Artes plásticas: Acervo de Hansen Bahia é restaurado

Até o dia 03 de abril, na galeria do ICBA (Instituto Cultural Brasil-Alemanha), no Corredor da Vitória, em Salvador, é possível conferir as xilogravuras e matrizes do acervo de Hansen Bahia, artística plástico alemão radicado no estado, que se estivesse vivo, faria 95 em 19 de abril. As peças em exposição pertencem ao acervo da Fundação Hansen Bahia, situada em São Félix, cidade do recôncavo baiano. Conversa de Menina abre espaço para a história deste artista, que teve recentemente o seu acervo restaurado por iniciativa do governo alemão, e da sua história de amor com a cultura baiana. O texto foi encaminhado pela Frente & Verso Comunicação.

====================================

Exposição celebra os 95 anos de Hansen Bahia

Acervo do artista radicado no recôncavo é restaurado pelo governo alemão

As matrizes apresentadas na Exposição Hansen Bahia 95 anos estavam integradas às paredes da casa localizada na Fazenda Santa Bárbara, São Félix, e faziam parte da intimidade do artista e de sua esposa Ilse Hansen. Todas foram restauradas por meio de um investimento do governo alemão da ordem de R$ 85 mil, conta a curadora da exposição, Lêda Deborah.

“Hansen é um artista impressionante e importante, um presença alemã forte na Bahia e a obra dele tem que ser preservada”, afirma o atual cônsul da Alemanha na Bahia, Hans Jürgen.

Segundo o diretor executivo do Goethe-Institut (ICBA) em Salvador, Ulrich Gmünder, o artista alemão que, ao radicar-se na Bahia, introduziu a xilogravura no estado, merece este apoio. “Para nós, é uma grande honra poder conservar a obra de Hansen. Esperamos que o público aproveite para conhecer melhor as obras dele”, declara Ulrich.

Para o artista conselheiro da Fundação Hansen Bahia, Justino Marinho, “a iniciativa do governo alemão foi bem vinda, porque a obra de Hansen tem um valor muito grande e marca um período importante das artes baianas. Vale destacar que além dos trabalhos de Hansen, foram restauradas obras de outros artistas importantes como Carybé, Mario Cravo, Genaro e outros, que fazem parte do acervo deixado pelo gravador”, declara.

De acordo com o restaurador das matrizes, José Dirson Argolo, o estado de conservação das 22 peças estava muito comprometido. “Nem sempre o artista se preocupa com a manutenção de sua arte. Hansen, por exemplo, utilizou materiais como compensado, que não resiste ao ataque de cupins e infiltrações. Por isso, o processo de preservação é necessário e, neste caso, demandou um trabalho árduo que realizamos em 10 meses”.

O restaurador João Magalhães foi o responsável pelo “conserto” de 56 xilogravuras, sendo 27 da coleção “Navio Negreiro” e 15 da “Via Crucis do Pelourinho”. Entre as demais gravuras restauradas estão: “O diálogo das héteras”, “Portas e janelas”, “Cangaceiro a cavalo”, “Vaqueiro laçador”, “Grande Candomblé”, “Forte de São Marcelo”, “Flor de São Miguel”, “Amigas em vermelho”, “Boi caído” e “Amigas no banho”.  Outras obras de Hansen restauradas foram: “Limão”, “Noé e as pessoas que oravam na popa da arca”, “Batalha das Amazonas”, “São Miguel”, “O cavaleiro, a morte e o diabo” e “Aniversário de Ilse”.

Fundação Hansen Bahia – Instituição cultural e educativa sem fins lucrativos, destinada a colaborar no fomento da produção cultural do recôncavo baiano, o Museu Hansen Bahia foi inaugurado no dia 19 de abril de 1978, dois anos após Hansen Bahia doar seu acervo e criar a Fundação. Segundo o coordenador executivo da entidade, Raimundo Vidal, a fundação assegura a preservação da obra de Hansen Bahia e desenvolve exposições com visitas monitoradas, tanto no Museu em Cachoeira – que em breve terá sua sede própria – quanto na Casa dos Hansen, onde está o Memorial Póstumo, em São Félix, além de realizar exposições temporárias em outras cidades.

