Desmentindo boatos sobre a vacina contra a Influenza A

Uma série de boatos começaram a circular pela internet sobre a vacina contra a gripe A, que ficou popularmente conhecida como a gripe suína. Para tentar barrar a série de informações equivocadas, a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde divulgou uma nota com diversas perguntas e respostas, para esclarecer a população sobre os principais pontos que estão sendo citados nos falsos e-mails disparados por aí. Sei que o post é grande, mas é uma questão de saúde nacional, meninos e meninas. Portanto, meu conselho é que vocês leiam. Não apenas leiam, mas disseminem o conteúdo da mensagem a todos os seus conhecidos. Nós precisamos de informação. Somente a informação para ajudar no combate à doença. Leiam abaixo o comunicado do Ministério da Saúde, que também pode ser acessado por meio deste link. E para quem quer informações mais detalhadas sobre a Influenza A, o próprio Ministério da Saúde criou um hotsite que contém todas as informações sobre o assunto, inclusive calendário de vacinação. Passem lá.

MINISTÉRIO DA SAÚDE – SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Assunto: Esclarecimentos sobre a vacina contra Influenza H1N1

Em decorrência de boatos sobre a vacina contra Influenza H1N1 que circulam na internet, a Secretaria de Vigilância em Saúde preparou o questionário abaixo para esclarecer as dúvidas sobre a vacina e a estratégia nacional de enfrentamento da pandemia. Repasse o conteúdo ou o link deste documento sempre que você receber o material falacioso.

O mercúrio presente na vacina causa autismo em crianças?
Não. A concentração de mercúrio é de 25 microgramas por dose de 0,5ml e é usada para evitar crescimento de fungos ou bactérias, no caso de a vacina ser contaminada acidentalmente na hora da punção repetida no frasco multi-dose. Esse mesmo conservante é utilizado rotineiramente em outras vacinas, como na Tetravalente indicada contra Difteria, Tétano, Coqueluche, Meningite e na Tríplice Viral, vacina contra Caxumba, Rubéola e Sarampo.

O timerosal, conservante antiséptico presente na vacina, pode causar autismo em crianças com disfunção mitocondrial e em adultos com disfunção hematoencefálica.
Estudos realizados em todo o mundo demonstram que o timerosal, desde 1930, tem sido amplamente utilizado como conservante em uma série de produtos biológicos, incluindo muitas vacinas. O uso nas vacinas tem por finalidade evitar o crescimento de bactérias ou fungos (micróbios), quando esta é contaminada acidentalmente, como no caso de punção repetida no frasco multidose. A concentração do timerosal na qualidade de conservante é de 0.01%, contendo, aproximadamente, 25 microgramas de mercúrio por dose de 0,5 ml, condição que tem mostrado ser capaz de impedir o crescimento de micróbios. Vacinas com estes tipos de  conservantes já são utilizadas desde 1930. Algumas delas são: DPT, Tetravalente, Febre Amarela, Dupla Viral, Triviral, etc. Em 2004, o Instituto de Medicina dos Estados Unidos convocou um comitê de Revisão de Segurança em Imunização OIMs examinou a hipótese de que as vacinas, contendo timerosal estariam causalmente associadas ao autismo e comprovou que as provas disponíveis rejeitam a existência de nexo de causalidade entre vacinas contendo timerosal e autismo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) defendeu o conservante timerosal para o uso nas vacinas, baseando-se em estudos que concluíram não existir evidências de contaminação em crianças ou adultos expostos ao timerosal, e que as vacinas que contém essa substância não aumentam a quantidade de mercúrio no organismo, pois este é expelido rapidamente, não se acumulando em função de repetidas injeções. Em face ao exposto, a CGPNI/DEVEP/SVS/MS reforça a conduta orientada por diferentes instituições de reconhecida credibilidade, as quais preconizam que, até o surgimento de novas evidências, a quantidade de timerosal contida nas vacinas não causa autismo ou qualquer outro problema para as pessoas vacinadas, não acarretando, portanto, efeitos danosos.

