Quem já assistiu ao filme Obrigado por fumar, protagonizado por Aaron Eckhart (as fotos ilustram este post), sabe que a produção de 2006, bastante polêmica na época do seu lançamento nos cinemas, conta a história de um lobista da indústria do tabaco que recebe milhares de dólares por ano para divulgar os “benefícios do cigarro”. Sim, o trabalho do marketeiro, chamado jocosamente de Mercador da Morte no filme, é tentar convencer a sociedade de que cigarro não faz mal. Para isso, são mostradas diversas situações de bastidores da indústria fabricante, inclusive com estudos científicos “sérios” manipulados para desmistificar a ideia de que nicotina é droga, vicia e mata. O filme revela também de que forma a mídia, incluindo o próprio cinema, vêm sendo usada ao longo do tempo para promover uma espécie de way of life de fumantes. Gente bonita, glamourosa, sorridente e com o veneninho entre os dedos, que em nada lembram as deprimentes cenas de gente morrendo de câncer ou bebês abortados, das campanhas do Ministério da Saúde. Recordei o filme, que indico para quem ainda não viu, por causa da matéria abaixo, encaminhada ao blog pela Abead (Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas). O texto fala de como as marcas de cigarro conquistam adeptos cada vez mais jovens, usando para isso estratégias de marketing muito eficientes e até fazendo pesquisa de comportamento para descobrir os gostos e hábitos dos seus futuros clientes (dependentes químicos seria mais apropriado). Vale a pena conferir, aproveitando que esta semana o blog aderiu à campanha da OMS, para meter o dedo na ferida.
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Outros posts no blog contra o cigarro:
>>Prevenção à cegueira x tabagismo
>>Ainda é tempo de falar em mulheres e cigarros
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*Os jovens são o alvo
Para conquistar novos consumidores, a indústria do tabaco aposta em diferentes fórmulas de produtos e publicidade
Festas, baladas, música eletrônica e DJs renomados – o universo jovem é marcado por animação e agito. O estilo das roupas, dos cabelos, a linguagem – cada detalhe busca um conceito e influencia o modo de ser, pensar e agir dos jovens.
A indústria do cigarro sabe que esse público é promissor e que podem ser seus clientes regulares amanhã. “Pesquisas apontam que os tabagistas iniciam o consumo em média aos 15 anos”, explica Stella Martins, coordenadora do Programa de Atenção ao Tabagista do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), órgão da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Com a restrição da propaganda direta do cigarro, a publicidade para o jovem ficou mais sofisticada, com o aprimoramento do uso dos pontos de venda. A aposta passou a ser os chamados pontos de venda “ambulantes”. Nessa nova modalidade de propaganda, as empresas promovem festas e divulgam amplamente sua marca como patrocinadora do evento através do estímulo visual dos logos, modelos e promoters, contratadas pelas empresas, segundo relata a especialista Stella Martins. Na oportunidade, os jovens preenchem cadastros que oferecem canais de comunicação, principalmente via e-mail, para a divulgação de novos eventos e brindes promocionais.
“Em todas essas ações as empresas criam uma imagem positiva junto ao jovem, que acabam por associar o cigarro com diversão e prazer. Também vale ressaltar que a indústria do tabaco realizou uma série de estudos para traçar um perfil detalhado desse público. Descobriu, por exemplo, que o adolescente não gosta do sabor do cigarro quando faz a experimentação, por causa do gosto amargo. Para conquistá-los, então, lançou no mercado uma série de cigarros com aromas diversos, que não por acaso possuem teor mais elevado de nicotina, substância responsável pela dependência”, conta Stella Martins.
Esses e mais dados foram obtidos a partir de documentos secretos, divulgados após uma série de ações judiciais contra as empresas de tabaco nos Estados Unidos. Os relatórios revelam estudos minuciosos e reuniões onde se discutia abertamente táticas para conquistar consumidores. “Até mesmo os aromas e sabores dos cigarros para o público jovem eram estratégicos. O de tutti frute, por exemplo, remetia ao sabor de balas e chicletes, para lembrar a infância”, relata.
Para Stella, evitar essas articulações implica na restrição total da publicidade do tabaco. “Na maioria das províncias do Canadá, mesmo nos pontos de venda os cigarros não ficam expostos ao público, ou seja, o fumante não visualiza nem o cigarro nem a marca. A ausência de estímulo visual tem efeito protetor tanto para o adolescente quanto para quem está parando de fumar, afirma.
*Texto encaminhado pela assessoria da Abead (Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas).