Uma conversa sobre Aids, Carnaval e juventude

Durante estes dias de cobertura carnavalesca pela mídia, ouve-se muito falar em Aids e fala-se muito da importância da camisinha, principalmente porque o Carnaval é uma festa que tem fama de mais permissiva. Toda a ênfase no beijar na boca, na “ficação”, no curtir o momento, todo o mito da máscara e do não saber como e com quem, é excitante, sem dúvida. Existe um fetiche na “festa da carne”, isso é inegável e a intenção aqui não é ser moralista. Sexo é bom sim, mas quando feito com consciência, ainda fica melhor. Quando digo consciência, quero enfatizar o conhecimento do próprio corpo, das próprias necessidades e também das necessidades da pessoa com quem compartilhamos esse momento, seja parceiro (a) fixo ou não.

Embora se divulgue mais a escalada da epidemia de Aids entre os brasileiros em datas especiais, perto do Carnaval ou no Dia Mundial dedicado a conscientização sobre a doença, por exemplo, os números não são fantasia e nem estratégia de marketing para comover. Eles refletem a condição de milhares de pessoas reais. Liberar a informação perto ou durante o Carnaval, acredito, tem intenção de aproveitar sim que as pessoas estão focadas no sexo, mas ainda assim, os fatos existem, a epidemia existe, continua a crescer silenciosamente e atinge uma faixa etária cada vez menor.

Segundo o último boletim que recebemos (via email) do Ministério da Saúde, na faixa etária de 13 a 19 anos, o número de casos de Aids é maior entre as mulheres.  Dos 20 aos 24 anos, a divisão por gênero é semelhante e atinge tanto eles quanto elas (independente da orientação sexual) em percentagens iguais. Já entre os homens jovens, ainda segundo o MS, há maior incidência de infecção nas relações homossexuais. Vê-se com isto que a Aids nunca foi uma doença restrita a um gênero ou opção sexual, mas é alarmante o fato de tanta gente jovem adquirir o vírus. É falta de campanha? Acredito que não é só isso. Ainda assim, este ano, o foco da campanha pró-camisinha do MS durante a folia de Momo tem como alvo os jovens.

Acredito que, além da necessidade de se divulgar com mais frequência os números e as estratégias de prevenção, existe também uma falta de consciência corporal, um excesso de fé no outro (principalmente daqueles que tem parceiro (a) fixo), uma grande subserviência das mulheres (que ainda não aprenderam a agir de igual para igual com seus parceiros na relação) e, diante de tantos jovens ainda em tenra idade contaminados, um desejo até meio mórbido de desafiar a morte e dizer: “comigo não acontece”. Só que pode acontecer. E, até o momento, ainda não inventaram método mais simples de prevenção do que a camisinha.

Outro dia, respondi um comentário de alguém que dizia não gostar de sexo com camisinha. Ela revelava que não conseguia sentir prazer com a camisinha, mas acredito que sentir ou não prazer em uma relação está além da camisinha, porque está além da penetração. Cada casal deve buscar nas suas preferências e práticas, fazer o joguinho de sedução, caprichar nas preliminares, descobrir outras zonas de excitação no corpo do parceiro (a), para não limitar o sexo só ao ato da penetração. Ser criativo na vida é fundamental e o sexo faz parte disso. Então, para mim, esse aumento do número de casos de Aids entre gente jovem demais, ou de HPV, ou de outras doenças sexualmente transmissíveis (e aqui vale lembrar que a Aids se transmite por outros meios que não apenas o sexo), tem um pouco também de relação com falta de maturidade para gerenciar uma vida sexualmente ativa.

Os jovens se iniciam no sexo mais cedo, mas não estão preparados para administrar a situação, negociar o uso do preservativo, ainda não possuem aquela consciência corporal que já falei acima, as meninas mais novas são ainda mais vulneráveis à vontade do parceiro, sobretudo nas relações heterossexuais, que é onde a carga machista da sociedade traz toda aquela ideia de que a iniciativa é deles e só deles e que elas devem se submeter, espera-se até que se submetam. Creio que tudo isto ocorre porque a adolescência (e são pessoas de 13 a 19 anos se contaminando), é uma idade de tantas incertezas em tantas áreas da vida, porque não seria neste fator, o sexo?