“A Fundação possui aproximadamente 12 mil peças do artista alemão, mil de Ilse Hansen, além de muitas outras assinadas por outros artistas. No total, são mais de 13 mil obras de arte. Somando-as aos objetos (mobiliário,instrumentos e acessórios, dentre outros), o acervo total do museu está estimado em 18 mil peças”.

Quem é Hansen Bahia?

Karl Heinz Hansen nasceu em 19 de abril de 1915, em Hamburgo. Foi marinheiro, escultor, poeta, escritor, cineasta, pintor e xilógrafo. Seus primeiros trabalhos artísticos surgiram no início dos anos 40. O homem foi o seu grande tema e a xilogravura – arte tradicional no seu país – a técnica mais utilizada.

O período de iniciação artística coincidiu com o desenvolvimento da gravura alemã e com o começo de vários movimentos artísticos importantes na Europa, a exemplo do expressionismo, ao qual foi fiel em toda sua produção. Autodidata na técnica que lhe garantiu sucesso internacional, Hansen talhava a madeira com precisão e perfeição partilhada por poucos.

Em 1950, deixou a Alemanha e veio conhecer o Brasil. Em São Paulo, trabalhou como artista gráfico na editora Melhoramentos. Cinco anos mais tarde, mudou-se para a Bahia, onde viveu e produziu intensamente. A paixão pelo estado fez com que o primoroso gravador, depois de conquistar reconhecimento internacional, incorporasse o nome da terra e assumisse a assinatura Hansen Bahia.

“Antes de vir para a Bahia era só marinheiro. Quando aqui cheguei, nasci pela segunda vez e tornei-me artista”

Amante da nova terra, Hansen Bahia não se contentou apenas em naturalizar-se brasileiro. Doou à Bahia, especificamente à cidade de Cachoeira, as obras relevantes do seu acervo e criou a Fundação Hansen Bahia, através de testamento, em abril de 1976. Apenas dois meses depois de inaugurar a primeira sede da fundação, o artista faleceu, no dia 14 de junho de 1978, deixando seu legado mais valioso: um enorme acervo de obras de arte e trinta livros publicados.

Serviço:

O quê: Exposição Hansen Bahia

Onde: Galeria do ICBA – Corredor da Vitória

Quando: até 03 de abril; de segunda a sexta-feira das 9h às 18h30 e aos sábados até às 13h.

Entrada franca

Leia Mais

Um passeio pelo acervo do MAM-BA

O Vendedor de Passarinhos, Candido Portinari - Acervo do MAM-BA / Divulgação

O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), na Avenida Contorno, abriu desde a última sexta, dia 18, uma exposição especial, com parte do seu acervo que conta a história dos últimos 50 anos da arte brasileira. São 80 obras restauradas, em mostra que ocupa todos os espaços do Solar do Unhão, dividida em quatro núcleos: Modernistas, Fotografia, Rubem Valentim e Contemporâneos. Uma Linha do Tempo, construída na Galeria Subsolo, contextualiza a história do acervo e do museu, que funciona em um dos complexos coloniais mais bonitos da capital baiana. Quem quiser conferir a riqueza das obras, além de desfrutar da beleza do Solar do Unhão, tem até 28 de março de 2010. Para vocês terem uma ideia da diversidade de obras e das possibilidades de interação da mostra, segue um roteiro enviado ao blog pela assessoria do MAM-BA, detalhando o que ver em casa núcleo:

Cinco Pinturas Modernistas / Casarão (Primeiro Andar)

O primeiro andar do Casarão abriga obras dos cinco maiores modernistas brasileiros representados na coleção: O Touro (Boi na Floresta), 1928, de Tarsila do Amaral; Retrato de Oswald de Andrade e Julieta Bárbara (1939), de Flávio de Carvalho; Retrato (1941), de Di Cavalcanti; Casas (1957); de Alfredo Volpi; e Vendedor de Passarinhos (s/ data), de Cândido Portinari.

