120 Batimentos Por Minuto – Crítica do Filme

120 Batimentos Por MinutoUm filme intenso, tenso, emocionante e sensível. O diretor francês Robin Campill voltou à ativa quatro anos depois , com um enredo avassalador. 120 Batimentos Por Minuto saiu do Festival de Cannes com o Grande Prêmio do Júri e Prêmio da Crítica. O longa já acumula 19 premiações por todo o mundo. A história revive os anos 90. A Aids já era epidemia e ceifava a vida de centenas de pessoas.

O grupo ativista Act Up Paris, do qual o diretor do filme fez parte, intensifica suas ações. Ele tenta conscientizar e sensibilizar a sociedade, o Governo e a indústria farmacêutica sobre a doença. Mas 120 Batimentos Por Minuto não fala apenas de ativismo. O filme fala de amor, fala de luta, de uma dura e árdua luta pela vida, o filme fala de esperança.

Por trás da militância, a história de amor entre os personagens Nathan (Arnaud Valois), o novato do grupo, e o ativista Sean (Nahuel Perez Biscayart), vão costurando o enredo de uma maneira sólida, mas sensível, mostrando o universo homossexual soropositivo, com seus prazeres, suas dores e seus riscos. Destaque para a atuação intensa e comovente de Sean, um personagem que reúne alegria e tensão, força e fragilidade na dosagem certa. 120 Batimentos Por Minuto recria o cenário da Aids no início da década de 90 com bastante precisão, época em que a doença era deixada de lado pelas autoridades e ignorada pela população.

120 Batimentos Por MinutoSobre o diretor de 120 Batimentos Por Minuto

Este é apenas o terceiro filme de Campill. O primeiro, Eles Voltaram (2004), fala sobre o universo dos zumbis. O segundo, Meninos do Oriente (2014), traz como pano de fundo uma história de amor homossexual. A proposta em 120 Batimentos Por Minuto foi resgatar a importância da atuação da Act Up na mobilização social. É um filme que reescreve lembranças e memórias, que coloca a mulher em um papel importante na liderança militante da época, que mostra inclusive como a doença afetava as pessoas. É um filme que fala também sobre a morte, de uma maneira direta, objetiva, sem romantismo. As pessoas morriam da Aids, e isso está no filme. As pessoas queriam viver com a doença, e isso também está no filme.

Cenas intensas

As cenas de sexo chamam a atenção em 120 Batimentos Por Minuto, não pela sexualidade em si. Destacam-se pela relação construída ali, entre os personagens. É um filme que humaniza e personifica a Aids, que a coloca como uma real ameaça à vida, às relações, às pessoas. Essa parte humana da história é forte e comovente. O espectador não acompanha apenas as ações políticas do Act Up, acompanha o drama de seus membros, as dúvidas que os cercam, acompanha inclusive a fragilidade que toma conta deles, acompanha inclusive as discordâncias em suas reuniões.

120 Batimentos Por Minuto

O filme é forte, traz uma temática bastante importante e comove. O filme retrata a Aids da década de 90, mas a doença ainda está aí, ainda causa a morte de centenas de pessoas. É um filme que nos traz um alerta. A Aids tem tratamento, mas continua sem cura. E o filme toca no dilema do que é viver com Aids. Vale muito a pena ver.

Ficha técnica 120 Batimentos por Minuto

Título original: 120 battements par minute
Gênero: Drama
Duração: 140 minutos
Direção: Robin Campill
Roteiro: Robin Campillo, Philippe Mangeot
Elenco: Nahuel Perez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel
Distribuidor: Imovision
Ano: 2017
Classificação: 16 anos
Estreia no Brasil: 4 de janeiro de 2018

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Artigo: Sexo frágil e a prevenção da AIDS no carnaval

Para reforçar a campanha sobre sexo seguro no Carnaval, que este ano tem como foco o público feminino jovem, o blog abre espaço para mais um artigo de autoria de Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan. Além de falar da campanha e trazer dados sobre o avanço do HIV/Aids entre as mulheres, Maria Helena dá dicas importantes sobre a sexualidade e autoestima femininas. Mas, embora o foco sejam as garotas na faixa dos 15 aos 24 anos, os conselhos sobre autopreservação valem para as mulheres maduras e também para todos os casais, independente da orientação sexual. Cuidar de si e de quem se ama não é questão restrita a um determinado gênero. Boa leitura!

