O projeto Papo de Mulher, idealizado pelas psicólogas Niliane Brito e Erika Saab, promoverá encontros mensais, em Salvador, para discutir temas como autoestima, relacionamentos, feminismo e assuntos nos quais as mulheres tem dúvidas, interesse ou que geram alguma angústia. A ideia dos encontros é proporcionar um espaço de acolhimento e compartilhamento de experiências entre mulheres, com a mediação das duas profissionais.
O primeiro Papo de Mulher já tem data, será em 19 de junho, no Itaigara, com o tema “E foram felizes para sempre”, que vai abordar as relações amorosas, as crises de relacionamento e as diferentes linguagens do amor.
Os encontros vão ocorrer uma vez por mês e o ingresso de cada sessão custará R$ 60. Segundo as organizadoras, há a possibilidade de planos com pacotes promocionais.
Para obter mais informações e fazer inscrição acesse o site Eventbrite ou mande e-mail para: [email protected].
Serviço:
O quê: Projeto Papo de Mulher
Quando: 19 de junho, às 19h
Onde: Rua das Hortênsias, número 740, Edf. Comercial Itaigara, sala 602/603 – Pituba
Quanto: R$ 60 por encontro (aceita cartão de crédito)
SPOILER: esse texto é uma análise do filme e contém descrição de várias cenas.
O filme francês Eu não sou um homem fácil, produção original da Netflix dirigida por Eleonore Pourriat, é daqueles que promete revolução, mas descamba para a mais pura decepção. A ideia é interessante, mas a execução ficou aquém das expectativas. O filme promete mostrar aos homens como é difícil e sofrido ser mulher em um mundo machista, mas na verdade reforça estereótipos tanto machistas quanto masculinistas. Fiquei muito triste que uma coisa tão misógina foi dirigida por uma mulher.
O mote do filme é criar uma realidade paralela, onde os homens fazem o papel de mulheres na sociedade e as mulheres fazem o papel de homens. A inversão acontece depois que o protagonista leva uma pancada na cabeça e desmaia, acordando nesse mundo alternativo onde o poder pertence a mulheres masculinizadas e os submissos são homens feminilizados.
Os erros já começam dessa forma binária e estereotipada de definir o que é papel de homem e o que é papel de mulher como um tipo de ‘ordem natural’ das coisas. Sendo que, em nenhum momento, o filme questiona o erro que é considerar os papéis femininos como inferiores. Feminilidade e masculinidade estereotipadas da forma mais rasteira são a base do filme. Como se as mulheres precisassem virar homens – e ainda por cima do tipo mais torpe, que é homem machista – para serem respeitadas. A concepção do filme parte da crença equivocada e apregoada por machistas e masculinistas em uma ‘natural’ inferioridade feminina.
O título já dá indícios da bomba. Mas confesso que resolvi dar uma chance mesmo sabendo que o modelo de mulher a ter o papel invertido com o de um homem no longa é aquele que se convencionou chamar de ‘difícil’, em contraste, óbvio, com as mulheres ‘fáceis’, aquelas que segundo os machistas: ‘estão pedindo’. E nem é tradução infeliz, como muitas vezes acontece nas adaptações para o português. Nesse caso, o nome original do filme é Je ne suis pas un Homme Facile. A tradução foi literal.
A produção se pretende sátira social com tons de comédia, mas é rasa e destila diversos outros preconceitos, como homofobia e lesbofobia, daí que não tem a menor graça. O problema maior é que faz isso de forma disfarçada. O filme se vende como feminista, mas confunde de maneira tosca a luta por igualdade de direitos e por respeito das mulheres com o mais rasteiro femismo.
A mistura de conceitos entre feminismo e femismo é feita de forma tão sutil que eu tive a tristeza de presenciar, nas discussões da rede de cinéfilos Filmow, da qual faço parte, dezenas de mulheres caindo no engodo da proposta e defendendo esse filme. Inclusive, parte do texto que escrevi nos meus comentários sobre a produção lá na rede social, uso para rechear essas reflexões no blog.
Damien vai trabalhar de moleton porque no mundo invertido, ele considera suas roupas ‘afeminadas’. A palavra hot (quente e gíria para gostosa/o) só transforma a objetificação feminina em piada
Veneno mortal
Eu não sou um homem fácil tenta dar aos homens um pouco do próprio veneno, mas só desrespeita ainda mais as mulheres e o feminismo, fazendo de uma luta justa uma caricatura. O feminismo não existe para transformar as mulheres em um outro tipo de homem. O feminismo existe para reivindicar que as mulheres sejam livres, respeitadas e tenham oportunidades iguais às dos homens para ser e fazer o que quiserem, sendo elas mesmas.
Ao confundir feminismo com femismo, o roteiro reforça argumentos falaciosos dos machistas e masculinistas para deslegitimar e destratar o feminismo e para minimizar as reivindicações das mulheres por um mundo de oportunidades iguais e de respeito igual, sem que para isso nós tenhamos de reproduzir justamente os comportamentos que abominamos nos machistas.
O roteiro cai no engodo de que as “mulheres tem inveja do falo”, algo que já caiu por terra. “Falo” aqui usado para representar poder e não o pinto no sentido literal. Mas já vimos ao longo da história que um mundo onde o poder é majoritariamente masculino, é um mundo doente. A forma masculina, machista e patriarcal de exercer poder faz mal às mulheres e aos próprios homens.
A cena inicial do filme mostra o quanto o machismo é doentio com bastante clareza. O personagem Damien, protagonista da história, vivido por Vincent Elbaz, aparece inicialmente na infância, em uma peça da escola. A menina que faria o papel da Branca de Neve na peça adoece e uma professora pergunta para as outras crianças do elenco quem gostaria de usar a roupa de princesa. Damien pede para usar e, ao entrar no palco, é ridicularizado.
