*Artigo: Histórias do Natal

Nesta quinta-feira, em que muitos estaremos reunidos em família celebrando o Natal, Conversa de Menina publica um artigo escrito pelo professor João Luis Almeida Machado, doutor em educação pela PUC-SP e editor do portal Planeta Educação. O texto do professor é histórico, para nos lembrar que tudo tem uma origem e nos fazer refletir sobre a importância de manter certas tradições. Ser apegado à tradição não quer dizer ser intolerante, nem preconceituoso e nem retrógrado. É possível celebrar uma festa como se fazia há dois mil anos, mas sem perder de foco que o mundo muda, evolui. Natal é ceia, é reunião de família, é panetone, é troca de presentes, é amigo secreto, é árvore enfeitada, é mico no escritório, é shopping cheio, mas é mais um momento de reflexão. E para refletir, você nem precisa necessariamente ser católico ou de qualquer outra religião. E tampouco precisa esperar o Natal chegar. A festa é o pretexto, porque no resto do ano estamos tão atribulados, tão cobertos de rotina, que esquecemos de olhar para nós mesmos, nossos amigos, nossos pais, filhos, parceiros (as), o vizinho de porta ou calçada. O sentimento do Natal, pelo menos para mim, devia perdurar para além do dia 25 de dezembro ou da virada do Ano Novo. Devia nos acompanhar diariamente no que tem relação com a solidariedade, com a tolerância e o respeito mútuo. Se na sua casa não vai ocorrer uma ceia farta hoje, não tem problema, o que tiver na sua mesa vai ser muito saboroso, desde que os sentimentos de quem se senta ao redor dela sejam bons, honestos e limpos como a consciência de uma criança. Dar e ganhar presentes é sempre maravilhoso, quem não gosta? Mas que o nosso maior presente seja sermos felizes e fazermos felizes aqueles que estão ao nosso redor. Desejamos a todos vocês que nos acompanharam nesta jornada, no primeiro ano de vida do Conversa de Menina, um Natal realmente feliz, tão feliz que faça brilhar ainda mais aquela luz interior que todos carregamos na alma e que sempre reflete no olhar. Um grande beijo!

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As origens do Natal

**João Luís Almeida Machado

Muitas das tradições do Natal surgiram antes do nascimento de Cristo. Práticas como a de dar presentes, entoar cantigas indo de casa em casa (muito comum nos Estados Unidos), a realização de ceias e as próprias procissões religiosas são tão antigas quanto a civilização mesopotâmica.

Alguns povos da Mesopotâmia, por exemplo, acreditavam que seus deuses (entre os quais o principal era Marduk) lutavam contra as forças do Caos. Para auxiliá-los no confronto com o Mal, realizavam festas que duravam aproximadamente 12 dias, justamente na virada do ano, período que coincide com a época do Natal.

Festas semelhantes também eram realizadas na Babilônia e na Pérsia. A troca de papéis entre escravos e senhores era parte comum dessas festividades. Isso nos leva a lembrar a cerimônia da lavagem dos pés realizada por Jesus e seu compromisso com os pobres e humildes.

Acender fogueiras e reunir familiares e membros da comunidade ao redor das mesmas para espantar os maus espíritos era, por sua vez, prática comum entre os povos da Escandinávia. Um dos símbolos dessa celebração consistia na prática de amarrar maçãs às árvores próximas do local onde se acendiam as fogueiras. Talvez esse seja o ‘ancestral’ mais distante daquilo que hoje conhecemos como árvore de Natal.

Presépio é um dos dos símbolos do Natal para os Cristãos

A reminiscência mais aproximada das festividades do Natal cristão, de acordo com estudiosos é, no entanto, a festa romana conhecida como Saturnália. Essa proximidade se dá por conta da época do ano em que era realizada (entre o final do mês de dezembro e os primeiros dias de janeiro). Essa festa incluía grandes refeições, visitas a parentes e amigos e a troca de presentes. Além disso, os romanos decoravam árvores com velas acessas e faziam guirlandas para enfeitar suas casas.

Uma das datas mais celebradas ao redor do mundo, o dia 25 de dezembro, não é, de acordo com estudiosos, aquela em que realmente nasceu Jesus Cristo. Uma das evidências utilizadas para explicar esse fato está nos relatos de Lucas, da própria Bíblia. Por eles ficamos sabendo que pastores estavam trabalhando nos campos durante a noite em que Jesus nasceu. Ao identificarem as condições climáticas da região onde ocorreu o nascimento de Cristo e perceberem que no mês de dezembro faz muito frio durante as noites, esses pesquisadores concluíram que seria pouco provável que os pastores estivessem fora de suas casas, desabrigados. O mais provável, de acordo com esses estudos, é que o nascimento de Jesus tenha ocorrido entre março e maio.