Fotografia / Casarão (Primeiro Andar)

A importante presença da fotografia no acervo do Museu é celebrada pelo núcleo que reúne imagens de nomes clássicos como Pierre Verger e Mario Cravo Neto, além de artistas contemporâneos que usam fotografia como Caetano Dias, Luís Braga, Pedro Motta, Milena Travassos e Danilo Barata.

Rubem Valentim / Capela

A Capela do MAM abriga obras da coleção Rubem Valentim, uma das maiores do Museu. Escultor, pintor e gravador, o artista baiano Valentim (1922-1991) criou uma poética única ao desconstruir e geometrizar elementos ligados aos rituais da religiosidade afro-brasileira, transformando-os em um vocabulário simbólico. Autodidata, ele participou do movimento de renovação das artes plásticas na Bahia com Mario Cravo Júnior, Carlos Bastos e outros. A Capela reunirá pinturas, esculturas e serigrafias do artista.

Contemporâneos / Casarão (Térreo)

A produção contemporânea é o foco do núcleo que ocupa o térreo do Casarão. Com pinturas, vídeos, instalações e esculturas de artistas como Efrain Almeida, Brígida Baltar, Regina Silveira, Iuri Sarmento, Vauluizo Bezerra, Gaio Matos, Tatiana Blass, Bené Fonteles, Tonico Portela, Marepe, Ayrson Heráclito, Pazé, Matheus Rocha Pitta, Leda Catunda, Rubens Mano e outros, a mostra ilumina vertentes importantes da arte contemporânea, como a tendência à pintura expandida, além da forma como os artistas locais lidam com referências nordestinas. A mostra é iluminada por trechos do texto em que a curadora pernambucana Cristiana Tejo analisa o núcleo contemporâneo da coleção do MAM.

Solar do Unhão, sede do MAM-BA / Crédito da imagem: Andreia Santana

Linha do Tempo / Galeria Subsolo

A Linha do Tempo reúne e organiza referências cronológicas, biográficas e visuais às histórias entrelaçadas do museu, de seu acervo, dos artistas representados nele e das transformações da arte ao longo do século 20. Mostra como se deu a ocupação do Solar do Unhão pelo projeto de Museu de Arte Moderna de Lina Bo Bardi, o processo descontínuo de formação do acervo, a expansão das ideias modernistas no Brasil e os encontros e bienais que foram construindo uma nova cena artística na Bahia e no país. Criada para contextualizar as obras da exposição e as grandes movimentações da arte no período, a Linha do Tempo poderá ser explorada pelos visitantes com ou sem o acompanhamento de mediadores, e também servirá como suporte a propostas práticas e reflexivas da curadoria educativa.

Arte em prol da educação

Além dos núcleos, o MAM também manterá uma Curadoria Educativa que realizará diversas atividades para o público que visitar a mostra Coleção MAM-BA – 50 Anos de Arte Brasileira. As atividades vão desde visitas mediadas com percursos temáticos, até um curso de histórias e leituras, previsto para começar em 02 de março próximo.

Aos sábados e domingos, a programação se volta para crianças e jovens, com as atividades Investigação MAM: Eu – Detetive, um percurso narrativo de exploração a partir de palavras e temas-chave e de pistas conduzidas por um mediador (aos domingos, 15h às 16h). Também aos domingos, o Pinte no MAM, projeto que promove a atividade da livre pintura entre não-iniciados, ganha uma ação ampliada, com artistas e arte-educadores convidados. Aos sábados, das 15h às 16h, a oficina Meu Museu propõe a construção de maquetes de um museu imaginário e a seleção de imagens de obras do acervo do MAM-BA para compor uma coleção.