Os pais, a escola, a sociedade, todos precisam atentar para o fato de que existe um alerta (e não é dos números do Ministério da Saúde) quando tantos jovens se contaminam em tão grande proporção com o vírus da Aids. Existe um alerta que perpassa a educação recebida em casa, a educação recebida na escola, a falta de diálogo, a erotização precoce de crianças que sequer foram alfabetizadas ainda mas estão expostas a letras de música e programas na tv acima da sua capacidade de compreensão. É uma cruzada social impedir que tantas vidas precoces se comprometam com algo tão complexo quanto ser portador de HIV. Todos, de alguma forma, temos de contribuir!

===================================================

Confira a íntegra do Boletim do Ministério da Saúde divulgado em fevereiro:

*Epidemia de Aids atinge jovens entre 13 e 19 anos

Mariângela Simão, do Ministério da Saúde. Crédito da imagem: Agência Brasil

Os números mais recentes da Aids no Brasil mostram que a epidemia, na década de 2000, comporta-se de forma diferente entre os jovens. Na população geral, a maior parte dos casos está entre os homens e, entre eles, a principal forma de transmissão é a heterossexual.

Considerando somente a faixa etária dos 13 aos 24 anos, a realidade é outra. Na faixa etária de 13 a 19 anos, a maior parte dos registros da doença está entre as mulheres. Entre os jovens de 20 a 24 anos, os casos se dividem de forma equilibrada entre os dois gêneros. Para os homens dos 13 aos 24 anos, a principal forma de transmissão é a homossexual.

Diversos fatores explicam a maior vulnerabilidade dos jovens para a infecção pelo HIV. Entre as meninas, as relações desiguais de gênero e o não reconhecimento de seus direitos, incluindo a legitimidade do exercício da sexualidade, são algumas dessas razões.

No caso dos jovens gays, falar sobre a sexualidade é ainda mais difícil do que entre os heterossexuais. “Eles sofrem preconceito na escola e, muitas vezes, na família. Isso faz com que baixem a guarda na hora de se prevenir, o que os deixa mais vulneráveis ao HIV”, explica Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

Feminização – O aumento de casos de Aids entre as mulheres se deu em todas as faixas etárias. Em 1986, a razão era de 15 casos em homens para cada um caso em mulheres. A partir de 2002, a razão de sexo estabilizou-se em 15 casos em homens para cada 10 em mulheres. Na faixa etária de 13 a 19 anos, o número de casos de Aids é maior entre as mulheres jovens. A inversão apresenta-se desde 1998, com oito casos em meninos para cada 10 casos em meninas.

Entre 2000 e junho de 2009, foram registrados no Brasil 3.713 casos de Aids em meninas de 13 a 19 anos (60% do total), contra 2.448 em meninos. Na faixa etária seguinte (20 a 24 anos), há 13.083 (50%) de casos entre elas e 13.252 entre eles. No grupo com 25 anos e mais, há uma clara inversão – 174.070 (60%) do total  de 280.557 de casos são entre os homens.

A Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira, lançada pelo Ministério da Saúde em 2009, também ajuda a explicar a vulnerabilidade das jovens à infecção pelo HIV. De acordo com o estudo, 64,8% das entrevistadas entre 15 e 24 anos eram sexualmente ativas (haviam tido relações sexuais nos 12 meses anteriores à pesquisa). Dessas, apenas 33,6% usaram preservativos em todas as relações casuais, que são as que apresentam maior risco de infecção.

Nos homens, 69,7% dos entrevistados eram sexualmente ativos. Entre eles, porém, o uso da camisinha é maior: 57,4% afirmaram ter usado em todas as relações com parceiros ou parceiras casuais.

Homossexuais – Na faixa etária de 13 a 19 anos, entre os meninos, houve mais casos de Aids por transmissão homossexual (39,2%) do que heterossexual (22,2%), no ano de 2007. Essa tendência é diferente do que ocorre quando se observa todos os casos de Aids adquiridos por transmissão entre homens – 27,4% homossexual e 45,1% heterossexual.

Nas escolas – O carro-chefe das ações de prevenção à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis é o programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), uma iniciativa dos Ministérios da Saúde e da Educação. Criado em 2003, o SPE tem como objetivo central desenvolver estratégias para redução das vulnerabilidades de adolescentes e jovens. As ações se dão de forma articulada entre escolas e unidades básicas de saúde. Hoje, 50.214 escolas de todo o país participam do programa.