Sexo frágil e a prevenção da AIDS no Carnaval

*Maria Helena Vilela

A campanha de Carnaval de 2011 terá como público as mulheres de 15 a 24 anos.  O público feminino foi escolhido porque a infecção entre as mulheres está em constante crescimento. Apesar de haver mais casos da doença nos homens, essa diferença diminui ao longo dos anos. Segundo o Ministério da Saúde – Departamento de DST/Aids, em 1989, a razão de sexos era de cerca de 6 casos de aids no sexo masculino para cada 1 caso no sexo feminino. Em 2009, chegou a 1,6 caso em homens para cada 1 em mulheres.

As mulheres lutaram por seus direitos sexuais, pelo direito de estudar, desenvolver uma carreira profissional e conquistar sua autonomia econômica e pessoal. Mas, quando a questão é amor e sexo, a garota volta no tempo, e ainda se comporta de forma submissa aos desejos do namorado e, presa a mitos e tabus que colocam sua vida em risco, como por exemplo, a virgindade. A virgindade ainda é muito valorizada na mulher. Sabendo disso, muitas garotas acabam cometendo equívocos incríveis para não romper o hímen – fazer sexo anal; prática sexual que quando realizada sem preservativo é a de maior risco de infecção pelo HIV. Na contra mão dos fatos, pesquisas mostram a dificuldade de a garota negociar o uso da camisinha por medo de perder o namorado, de ser julgada “galinha”, ou ainda pior: não usar preservativo em nome do amor, acreditando que “quem ama confia”. Tais comportamentos fazem da mulher o verdadeiro sexo frágil.

A infecção pelo HIV se dá pelo contato direto com o sangue, o sêmen e as secreções vaginais, e isto pode acontecer no sexo oral, mas principalmente, na relação vaginal e no sexo anal. O ânus e a vagina são órgãos muito vascularizados, revestidos por um tecido delgado chamado de mucosa. Na relação sexual, especialmente durante a penetração, o pênis provoca atrito na vagina ou no ânus, causando micro-fissuras nas paredes das mucosas, aumentando o risco de que o HIV presente no esperma entre na corrente sangüínea.

Outro fator que aumenta a vulnerabilidade da mulher à Aids é a menstruação. Quando a mulher está menstruada, a descamação da parede do útero o deixa completamente exposto ao HIV. Fazer sexo menstruada é “entregar o ouro para o bandido”, pois o vírus atinge a corrente sangüínea sem precisar fazer esforço.

Como se não bastasse tudo isso, o canal vaginal é um órgão interno, o que dificulta à mulher perceber qualquer alteração na vagina. Muitas vezes, ela só descobre que tem uma infecção, ou mesmo uma DST, se consultar um ginecologista, ou quando a doença já está bastante adiantada. Uma infecção agrava ainda mais a fragilidade da parede vaginal, aumentado a vulnerabilidade da mulher à Aids.

Meninas sejam espertas e fiquem fora desta estatística da Aids. Se existe sexo frágil, estes são o sexo anal e o vaginal, quando o assunto é Aids. Portanto, alguns cuidados são fundamentais na sua vida, e especialmente, no carnaval:

>> Nunca delegue o cuidado com o seu corpo. O corpo só tem um dono, e este é você. Quando você delega, o outro pode não priorizar os seus interesses.

>>Só se previne quem tem convicção dessa necessidade. Busque informações sobre razões para se prevenir, sexualidade, prevenção, DST/Aids e métodos contraceptivos.

>>Não faça qualquer negócio sexual no Carnaval. A auto-estima da mulher está condicionada a sua capacidade de despertar o interesse nos homens, principalmente, em festas como o Carnaval. Se achar que está invisível, mesmo assim, não faça nenhum acordo que possa lhe colocar em risco.

>>Antes de cair na folia escreva uma lista com os nomes das pessoas que você considera importantes e que lhe amam. Isto ajudará você a não esquecer que é amada

>>Sei que é difícil, mas se for transar não beba. A bebida atrapalha o prazer e faz você esquecer seus limites.

>>Nunca negocie o uso da camisinha na hora da transa. O tesão embriaga e lhe deixa entregue a sorte, ou azar!

>>Conheçam a camisinha feminina. Ela é uma opção, e já existem modelos mais simples que facilita a sua colocação.

>>Na falta da camisinha, você não precisa abrir mão do prazer sexual. O casal pode realizar práticas sexuais que não sejam de risco, como a masturbação simultânea entre os parceiros

>>Existem camisinhas de vários tipos e qualidades. Portanto, sempre haverá uma que se adeque ao seu parceiro.

>>Sexo é uma brincadeira de verdade. Quando a gente se machuca, a cicatriz fica para sempre.