Todos os adultos que assistem ao espetáculo, supostamente os pais e mães das crianças, apontam para Damien e gargalham, humilham uma criança pequena que ainda não tem nenhuma ideia do que seja identidade de gênero. Criança só quer brincar e ser feliz.
A socialização das crianças ainda acontece de uma forma muito errada, com a escola, as famílias e a sociedade em geral estabelecendo normas diferentes para meninos e meninas, separando desde os tipos de brinquedos à cor das roupas. Pais e mães, infelizmente, ainda exigem dos filhos uma postura máscula e das filhas que sejam delicadas. (Se quiser saber mais sobre o assunto, recomendo reportagem do jornal Correio* sobre ‘crianças viadas’).
Um dos discursos dos masculinistas é o de que homens que assumem suas responsabilidades no cuidado da casa e dos filhos são emasculados (perdem a virilidade). O filme reforça essa ideia absurda
Clichês infelizes
Infelizmente, esse filme engana muita gente com a falácia de que a inversão de papéis faz os homens sentirem na própria carne o que é ser mulher. Mas ele não faz, só reforça o preconceito e a noção equivocada de que a mulher é mais frágil e, portanto, tem menos valor.
O filme é um acumulado de clichês infelizes. Os homens com papéis inversos são colocados em posição inferiorizada porque os machistas e masculinistas acreditam que mulher é um ser inferior. O aspecto de feminilidade mostrado nesse filme é o tempo todo menosprezado e isso não cria consciência do inferno que nós mulheres vivemos, apenas reforça convicções equivocadas de que valemos menos que qualquer homem.
Todos os homens em papéis inversos são colocados em posição afeminada de forma pejorativa, como se ser afeminado fosse algo desqualificante, por isso o filme é absurdamente homofóbico. Mostra ainda que um pai assumir a paternagem tira a virilidade dele. As mulheres pegadoras do filme precisam ter atitude de ‘macho alfa’ para serem admiradas. O filme desconsidera que uma mulher tem todo o direito de ter quantos parceiros sexuais ela quiser sem precisar se masculinizar.
Tem outras cenas de dar vergonha alheia. Em uma delas, um rapaz entra aos prantos na casa de uma mulher que o teria trocado por outro e começa a quebrar objetos e a pichar as paredes com xingamentos. Precisa explicar que a tal sátira sai pela culatra porque atribui às mulheres – lembre que no filme os papéis são inversos – um temperamento histérico, inseguro e lamuriento? Tudo o que os caras que aprontam perversidades em relacionamentos abusivos querem é passar a ideia de que as ex são loucas. E o filme dá munição para eles.
Outro exemplo de matar: o melhor amigo de Damien é casado e chega à academia de ginástica revoltado porque a mulher dele o estaria traindo. O detalhe sutil, ele vai fazer Pilates, como se a modalidade não fosse ‘coisa de macho’. No filme, as mulheres fazem boxe e musculação, porque essas modalidades no mundo invertido são atributos exclusivamente masculinos. Só aviso que o Pilates foi inventado por um homem, inclusive, para tratar sequelas de feridos em batalha. E me decepciono com o fato do filme ser tão sexista que estabelece até quais atividades físicas são de homem e quais são de mulher. No mundo de quem escreveu esse roteiro não existem rondas rouseys.
O marido traído em questão, diz que pretende tirar satisfação com o rival porque “ninguém toma o que é dele”. Mais uma vez, se os papéis são invertidos, o filme está dizendo literalmente que as amantes é que são as culpadas pela traição dos maridos safados que existem por aí e que esposas traídas deveriam ter ódio dessas amantes, porque afinal, seus maridinhos coitados, são homens e por isso seus pecados devem ser todos perdoados pelas ‘leis da natureza.’ Afinal, pinto não pensa e homem é imaturo, tsc tsc!
Paródia desrespeitosa com os grupos feministas que utilizam a nudez como ferramenta de protesto
Cada um com sua responsabilidade
Não digo que mulheres que se envolvem com homens que elas sabem ser comprometidos não tenham sua parcela de responsabilidade na infelicidade alheia. Elas têm. Embora sejam solteiras, poderiam ser mais solidárias com as outras mulheres e não dar trela para homem escroto que desrespeita a pessoa com quem é casado. Mas daí a vilanizar amantes e absolver os homens que têm até mais culpa porque eles é que são os casados na história, definitivamente, não dá! É agressão demais à inteligência das expectadoras.
Outras cenas que me deixaram triste, aliás, eu queria ‘desver’ esse filme: quando a mulher do amigo de Damien está assistindo futebol na TV e usa palavras como ‘biscate’ e ‘vadias’ para xingar as jogadoras do time adversário; quando o filho mais velho do amigo de Damien sai de casa para ir à aula de balé (como se meninas adolescentes só pudessem fazer balé na vida!); quando, em um bar, Damien bebe demais e começa a ser molestado por um grupo de mulheres e a esposa do amigo dele chega para ‘defendê-lo’ e cai na porrada com outras mulheres, mais uma atitude de ‘macho alfa’ invertida; as cenas de homens se depilando, colocando máscara facial e cuidado da beleza física com o objetivo de ser mais atraentes para suas mulheres, partindo da ideia de que mulher só se arruma para agradar homem e não para ela mesma; e, por fim, as mulheres no banheiro do boteco mijando em pé com a tampa do vaso abaixada e arrotando, como qualquer homem ogro que se preza.
O olhar desse filme sobre diversidade e respeito é tão distorcido que também desconsidera todas as outras possibilidades de vivência da identidade de gênero e da sexualidade humana para além de homens e mulheres e das relações heterossexuais. Um exemplo de lesbofobia que vi nos comentários do Filmow: mulheres dizendo que a personagem Alexandra, a namorada de Damien, é sapatão, como se ser lésbica fosse desqualificante.
O mais irônico é que as mesmas pessoas que acharam a reinvenção da roda ver mulheres bancando as opressoras, também acharam estranho a atitude masculinizada da personagem e já rotularam de sapatão como se ser sapatão fosse ofensivo!
Ou seja, o filme só complica mais ainda o parco entendimento da média da população sobre gênero, sexualidade e identidade. Ao invés de desconstruir preconceitos, reforça estereótipos. A sensação que dá é que quem escreveu o roteiro milita na causa masculinista, que tem como foco justamente desacreditar o feminismo e pregar que as mulheres desejam ‘subverter a ordem natural’ e dominar o mundo, oprimindo os ‘pobres coitados’ dos homens. Masculinistas são misóginos e o filme prega a misoginia disfarçando o discurso em sátira e humor duvidoso.
Damien e o uso equivocado do shortinho. Um reforço do filme à cultura do estupro
O outro lado da moeda
Em outra cena, Damien vai trabalhar de shortinho e recebe cantadas bizarras na rua, como a maioria das mulheres recebe diariamente. Só que ele ri dos comentários grosseiros e ainda passa a ideia errada de que mulher, ao sair de roupa curta, ‘está pedindo’ para ouvir baixarias! Damien veste o shortinho com o intuito deliberado de seduzir a nova chefe. O filme transmite outra ideia totalmente errada, pois mulher não veste roupa curta para se objetificar deliberadamente. Vestimos o que gostamos e o que nos deixa confortáveis, de acordo com a estação do ano, o humor, a nossa vontade. Quem lança olhares objetificadores sobre nossos corpos são os homens, que com isso querem nos controlar e tolher.
Mulher também não ri de cantada grosseira, ela fica constrangida e amedrontada, porque os índices de estupro alarmantes estão aí para nos mostrar que vivemos em um mundo cruel, onde as mulheres que vestem roupas curtas ‘estão pedindo’ (olha o discurso machista aí de novo) e onde o espaço da rua é hostil para as mulheres porque convencionou-se de achar que a rua é lugar de homem e o lar é o lugar da mulher.
Desonestidade intelectual e má fé
Damien é um personagem consciente da inversão dos papéis. Ele é o único personagem do filme que lembra de como era o mundo antes da troca de posições e, na maioria das vezes, suas reações diante da opressão das mulheres e da submissão dos homens no mundo invertido é uma atitude de ‘macho alfa’ que se sente ameaçado e que quer que as coisas retornem a ser o que eram.
A inversão do mundo, e atentem que para haver uma ideia de inversão é preciso antes haver a ideia de uma ‘norma’, é um delírio do protagonista, mais uma prova de que ele é o alter-ego de todo machista e masculinista de plantão que morre de medo de virar a presa, ao invés do predador.
Do meio para o fim, o filme junta Damien com um grupo de homens que militam no ‘masculismo’ contra a opressão feminina. O ‘masculismo’ do filme seria o feminismo inverso. E é aí que o roteiro, mais uma vez, erra rude! Os caras preparam um ato de protesto vestindo próteses de silicone que simula seios femininos, em uma paródia de mau gosto dos grupos feministas que utilizam o corpo nu como arma de resistência.
Tentei assistir a Eu não sou um homem fácil com o coração aberto, apesar desse título infeliz e da cena inicial que me partiu a alma. Mas dei um voto de confiança e achei que no avançar das cenas, a produção poderia ser educativa para homens que insistem no machismo e para mulheres que ainda reproduzem julgamentos machistas sobre outras mulheres. Mas, infelizmente, a produção só utilizou a opressão vivida por nós mulheres como pano de fundo para tecer uma narrativa perigosa, que menospreza o tamanho das nossas dores e faz propaganda antifeminista e misógina. Deseducativo para homens e mulheres até dizer chega!
No filme Sem Filtro, a atriz Paz Bascuñán vive Pia, uma mulher em busca de liberdade
O filme chileno Sem Filtro, dirigido por Nicolás López, foi minha escolha para a sessão “cinema no sofá” no fim de semana. E porque a produção diz muito sobre as mulheres e suas aflições, trago a dica para vocês.
Sem Filtro (Sin Filtro), disponível no catálogo da Netflix, é uma comédia dramática que conta a história de Pia (Paz Bascuñán). Publicitária de 37 anos, sua rotina é atribulada e ela sofre de ansiedade, falta de ar e dores no peito. Está a beira de um colapso. Seu ex-namorado é o confidente com quem troca mensagens via Whatsapp. O cidadão é o típico ex metido a ‘príncipe encantado’. Mesmo já envolvido em outro relacionamento, fica rondando e não deixa espaço para ela se libertar e seguir a vida.
Com a língua solta
Ao procurar um tratamento experimental com um acupunturista, Pia recebe a orientação de deixar suas emoções fluírem. Ela deve dizer o que sente, ao invés de esconder o que incomoda para agradar os outros. Suas dores são o reflexo da repressão externa e de uma severa autocensura.
O filme foi lançado em 2016 e tornou-se uma das películas mais vistas do cinema chileno. O sucesso se deve a atualidade da obra. Além de tocar na questão da dificuldade das mulheres para fazerem-se ouvir, também traz temas contemporâneos, como a medicalização da vida. Pia começa o dia engolindo um coquetel com diversos tipos de calmantes.
A produção discute ainda as redes sociais e as celebridades instantâneas; e o contato de adolescentes com a pornografia violenta que circula na internet, criando nos jovens a cultura do abuso e estimulando a misoginia.
Não somos neuróticas, só estamos cansadas!
Um dos momentos interessantes de Sem Filtro é quando Pia tem coragem de se impor diante do chefe e do marido. Os dois, chocados com o fato dela assumir o protagonismo da própria vida, querem saber se ela está ‘con las reglas’. A personagem, cansada de imposições, questiona: “Por que, toda vez que uma mulher se irrita, os homens acham que ela está menstruada?”