A iniciativa trabalha a inclusão, na educação de jovens das escolas públicas, dos temas saúde reprodutiva e sexual. O SPE reúne ações que envolvem a participação de adolescentes e jovens (de 13 a 24 anos), professores, diretores de escolas, pais dos alunos, e gestores municipais e estaduais de saúde e educação. É no âmbito deste programa que se disponibiliza preservativos nas escolas.

*Fonte: Assessoria de Comunicação do Ministério da Saúde – Brasília

Saiba mais:

Para ver material da campanha do MS durante o Carnaval, que este ano está focada nos adolescentes, visite: www.aids.gov.br.

Leia Mais

Artigo: “O Trio Mortal”

Aproveitando que no post abaixo Alane falou sobre o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, publico aqui no blog um artigo assinado por Carlos Varaldo, do Grupo Otimismo, ong de apoio e esclarecimento aos portadores de hepatites. Já publicamos outras contribuições de Varaldo em ocasiões anteriores. Desta vez, ele fala sobre a combinação da Aids, que enfraquece  o sistema imunológico, com doenças infecto-contagiosas como a tuberculose e a hepatite C, o que afeta sensivelmente a expectativa de vida dos soropositivos, mesmo quando usuários do coquetel antirretroviral. O artigo é um alerta para pacientes e para os gestores do sistema de saúde. Combater o “trio mortal” é questão de política pública e de consciência individual e coletiva. Aids, tuberculose, hepatite C, ao contrário do que pensa o senso comum, não são doenças específicos de um determinado grupo social, de um determinado gênero ou de uma determinada cor de pele, todos estamos sujeitos ao risco de contágio e todos somos responsáveis para que portadores dessas doenças tenham tratamento humanizado, digno e livre de juízos de valor e preconceitos. Confiram o texto:

=============================================

**O Trio Mortal

*Carlos Varaldo

Bacilo de Koch, causador da tuberculose

Durante o Congresso Internacional de AIDS na Ásia e no Pacifico, que aconteceu em setembro, participantes e ativistas solicitaram maiores esforços para enfrentar “O Trio Mortal” formado pela combinação das epidemias de HIV/AIDS, tuberculose e hepatite C.

As três doenças, quando separadas, possuem tratamentos efetivos que controlam a progressão e até a cura. Isto é possível na tuberculose e na hepatite C, mas quando alguém se infecta com mais de uma dessas doenças a situação complica e o quadro se torna grave e difícil de tratar.

O alerta desesperado chega, até tardio, porque é estimado que aproximadamente 30% dos infectados com HIV/AIDS já se encontram infectados com à hepatite C ou a tuberculose, passando a ser as duas principais causas de mortes das pessoas infectadas pela AIDS.

O tratamento com o coquetel antirretroviral transformou a AIDS de doença letal para doença crônica, permitindo que as pessoas possam conviver com a doença, mas a utilização dos medicamentos prejudica o fígado e diminui as defesas, tornando-os presas fáceis se estiverem co-infectados com tuberculose ou hepatite C. Para evitar danos maiores é urgente que todos os indivíduos HIV positivos sejam testados para tuberculose e hepatites.

Vírus HIV, causador da Aids

O número de brasileiros infectados com tuberculose ou hepatites B ou C é medido em milhões, números que superam em mais de dez vezes os infectados pelo HIV. O maior problema é a não identificação de quem está infectado, possibilitando a disseminação descontrolada dessas doenças rapidamente na população.  Estudos mostram o crescimento das epidemias, principalmente, devido a que uma pessoa com tuberculose pode infectar outras 15 durante o curso da doença, que a hepatite B se transmite sexualmente com uma facilidade até 100 vezes maior que o HIV e que a hepatite C em caso de compartilhamento de instrumentos contaminados possui 85% de possibilidade de cronificação.

Os infectados com HIV/AIDS e os gestores da saúde devem tomar consciência que existe uma formula matemática que demonstra o perigo da hepatite C, a qual foi colocada por ativistas na entrada do congresso para alertar a comunidade HIV positiva: “Hepatite C + Silencio = Morte”.