*Maria Helena Vilela é diretora do Instituto Kaplanwww.kaplan.org.br

**Conteúdo enviado pela Vera Moreira Comunicação e publicado com autorização, mediante citação da autoria e respeito à integridade do texto.

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Uma conversa sobre Aids, Carnaval e juventude

Durante estes dias de cobertura carnavalesca pela mídia, ouve-se muito falar em Aids e fala-se muito da importância da camisinha, principalmente porque o Carnaval é uma festa que tem fama de mais permissiva. Toda a ênfase no beijar na boca, na “ficação”, no curtir o momento, todo o mito da máscara e do não saber como e com quem, é excitante, sem dúvida. Existe um fetiche na “festa da carne”, isso é inegável e a intenção aqui não é ser moralista. Sexo é bom sim, mas quando feito com consciência, ainda fica melhor. Quando digo consciência, quero enfatizar o conhecimento do próprio corpo, das próprias necessidades e também das necessidades da pessoa com quem compartilhamos esse momento, seja parceiro (a) fixo ou não.

Embora se divulgue mais a escalada da epidemia de Aids entre os brasileiros em datas especiais, perto do Carnaval ou no Dia Mundial dedicado a conscientização sobre a doença, por exemplo, os números não são fantasia e nem estratégia de marketing para comover. Eles refletem a condição de milhares de pessoas reais. Liberar a informação perto ou durante o Carnaval, acredito, tem intenção de aproveitar sim que as pessoas estão focadas no sexo, mas ainda assim, os fatos existem, a epidemia existe, continua a crescer silenciosamente e atinge uma faixa etária cada vez menor.

Segundo o último boletim que recebemos (via email) do Ministério da Saúde, na faixa etária de 13 a 19 anos, o número de casos de Aids é maior entre as mulheres.  Dos 20 aos 24 anos, a divisão por gênero é semelhante e atinge tanto eles quanto elas (independente da orientação sexual) em percentagens iguais. Já entre os homens jovens, ainda segundo o MS, há maior incidência de infecção nas relações homossexuais. Vê-se com isto que a Aids nunca foi uma doença restrita a um gênero ou opção sexual, mas é alarmante o fato de tanta gente jovem adquirir o vírus. É falta de campanha? Acredito que não é só isso. Ainda assim, este ano, o foco da campanha pró-camisinha do MS durante a folia de Momo tem como alvo os jovens.

Acredito que, além da necessidade de se divulgar com mais frequência os números e as estratégias de prevenção, existe também uma falta de consciência corporal, um excesso de fé no outro (principalmente daqueles que tem parceiro (a) fixo), uma grande subserviência das mulheres (que ainda não aprenderam a agir de igual para igual com seus parceiros na relação) e, diante de tantos jovens ainda em tenra idade contaminados, um desejo até meio mórbido de desafiar a morte e dizer: “comigo não acontece”. Só que pode acontecer. E, até o momento, ainda não inventaram método mais simples de prevenção do que a camisinha.

Outro dia, respondi um comentário de alguém que dizia não gostar de sexo com camisinha. Ela revelava que não conseguia sentir prazer com a camisinha, mas acredito que sentir ou não prazer em uma relação está além da camisinha, porque está além da penetração. Cada casal deve buscar nas suas preferências e práticas, fazer o joguinho de sedução, caprichar nas preliminares, descobrir outras zonas de excitação no corpo do parceiro (a), para não limitar o sexo só ao ato da penetração. Ser criativo na vida é fundamental e o sexo faz parte disso. Então, para mim, esse aumento do número de casos de Aids entre gente jovem demais, ou de HPV, ou de outras doenças sexualmente transmissíveis (e aqui vale lembrar que a Aids se transmite por outros meios que não apenas o sexo), tem um pouco também de relação com falta de maturidade para gerenciar uma vida sexualmente ativa.

Os jovens se iniciam no sexo mais cedo, mas não estão preparados para administrar a situação, negociar o uso do preservativo, ainda não possuem aquela consciência corporal que já falei acima, as meninas mais novas são ainda mais vulneráveis à vontade do parceiro, sobretudo nas relações heterossexuais, que é onde a carga machista da sociedade traz toda aquela ideia de que a iniciativa é deles e só deles e que elas devem se submeter, espera-se até que se submetam. Creio que tudo isto ocorre porque a adolescência (e são pessoas de 13 a 19 anos se contaminando), é uma idade de tantas incertezas em tantas áreas da vida, porque não seria neste fator, o sexo?