A vacina contém esqualeno, substância que afeta o sistema imunológico do indivíduo.
Os adjuvantes são substâncias que estimulam a resposta imunitária, permitindo reduzir a quantidade de material viral utilizado em cada dose e conferir proteção de longa duração. São produtos entre os quais se incluem certos sais de alumínio e emulsões  (esqualeno e seus derivados) que são utilizados na composição de vacinas. E não causam danos ao ser humano.

A vacina contém células cancerígenas de animais que podem causar câncer em humanos.
Não. Isso é boato irresponsável.

Indústrias farmacêuticas receberam imunidade judicial quanto a ações ocasionadas por efeitos da vacina, como morte e invalidez.
Não temos essa informação. Vale registrar que o Ministério da Saúde, Agência Nac. de Vigilância Sanitária (Anvisa) e os laboratórios produtores detentores do registro são responsáveis por registrar, acompanhar e avaliar os casos de eventos adversos associados à vacinação. O sistema de vigilância de eventos adversos pós-vacinal do Ministério da Saúde possibilita a identificação precoce de problemas relacionados com as vacinas distribuídos ou  pós-comercialização, com o objetivo de prevenir e minimizar os danos à saúde dos usuários.

Não há comprovação de que somente uma dose da vacina seja efetiva.
Errado. Estudos comprovam que a vacina é efetiva com uma dose única. As crianças entre 6 meses e menores de 2  anos devem tomar duas meias doses da vacina contra a Influenza H1N1, sendo que a segunda meia dose da vacina é aplicada 30 dias depois da primeira meia dose, para estarem protegidas do vírus da Influenza H1N1.

A gripe pandêmica foi uma criação da indústria financeira, uma vez que surgiu em plena crise  mundial. Ela foi criada só para favorecer os laboratórios farmacêuticos, que vão ganhar mais dinheiro com a fabricação e venda de remédio e vacinas.
A situação epidemiológica da gripe no mundo e no país é monitorada de forma sistemática e real. O Brasil utiliza de Sistema de Vigilância Sentinela de Influenza desde 2000. Atualmente com 62 unidades de saúde responsáveis pela coleta de amostras e organização de dados epidemiológicos agregados por semana epidemiológica (proporção de
casos suspeitos de síndrome gripal (SG) em relação ao total de atendimentos – % SG). Este sistema possibilita também a identificação dos vírus respiratórios que circulam no país, das novas cepas, o que contribuiu incisivamente a identificação da situação epidemiológica da gripe sazonal e pandêmica, assim como a adequação da vacina contra influenza utilizada anualmente e neste momento da operacionalização da vacinação contra a influenza pandêmica H1N1. O monitoramento por este sistema identificou em 2009, que desde o surgimento da pandemia, aproximadamente 70% dos vírus respiratórios que causavam síndrome gripal era o vírus influenza pandêmica (H1N1)
2009. Em alguns países este percentual chegou até 100%. O simples surgimento de casos de gripe em varios países causado por um novo vírus, já caracteriza a pandemia. Recomenda-se o seguinte endereço www.saude.gov.br eletrônico para acesso aos dados epidemiológicos referente à influenza no país.

A gripe é uma paranóia difundida pela mídia e financiada pelos laboratórios.
Respondido no item anterior

A gripe Influenza H1N1 foi criada em laboratório como o objetivo de gerar um genocídio.
Em 24 de abril de 2009, sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) notificou aos países membros a ocorrência de casos humanos de influenza para um novo subtipo, à época denominado de A(H1N1) que vinham ocorrendo, a partir de 15 de março, no México e nos Estados Unidos da América (EUA). No dia 29 de abril de 2009, após a realização da terceira reunião do Comitê de Emergência da OMS, conforme estabelecido no RSI 2005, a Diretora Geral da OMS, Dra. Margaret Chan, elevou o nível de alerta da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional
(ESPII) da fase 4 para fase 5. De acordo com a OMS, a fase 5 significa a ocorrência de disseminação do vírus entre humanos com infecção no nível comunitário em pelo menos dois países de uma mesma região da OMS (neste caso as Américas). Desde 11 de junho, segundo a OMS, a pandemia passou à fase 6, ou seja, já havia disseminação da infecção entre humanos, no nível comunitário, ocorrendo em diferentes regiões do mundo. Esta situação cumpria o critério para definição de pandemia estabelecida no Regulamento Sanitário Internacional. A origem deste vírus já vinha sendo detectada em casos isolados nos Estados Unidos, sem provocar epidemias até então, portanto não se trata de uma criação em laboratórios. Todos os fatos que ocorrem no Brasil e no mundo são minuciosamente acompanhados por este Ministério, que vem se preparando para o enfrentamento de uma segunda onda pandêmica desde 2009.