“O Trio Mortal” se alimenta de carências no sistema público de saúde, do desconhecimento da população, da pobreza, da desnutrição, da falta de acesso a educação, da falta de profissionais de saúde com os conhecimentos suficientes, de comportamentos de risco e de programas pouco eficazes para enfrentar as epidemias.

Acrescentando a tudo isso a não realização de campanhas de detecção dos casos de hepatites e tuberculose complica ainda mais a situação. Quando a hepatite C e a tuberculose é diagnosticada precocemente a possibilidade de cura é excelente.

Vírus da Hepatite

“O Trio Mortal” já está trabalhando, silenciosamente, e, de forma unida, continua ganhando força.  É o momento dos movimentos sociais da AIDS, da Tuberculose e da Hepatite juntar forças para combater um inimigo comum.  Por enquanto “O Trio Mortal” está ganhando a batalha, é necessário enfrenta-lo para não perder a guerra.

Na Indonésia os ativistas utilizaram o símbolo da AIDS para alertar sobre as três doenças, mas formado por balões na cor vermelha para mostrar que o perigo já está presente.

*Carlos Varaldo é presidente do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite e vice-diretor da World Hepatitis Alliance.
**Material encaminhado ao blog através da assessoria de comunicação do grupo Otimismo

======================================

Mais sobre hepatites:

>>Visite o site do Grupo Otimismo

>>Uma conversa sobre Hepatite B

>>Vinte anos da descoberta do vírus da Hepatite C

Leia Mais

Vinte anos da descoberta do vírus da Hepatite C

Representação do vírus da Hepatite C
Representação do vírus da Hepatite C

A Hepatite C atinge cerca de três milhões de pessoas no país e infecta cinco vezes mais que a AIDS. Este ano, completam-se vinte anos da descoberta do VHC, vírus causador da Hepatite C, ocorrida em 1989. Recebemos um bom material, que esclarece algumas dúvidas sobre a chamada doença silenciosa, pois o vírus leva anos encubado, antes dos problemas de saúde se manifestarem. Abaixo, transcrevo o material recebido através da assessoria de comunicação do HC – FMUSP (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo). No final do post, os interessados em saber mais sobre a doença encontram o link para o Portal da Hepatite, uma página na internet com informações completas sobre a doença e suas manifestações. No portal, há também os contatos dos grupos de apoio aos portadores em Salvador – BA e demais capitais.

=================================

“A epidemia silenciosa faz 20 anos”

Na década de 70 e 80, a epidemia de Hepatice C se disseminou pelo mundo, atingindo de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 170 e 200 milhões de pessoas, equivalente a 3% da população mundial. Vinte anos mais tarde, os métodos de diagnóstico e tratamento avançaram muito, mas o cenário continua alarmante. A hepatite C é a maior causa de cirrose e câncer de fígado no mundo e se tornou o principal motivo de morte dos portadores de HIV.

A doença contamina cinco vezes mais brasileiros do que a AIDS. No País, existem 600 mil portadores do vírus da AIDS contra cerca de três milhões de pessoas infectadas com o vírus da hepatite C, segundo estimativas do Ministério da Saúde. De acordo com o infectologista Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, Coordenador do Comitê de Hepatites Virais da Sociedade Brasileira de Infectologia e Médico Assistente-Doutor da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do HC-FMUSP, a coinfecção HIV-Hepatite C, entre os usuários de drogas infectados pela AIDS, chega a quase 100%. “Morre-se pelas complicações do fígado e não pelas infecções associadas ao HIV”, explica. A proporção diminui se a pessoa adquiriu o HIV por via sexual. “Nesse caso, teremos ao redor de 15% de coinfecção HIV-Hepatite C”, completa.

Mapa de distribuição da Hepatite C no mundo. Fonte: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
Mapa de distribuição da Hepatite C no mundo. Fonte: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)

Segundo o especialista, desde a descoberta do vírus, os avanços foram muito expressivos, mas ainda há muito que melhorar. “Não temos só noticias ruins, a terapia para a hepatite C evoluiu muito. No início, com o uso apenas do interferon alfa, tínhamos ao redor de 6% de sucesso no tratamento”, explica o especialista. “Hoje saltamos para uma média de sucesso de 50% – dependendo do caso pode ser maior – e, em breve, com o advento de novas modalidades terapêuticas, devemos atingir ao redor de 75% de sucesso. Ainda não é 100%, mesmo por que não contamos com uma vacina preventiva”, completa.