Acredito que muitas mulheres se identificam com Pia. Em algum momento da vida, já carregamos mais peso do que deveríamos, iludidas pelo mito da Mulher Maravilha. Não são poucas as que adoecem e usam remédios para suportar abusos variados. Ou que vivem com maridos que não as valorizam e nem dividem obrigações cotidianas.
Muitas têm familiares e amigos que as sobrecarregam com problemas e raramente retribuem esse cuidado. E elas aguentam as situações porque foram condicionadas desde a infância a serem “boas meninas”.
A Pia do filme percorre seu caminho em busca da própria liberdade, errando e acertando, disposta a seguir em frente. Que a sua jornada inspire outras mulheres a se livrarem de tudo que oprime o peito e as faz adoecer!
Ainda não comecei a ler, mas está na fila, o livro Mulheres que correm com os lobos, presente de aniversário de uma amiga querida. Atualmente, me dedico a leitura de Grito de guerra da mãe tigre (também por compromisso de trabalho). Mas, não é dos livros que quero falar agora, prometo resenha dos dois quando concluir a leitura. É só que, não podia deixar de abordar essa conexão: o mercado editorial busca animais selvagens que são símbolo de força e lealdade (o tigre e o lobo) para revalorizar o “puro instinto” da natureza feminina. E não são só autores e livreiros de olho nesse nicho. No mundo da moda, que é um perfeito espelho da sociedade (no que isso tem de bom e de ruim), estilistas se inspiram em wild live, wild feelings: é o animal print – apontado como tendência das tendências.
Me pergunto se esse novo apego à liberdade e a uma certa “agressividade” inerente ao bicho gente, mais especificamente às fêmeas, no sentido de garra para batalhar pelos objetivos e de resistência para sobreviver nesse mundo cão, não teria alguma relação com um tipo de “neo-neofeminismo”, que é diferente daquele clássico dos sutiãs queimados na praça em meados do século e daquele chamado de terceira onda, com a teoria queer e tudo mais. Será que essa nova revolução não estaria ocorrendo também a partir do até então considerado fútil universo da beleza? Humm, não tenho ainda uma ideia muito precisa a respeito, só esboços de ideias, mas quero me dedicar a pesquisar um pouco mais o tema. Talvez a leitura dos dois livros ajude, talvez tenha de ler outras coisinhas e bater papo com quem é mais especializado que eu na psiquê humana. Mas estou aberta a saber o que vocês acham do assunto, sempre! #Ficadica também para quem quiser teorizar. Se por acaso já escreveram, ou andaram lendo, algo parecido com esses meus esboços, compartilhem, por favor.
Para dar um exemplo, fiquei viajando nesses conceitos (que ainda não são bem conceitos, mas sementes), depois que vi as fotos do ensaio para a coleção Outono-Inverno 2011 da Di Sampaio, marca da estilista baiana Thiana Di Sampaio, que se chama justamente Animal Urbano. Muita “coincidência ” tanta vida selvagem ter caído no meu colo de uma vez, entre livros e fotos, em um intervalo de tempo de um mês! A beleza selvagem me chama, com toda certeza. Ainda mais que o aniversário da grife é um dia antes do meu, como fiquei sabendo há pouco tempo. Já que não acredito em coincidências, mas em misteriosas conexões profundas entre pessoas que não necessarimente precisam se conhecer (pessoalmente não conheço Thiana), ao invés de fazer o clássico post sobre a coleção, comecei a “filosofar” nas motivações das peças e dessa mulher fera que a criadora traduz.
A coleção da estilista, como vocês devem ter notado pelo nome, tem essa pegada animal print e as fotos (algumas ilustram o post), com esse cenário escolhido, a fluidez dos tecidos (algodão, seda, tule, renda, chiffon e etc), as estampas e o toque despojado, meio hippie, me deram a visão nítida do que acredito ser uma neo-neofeminista. Algo na linha: uma mulher bonita, mas de dentro para fora e sem neuras com idade, peso, altura e cia; romântica, mas destemida; gosta de sofisticação, mas sem abrir mão da liberdade e da beleza das coisas simples; tem atitude, mas sem aquela arrogância vazia, dos ignorantes; quer respeito e igualdade, mas não abre mão de delicadeza nas relações (homens que puxam a cadeira e abrem a porta do carro são bem-vindos, por que não?); tem um toque de exuberância primitiva, mas também é conectada; enfática, porém sutil… É nesse tipo de mulher que eu penso quando vejo as peças criadas por Thiana e associo com as coisas que leio e vejo em certos comportamentos femininos da atualidade.
Além disso, as pesquisas para a coleção aconteceram na Espanha e Itália. Não posso deixar de comentar outra “misteriosa conexão”, justamente com a Espanha, país pelo qual tenho um amor profundo e uma “ciganidade” latente na alma.
Para vocês verem como, infelizmente, algo considerado tão fútil para os de mente fechada, como a moda, pode nos trazer tantas reminiscências de uma só vez.
Serviço: E para quem quer conhecer a coleção ao vivo (algumas fotos ilustram o post), a Di Sampaio fica na rua Almirante Carlos Paraguassu de Sá, nº 02, 1º andar (próximo à Avenida Paulo VI, no bairro da Pituba).
Publiquei recentemente lá no meu blog pessoal, o Mar de Histórias, uma resenha sobre a biografia de Lélia Gonzalez, lançada pelo Selo Negro Editorial. Na obra, os autores, Alex Ratts e Flavia Mateus Rios, reconstituem a vida da militância acadêmica, política e social dessa intelectual negra brasileira muito atuante entre os anos 70 e 90, co-fundadora do Movimento Negro Unificado, feminista, politizada, mas com uma capacidade ímpar de manter o foco no ser humano e nos seus paradoxos, sobretudo nas questões raciais (aqui vocês leem a resenha e ficam sabendo mais sobre o livro).