Em feveriro, de 02 a 05, será realizada a Semana do Professor, com orientações sobre como trabalhar acervos de arte na prática pedagógica diária. E para completar, há ainda o projeto Zoom In Zoom Out, que busca estreitar as relações entre o museu e a cidade e estabelecer vínculos com comunidades de Salvador e Região Metropolitana. As comunidades participantes poderão integrar ações como visitas guiadas, conversas e oficinas, contando com transporte gratuito.

======================================

Saiba mais:

Para conhecer detalhes da mostra e ficar por dentro de outras novidades do MAM, a dica é visitar o site do museu ou acompanhar o blog MAMBOX. E aqui no blog da Revista Muito, é possível ler um artigo do artista plástico Sante Scaldaferri e ver vídeo do também artista Mário Cravo, sobre Lina Bo Bardi, a fundadora do MAM.

Leia Mais

Literatura de qualidade na rede

 

Quem, nos seus devaneios de infância, nunca sonhou em encontrar um manuscrito raro dentro de uma garrafa que veio dar na praia? A ideia de um acervo virtual que disponibiliza toda a rara e antiga produção da humanidade é bem parecida com esse sonho infantil
Quem, nos seus devaneios de infância, nunca sonhou em encontrar um manuscrito raro dentro de uma garrafa que veio dar na praia? A ideia de um acervo virtual que disponibiliza toda a rara e antiga produção da humanidade é bem parecida com esse sonho infantil

 

Boas novidades para amantes da literatura e pesquisadores em geral. Na última terça-feira, dia 21, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) lançou, em Paris, a Biblioteca Digital Mundial (World Digital Library – WDL). O objetivo é disponibilizar acervo raro como livros, manuscritos, filmes, ilustrações e fotos para estudiosos e curiosos. Até agora, já digitalizaram 1,4 mil documentos  de 32 bibliotecas em 19 países.

Segundo nota divulgada no Portal da Imprensa, o internauta poderá acessar os links com informações completas, fazer download e até converter as peças em PDF. A intenção é fazer com que o grande público tenha acesso às obras raras. O site está em sete idiomas, incluindo o português.

Para saber mais sobre o WDL, leia reportagem publicada na Folha On line.

Outra boa pedida é pesquisar no site Estante Virtual, que reúne sebos de diversos estados. A página, além de trazer dicas de livros que nem sempre são possíveis de encontrar em livrarias comuns, tem ainda uma boa sessão para que os internautas comentem as obras disponiveis que eles já leram. Assim, antes de comprar, você tem acesso a opinião de quem já leu. Muitas vezes, confiamos mais na opinião de pessoas que tem uma realidade mais parecida com a nossa e tem necessidades semelhantes, do que na opinião da crítica especializada. Embora o trabalho dos críticos mereça todo respeito.

Para terminar as dicas, uma reflexão de Eric Schmidt, da Google, enviada para mim por uma amiga, também jornalista e blogueira:

Ainda acredito que sentar e ler um livro é a melhor forma de aprender alguma coisa. Eu temo que estejamos perdendo isso. Se você pegar qualquer platéia de pessoas em educação, é importante que comecemos pela leitura”.

E é isso mesmo meninas e meninos, nada substitui um bom livro, nem toda tecnologia do mundo. No máximo, google, WDL, Estante Virtual e tantos outros sites vão facilitar a busca por documentos raros e informações, vão ampliar o nosso acesso a acervos que ficam muitas vezes trancados e ao alcance apenas de estudiosos, mas sempre, sempre mesmo que vocês tiverem a chance, leiam a obra impressa e visitem a biblioteca mais próxima da sua casa, lá tem coisas surpreendentes, aposto!

Vejam a entrevista completa de Eric Schmidt aqui neste link.

Leia Mais