Os pais, a escola, a sociedade, todos precisam atentar para o fato de que existe um alerta (e não é dos números do Ministério da Saúde) quando tantos jovens se contaminam em tão grande proporção com o vírus da Aids. Existe um alerta que perpassa a educação recebida em casa, a educação recebida na escola, a falta de diálogo, a erotização precoce de crianças que sequer foram alfabetizadas ainda mas estão expostas a letras de música e programas na tv acima da sua capacidade de compreensão. É uma cruzada social impedir que tantas vidas precoces se comprometam com algo tão complexo quanto ser portador de HIV. Todos, de alguma forma, temos de contribuir!

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Confira a íntegra do Boletim do Ministério da Saúde divulgado em fevereiro:

*Epidemia de Aids atinge jovens entre 13 e 19 anos

Mariângela Simão, do Ministério da Saúde. Crédito da imagem: Agência Brasil

Os números mais recentes da Aids no Brasil mostram que a epidemia, na década de 2000, comporta-se de forma diferente entre os jovens. Na população geral, a maior parte dos casos está entre os homens e, entre eles, a principal forma de transmissão é a heterossexual.

Considerando somente a faixa etária dos 13 aos 24 anos, a realidade é outra. Na faixa etária de 13 a 19 anos, a maior parte dos registros da doença está entre as mulheres. Entre os jovens de 20 a 24 anos, os casos se dividem de forma equilibrada entre os dois gêneros. Para os homens dos 13 aos 24 anos, a principal forma de transmissão é a homossexual.

Diversos fatores explicam a maior vulnerabilidade dos jovens para a infecção pelo HIV. Entre as meninas, as relações desiguais de gênero e o não reconhecimento de seus direitos, incluindo a legitimidade do exercício da sexualidade, são algumas dessas razões.

No caso dos jovens gays, falar sobre a sexualidade é ainda mais difícil do que entre os heterossexuais. “Eles sofrem preconceito na escola e, muitas vezes, na família. Isso faz com que baixem a guarda na hora de se prevenir, o que os deixa mais vulneráveis ao HIV”, explica Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

Feminização – O aumento de casos de Aids entre as mulheres se deu em todas as faixas etárias. Em 1986, a razão era de 15 casos em homens para cada um caso em mulheres. A partir de 2002, a razão de sexo estabilizou-se em 15 casos em homens para cada 10 em mulheres. Na faixa etária de 13 a 19 anos, o número de casos de Aids é maior entre as mulheres jovens. A inversão apresenta-se desde 1998, com oito casos em meninos para cada 10 casos em meninas.

Entre 2000 e junho de 2009, foram registrados no Brasil 3.713 casos de Aids em meninas de 13 a 19 anos (60% do total), contra 2.448 em meninos. Na faixa etária seguinte (20 a 24 anos), há 13.083 (50%) de casos entre elas e 13.252 entre eles. No grupo com 25 anos e mais, há uma clara inversão – 174.070 (60%) do total  de 280.557 de casos são entre os homens.

A Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira, lançada pelo Ministério da Saúde em 2009, também ajuda a explicar a vulnerabilidade das jovens à infecção pelo HIV. De acordo com o estudo, 64,8% das entrevistadas entre 15 e 24 anos eram sexualmente ativas (haviam tido relações sexuais nos 12 meses anteriores à pesquisa). Dessas, apenas 33,6% usaram preservativos em todas as relações casuais, que são as que apresentam maior risco de infecção.

Nos homens, 69,7% dos entrevistados eram sexualmente ativos. Entre eles, porém, o uso da camisinha é maior: 57,4% afirmaram ter usado em todas as relações com parceiros ou parceiras casuais.

Homossexuais – Na faixa etária de 13 a 19 anos, entre os meninos, houve mais casos de Aids por transmissão homossexual (39,2%) do que heterossexual (22,2%), no ano de 2007. Essa tendência é diferente do que ocorre quando se observa todos os casos de Aids adquiridos por transmissão entre homens – 27,4% homossexual e 45,1% heterossexual.

Nas escolas – O carro-chefe das ações de prevenção à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis é o programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), uma iniciativa dos Ministérios da Saúde e da Educação. Criado em 2003, o SPE tem como objetivo central desenvolver estratégias para redução das vulnerabilidades de adolescentes e jovens. As ações se dão de forma articulada entre escolas e unidades básicas de saúde. Hoje, 50.214 escolas de todo o país participam do programa.

A iniciativa trabalha a inclusão, na educação de jovens das escolas públicas, dos temas saúde reprodutiva e sexual. O SPE reúne ações que envolvem a participação de adolescentes e jovens (de 13 a 24 anos), professores, diretores de escolas, pais dos alunos, e gestores municipais e estaduais de saúde e educação. É no âmbito deste programa que se disponibiliza preservativos nas escolas.