Lélia Gonzalez
Essa semana, pelas estatísticas do Google, vi que um texto meu, escrito em março de 2009 aqui no Conversa, relembrando bell hooks e minhas aulas como ex-aluna especial do mestrado em Letras na UFBA, foi citado por uma blogueira carioca, ex-aluna do famoso colégio Pedro II e bacharel em História, autora do blog …ou barbárie, uma mistura de diário pessoal e acadêmico que ainda estou explorando, mas que à primeira vista, agradou pela força das palavras da autora. A blogueira, num texto sobre a nova campanha publicitária da cerveja Devassa, que viu numa revista carioca, refletia sobre a redução das mulheres, sobretudo às negras, ao corpo (aqui vocês leem o post dela).
Qual a relação de uma coisa com a outra? Bem, é que lendo a biografia da Lélia, vi que muito do que ela refletia – dos paradoxos da questão racial brasileira – tem muita ligação com o texto da autora de …ou barbárie. Sendo que, como Lélia morreu há 16 anos (em 1994), a sensação de que pouca coisa mudou de lá para cá me frustra. Ao mesmo tempo, ver uma pessoa muito mais jovem manter tanto as ideias de Lélia quanto as de bell hooks vivas e sendo discutidas, dá o conforto de acreditar que ainda resta esperança e que campanhas publicitárias machistas e reducionistas como a dessa marca de cerveja tem sobrevida contada…e o tempo está acabando.
bell hooks
Fiz um teste. Busquei no Google referências a “campanha da cerveja Devassa”. Surgiram dezenas de links para uma polêmica envolvendo peça estrelada pela socialite norte-americana Paris Hilton, em março deste ano. Nenhuma referência a uma possível polêmica sobre a campanha denunciada pelo …ou barbárie agora em dezembro. A peça publicitária com Paris, “Bem Loura”, entrou fácil na mira do Conar (ao menos segundo reportagem publicada aqui no site de O Globo). Na campanha nova, a que ainda não está na mira dos órgãos reguladores da propaganda no país, uma modelo negra, com o estereótipo da “mulata Sargenteli”, aparece em pose sensual. Logo abaixo, a frase: “é pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra”.
Paris Hilton em campanha da "Bem Loura"
Acredito que o bom entendedor não precisaria mais do que as meias-palavras do parágrafo acima. Mas em se tratando de machismo e de racismo, meias-palavras nunca bastam. O machismo atinge todas as mulheres, é fato, independente da cor da pele, da grossura do fio do cabelo, da conta bancária. E para manifestar-se, independe de gênero e orientação sexual. Lógico que, aquelas mulheres mais bem nascidas podem sentir menos os efeitos do machismo – fruto de toda uma construção ideológica e cultural de no mínimo dois mil anos -, porque possuem outros mecanismos de defesa. Mas prova de que o machismo é universal é a polêmica envolvendo a loirissima e riquíssima herdeira da cadeia de hoteis Hilton. E por favor, quem quiser tentar me convencer de que a foto acima não é machista, poupe o trabalho, porque como dizia a boa e velha Lélia, minha cabeça já está feita para a questão da relação masculina com o corpo feminino.
Mas, o racismo, esse manifesta-se majoritariamente tendo como alvo as mulheres negras e os estereótipos tão arraigados que se construíram a partir da redução do negro ao corpo. A autora de …ou barbárie filosofa sobre essa questão tendo por base estudos de mulheres como bell hooks e Lélia Gonzalez. Não digo com isso que mulheres índias não sofram preconceito (e é sempre bom lembrar que os portugueses chamavam aos índios de “negros da terra” durante a colonização). Resumo da ópera: o machismo e o racismo vão atuar juntos quando falarmos de mulheres não-brancas.
Reprodução da campanha da Devassa publicada em revista de grande circulação. A imagem é do blog ...ou barbárie
Lélia Gonzalez, que mesmo sendo feminista tinha uma leitura crítica do movimento, costumava sempre lembrar que a questão da mulher negra demorou para ser percebida pelas feministas não-negras. Isso porque, é muito fácil defender bandeiras pelos direitos das mulheres, mas a coisa se complica por exemplo quando a mesma mulher feminista mantém na cozinha de sua casa uma mulher negra que, só pela condição social mais baixa já está sofrendo opressão e nesse caso, não só masculina, mas da patroa branca também. É paradoxal e só agora tanto os movimentos feministas quanto aqueles de militância em prol da causa negra começam a acordar para a situação.
A questão é que o racismo tem nuances muito mais sutis do que o machismo, ao menos no Brasil. Por aqui, graças a nossa herança ibérica, sabemos bem que o homem brasileiro – ampliando as fronteiras – o homem latino – é machista na essência. Em maior ou menor grau, variando desde o agressor de mulheres até o carinha descolado que diz ter muitas amigas, mas empomba com “coisinhas” como o tamanho da saia da namorada ou o fato dela querer andar com os cabelos cortados a la joãozinho, “porque mulher para ser mulher precisa ter madeixas de madalena”. Ou então, que apesar de defender o comportamento liberal das mulheres em relação ao sexo, não se furta a jogar pedra nas elisas e geyses da vida. Sendo que aqui nesse setor: o das “vagabundas x moças de respeito”, o machismo também é feminino.