Anafilaxia, reação alérgica potencialmente fatal, é uma reação adversa pós-vacinação.
Anafilaxia é um evento raro que pode ocorrer com o uso de várias substâncias ingeridas ou introduzidas por via parenteral (muscular ou endovenosa) no corpo humano, incluindo alimentos, remedios, vacinas, entre outros. Se caracteriza por uma reação alérgica sistémica, severa e rápida a uma determinada substância, se apresentando com diminuição da pressão arterial, taquicardia e distúrbios gerais da circulação sanguínea, acompanhada ou não de edema de glote. Pessoas que são altamente alérgicas a gema de ovo não podem tomar vacinas que são produzidas a partir de gemas de ovos embrionários, como a vacina contra a Febre amarela, gripe comum e influenza H1N1. Os profissionais de saúde são capacitados para identificar essas pessoas altamente alérgicas no momento em
que procuram um posto de vacinação.

Há evidências da síndrome de Guillain-Barré em muitas pessoas que tomaram a vacina nos outros países do mundo.
Não existe esta evidência nos países que já realizaram ou estão vacinando contra a influenza pandêmica. A síndrome de Guillain Barré é um quadro neurológico que tem etiologias diversas. Alguns países tem notificado a ocorrência de casos dessa Sindrome à OMS após a vacinação, entretanto, até o momento não foram relatados casos em que tenha sido estabelecida uma associação de causa e efeito entre o uso da vacina e a sua ocorrência.

Centenas de casos de paralisia dos nervos estão sendo associadas a essa vacina. Até médicos já disseram que não vão tomar.
Ver resposta acima

A vacina contém traços de neomicina.
Sim, a vacina produzida pelo Laboratório Sanofi Pasteur. A neomicina é um antibiótico indicado para infecção bacteriana provocada por estafilococos ou outros microorganismos  usceptíveis a este princípio ativo.

A vacina que venderam para o Brasil é vacina encalhada.
Todas vacinas adquiridas pelo Brasil foram compradas diretamente dos laboratórios produtores e por meio do Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde – Opas/OMS. Em nenhum momento, o país comprou ou recebeu doação de outro país. As negociações de aquisição de imunobiológicos contra H1N1 foram realizadas em novembro de 2009, quando não havia ainda aumento da oferta da vacina por baixa utilização especialmente nos países da Europa e Asia.

Há evidências de má formação fetal em gestantes que tomaram a vacina.
A vacina contra o vírus influenza pandêmico (H1N1) 2009 é segura e indicada para a gestante em qualquer idade  gestacional. Na vacinação realizada no hemisfério norte não houve nenhum registro de má formação fetal relacionada a vacina. Esta indicação foi ratificada pela Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia – Febrasgo. Até o momento, não há relato de ocorrência de nenhum prejuízo sequer para a mãe e/ou para o feto.