Outra polêmica diz respeito ao ano de nascimento de Cristo. Há controvérsias entre os historiadores. A única certeza é que o advento do messias cristão não se deu no ano I como acreditam milhões de fiéis ao redor do planeta. Os estudiosos fixam como data mais provável para esse acontecimento algum período entre os anos VI e IV a.C.

A figura conhecida mundialmente como Papai Noel (ou Santa Claus, em inglês) tem como base um bispo do século IV, Nicolas de Mira (atual Turquia), reconhecido por sua extrema bondade e carinho, especialmente pelas crianças. Através de suas práticas de ajudar os menos favorecidos e de doar seu tempo através de ações que beneficiavam a todos, sempre com boa vontade, acabou cunhando o modelo que todos nós atualmente reconhecemos através de cartões, publicidade, televisão, cinema.

A versão americana do Papai Noel, importada da Europa, seria derivada de uma lenda holandesa, trazida para o Novo Continente pelos colonos que se estabeleceram em Nova York ainda no século XVII. A consolidação dessa imagem se deu, porém, somente a partir do século XIX, com a publicação do poema “The Night Before Christmas” (A Noite Antes do Natal), de autoria de Washington Irving.

A imagem do bom velhinho conhecida por todos foi finalmente popularizada em todo o mundo a partir de um modelo criado na segunda metade do século XIX pelo desenhista Thomas Nast, da revista Harper’s. Foi ele quem deu vida, através de seus desenhos, à oficina de Papai Noel no Pólo Norte. Os modelos que conhecemos atualmente derivam de seus trabalhos e foram francamente influenciados por versões criadas na década de 1930 para ilustrar propagandas.

*Texto encaminhado ao blog pela Ex-Libris Comunicação Integrada

**João Luís Almeida Machado é Editor do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br) e Doutor em Educação pela PUC-SP.

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Artigo: Os adultos merecem ouvir contos de fadas

A série sobre a II Guerra está chegando ao fim. Resta apenas um post para publicar, aquele que lista filmes e livros para quem tem interesse em aprofundar seus estudos sobre o conflito e suas consequências na contemporaneidade. Mas hoje, ao invés de concluir esse último episódio (no post abaixo vocês encontram os links de todas as reportagens da série), abrimos espaço aqui no blog para publicação de um artigo da jornalista e mestranda em letras, Rossane Lemos. Ela nos traz uma reflexão muito útil sobre a importância dos adultos ouvirem contos de fadas. Confiram, pois vale a pena.

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Os adultos merecem ouvir contos de fadas

Por Rossane Lemos*

loboOs Irmãos Grimm se dedicaram a registrar os contos da forma mais pura possível, recém-saída da boca do povo, em uma linguagem que se assemelha ao vocabulário das crianças. Os editores do livro Kinder – und HausMärchen[1] destacam que os autores:

Se afastaram da tendência de seus contemporâneos, de transformar os contos numa representação (Spiel), na qual se desencadeia um individualismo romântico: eles permanecem  fiéis ao ritmo escutado, que  perceberam na boca dos falantes do povo. Por isso os contos de Grimm têm este tom, da maior intimidade popular; por isso eles (os contos) têm o infantil dentro de si e se deixam contar com tanta naturalidade para as crianças. (GRIMM, vol. II, p. 589)

Entretanto, as histórias se deixam contar não apenas para as crianças. As histórias, os contos maravilhosos, de fadas, da carochinha entre tantos fazem parte da vida da maioria das pessoas: crianças ou adultos; que podem sonhar e entrar na magia dos contos de fadas embalados pela voz doce de alguém que acredita no poder da palavra.

