 006
Conta: 2011-0
CNPJ: 42.498.717/0001-55

Outras informações: SAC Caixa (0800 726 0101)

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Breve comentário sobre a eleição de Dilma

O Brasil terá a primeira presidenta da sua história. A petista Dilma Rousseff foi eleita, com aproximadamente 56% dos votos do eleitorado nacional. Nos últimos dias, ouvi diversos comentários sobre o pleito, participei de uma série de bate-papos sobre o assunto. Muita gente questionando o papel de Dilma, afirmando ser ela desconhecida e inexperiente. Ouvi sobre a falta de carisma, sobre o receio de que ela poderia afundar o País. Ouvi também críticas à população, sobre o equívoco que muitos estavam cometendo ao achar que, votando em Dilma, estariam votando em Lula.

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>> Veja os resultados do 1º e 2º turnos, geral e por região
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Não participei diretamente da cobertura de eleições este ano. Como jornalista, minhas atribuições neste período passaram longe do acompanhamento do pleito. Como cidadã, conversei muito e dividi opiniões neste momento de mobilização política. Fiz questão de pensar a respeito do assunto, de tentar minimamente entender o contexto histórico de mudanças que estamos presenciando. Num distante amanhã (quando tudo isso for atropelado pelo passar do tempo), estarão muitos levantando teses sobre os últimos anos de transformações políticas. É o efeito do passado.

A meu ver, quando a população decidiu dar um basta no reinado direitista em 2002, ao eleger Lula, não se sabia muito bem o que seria o governo petista. Claro que Lula fez promessas tentadoras durante a campanha, mas nós não sabíamos quem, de fato, era o político Lula. Imaginávamos o que esperar de um Governo de esquerda, por todas as ideias disseminadas nas campanhas, mas, na prática, precisamos pagar para ver. Quando criticam o fato de a população colocar no poder uma desconhecida, me lembro muito claramente de que com Lula fizemos a mesma coisa. Em 2002, assumimos o risco de ter um Governo que prometia muito, mas que nunca havia assumido o poder. Até porque o primeiro cargo político de Lula fora a Presidência da República.

Muitos vão questionar que é diferente. Que Lula já havia concorrido à Presidência em diversas oportunidades (1989, 1994, 1998, 2002 e 2004). Que ele tem uma história de luta social; que fora presidente do Partido dos Trabalhadores; que participou da assembleia constituinte responsável pela elaboração da Constituição Federal de 1988; que embora não tivesse assumido nenhum cargo eletivo, tinha a vivência política a seu favor. E eu concordo que tudo isso tenha sido relevante para a formação do político Lula. E é mesmo diferente votar em Lula e votar em Dilma. São pessoas diferentes, não é? Não haveria como ser igual. Não existia a menor possibilidade de ser igual.

Mas o que quero dizer com toda essa discussão é que o voto em Dilma significa a vontade nacional de manter uma situação. Significa que o povo, de alguma maneira, aprovou a forma de condução gerenciada por Lula. Mesmo com o escândalo do mensalão estourando no governo dele, mesmo com o caso Erenice, só para exemplificar, a população admitiu, nas urnas, preferir a esquerda no poder. Votar em Dilma, no meu entendimento, tem a ver com a vontade de que a liderança do País continue na linha desenvolvida por Lula. Nossa opção foi correr mais um risco, foi votar acreditando que Dilma vai manter, na essência, o modelo de Governo de Lula.

Não, não acho que a população votou em uma desconhecida. Acho que a população votou em uma ideologia, ainda que fragilizada. É o voto de confiança.