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Diferenças entre gripe comum e Gripe A

Recebi por email um quadro comparativo dos sintomas da gripe comum com a gripe A, provocada pelo vírus H1N1 e popularmente chamada de gripe suína. Achei importante dividir esse conhecimento com vocês. A fonte é a Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas lembrem-se, o quadro é para nos tranquilizar e ajudar a não entrar em pânico, mas é importante, caso haja desconfiança de contágio pelo H1N1, buscar ajuda médica e fazer os exames adequados. Não tomem medicamento por conta própria contra a gripe suína. Aliás, não tomem medicamento por conta própria em nenhuma circunstância, sob o risco de piorar os sintomas. Nunca é demais lembrar aquele antigo ditado: “remédio cura, mas na dose errada, também mata”.
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Leia também:

>>Gripe suína põe mundo em alerta como nos tempos da influenza espanhola

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DIFERENÇAS ENTRE UMA GRIPE COMUM E A GRIPE A

SINTOMAS

GRIPE COMUM

GRIPE A

FEBRE

Não chega a 39 graus

Início súbito e chega rápido a 39 graus

DOR DE CABEÇA

De menor intensidade

Intensa

CALAFRIOS

Esporádicos

Frequentes

CANSAÇO

Moderado

Extremo

DOR DE GARGANTA

Acentuada

Leve

TOSSE

Menos intensa

Seca e contínua

MUCO (CATARRO)

Forte e com congestão nasal

Pouco comum

DORES MUSCULARES

Moderada

Intensa

ARDOR NOS OLHOS

Leve

Intenso

Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)

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Gripe suína põe mundo em alerta como nos tempos da “influenza espanhola”

Vírus influenza, causador da gripe
Vírus influenza, causador da gripe

Guardadas as devidas proporções, o surto de gripe suína, iniciado no México em março,  e que já alcançou diversos países, tem sido comparado com a epidemia de gripe espanhola do início do século XX. Apesar de, em 1918, não termos a quantidade de tecnologia e nem o avanço médico científico dos dias de hoje, as formas de disseminação do vírus se assemelham. Naquela época, a I Guerra Mundial ajudou a espalhar a Influenza pelo mundo. Hoje, após a globalização, o mundo encolheu e os voos que ligam todos os continentes podem trazer bem mais que roupas e acessórios na bagagem de seus passageiros. Queira Deus que a gripe suína nem de longe seja parecida com a epidemia de gripe espanhola, porque aquela sim foi uma calamidade de proporções inimagináveis até para os padrões atuais.

Aqui em Salvador e no resto do país, do planeta, a luz vermelha está acesa. Fronteiras são vigiadas e o controle sanitário torna-se rigoroso. Nas ruas do México, vemos na TV que as pessoas andam com máscara cirúrgica na cara. Mas ainda continuamos perdendo batalhas e mais batalhas para seres microscópicos como os vírus, justamente porque, tal qual em 1918, ainda vivemos diferenças gritantes no acesso à saúde, ao saneamento básico, a condições dignas de moradia e alimentação. O mundo globalizado ainda é dividido entre privilegiados e despossuídos. Não é à toa que o surto epidêmico começou no mais pobre dos países norte-americanos. Igual a epidemia de ebola, nos anos 90, que saiu da África para o resto do globo. Ou ainda, como a cólera morbus, que vez por outra eclode em algum lugar insalubre do mundo.

Diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agenor Álvares. Governo Federal decidiu criar o Gabinete Permanente de Emergência, para tratar dos assuntos referentes ao surto mundial de gripe suína / Crédito da Foto: Valter Campanato - Agência Brasil
Diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agenor Álvares. Governo Federal decidiu criar o Gabinete Permanente de Emergência, para tratar dos assuntos referentes ao surto mundial de gripe suína / Crédito da Foto: Valter Campanato - Agência Brasil

Prevenção é a palavra de ordem, tanto nesse caso da gripe suína, quanto em qualquer epidemia, como a de dengue, que já nos dá muito trabalho. Lavar as mãos, evitar contato com doentes, higienizar frutas, verduras, não jogar lixo nas ruas, afinal, somos nós que vivemos nessas mesmas ruas. Tudo isso faz parte da consciência cidadã e ajuda muito a diminuir o poder avassalador de um vírus. Mas, ainda assim,  é preciso uma consciência maior dos governos, dos cidadãos na hora de escolher esses governos, dos mais ricos da sociedade. É preciso mais justiça na hora de dividir o bolo de riqueza do mundo, mais justiça na hora de permitir que os hospitais públicos e os postos de saúde de fato cumpram seu papel perante os mais carentes. É preciso mais compromisso da medicina, tanto nas faculdades, que formam os médicos, quanto na hora de exercer a profissão, de avaliar um paciente e dizer algo mais para ele do que simplesmente “você está com virose”.