Hans Cristian Andersen falou com as crianças com o coração. Os textos traduziam o sofrimento principalmente destas e reequilibravam as injustiças sociais na esfera do maravilhoso. Mas porque apenas as crianças precisam de palavras cuja essência fale ao coração? Quantos adultos sentem-se tal qual “O patinho feio”, “O soldadinho de chumbo”, “A pequena sereia”?

pinoquioCom o avanço do racionalismo cientificista e tecnológico, os contos de fadas e as narrativas maravilhosas passam a ser vistos como ‘histórias para crianças’. Há um novo maravilhoso a atrair os homens: aquele que eles descobrem não só no próprio real (transformado pela máquina), mas também em si mesmos, ou melhor, no poder da inteligência humana. (COELHO, 2000, p. 119)

Alguns desatentos projetam a ação dos contos na produção de efeitos somente para as crianças, destacando uma face dedicada ao aspecto lúdico da fantasia. Entretanto, ao observar estas narrativas com maior profundidade, pode-se ampliar as possibilidades para uma ação efetiva em todos os públicos. As crianças têm naturalmente um impulso espontâneo que facilita a recepção das histórias por conta de serem menos moldadas pela sociedade materialista – são elas que conseguem aceitar facilmente o aspecto maravilhoso dos contos. Costa (2006, p. 94) refuta a ideia de que histórias são para crianças apenas:

Há, contudo, uma omissão imperdoável nessa crença de que apenas as crianças gostam e devem ouvir histórias. Os adultos recebem com igual prazer, encantamento e curiosidade as histórias adequadas à sua visão de mundo e à sua experiência de vida. Nesse sentido, contar histórias é também um ato de congraçamento, que irmana o público, conquistado pelo desempenho do contador e pela força do texto escolhido.

Bruno Bettelheim afirma que os contos de fadas ajudam a criança na difícil tarefa de encontrar um sentido à vida, e os adultos também. Para o autor “nada é tão enriquecedor e satisfatório para a criança, como para o adulto, do que o conto de fadas folclórico. […] através deles pode-se aprender mais sobre os problemas interiores dos seres humanos”. (1997, p. 13)

Joseph Campbell (2008) acredita que a mitologia desempenha várias funções, sendo que uma delas é, ao mesmo tempo, psicológica e pedagógica. Para ele, o mito precisa ser o companheiro do ser humano em todas as fases da vida, por exemplo, como instrutor das crianças e como preparador para a morte dos idosos.

Em entrevista ao jornal O Globo, do Rio de Janeiro, Couto enfatiza o valor de ouvir histórias e confirma que estas não são somente para crianças:

fada6Uma certa racionalidade nos fez envergonhar deste apetite, atirando as histórias para o domínio da infantilidade. Essa estigmatização da pequena história está presente também na literatura: veja-se a forma como se secundariza o conto em relação ao romance. O advento e a hegemonia da escrita são também responsáveis por essa marginalização da oralidade. (p. 6)

Não é possível apontar ao certo – a sociedade ou o próprio ser humano – o responsável por esse rompimento que rouba dos adultos esta experiência imaginativa e lúdica. Os adultos são levados a abrir mão dos sonhos, atrelando suas vidas na rudeza da rotina e deixando de viver uma essência que, ainda assim, não os abandona. Tornar-se adulto perece ser o reconhecimento de que algumas coisas são impossíveis. Neste sentido “o conto pode manter viva essa chama de familiaridade com o desconhecido, porque lá as experiências inexplicáveis fazem sentido” (MACHADO, 2004, p. 28).

Referências:

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

CAMPBELL, Joseph. Mito e transformação. São Paulo: Ágora, 2008.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil. São Paulo: Moderna, 2000.

COSTA, Marta Morais da. Mapa do mundo: crônicas de aprendiz. Belo Horizonte: Leitura, 2006.

COUTO, Mia. O Globo, Rio de Janeiro, 30 jun. 2007. Caderno Prosa & Verso.

GRIMM, die Brüder. Kinder – und HausMärchen. Manesse Verlag. Zürich: Conzett & Huber, s/d. 2 vols.

MACHADO, Regina. Acordais – fundamentos teórico-práticos da arte de contar histórias. São Paulo: DCL, 2004.

Rossane Lemos é jornalista, professora universitária e mestranda em literatura*.

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Leia outros posts sobre o tema:

>>Mil faces de Alice no país da diversidade

>>Livros que todo adulto precisa ler

>>Cinderela boazinha?!