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O que Dilma já fez?*
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>> Militou na Polop (Organização Revolucionária Marxista – Política Operária).
>> Integrou o Colina (Comando de Libertação Nacional), movimento adepto da luta armada.
>> Recebeu treinamento de guerrilha, embora não tenha participado de ações armadas
>> Foi presa em São Paulo e ficou detida na Oban (Operação Bandeirantes), onde foi torturada. Foi condenada a 6 anos e 1 mês de prisão, além ter os direitos políticos cassados por dez anos. Conseguiu redução da pena junto ao STM (Superior Tribunal Militar).
>> Formou-se em Economia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), sendo demitida da FEE (Fundação de Economia e Estatística), órgão do governo gaúcho, após ter seu nome incluido em uma lista de “subversivos”.
>> Atuou no governo do Rio Grande do Sul, nas secretárias da Fazenda e de Energia, Minas e Comunicações, e nos governos de Alceu Collares (PDT) e Olívio Dutra (PT).
>> Fez campanha para Leonel Brizola (PDT), candidato a presidente; no segundo turno, apoiou Lula (PT). Desfiliou-se do PDT em 2001, quando entrou no PT.
>> Assumiu o cargo de Ministra de Minas e Energia do governo Lula.
>> Se tornou ministra-chefe da Casa Civil no lugar de José Dirceu.
>> Foi indicada pelo presidente Lula como gestora do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
>> Foi eleita a primeira mulher presidente do Brasil.

*Fonte: UOL

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PS: Não estamos defendendo nenhum posicionamento político aqui. A intenção deste post é debater um ponto considerado relevante durante as discussões a respeito da sucessão presidencial.
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Artigo: A comunicação convergente e os mitos da nova tecnologia

Hoje me aconteceu uma coisa engraçada no trabalho. Um colega, que sabe que sou editora de internet e blogueira, me mandou um scrap pelo nosso “msn corporativo”, me pedindo para ajudá-lo a entrar em uma comunidade virtual. Expliquei como funcionava e para que servia a comunidade em questão e ele ficou bastante animado com a possibilidade de trocar informações com pessoas desconhecidas e de fora de Salvador sobre a sua área de cobertura jornalística. Coincidentemente, ao chegar em casa, encontrei no meu email o texto abaixo, escrito pelo também jornalista Gustavo Schor. Coincidências não existem, diriam os místicos, e por isso, trago o artigo de Schor aqui para o blog, para ajudar a esclarecer quem, assim como o meu colega, está entrando no universo das comunidades on line pela primeira vez. As reflexões – lógico! – servem também para quem já é “rato de internet”. Ao menos para mim, é sempre bom refletir sobre a nossa cultura pós-contemporânea e em permanente conexão. Aproveitem as lições!

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**A comunicação convergente e os mitos da nova tecnologia

*Gustavo Schor

Redes sociais não existem. Ou, melhor, existem desde sempre. Pelo menos desde que os primeiros australopitecos estabeleceram relações afetivas e conseguiram demonstrar isso de maneira objetiva, segundo códigos que puderam ser apreendidos pelo grupo e reproduzidos sistematicamente. Talvez mesmo antes, o “elo perdido”  já pudesse interagir – racionalmente – com os de sua espécie e com outras entidades do mundo físico.

O que não há é o advento da “rede social” enquanto decorrência do avanço tecnológico, das plataformas de troca de dados por meio dos sistemas digitais online. Esta definição, que internacionalmente consagrou o fenômeno dos espaços virtuais agregadores de pessoas (ou perfis) e que proporcionam a interação remota entre elas, é nada mais do que o exercício da capacidade humana do relacionamento, só que agora em um novo terreno midiático.

Claro que o Twitter, o Facebook, o Orkut e similares só foram possíveis por conta do amadurecimento tecnológico dos meios de comunicação. Mas o fato é que este avanço configurado no aumento do espectro de possibilidades gerado pela internet não é um acontecimento social – no sentido de exprimir o significado sociológico de relacionamento – mas simplesmente um amplificador de uma característica inerente aos seres humanos: comunicar e estabelecer relações de reciprocidade entre si e com as coisas do mundo.

Chamar estas plataformas de comunicação de “redes sociais” é, portanto, um pouco de exagero. Sem dúvida elas se prestam ao que trazem na nomenclatura, proporcionar o relacionamento entre pessoas. Mas não são, definitivamente, redes sociais: são, sim, espaços virtuais para o interação daqueles que utilizam tais meios como forma de encontrar outros membros do mesmo serviço. Ou seja, são mais um ambiente para colocar em prática o desenrolar, a evolução e constante modificação dos embates psicossociais dos integrantes destas redes – que não são tecnológicas, mas humanas.