*Fonte: Assessoria de Comunicação do Ministério da Saúde – Brasília

Saiba mais:

Para ver material da campanha do MS durante o Carnaval, que este ano está focada nos adolescentes, visite: www.aids.gov.br.

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Artigo: “O Trio Mortal”

Aproveitando que no post abaixo Alane falou sobre o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, publico aqui no blog um artigo assinado por Carlos Varaldo, do Grupo Otimismo, ong de apoio e esclarecimento aos portadores de hepatites. Já publicamos outras contribuições de Varaldo em ocasiões anteriores. Desta vez, ele fala sobre a combinação da Aids, que enfraquece  o sistema imunológico, com doenças infecto-contagiosas como a tuberculose e a hepatite C, o que afeta sensivelmente a expectativa de vida dos soropositivos, mesmo quando usuários do coquetel antirretroviral. O artigo é um alerta para pacientes e para os gestores do sistema de saúde. Combater o “trio mortal” é questão de política pública e de consciência individual e coletiva. Aids, tuberculose, hepatite C, ao contrário do que pensa o senso comum, não são doenças específicos de um determinado grupo social, de um determinado gênero ou de uma determinada cor de pele, todos estamos sujeitos ao risco de contágio e todos somos responsáveis para que portadores dessas doenças tenham tratamento humanizado, digno e livre de juízos de valor e preconceitos. Confiram o texto:

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**O Trio Mortal

*Carlos Varaldo

Bacilo de Koch, causador da tuberculose

Durante o Congresso Internacional de AIDS na Ásia e no Pacifico, que aconteceu em setembro, participantes e ativistas solicitaram maiores esforços para enfrentar “O Trio Mortal” formado pela combinação das epidemias de HIV/AIDS, tuberculose e hepatite C.

As três doenças, quando separadas, possuem tratamentos efetivos que controlam a progressão e até a cura. Isto é possível na tuberculose e na hepatite C, mas quando alguém se infecta com mais de uma dessas doenças a situação complica e o quadro se torna grave e difícil de tratar.

O alerta desesperado chega, até tardio, porque é estimado que aproximadamente 30% dos infectados com HIV/AIDS já se encontram infectados com à hepatite C ou a tuberculose, passando a ser as duas principais causas de mortes das pessoas infectadas pela AIDS.

O tratamento com o coquetel antirretroviral transformou a AIDS de doença letal para doença crônica, permitindo que as pessoas possam conviver com a doença, mas a utilização dos medicamentos prejudica o fígado e diminui as defesas, tornando-os presas fáceis se estiverem co-infectados com tuberculose ou hepatite C. Para evitar danos maiores é urgente que todos os indivíduos HIV positivos sejam testados para tuberculose e hepatites.

Vírus HIV, causador da Aids

O número de brasileiros infectados com tuberculose ou hepatites B ou C é medido em milhões, números que superam em mais de dez vezes os infectados pelo HIV. O maior problema é a não identificação de quem está infectado, possibilitando a disseminação descontrolada dessas doenças rapidamente na população.  Estudos mostram o crescimento das epidemias, principalmente, devido a que uma pessoa com tuberculose pode infectar outras 15 durante o curso da doença, que a hepatite B se transmite sexualmente com uma facilidade até 100 vezes maior que o HIV e que a hepatite C em caso de compartilhamento de instrumentos contaminados possui 85% de possibilidade de cronificação.

Os infectados com HIV/AIDS e os gestores da saúde devem tomar consciência que existe uma formula matemática que demonstra o perigo da hepatite C, a qual foi colocada por ativistas na entrada do congresso para alertar a comunidade HIV positiva: “Hepatite C + Silencio = Morte”.

“O Trio Mortal” se alimenta de carências no sistema público de saúde, do desconhecimento da população, da pobreza, da desnutrição, da falta de acesso a educação, da falta de profissionais de saúde com os conhecimentos suficientes, de comportamentos de risco e de programas pouco eficazes para enfrentar as epidemias.

Acrescentando a tudo isso a não realização de campanhas de detecção dos casos de hepatites e tuberculose complica ainda mais a situação. Quando a hepatite C e a tuberculose é diagnosticada precocemente a possibilidade de cura é excelente.