Sargenteli e as mulatas
Com o racismo, a sutiliza ocorre porque quando não é abertamente praticado por entidades que rezam na cartilha da ku klux klan, ele se manifesta veladamente na política de “democracia racial feliz e contente” vendida pelos órgãos de turismo como ideal de Brasil, herança do Estado Novo. Sob o mito da democracia racial, defendem alguns estudiosos da questão no país, esconde-se uma política de anulamento – ou atenuação – da negritude. A “morena brasileira” é sinônimo de mulher caliente, gostosona, permissiva e não-100% negra, leia-se, não inferiorizada. Outros estudiosos mostram o lado oculto da moeda, que a democracia racial que “amorena” o Brasil, também pratica a aniquilação – ou atenuação – da branquitude. Com certeza toda moeda tem dois lados e toda questão tem centenas, mas aqui falamos de opressão e sabemos que no nosso país, quanto mais tinta na pele, maior o grau dela. Os mestiços, como eu mesma, ficamos no centro da fogueira e tentamos encontrar nosso lugar entre dois mundos em colisão. E aqui, vale lembrar, embora o foco do post sejam as mulheres, os homens negros também sofrem tanto o preconceito quanto a redução de sua essência ao corpo e ao mito do negão bem dotado e fogoso. Sem contudo, deixar de ser machista e de em nome da supremacia do macho, oprimir as mulheres negras. Já viram que é tema pra muita conversa não é?
Tia Anastácia e a patroa, dona Benta
Mas, o que quero dizer com este post enorme é que essas questões raciais e de sexo permeiam, via discursos subliminares e entrelinhas, campanhas publicitárias como essa da cerveja, em que tanto a figura da mulher (do feminino) quanto a da negra são reduzidas ao corpo e ao instinto sexual (a serpente do paraíso, aquela que tenta Eva e que leva Adão a perder o juízo). O senso comum acaba deixando de refletir a respeito das propagandas, das novelas, da complexidade de relações entre a patroa e a empregada, porque dá muito trabalho cavar fundo sob tantas camadas, então, a educação formal e aquela recebida em casa, na rua, na comunidade, continuam disseminando esses discursos velados.
Mas, é preciso cavar e debater todos os ângulos desse prisma, esmiuçar e compreender, porque só assim, quando, como dizem os militantes, houver uma “tomada de consciência coletiva”, é que poderemos finalmente usar tanto a bandeira de democracia racial (num país que aceita todas as cores e que não tenta diluir) quanto de gênero (numa aceitação não apenas do macho e fêmea normativos, mas das orientações sexuais que fogem à regra). Folgo em saber que mais gente, como essa blogueira do …ou barbárie, mantém a chama do debate permanentemente acesa.
*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.
O artigo da semana escolhido para esta quarta-feira bate numa tecla que as meninas deste blog vivem tocando em alto e bom som: a militância para acabar com a covardia que é a violência contra as mulheres. O texto é da jornalista Marli Gonçalves e reflete sobre os casos mais recentes de violência aqui no Brasil e no resto do mundo (onde ainda se matam mulheres apedrejadas, como há dois mil anos atrás!!). O texto mostra ainda uma história de superação na vida da própria autora, que já viu e sentiu a violência na pele, mas deu a volta por cima. Vale muito a pena ler. No final, tem os contatos da Marli e os links para acessar suas páginas pessoais.
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**Violência contra a mulher: eu me manifesto. E você? Vai ficar olhando?
*Marli Gonçalves
Mulheres apedrejadas, esquartejadas, violentadas, exploradas, baleadas, surradas, torturadas, mutiladas, coagidas, reguladas, censuradas, perseguidas, abandonadas, humilhadas. Até quando a barbaridade inaceitável vai vigorar?
Eu me manifesto, sim, contra tudo que considero inaceitável. E não é de hoje. Desde pequena meto-me em encrencas por causa disso. Uma vez, tinha acho que uns 12 anos, e brincava na portaria do prédio quando ouvi um homem brigando com uma mulher do outro lado da calçada, ameaçando-a de morte, dando-lhe uns sopapos. Não tive dúvidas. Atravessei, entrei pequenina no meio deles, gritando forte por socorro, o que o assustou e fez com que ele parasse as agressões. Para minha surpresa, ao olhar para os lados, vi que havia muitos adultos assistindo à cena, impassíveis.
Nunca me esqueci disso. Inclusive porque, quando voltei para casa, tomei uma bronca daquelas. Atraída pelos meus gritos, minha mãe tinha ido à janela, e assistiu. “E se ele estivesse armado e te matasse?” – ouvi. Creio que respondi que nunca ficaria quieta vendo aquela cena, onde quer que fosse, e que jamais seria resignada. Dentro de minha própria casa já havia assistido a cenas que teriam ido para esse lado, não tivesse sido minha mãe uma guerreira baixinha e desaforada, ela própria vítima de um pai tão violento que não o aceitava nem em sua carteira de identidade, nem em sobrenome. Minha avó materna teria sido morta por um “acidente”, em que um motorista de ônibus, que por ele teria sido pago, acelerou quando ela descia. Caiu, bateu com a cabeça na sarjeta, morrendo horas depois, de hemorragia, na pequena cidade do interior de Minas.
Sakineh Mohammad Ashtiani, condenada a morte por adultério no Irã
Anos depois, senti em minha própria pele o desespero solitário da agressão, da humilhação, do medo. Em plena juventude e viço, em uma ligação amorosa complicada, de paixão e amor intenso que vi virar violência, agressão, loucura e insegurança, só saí viva porque mal ou bem sou de circo, e protegida pelos meus santos e anjos, daqui e do céu… Tentei não envolver ninguém, resolver, e quase virei primeira página policial. Tive a minha vida quase ceifada, ora por ameaça de facadas; ora por canos e barras de ferro, ora pela perda de todas as referências, ora pela coação verbal. Os poucos e únicos amigos que ainda tentaram ajudar também entraram no rol da violência. E os (ex) amigos que viraram as costas, ou faziam-se de cegos, desses também me lembro bem; inclusive de alguns que conseguiam piorar a situação e pareciam gostar disso, insuflando. Ou se calando. Ou me afastando. Deve ser bonito ver o circo pegar fogo.