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Santo Amaro em evidência

Santo Amaro da Purificação é uma das cidades mais místicas do recôncavo baiano.  E não digo isso porque é terra de Caetano Veloso e Maria Bethânia. Aliás, os dois grandes artistas são o que são porque nasceram e se criaram num caldo cultural que mistura a religiosidade afro-brasileira, tradições católicas, cultura popular e história de resistência. Pois a cidade, localizada a 72 quômetros de Salvador,  estará em evidência nos próximos dias. Aqui na capital, de hoje até domingo, o Conjunto Cultural da Caixa (Rua Carlos Gomes – Centro) apresenta o espetáculo teatral Besouro Cordão de Ouro, sobre a vida de um dos capoeiristas mais famosos de Santo Amaro, um homem tão peculiar que se não houvesse testemunhas jurando que ele existiu, passaria facilmente por lenda e das boas, daquelas de ouvir ao pé da fogueira. Além disso, de 13 a 17 de maio, a cidade do recôncavo celebra os 120 anos do Bembé do Mercado, festa criada em 1889 para comemorar a abolição da escravatura. Abaixo, informações sobre o espetáculo e a história do Bembé:

Besouro Cordão de Ouro

Cena do espetáculo Besouro Cordão de Ouro
Cena do espetáculo Besouro Cordão de Ouro

Manoel Henrique Pereira, apelidado Besouro Cordão de Ouro, nasceu em Santo Amaro no final do século XIX. Ficou famoso graças ao talento nas rodas de capoeira tanto na cidade natal quanto no Cais Dourado, em Salvador, onde desembarcava dos saveiros que cruzavam a baía de Todos os Santos, em busca de um bom desafio. Sua fama de valente o transformou em lenda viva. Sendo que o romance Mar Morto, de Jorge Amado, ajudou a consolidar a fama do lutador. Além de capoeirista, Besouro também era poeta, boêmio, tocador de violão dos mais afamados e compositor de chulas e sambas-de-roda.

O espetáculo Besouro Cordão de Ouro, que aporta em Salvador neste fim de semana, é produzido por um grupo carioca, sob direção de João das Neves. O texto, as músicas e letras das canções entoadas na peça  são de autoria de Paulo César Pinheiro. A história de Besouro, também chamado Mangangá nas rodas de capoeira, é contada a partir dos atores que interpretam outros mestres famosos do ínicio do século XX como Bimba, Pastinha, Budião, Dora das Sete Portas e a mítica Rosa Palmeirão, também personagem de Mar Morto e que, diz a lenda, foi criada por Jorge Amado a partir de Maria Doze Homens, uma capoeirista valente do Cais Dourado, que derrubava qualquer um que se interpunha em seu caminho, fosse macho ou fêmea. Maria Doze Homens, por sua vez, é confundida na memória da cultura popular baiana com Maria Felipa de Oliveira, uma mulher que, na Guerra da Independência da Bahia, em 1823, teria liderado outras mulheres na guerrilha contra os portugueses.  Prometo contar a história dela aqui no blog, em outra ocasião.

SERVIÇO:

Espetáculo: Besouro Cordão-de-Ouro

Onde: Espaço Caixa Cultural

Rua Carlos Gomes, 57 – Centro – Tel: 3421-4200

Quando: 8 a 10 de maio, às 20h

Ingresso: Um quilo de alimento não-perecível, trocados pelo ingresso a partir das 14h do dia do espetáculo

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Bembé do Mercado

Caetano deve participar de mesa redonda durante o Bembé
Caetano deve participar de mesa redonda durante o Bembé

A origem do Bembé do Mercado remonta ao dia 13 de maio de 1889, no aniversário de um ano da abolição. Na ocasião, os terreiros de Candomblé de Santo Amaro e região se reuniram para fazer uma festa de três dias e três noites, tocando para os orixás e em memória aos antepassados que pereceram na luta pela liberdade. Durante anos, o Bembé foi erroneamente associado a uma homenagem à princesa Isabel, mas a festa de fato, marcava a resistência dos adeptos do Candomblé às perseguições a sua religião e também era uma forma de mostrar que existia um contingente negro que havia saído das senzalas, mas ainda não havia alcançado lugar de direito na sociedade. Mesmo com as perseguições o Bembé continuou acontecendo. Em alguns anos, limitava-se aos terreiros, em outros, acontecia na praça do mercado municipal da cidade. A partir do final dos anos 90, houve empenho de lideranças negras e religiosos do Candomblé, além de apoio de universidades e políticos, para que o Bembé fosse revitalizado. A palavra Bembé é uma corruptela de Candomblé.

Este ano, cerca de 30 terreiros irão se unir para realizar a festa dos 120 anos do Bembé, de 13 a 17 de maio, na praça do mercado. Além dos rituais religiosos, ocorrerão também apresentações de maculelê, capoeira, samba de roda e a encenação do Nego Fugido, folguedo que tem origem no distrito santoamarense de Acupe e representa a fuga de escravos das fazendas de açúcar da região e a implacável caçada empreendida pelos capitães do mato e feitores na tentativa de recapturá-los.