Vírus da Hepatite

“O Trio Mortal” já está trabalhando, silenciosamente, e, de forma unida, continua ganhando força.  É o momento dos movimentos sociais da AIDS, da Tuberculose e da Hepatite juntar forças para combater um inimigo comum.  Por enquanto “O Trio Mortal” está ganhando a batalha, é necessário enfrenta-lo para não perder a guerra.

Na Indonésia os ativistas utilizaram o símbolo da AIDS para alertar sobre as três doenças, mas formado por balões na cor vermelha para mostrar que o perigo já está presente.

*Carlos Varaldo é presidente do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite e vice-diretor da World Hepatitis Alliance.
**Material encaminhado ao blog através da assessoria de comunicação do grupo Otimismo

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Mais sobre hepatites:

>>Visite o site do Grupo Otimismo

>>Uma conversa sobre Hepatite B

>>Vinte anos da descoberta do vírus da Hepatite C

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1º de dezembro: Dia Mundial de Luta Contra a Aids

Os números são alarmantes. A versão preliminar do Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009 mostra que, entre 1997 e 2007, o número de casos de pessoas com Aids cresceu 41% em Salvador. Claro que é preciso ressaltar que antes os programas de prevenção só atingiam oito municípios, e hoje chegam a 26, o que facilita o conhecimento e registro dos casos. Mas é assustador este crescimento. E tem mais: de acordo com as estimativas, há 630 mil pessoas infectadas pelo vírus HIV em todo o Brasil.

O dia 1º de dezembro é o Dia Mundial da Luta Contra a Aids e, diante de uma realidade dessa, o que fazer? Uma pergunta difícil, mas cuja resposta vai, necessariamente, perpassar pela intensificação da divulgação das formas de prevenção. O que eu percebo é que o caso exige uma conduta pessoal muito ativa. Só conseguiremos contornar o problema se cada um se prontificar a tentar barrar a disseminação do vírus. E para barrar a disseminação do vírus, o uso da camisinha é indispensável.

Ninguém é ingênuo aqui e sabemos que com o passar do tempo muitos acabam dispensando a camisinha dentro da relação estável. Mas, meninos e meninas, não podemos confundir amor e Aids. Não podemos permitir que nossos sentimentos tapem nossos olhos. Nossos parceiros podem ser os mais fiéis, mas não conhecemos o passado de cada um. E, ainda que conheçamos, sempre rolam os vacilos da vida. E é nesses vacilos que é possível adquirir um problema da dimensão da Aids.

Fiz uma reportagem certa vez sobre o assunto. Saí para entrevistar uma portadora do vírus HIV, conversamos bastante, foi uma das matérias que mais me ensinou. Não porque eu desconhecia sobre o vírus ou formas de contaminação, mas porque pela primeira vez estava ouvindo o desabafo de alguém que convivia com o HIV. E, mais, pela história daquela professora de educação sexual que, um dia, reencontrou um ex-namorado e acabou contaminada ao manter relações desprotegidas com ele.

SOLIDARIEDADE

Com o objetivo de angariar fundos para a Instituição Beneficente Conceição Macedo, que abriga crianças portadoras do vírus HIV, o artista gráfico e fotógrafo, Marcelo Mendonça, em parceria com o coordenador da instituição, Alfredo Dorea, idealizou o projeto Calendário Abraçando a Vida, que traz fotos de personalidades abrançando crianças soropositivas. O calendário de 2010 custa R$ 10,00 e para ser adquirido basta o interessado entrar em contato com a instituição, no telefone (71) 3276-0026. A entidade também aceita doações de qualquer tipo, é só ligar pra lá.

O lançamento do calendário será no dia 1º, no Espaço Cultural da Câmara de Vereadores, às 9h. Estão no calendário de 2010: Mercedes Sosa, Caetano Veloso, Jesus Luz, Vanessa da Mata, Margareth Menezes, Lázaro Ramos, Beth Carvalho, Elza Soares, Luiz Melodia, Mariene de Castro, Elza Soares, Gloria Maria, Adelmo Case, Edson Cordeiro, Presidente Lula, Clifton Davis (cantor norte-americano e compositor de Michael Jackson), Mãe Carmem do Gantois, Tuca Fernandes (Jamil), J. Velloso, Claudio Zoli, Jau, Amanda Santiago, Jackson Costa e Gerônimo.

Esta é a terceira edição do projeto, que além de angariar verbas para ajudar na manutenção da IBCM, o projeto tem o propósito de auxiliar na luta contra o preconceito aos portadores do HIV. A IBCM atua há 20 anos em Salvador. É uma instituição sem fins lucrativos que abriga pessoas de baixa renda portadoras do HIV-Aids. Para tanto, mantém um centro diurno com 70 crianças que convivem com o mesmo vírus, e abriga ainda 15 famílias com AIDS, que antes viviam nas ruas de Salvador. A instituição também presta assistência a outras 250 famílias. A entidade sobrevive da solidariedade de colaboradores e do trabalho voluntário de mais de 30 pessoas.