Desespero solitário, sim. Não há a quem recorrer. Polícia? Apoiam os homens. Delegacia da Mulher? Na época não existia, mas parece que sua existência só atenuou a dimensão do problema, que pode acontecer em qualquer lar, lugar, classe social. Lei? Veja aí a Lei Maria da Penha. Pensava já naquele tempo, meu Deus, e se eu ainda tivesse filhos para proteger, além de mim? Não poderia ter me livrado – concluo ainda hoje, pasma em ver como a situação anda, em pleno Século XXI. Hoje, acredito que curei minhas feridas, que não foram poucas, especialmente as emocionais.
O que choca no caso Eliza Samudio, tanto quanto a violência em si, é o fato de muitas pessoas julgarem o comportamento da vítima, como se isso justificasse a violência que ela sofreu
Há semanas venho tentando defender, aqui do meu cantinho, a libertação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, mais uma das mulheres iranianas cobertas da cabeça aos pés pelo xador, a vestimenta preta que é uma das versões mais radicais do véu muçulmano. Mas esse, a roupa, não é o maior problema dela e de outras iranianas. Viúva, dois filhos, em 2005 Sakineh foi presa pelo regime fundamentalista do Irã. Em 2007, julgada. A pena inicial foram 99 chibatadas. O crime, adultério! Sua pena final, a morte por apedrejamento.
Uma história que lembra a fascinante personagem bíblica de Maria Madalena, a moça que aguardava a morte por apedrejamento até ser salva por Jesus Cristo. Cristo provocou com uma frase que ficou célebre, e revelou-se futurista: “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Esses iranianos estão querendo matar Sakineh e outras a pedradas, e com pedras pequenas, para que sofram mais; talvez porque sejam, acreditam, muito puros? A sharia, lei islâmica, devia prever cortar dedos, língua, furar os olhos desses brucutus modernos, hitlers escondidos sob mantos religiosos, protegidos por petróleo e riquezas?
Não bastasse a novela de Eliza Samudio que, morta ou não, faltou ser chutada igual bola, e de tantas jovens, inclusive adolescentes, mortas pelos namoradinhos, a advogada que morreu no fundo da represa. Todo dia tem violência. No noticiário ou na parede do lado da sua, no andar de baixo, no de cima, na casa da frente.
Cartaz da campanha Basta!, organizada por entidades civis e femininas
Nem bem a semana terminou e outro caso internacional estava na capa da revista Time, com o propósito de pedir a permanência das tropas de ocupação no Afeganistão. Na foto, na capa, a imagem chocante da afegã Aisha, 18 anos, que teve o nariz e as orelhas decepados pelo Talibã. Foi a punição à sua tentativa de fugir de casa, de uma família que a maltratava. Agora, Aisha está guardada em lugar sigiloso, com escolta armada, paga pela ONG Mulheres pelas Mulheres Afegãs. Deve ser submetida a uma cirurgia para a reconstrução do rosto. No Irã, ou melhor, globalmente, porque lá nada se cria, se estabeleceu a campanha “Um Milhão de Assinaturas exigindo mudanças de leis discriminatórias”, com protestos e abaixo-assinados, de grupos internacionais de mulheres e ativistas, organizações de direitos humanos, de universidades e centros acadêmicos e iniciativas de justiça social, que manifestam o apoio às mulheres iranianas para reformar as leis e conseguir o mesmo estatuto dentro do Irã legal do sistema.
O que há? O que está havendo? Mulher é menos importante? A realidade: em cerca de 50 pesquisas do mundo inteiro, de 10% a 50% das mulheres relatam ter sido espancadas ou maltratadas fisicamente de alguma forma por seus parceiros íntimos, em algum momento de suas vidas; 60% das mulheres agredidas no ano anterior à pesquisa o foram mais de uma vez; 20% delas sofreram atos muito fortes de violência mais do que seis vezes. No Brasil, a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos; 20% das mulheres do mundo foram vítimas de abuso sexual na infância; 69% das mulheres já foram agredidas ou violadas. No Nordeste, 20% das mulheres agredidas temem a morte caso rompam a relação; no geral, 1/3 das mulheres agredidas continuam a viver com os seus algozes. E continuam sendo agredidas. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
Cartaz de campanha contra a violência
Estudos identificam, ainda, uma lista de “provocadores” de violência: não obedecer ao marido, “responder” ao marido, não ter a comida pronta na hora certa, não cuidar dos filhos ou da casa, questionar o marido sobre dinheiro ou possíveis namoradas, ir a qualquer lugar sem sua permissão, recusar-se a ter relações sexuais ou suspeitar da fidelidade, entre eles.
Até quando ficaremos assistindo a esse filme? Chega. Foi como li a conclamação da amiga e uma das mais respeitáveis profissionais de comunicação do país, Lalá Aranha, em seu Facebook: “Não posso entender como em pleno século XXI as mulheres brasileiras são tão molestadas. Precisamos fazer algo neste sentido. Quem me acompanha?”
Adivinhem quem foi a primeira a responder? Eis, assim, aqui, também, minha primeira contribuição.
*Marli Gonçalves é jornalista, blogueira, escritora, radialista, twitteira e um monte de outras coisas legais.
O terceiro artigo selecionado para o especial Semana da Mulher é de autoria da psicóloga Manuela Melo, missionária da Canção Nova. Ela faz uma reflexão sobre a feminilidade e o que considera distorções de compreensão do verdadeiro significado da luta do movimento feminista. A série foi iniciada no domingo, dia 07, e se estende até o próximo sábado, 13. Acompanhem!
