Guardadas as devidas proporções, o surto de gripe suína, iniciado no México em março, e que já alcançou diversos países, tem sido comparado com a epidemia de gripe espanhola do início do século XX. Apesar de, em 1918, não termos a quantidade de tecnologia e nem o avanço médico científico dos dias de hoje, as formas de disseminação do vírus se assemelham. Naquela época, a I Guerra Mundial ajudou a espalhar a Influenza pelo mundo. Hoje, após a globalização, o mundo encolheu e os voos que ligam todos os continentes podem trazer bem mais que roupas e acessórios na bagagem de seus passageiros. Queira Deus que a gripe suína nem de longe seja parecida com a epidemia de gripe espanhola, porque aquela sim foi uma calamidade de proporções inimagináveis até para os padrões atuais.
Aqui em Salvador e no resto do país, do planeta, a luz vermelha está acesa. Fronteiras são vigiadas e o controle sanitário torna-se rigoroso. Nas ruas do México, vemos na TV que as pessoas andam com máscara cirúrgica na cara. Mas ainda continuamos perdendo batalhas e mais batalhas para seres microscópicos como os vírus, justamente porque, tal qual em 1918, ainda vivemos diferenças gritantes no acesso à saúde, ao saneamento básico, a condições dignas de moradia e alimentação. O mundo globalizado ainda é dividido entre privilegiados e despossuídos. Não é à toa que o surto epidêmico começou no mais pobre dos países norte-americanos. Igual a epidemia de ebola, nos anos 90, que saiu da África para o resto do globo. Ou ainda, como a cólera morbus, que vez por outra eclode em algum lugar insalubre do mundo.
Prevenção é a palavra de ordem, tanto nesse caso da gripe suína, quanto em qualquer epidemia, como a de dengue, que já nos dá muito trabalho. Lavar as mãos, evitar contato com doentes, higienizar frutas, verduras, não jogar lixo nas ruas, afinal, somos nós que vivemos nessas mesmas ruas. Tudo isso faz parte da consciência cidadã e ajuda muito a diminuir o poder avassalador de um vírus. Mas, ainda assim, é preciso uma consciência maior dos governos, dos cidadãos na hora de escolher esses governos, dos mais ricos da sociedade. É preciso mais justiça na hora de dividir o bolo de riqueza do mundo, mais justiça na hora de permitir que os hospitais públicos e os postos de saúde de fato cumpram seu papel perante os mais carentes. É preciso mais compromisso da medicina, tanto nas faculdades, que formam os médicos, quanto na hora de exercer a profissão, de avaliar um paciente e dizer algo mais para ele do que simplesmente “você está com virose”.
Perder vidas por causa da gripe na Idade Média, quando não se sabia nem o que era que causava uma gripe, até se entende, mas perder vidas por causa da gripe em tempos de pesquisas milionárias, em laboratórios milionários, é sinônimo de que precisamos mais do que simplesmente lavar as mãos. Faz-se necessário repensar o que estamos afinal fazendo com este planeta que chamamos de lar, o que estamos fazendo uns com os outros.
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Informações úteis sobre a gripe suína:
Abaixo, alguns links retirados do Portal A TARDE On Line; além da história da gripe espanhola, pandemia ocorrida em 1918 e considerada um dos mais graves surtos de gripe da história.
>>Conheça os sintomas da doença em uma infografia explicativa
>>Salvador tem primeiro caso suspeito de gripe suína
>>Secretário de Saúde da Bahia tranquiliza população
>>Médicos dão orientações sobre o surto de gripe suína
>>Tripulação deve observar passageiros em voos internacionais
>>Site Banco da Saúde reúne guia para esclarecer sobre a gripe. Confira
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HISTÓRIA DA GRIPE*
A epidemia de gripe espanhola, em 1918, é considerada a pior da história da humanidade. Atingiu quase todo o globo, deixou 20 milhões de mortos e 600 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo. O único país que escapou foi a Austrália, que só registraria alguns casos isolados em 1919. Independente do isolamento da Austrália, nos confins da Oceania, o governo de lá tomou medidas drásticas para impedir a entrada do virus no país. Embora tenha recebido o nome de Influenza, ou gripe espanhola, até hoje não se sabe ao certo onde a epidemia começou. A certeza é de que ela se espalhou tão depressa e fez tantas vítimas graças a I Guerra Mundial. Literalmente, o vírus viajou nas solas dos coturnos das tropas e nos navios de combate.
Surtos de gripe são relatados desde a antiguidade, como o ocorrido em 400 a.C, em Creta. Na Idade Média, alguns historiadores acreditam que a temida peste ocorrida na época da Guerra dos Cem Anos foi uma epidemia de influenza. Nos séculos XVII, XVIII e XIX, a Europa sofreu diversos surtos graves de gripe. Entre 1889 e 1890, Ásia e América também teriam sido afetadas, mas a historiografia moderna é unânime em classificar a pandemia de 1918 como a pior até os dias de hoje.
A influenza chegou por mar ao Brasil e desembarcou nas cidades portuárias mais importantes do país, em setembro de 1918: Santos, Rio de Janeiro, aqui em Salvador e Recife. Desses locais, rapidamente ganhou o resto do território. Em finais de outubro daquele ano, o virus fez estragos comparáveis aos da epidemia de cólera morbus, no recôncavo baiano, em 1859, e já havia se espalhado por todos os estados, alcançando até a Amazônia, onde dizimou tribos indígenas inteiras. O próprio prefeito de São Paulo, Washington Luis foi vítima da doença. A capital industrial do Brasil – já naquela ocasião São Paulo respondia por 40% da produção industrial nacional -, sofreu baixas terriveis na sua população. Oficialmente, foram 66 dias de epidemia e 350 mil pessoas infectadas, o que correspondia a 65% da população da cidade no período.