SOBRE HIV E AIDS

Aids significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. É uma doença que pode acometer as pessoas infectadas pelo HIV. O vírus, que tem um período de incubação longo, destrói os linfócitos (células de defesa do organismo), tornando a pessoa vulnerável a infecções e doenças oportunistas, que se aproveitam justamente do enfraquecimento do sistema imunológico para se instalar.  A Aids não tem cura, é uma doença crônica. Há tratamentos que prolongam a vida dos portadores da doença. Também pode ocorrer de o portador do HIV passar muito tempo sem manifestar qualquer sintoma da Aids.

Alguns comportamentos são considerados de risco e podem facilitar a contaminação pelo HIV. São eles: a relação homossexual ou heterossexual com pessoal infectada, sem o uso de preservativos; compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente, no uso de drogas injetáveis; reutilização de objetos perfuro-cortantes com presença de sangue ou fluidos contaminados pelo HIV. Também pode ocorrer a contaminação por meio da transfusão de sangue contaminado pelo HIV ou pela amamentação. São meios de contaminação o sangue, sêmen, secreção vaginal e o leite materno.

O uso da camisinha é imprescindível não apenas para a prevenção da transmissão do vírus HIV, mas também para prevenir outras doenças sexualmente transmissíveis e, inclusive, uma gravidez não desejada. Muitas pessoas questionam a segurança da camisinha, devido à possibilidade de o preservativo estourar. Quanto a isso, estudos científicos já comprovaram que a maioria dos casos em que o preservativo estoura tem relação ao uso incorreto, portanto, vamos aprender a colocar a camisinha de forma correta.

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>> Aprenda como usar a camisinha masculina
>> Aprenda como usar a camisinha feminina
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Às vezes, o vírus não passa para o parceiro na primeira relação desprotegida. Está aí a importância de adotar a camisinha o quanto antes. Não é porque você já manteve relações sem o uso do preservativo que o caso está perdido. Nada disso. A proteção deve começar já, imediatamente, independente de já ter tido ou não relações sem camisinha. Como falei lá em cima, para barrar a disseminação da transmissão do HIV é preciso uma atitude de conscientização de cada um. Se você não assumir a sua responsabilidade nisso tudo, não conseguiremos alcançar esse objetivo.

Agora, se você costuma manter relações desprotegidas ou já o fez, é muito importante que se submeta a um exame para saber se está contaminado pelo vírus. Eu sei que falar assim assusta, mas a realidade é essa. O HIV está tão próximo da gente e não nos damos conta disso. Dia desses, estávamos um grupo conversando sobre o assunto, quando um dos integrantes fez o comentário que um grande amigo dele tinha feito o teste, e o resultado tinha sido positivo. Imagine aí? Na velocidade em que o vírus está se alastrando por aí, quem pode garantir que está seguro sem a camisinha?

Voltando ao exame, há Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) espalhados por todo o País, onde é possível realizar o exame gratuitamente. Eles também fazem exames para detectar sífilis e hepatite. Os centros distribuem camisinhas, gel lubrificante e kits de redução de danos. Se for diagnosticado soropositivo, o paciente é encaminhado ao Serviço de Assistência Especializada em HIV/aids (SAE), que presta assistência integral. Lá será possível obter informações sobre os medicamentos e como adquiri-los.

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>> Veja onde é possível fazer o teste na Bahia
>> Localize em seu Estado os locais para fazer o exame
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Onde buscar apoio e informações:
>> Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde
>> Grupo de Apoio àPrevenção à Aids – Gapa Bahia
>> Grupo Assistencial SOS Vida
>> Projeto Reviver (apoio à criança HIV positivo)
>> Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis
>> Sociedade Viva Cazuza

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Vinte anos da descoberta do vírus da Hepatite C

Representação do vírus da Hepatite C
Representação do vírus da Hepatite C

A Hepatite C atinge cerca de três milhões de pessoas no país e infecta cinco vezes mais que a AIDS. Este ano, completam-se vinte anos da descoberta do VHC, vírus causador da Hepatite C, ocorrida em 1989. Recebemos um bom material, que esclarece algumas dúvidas sobre a chamada doença silenciosa, pois o vírus leva anos encubado, antes dos problemas de saúde se manifestarem. Abaixo, transcrevo o material recebido através da assessoria de comunicação do HC – FMUSP (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo). No final do post, os interessados em saber mais sobre a doença encontram o link para o Portal da Hepatite, uma página na internet com informações completas sobre a doença e suas manifestações. No portal, há também os contatos dos grupos de apoio aos portadores em Salvador – BA e demais capitais.