A beleza de ser feminina
*Manuela Melo
O nascimento de Vênus
O Dia da Mulher é propício para refletir sobre a participação feminina na sociedade. Não são recentes as discussões dos que defendem o feminismo ou mesmo a superioridade das mulheres aos homens. O movimento feminista proporcionou importantes contribuições para nós, mulheres; trouxe reflexões à sociedade como um todo e promoveu a compreensão de que homens e mulheres são iguais no que diz respeito às oportunidades de desenvolverem plenamente suas potencialidades. No entanto, com o passar do tempo, uma compreensão equivocada da luta pela valorização da mulher motivou a “competição”, uma disputa pela igualdade plena entre homens e mulheres. Com isto, corremos o risco de perder uma pérola preciosa: a diferença e a complementaridade entre homens e mulheres que pensam, agem e se expressam de formas diferentes.
A luta pela igualdade é vã, tira de nós mulheres a dignidade, o valor e a essência própria do ser mulher, fazendo com que se busque atingir padrões sociais, que muitas vezes não refletem a natureza feminina. Para o precursor da logoterapia, Victor Frankl, a existência humana é algo único e irrepetível. Ele explica que cada pessoa tem o “caráter de algo único”. É necessária a compreensão de que homens e mulheres têm valor e dignidade próprios pelo simples fato de terem sido criados à imagem e semelhança de Deus.
A mulher tem particularidades no modo de se relacionar, de agir, de lidar com os outros, de cuidar dos que ama. E por que então tentar anulá-las ao querer igualar-se ao homem? A mulher tem reações hormonais únicas, que são belas e que não podem ser desprezadas.
Outra questão que deve ser analisada é o da beleza feminina confundida com sensualidade. É fato que todo ser humano traz dentro de si um impulso natural para o prazer. A sensualidade gera na mulher uma elevação da autoestima. Por outro lado, o comportamento sensual de uma mulher pode banalizar a sexualidade e fomentar um ramo da indústria que tem compromisso apenas com o lucro e, que muitas vezes, desvaloriza a mulher, transformando-a em algo essencialmente externo, corporal, físico, colocando de lado a essência da alma feminina.
É certo que as qualidades físicas são as primeiras a chamarem a atenção, mas não se pode esquecer que o verdadeiro valor da pessoa está no seu “caráter de algo único”, por isso uma acentuação excessiva na beleza física pode desvalorizar a pessoa na sua essência. Cuidar do próprio corpo, da aparência é saudável, no entanto, não se pode esquecer que a verdadeira beleza vem do transbordamento do interior.
Porque, então, desvalorizar a essência feminina, algo que transcende o que é externo, que é belo e criado por Deus? Uma beleza que dispensa a apelação de saias curtas e decotes, ao exagero na valorização da dimensão física da mulher.
É preciso deixar acontecer o transbordamento do interior para que apareça a verdadeira beleza da mulher. Beleza que está na sua essência, na alma feminina, afetuosa, cuidadosa, terna, sem deixar de ser firme, batalhadora. Esta beleza se reflete no exterior, no físico, no brilho do olhar, no sorriso, no jeito de andar, de se vestir, de falar, de amar.
*Manuela Melo é missionária da Comunidade Canção Nova, formada em Psicologia, com especialização em Logoterapia e MBA em Gestão de Recursos Humanos.
Aquele doce de tacho com o fio do açúcar no ponto exato. O trançado de fita ou sisal que vira tapete. Um bibelô em papel marchê, as formas de cultivar a terra sem usar agrotóxicos, aquele xarope de agrião que cura qualquer tipo de tosse, uma cantiga, uma história…se for enumerar cada um dos conhecimentos que as mulheres “da roça” detém, precisarei de outros tantos posts só para publicar a lista. Muitas vezes, acreditamos que conhecimento é só aquele adquirido na escola, numa universidade. Mas existem práticas que passam de geração para geração, apenas através da experiência. Pensando em valorizar estas experiências que transcendem a educação formal, acontece em Salvador, neste final de semana, de 21 a 23, das 9h às 22h, no Jardim dos Namorados – orla, a I Feira Estadual de Economia Feminista e Solidária da Bahia.
Ao todo, 133 grupos produtivos de mulheres rurais e urbanas, oriundos de 50 municípios localizados no semi-árido, região do sisal, Irecê, Rio São Francisco e Chapada Diamantina, vão expor os sabores do campo. Barracas com hortaliças orgânicas, derivados lácteos (requeijão, queijo caseiro – humm, que delícia!), compotas, doces, frutas beneficiadas, bebidas e comidas típicas, além de artesanato em sisal e capim-dourado são algumas das atrações do evento.
Outras duas capitais já receberam a Feira Estadual da Economia Feminista e Solidária: Recife – PE, em junho de 2008, e Natal – RN, entre outubro e novembro do mesmo ano. Até 2010, serão realizadas feiras em mais quatro estados. Todas são resultado das ações do Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais (POPMR)
Além de dar visibilidade às atividades econômicas das mulheres participantes, as feiras configuram-se em rica troca de experiências produtivas e debates sobre organização do trabalho, economia solidária e desigualdade de gênero, entre outros temas. A capacitação profissional, inclusive com a realização de oficinas, também integra a programação das feiras estaduais.
A iniciativa é do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR/BA), Movimento de Organização Comunitária (MOC), Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetag/BA) e da Rede de Produtoras da Bahia, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) , Incra e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab/BA)
Serviço:
O quê: I Feira Estadual da Economia Feminista e Solidária da Bahia
Onde: Jardim dos Namorados (Pituba), em Salvador
Quando: de 21 a 23 de agosto, das 9h às 22h
A visitação é gratuita e o valor arrecadado com a venda dos produtos, além de ajudar no orçamento doméstico dessas mulheres – boa parte delas chefes de família – também possibilita que as associações rurais ampliem os cursos para outras mulheres, gerando assim uma rede cidadã.
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