A festa de 2009 renderá homenagens ao escultor e museólogo Emanoel Araújo e a sambista santoamarense Edith do Prato, morta no início do ano. A programação prevê também uma mesa redonda, que deve ocorrer na quarta-feira, 13, na abertura do evento, sobre cultura popular, reunindo o Ministro da Cultura Juca Ferreira, o cantor Caetano Veloso e a folclorista Maria Mutti; além de um show de J. Velloso e Ulisses Castro.

SERVIÇO:

O quê: Bembé do Mercado

Local: Mercado de Santo Amaro da Purificação – BA

Data: 13 a 17 de maio

Horário: quarta-feira (04h alvorada, 18h abertura), quinta-feira e sexta-feira (18h), sábado (10h)

Como chegar: Saindo de Salvador, pegar a BR-324.  São 59 quilômetros até o entroncamento da BA-026, em direção a Santo Amaro, e mais 13 quilômetros até a sede do município.

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Cinderela boazinha?!

cinderela_blog

*Texto da jornalista Andreia Santana

E por falar em histórias infantis que adultos devem ler e histórias escritas originalmente para adultos, mas que viraram clássicos para crianças, lembrei da Cinderela. Divido com vocês o pouco que pesquisei e o que aprendi com a minha irmã.

Esqueçam a fada madrinha. Também não tem carruagem de abóbora e ratinhos que se transformam em cavalos brancos de crina esvoaçante. Animais cantando e tudo mais, só no desenho da Disney. A Cinderela dos Irmãos Grimm, – a história, de origem popular, também tem uma versão de Charles Perrault -, não era mocinha chorona, esperando o milagre cair do céu. Que nada, a heroina original fez o próprio destino, usando um galho de árvore. Confiram neste trecho da obra:

Um dia, quando já está sofrendo com sua madrasta e suas irmãs, ela pede para o pai trazer um galho de árvore. Ela planta este galho de árvore no túmulo de sua mãe e o galho se transforma numa árvore. Cinderela vai todos os dias rezar no túmulo da mãe e aparece um pássaro branco que atende seus pedidos. Quando aparece a oportunidade do baile, Cinderela diz para as irmãs que quer ir… e as irmãs, de maldade, despejaram uma bacia de lentilhas no meio das cinzas do borralho (algo assim como uma lareira) e disseram que ela tinha que juntar todos os grãos. Ela pede ajuda para as pombinhas e aves do céu, que ajudam a Cinderela. Quando a madrasta e as irmãs saem para ir ao baile, a Cinderela vai até o túmulo da mãe, sacode a árvore e lá o pássaro branco joga um vestido lindo e um par de sapatinhos. Ela vai ao baile três vezes, faz o maior sucesso, mas sempre foge para o príncipe não descobrir onde ela mora. Mas na terceira noite, o príncipe joga piche (um tipo de cola) na escada e ela perde um sapatinho, que fica grudado no piche. Quando o príncipe foi procurar a moça cujo pé coubesse no sapatinho, a primeira irmã da Cinderela corta o dedão para caber no sapatinho… mas logo começa a cair sangue do sapato e ela é desmascarada. A segunda corta um pedaço do calcanhar, mas o sapato também começa a sangrar… e o príncipe devolve a moça. Finalmente, se descobre que é a Cinderela a dona do sapatinho.

O final da versão de Cinderela dos Irmãos Grimm também é violento:

No casamento da Cinderela, as pombas que a ajudaram, furam os olhos das irmãs que ficam cegas!

Geralmente, não se conhece esta versão, porque por muito tempo se julgou que continha elementos muito violentos e agressivos para serem contados às crianças.

OUTRAS CURIOSIDADES SOBRE A CINDERELA:

• Charles Perrault era uma figura literária menor na França do século 18. Em 1767 ele publicou Contes de la Mère l´Oie (Contos da Mamãe Ganso), que re-apresentava diversos contos populares como “A Bela Adormecida”, “Chapeuzinho Vermelho” e “Cinderela”. Na história colhida por ele, o rei sentenciou a madrasta e suas filhas a dançarem até a morte usando botas de ferro ferventes (uma forma de tortura popular na Idade Média).

• Existem cerca de 3000 versões do mito de Cinderela. Quase toda cultura ao redor do mundo tem uma: ela é conhecida como “Ye Shen” na China, “Tattercoats” na Inglaterra, “Mareouckla” para os eslavos e Gata Borralheira, no Brasil.

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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