Perder vidas por causa da gripe na Idade Média, quando não se sabia nem o que era que causava uma gripe, até se entende, mas perder vidas por causa da gripe em tempos de pesquisas milionárias, em laboratórios milionários, é sinônimo de que precisamos mais do que simplesmente lavar as mãos. Faz-se necessário repensar o que estamos afinal fazendo com este planeta que chamamos de lar, o que estamos fazendo uns com os outros.

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Informações úteis sobre a gripe suína:

Abaixo, alguns links retirados do Portal A TARDE On Line; além da história da gripe espanhola, pandemia ocorrida em 1918 e considerada um dos mais graves surtos de gripe da história.

>>Conheça os sintomas da doença em uma infografia explicativa

>>Salvador tem primeiro caso suspeito de gripe suína

>>Secretário de Saúde da Bahia tranquiliza população

>>Vigilância nos aeroportos

>>Médicos dão orientações sobre o surto de gripe suína

>>Tripulação deve observar passageiros em voos internacionais

>>Site Banco da Saúde reúne guia para esclarecer sobre a gripe.  Confira

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HISTÓRIA DA GRIPE*

O advogado Rodrigues Alves foi o 5º presidente do Brasil, governou entre 1902 e 1906. Disputou e venceu nova eleição presidencial em 1919, venceu, mas não governou, porque morreu na epidemia de gripe espanhola
O advogado Rodrigues Alves foi o 5º presidente do Brasil, governou entre 1902 e 1906. Disputou e venceu nova eleição presidencial em 1919, venceu, mas não governou, porque morreu na epidemia de gripe espanhola

A epidemia de gripe espanhola, em 1918, é considerada a pior da história da humanidade. Atingiu quase todo o globo, deixou 20 milhões de mortos e 600 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo. O único país que escapou foi a Austrália, que só registraria alguns casos isolados em 1919. Independente do isolamento da Austrália, nos confins da Oceania, o governo de lá tomou medidas drásticas para impedir a entrada do virus no país. Embora tenha recebido o nome de Influenza, ou gripe espanhola, até hoje não se sabe ao certo onde a epidemia começou. A certeza é de que ela se espalhou tão depressa e fez tantas vítimas graças a I Guerra Mundial. Literalmente, o vírus viajou nas solas dos coturnos das tropas e nos navios de combate.

Surtos de gripe são relatados desde a antiguidade, como o ocorrido em 400 a.C, em Creta. Na Idade Média, alguns historiadores acreditam que a temida peste ocorrida na época da Guerra dos Cem Anos foi uma epidemia de influenza. Nos séculos XVII, XVIII e XIX, a Europa sofreu diversos surtos graves de gripe. Entre 1889 e 1890, Ásia e América também teriam sido afetadas, mas a historiografia moderna é unânime em classificar a pandemia de 1918 como a pior até os dias de hoje.

A influenza chegou por mar ao Brasil e desembarcou nas cidades portuárias mais importantes do país, em setembro de 1918: Santos, Rio de Janeiro, aqui em Salvador e Recife. Desses locais, rapidamente ganhou o resto do território. Em finais de outubro daquele ano, o virus fez estragos comparáveis aos da epidemia de cólera morbus, no recôncavo baiano, em 1859, e já havia se espalhado por todos os estados, alcançando até a Amazônia, onde dizimou tribos indígenas inteiras. O próprio prefeito de São Paulo, Washington Luis foi vítima da doença. A capital industrial do Brasil – já naquela ocasião São Paulo respondia por 40% da produção industrial nacional -, sofreu baixas terriveis na sua população. Oficialmente, foram 66 dias de epidemia e 350 mil pessoas infectadas, o que correspondia a 65% da população da cidade no período.