“A epidemia que tão impiedosamente se declarou no Rio, paralysando a vida da cidade, cobrindo-a de luto e de tristeza, e, até, ameaçando-a de fome, parece ter passado como um vendaval malfasejo, carregando vidas e alegrias no seu bojo monstruoso e deixando na sua esteira de sombra a lembrança tragica de um cortejo de dores e de maguas. “
(Trecho de reportagem publicada em 2 de novembro de 1918, na revista Fon Fon – RJ)
Os serviços de vigilância epidemiológica daquele período mostraram-se insuficientes para conter o avanço do vírus tanto em São Paulo, quanto nas demais cidades brasileiras. Os médicos, que não sabiam como tratar a doença, teciam todo tipo de teoria e tentavam combinações das mais esdrúxulas para tratar os pacientes. Em São Paulo chegou-se a catalogar a combinação de 178 substâncias diferentes em um único medicamento! Remédios para malária eram usados indiscriminadamente. Surgiam curandeiros prometendo maravilhas, mas que na maioria das vezes, só ajudavam a debilitar os pacientes ainda mais. Aglomerações públicas eram proibidas. Atletas do Corinthians que sairam para treinar, em outubro de 1918, foram punidos. Jogos e campeonatos eram suspensos. Cabarés e teatros fechados. Também não funcionavam escolas ou repartições públicas. Até a Câmara Municipal paulista fechou, porque os vereadores fugiram de medo da influenza. O índice de homicídios aumentou, porque o medo do contágio, o isolamento obrigatório e o excesso de medicamentos ingeridos, além da própria febre alta e da debilidade dos pacientes, favoreciam as alucinações. Muitos também atribuiam o surto ao castigo divino devido aos pecados da humanidade.
Nas memórias do jornalista e escritor Pedro Nava, a epidemia no Rio de Janeiro ganhou contornos de filme de terror do expressionismo alemão. Bondes e carroças eram usados para transportar centenas de caixões. Era proibido aos familiares acompanharem os mortos até o cemitério. As famílias, isoladas dentro de casa, não sabiam onde os parentes eram enterrados. Igrejas e escolas foram convertidas em hospitais. A população assustada e debilitada, promovia saques aos armazéns em busca de alimentos e remédios. Ainda assim, diante da ineficácia das políticas públicas, foi a união da sociedade civil que manteve o mínimo de ordem em meio ao caos que reinava nas principais metrópoles do país.
Com o fim da I Guerra, a epidemia de gripe foi regridindo no mundo todo. Em finais de novembro, aqui no Brasil, os casos já eram mais isolados e as cidades retomaram suas rotinas. Depois da pandemia, as pesquisas, que já ocorriam desde o século XIX – em 1891 Richard Pfeiffer isolou o bacilo haemophilus influenzae -, foram intensificadas e em 1933, cientistas britânicos anunciaram a descoberta do vírus da gripe. A partir daí, outros virus foram descobertos, todos do grupo myxo-vírus, e vacinas começaram a ser testadas. Na história recente, ocorreram epidemias de influenza em 1946, 57 e 68; além dos surtos de gripe asiática e da gripe do frango, já nos anos 2000. No entanto, nenhuma dessas chegou perto da calamidade registrada em 1918.
*Fonte: A Gripe Espanhola em São Paulo; artigo do professor Cláudio Bertolli Filho (Faculdade de Ciências Humanas da Fundação Valeparaibana de Ensino); in Revista Ciência Hoje, Volume 10, número 58, outubro de 1989. Coleção pessoal da autora deste post.
Olá, andreia. confesso que o alarmismo aproveitador que a imprensa faz da possível proliferação da gripe suína me assusta mais do que uma possível pandemia. Minhas barbas estão de molho. Outro dia foi a febre amarela. Pessoas morreram por conta do terrorismo midíático feito na época. Houve casos de gente que tomou duas doses da vacina.Se existe realmente o perigo, no caso da gripe suína, que as autoridades sanitárias tomem as medidas necessárias. Abraços
Exatamente Beto, por isso que considero exagero comparar a gripe suína com a gripe espanhola. É no mínimo desconhecimento histórico.
Um abraço!
muito grande
Olá Davi, a proposta do blog é esta, publicar artigos reflexivos e confirmar-se como referência enquanto material de pesquisa. Cabe ao leitor escolher se quer ler um texto maior, mais completo e aprofundado ou se quer algo menor e mais descartável. O bom da internet é que cabem todas as propostas. Um abraço e obrigada pela visita.
Ajude a divulgar!
O Banco de Saúde está reunindo aqui ( http://www.bancodesaude.com.br/gripe-suina/gripe-suina ) as principais informações sobre a gripe suína.
Todos os dados são revisados por nosso editorial médico e buscam manter a população informada e a par das medidas necessárias para proteger sua saúde.
Olá, o site de vocês é muito bom, com certeza ajudaremos na divulgação.
um abraço
que grande pergunta Andreia, deveriamos ter uma maneira de escancara-la por todos os cantos, para que todos se perguntassem”o que estamos fazendo uns com os outros” daí quem sabe realmente evoluiriamos para um mundo melhor e voltado para o bem geral e nao so de alguns privilegiados. um abraço e parabens pelo site.
Obrigada Celeste, concordo com você, temos de lançar esta pergunta aos quatro ventos. Um abraço.
adorei o site e utilizei_o para fazer uma pesquisa e saber mais sobre essa epidemia de gripe dos ultimos tempos.
Olá Mariane,
Ficamos felizes em ajudar! Volte sempre.
um abraço