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“A epidemia silenciosa faz 20 anos”

Na década de 70 e 80, a epidemia de Hepatice C se disseminou pelo mundo, atingindo de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 170 e 200 milhões de pessoas, equivalente a 3% da população mundial. Vinte anos mais tarde, os métodos de diagnóstico e tratamento avançaram muito, mas o cenário continua alarmante. A hepatite C é a maior causa de cirrose e câncer de fígado no mundo e se tornou o principal motivo de morte dos portadores de HIV.

A doença contamina cinco vezes mais brasileiros do que a AIDS. No País, existem 600 mil portadores do vírus da AIDS contra cerca de três milhões de pessoas infectadas com o vírus da hepatite C, segundo estimativas do Ministério da Saúde. De acordo com o infectologista Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, Coordenador do Comitê de Hepatites Virais da Sociedade Brasileira de Infectologia e Médico Assistente-Doutor da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do HC-FMUSP, a coinfecção HIV-Hepatite C, entre os usuários de drogas infectados pela AIDS, chega a quase 100%. “Morre-se pelas complicações do fígado e não pelas infecções associadas ao HIV”, explica. A proporção diminui se a pessoa adquiriu o HIV por via sexual. “Nesse caso, teremos ao redor de 15% de coinfecção HIV-Hepatite C”, completa.

Mapa de distribuição da Hepatite C no mundo. Fonte: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
Mapa de distribuição da Hepatite C no mundo. Fonte: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)

Segundo o especialista, desde a descoberta do vírus, os avanços foram muito expressivos, mas ainda há muito que melhorar. “Não temos só noticias ruins, a terapia para a hepatite C evoluiu muito. No início, com o uso apenas do interferon alfa, tínhamos ao redor de 6% de sucesso no tratamento”, explica o especialista. “Hoje saltamos para uma média de sucesso de 50% – dependendo do caso pode ser maior – e, em breve, com o advento de novas modalidades terapêuticas, devemos atingir ao redor de 75% de sucesso. Ainda não é 100%, mesmo por que não contamos com uma vacina preventiva”, completa.

O mais preocupante é que a maioria dos portadores, principalmente os mais idosos – em que a prevalência da doença chega a ser o dobro da população em geral – desconhece a sua condição. Isso ocorre, pois a hepatite C é uma doença que evolui silenciosamente sem apresentar nenhum sintoma. “Nesse cenário, tornou-se corriqueiro nos deparar com o diagnóstico tardio, quando as pessoas já apresentam o câncer de fígado ou uma doença hepática avançada” ressalta Dr. Evaldo Stanislau.

Diagnóstico e Tratamento da Hepatite C

A hepatite C crônica é uma doença de evolução lenta e que não causa sintomas por um longo tempo, mas nos estágios mais avançados o quadro sintomático pode ser bastante grave. A doença teve os primeiros casos diagnosticados em 1990, especialmente, em pacientes que receberam transfusão sanguínea antes de 1992. Transmitida, principalmente, pelo contato com o sangue, a hepatite C pode ser contraída por uso de material cortante não esterilizado adequadamente (manicure), compartilhamento de agulhas, hemodiálise, realização de tatuagem sem técnicas de esterilização adequadas ou de acupuntura sem agulhas descartáveis e ainda pelo uso endovenoso de drogas ilícitas. A evolução da doença crônica pode causar cirrose hepática em cerca de 20% dos pacientes em 10 anos, podendo desenvolver também câncer de fígado. Por esse motivo, o diagnóstico precoce é fundamental para a detecção rápida da doença e o estabelecimento de um tratamento adequado, que pode em muitos casos garantir a cura, evitando as complicações de longo prazo.   

Atualmente, os pacientes tratados com remédios de última geração para hepatite C, podem atingir altas taxas de resposta virológica sustentada (RVS), ou seja, a ausência do vírus após o tratamento, considerada como a cura para a Hepatite C. No entanto, especialistas alertam para o diagnóstico precoce e o início da terapia individualizada como o alvo principal para atingir as melhores taxas de resposta.

Locais de Tratamento

O Sistema Único de Saúde oferece tratamento para os pacientes com doenças hepáticas. Há também outros centros especializados, além deínicas privadas e dos postos do SUS no Brasil.

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