Destacamento de soldados brasileiros enviado à I Guerra. Acredita-se que os soldados disseminaram o vírus da gripe espanhola, pois foram contaminados nos campos de batalha
Destacamento de soldados brasileiros enviado à I Guerra. Acredita-se que os soldados disseminaram o vírus da gripe espanhola, pois foram contaminados nos campos de batalha

“A epidemia que tão impiedosamente se declarou no Rio, paralysando a vida da cidade, cobrindo-a de luto e de tristeza, e, até, ameaçando-a de fome, parece ter passado como um vendaval malfasejo, carregando vidas e alegrias no seu bojo monstruoso e deixando na sua esteira de sombra a lembrança tragica de um cortejo de dores e de maguas. “

(Trecho de reportagem publicada em 2 de novembro de 1918, na revista Fon Fon – RJ)

Os serviços de vigilância epidemiológica daquele período mostraram-se insuficientes para conter o avanço do vírus tanto em São Paulo, quanto nas demais cidades brasileiras. Os médicos, que não sabiam como tratar a doença, teciam todo tipo de teoria e tentavam combinações das mais esdrúxulas para tratar os pacientes. Em São Paulo chegou-se a catalogar a combinação de 178 substâncias diferentes em um único medicamento! Remédios para malária eram usados indiscriminadamente. Surgiam curandeiros prometendo maravilhas, mas que na maioria das vezes, só ajudavam a debilitar os pacientes ainda mais. Aglomerações públicas eram proibidas. Atletas do Corinthians que sairam para treinar, em outubro de 1918, foram punidos. Jogos e campeonatos eram suspensos. Cabarés e teatros fechados. Também não funcionavam escolas ou repartições públicas. Até a Câmara Municipal paulista fechou, porque os vereadores fugiram de medo da influenza. O índice de homicídios aumentou, porque o medo do contágio, o isolamento obrigatório e o excesso de medicamentos ingeridos, além da própria febre alta e da debilidade dos pacientes, favoreciam as alucinações. Muitos também atribuiam o surto ao castigo divino devido aos pecados da humanidade.

O surto de gripe espanhola em 1918 fez mais mortos do que os fronts da I Guerra
O surto de gripe espanhola em 1918 fez mais mortos do que os fronts da I Guerra

Nas memórias do jornalista e escritor Pedro Nava, a epidemia no Rio de Janeiro ganhou contornos de filme de terror do expressionismo alemão. Bondes e carroças eram usados para transportar centenas de caixões. Era proibido aos familiares acompanharem os mortos até o cemitério. As famílias, isoladas dentro de casa, não sabiam onde os parentes eram enterrados. Igrejas e escolas foram convertidas em hospitais. A população assustada e debilitada, promovia saques aos armazéns em busca de alimentos e remédios. Ainda assim, diante da ineficácia das políticas públicas, foi a união da sociedade civil que manteve o mínimo de ordem em meio ao caos que reinava nas principais metrópoles do país.

Com o fim da I Guerra, a epidemia de gripe foi regridindo no mundo todo. Em finais de novembro, aqui no Brasil, os casos já eram mais isolados e as cidades retomaram suas rotinas. Depois da pandemia, as pesquisas, que já ocorriam desde o século XIX – em 1891 Richard Pfeiffer isolou o bacilo haemophilus influenzae -, foram intensificadas e em 1933, cientistas britânicos anunciaram a descoberta do vírus da gripe. A partir daí, outros virus foram descobertos, todos do grupo myxo-vírus, e vacinas começaram a ser testadas. Na história recente, ocorreram epidemias de influenza em 1946, 57 e 68; além dos surtos de gripe asiática e da gripe do frango, já nos anos 2000. No entanto, nenhuma dessas chegou perto da calamidade registrada em 1918.

*Fonte: A Gripe Espanhola em São Paulo; artigo do professor Cláudio Bertolli Filho (Faculdade de Ciências Humanas da Fundação Valeparaibana de Ensino); in Revista Ciência Hoje, Volume 10, número 58, outubro de 1989. Coleção pessoal da autora deste post.

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