E esta interação acontece nestes espaços, assim como acontece na rua, em supermercados, nas escolas, no trabalho. A internet criou apenas mais um palco para que pessoas encontrem outras. Certamente este novo campo tem suas especificidades e regras que permitem a ordenação semântica das mensagens trocadas e do relacionamento ali travado. Mas o mesmo acontece com todos os outros espaços da prática social.

No trânsito, por exemplo, precisamos interpretar um farol vermelho como o comando para parar; na internet, em algumas destas plataformas mencionadas, se eu não clicar em “adicionar contato”, não será possível dizer “oi” para a pessoa com quem quero me comunicar. Se não parar ao sinal vermelho, posso causar um acidente ou então receber uma multa; se enviar uma mensagem a um membro do Orkut sem adicioná-lo como contato e sem ter a certeza de que “tenho este direito”, posso ser ignorado ou até bloqueado por aquele a quem endereço a mensagem.

Existem milhares de possibilidades em um e outro sistema. O ponto é que cada um deles tem seus mecanismos de interação predeterminados. E todos que compartilham daqueles modelos devem seguir as respectivas estruturas de significação a fim de que seja possível a interação entre os membros.

O nome do meio, todavia, pouco importa. Chamar o Twitter de “rede social” não interfere na finalidade ou nas conseqüências de seu uso. Este exercício retórico, no entanto, se presta a uma análise mais cautelosa dos mitos que permeiam o estabelecimento das plataformas de comunicação e seu estudo.

A primeira conclusão a que se pode chegar é que as tais redes sociais não são em si um índice de evolução tecnológica (embora dependam dela, assim como dependeram todas os outros artefatos que suportam a comunicação, como o telégrafo e o telefone). São, em verdade, um item importante que denota a evolução dos mecanismos de comunicação.

O avanço da tecnologia proporciona a criação de novos braços, de novos tentáculos para a interação humana e amplificam imensamente a capacidade de profusão e absorção de informação. E seu o impacto não é sobre a tecnologia, mas sobre as estruturas de comunicação.

Em seu livro Cultura da Convergência, Henry Jenkins descreve de maneira muito didática e instigante este fenômeno. Seu argumento principal se baseia no rompimento de uma dos mais importantes lendas que circundam o progresso tecnológico, que é o das novas plataformas de comunicação suplantando as antigas. Jenkins tem uma visão absolutamente pluralista e propõe que, diferente das profecias da extinção dos meios, o que deve acontecer é a convergência multimidiática dos mecanismos. Daí, conforme seu raciocínio, o estabelecimento de novos paradigmas de comunicação e a reinvenção dos suportes de mídia de maneira complementar e proporcionando novas significações técnicas e socioculturais.

Ou seja, ele entende que a televisão não vai acabar por conta da internet, assim como a internet não vai inventar um novo modelo de comunicação em vídeo: o acoplamento das duas propostas vai criar uma terceira via, com a possibilidade de novas ferramentas e de mecanismos de interatividade. E isso, por sua vez, deve reconfigurar a maneira pela qual as pessoas se apropriam da comunicação em vídeo, vai determinar um novo modelo de raciocínio comunicacional e que, por fim, vai gerar impactos na economia, na arte, nos modos de consumo e no relacionamento entre pessoas e o mundo como um todo.

Como explica Jenkins, “a convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento.”

Na apresentação do mesmo livro, o produtor Mark Warshaw nos traz outra reflexão sobre a mudança de paradigma no consumo de informação e entretenimento. E ironiza o discurso apocalíptico dos entusiastas das tecnologias midiáticas (aqueles que entendem o avanço da mídia enquanto tecnologia, não como fenômeno determinante das relações sociais): “O comercial de 30 segundos morreu. A indústria fonográfica morreu. As crianças não assistem mais à televisão. As velhas mídias estão na UTI. Mas a verdade é que continuam produzindo música, continuam veiculando o comercial de 30 segundos, um novo lote de programas de TV está prestes a estrear, no momento em que escrevo estas linhas – muitos direcionados a adolescentes. As velhas mídias não morreram. Nossa relação com elas é que morreu. Estamos numa época de grandes transformações, e todos nós temos três opções: temê-las, ignorá-las ou aceitá-las.”

O interessante da observação de Jenkins é a paulatina reinvenção dos meios. Ele fundamenta seu raciocínio na relação entre três conceitos basais da comunicação contemporânea, que pautam toda a avaliação sobre os casos práticos apresentados em sua obra: a convergência dos meios, a cultura participativa e a inteligência coletiva.

Por convergência das mídias, Jenkins toma a expressão da informação em múltiplos suportes. Ele dá um exemplo bastante pitoresco: a associação de Osama Bin Laden com um personagem de Vila Sésamo, decorrente da brincadeira de um jovem norte-americano. A montagem feita pelo adolescente percorreu o mundo em diversos formatos e com diferentes finalidades. Foi descoberta na internet por um militante islâmico que, sem conhecer o verdadeiro sentido da brincadeira e mesmo o tal personagem da TV, estampou a imagem criada pelo americano em faixas de protesto. Tais cartazes foram filmados pela CNN e voltaram ao ocidente em forma de matéria jornalística transmitida pela televisão. Os criadores da série Vila Sésamo execraram a ligação indevida do personagem com o terrorista e ameaçaram entrar na justiça (sabe-se lá contra quem).

Cultura participativa, conforme o professor Jenkins, é a interação dos atores sociais envolvidos no processo de comunicação, como emissores e receptores das mensagens e atuando em papeis distintos, em diferentes situações – e variando esta atuação indefinidamente tanto quanto assumem diferentes papeis sociais. É o caso de um executivo de uma empresa, que em determinado momento é telespectador, noutro, formador de opinião, num terceiro, pai de família e que interage com a professora de seus filhos numa reunião escolar. Esta professora também é mãe, tem seus filhos na mesma escola (e são colegas dos filhos do executivo), e consumidora crítica, quando, em dado momento, posta na internet comentários sobre um produto que, por acaso, é a marca líder da empresa na qual o pai de seu aluno é diretor de marketing.

Finalmente, se apropria do termo “inteligência coletiva”, cunhado pelo teórico francês Pierre Levy, para definir a malha amorfa de informação e conhecimento que é resultado da confluência do pensamento e da participação de muitas pessoas, em ambientes diversos e com propósitos não necessariamente relacionados. É o grande “banco de dados” coletivo que possibilita o armazenamento e a troca de informação infinita sobre qualquer tema em qualquer lugar. Ele explica que isso acontece porque ninguém pode saber tudo: cada um de nós sabe alguma coisa. Juntando-se estas peças temos a inteligência coletiva. A internet é o advento da comunicação capaz de elevar este sentido a sua milésima potência.

Unindo-se o tripé proposto por Jenkins, temos as bases da comunicação de hoje, num mundo guiado pela renovação infinita dos meios e dos conceitos. E aqui volto ao assunto das redes sociais. Não seriam elas muito mais mecanismos convergentes de interação do que propriamente redes? As ditas redes sociais, na verdade, são alguns dos alicerces que sustentam este novo modelo de comunicação.

Os Twitters, Facebooks e Orkuts, são, sim, as expressões mais nítidas e propositoras da realidade mais atual da convergência midiática. É aí que está a beleza e a riquíssima contribuição destas plataformas: ser o ambiente que proporciona o relacionamento humano em perspectiva multimídia, com a possibilidade de criação e reconfiguração dos discursos e da própria cultura num plano mediado em constante transformação. É o espaço da revisita, da releitura, da paráfrase de si e dos outros e o resultado da ação de muitas mãos.

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*Gustavo Schor é gerente de Comunicação do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, é jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, especialista em Jornalismo Econômico pelo Departamento de Ciência Política da Universidade de Brasília e pós-graduando em Gestão Integrada da Comunicação Digital pelo Núcleo Digicorp da ECA/USP. Trabalha com meios online desde a primeira grande bolha da internet, no final da década de 90, com atuações em Agência Estado, Terra, UOL, Reuters e outros veículos da imprensa digital.

**Texto encaminhado ao blog para publicação pela Cia da Informação.

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