O mais preocupante é que a maioria dos portadores, principalmente os mais idosos – em que a prevalência da doença chega a ser o dobro da população em geral – desconhece a sua condição. Isso ocorre, pois a hepatite C é uma doença que evolui silenciosamente sem apresentar nenhum sintoma. “Nesse cenário, tornou-se corriqueiro nos deparar com o diagnóstico tardio, quando as pessoas já apresentam o câncer de fígado ou uma doença hepática avançada” ressalta Dr. Evaldo Stanislau.

Diagnóstico e Tratamento da Hepatite C

A hepatite C crônica é uma doença de evolução lenta e que não causa sintomas por um longo tempo, mas nos estágios mais avançados o quadro sintomático pode ser bastante grave. A doença teve os primeiros casos diagnosticados em 1990, especialmente, em pacientes que receberam transfusão sanguínea antes de 1992. Transmitida, principalmente, pelo contato com o sangue, a hepatite C pode ser contraída por uso de material cortante não esterilizado adequadamente (manicure), compartilhamento de agulhas, hemodiálise, realização de tatuagem sem técnicas de esterilização adequadas ou de acupuntura sem agulhas descartáveis e ainda pelo uso endovenoso de drogas ilícitas. A evolução da doença crônica pode causar cirrose hepática em cerca de 20% dos pacientes em 10 anos, podendo desenvolver também câncer de fígado. Por esse motivo, o diagnóstico precoce é fundamental para a detecção rápida da doença e o estabelecimento de um tratamento adequado, que pode em muitos casos garantir a cura, evitando as complicações de longo prazo.   

Atualmente, os pacientes tratados com remédios de última geração para hepatite C, podem atingir altas taxas de resposta virológica sustentada (RVS), ou seja, a ausência do vírus após o tratamento, considerada como a cura para a Hepatite C. No entanto, especialistas alertam para o diagnóstico precoce e o início da terapia individualizada como o alvo principal para atingir as melhores taxas de resposta.

Locais de Tratamento

O Sistema Único de Saúde oferece tratamento para os pacientes com doenças hepáticas. Há também outros centros especializados, além deínicas privadas e dos postos do SUS no Brasil.

======================

>>Visite o Portal da Hepatite  e veja onde buscar apoio

Leia Mais

Gripe suína põe mundo em alerta como nos tempos da “influenza espanhola”

Vírus influenza, causador da gripe
Vírus influenza, causador da gripe

Guardadas as devidas proporções, o surto de gripe suína, iniciado no México em março,  e que já alcançou diversos países, tem sido comparado com a epidemia de gripe espanhola do início do século XX. Apesar de, em 1918, não termos a quantidade de tecnologia e nem o avanço médico científico dos dias de hoje, as formas de disseminação do vírus se assemelham. Naquela época, a I Guerra Mundial ajudou a espalhar a Influenza pelo mundo. Hoje, após a globalização, o mundo encolheu e os voos que ligam todos os continentes podem trazer bem mais que roupas e acessórios na bagagem de seus passageiros. Queira Deus que a gripe suína nem de longe seja parecida com a epidemia de gripe espanhola, porque aquela sim foi uma calamidade de proporções inimagináveis até para os padrões atuais.

Aqui em Salvador e no resto do país, do planeta, a luz vermelha está acesa. Fronteiras são vigiadas e o controle sanitário torna-se rigoroso. Nas ruas do México, vemos na TV que as pessoas andam com máscara cirúrgica na cara. Mas ainda continuamos perdendo batalhas e mais batalhas para seres microscópicos como os vírus, justamente porque, tal qual em 1918, ainda vivemos diferenças gritantes no acesso à saúde, ao saneamento básico, a condições dignas de moradia e alimentação. O mundo globalizado ainda é dividido entre privilegiados e despossuídos. Não é à toa que o surto epidêmico começou no mais pobre dos países norte-americanos. Igual a epidemia de ebola, nos anos 90, que saiu da África para o resto do globo. Ou ainda, como a cólera morbus, que vez por outra eclode em algum lugar insalubre do mundo.

Diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agenor Álvares. Governo Federal decidiu criar o Gabinete Permanente de Emergência, para tratar dos assuntos referentes ao surto mundial de gripe suína / Crédito da Foto: Valter Campanato - Agência Brasil
Diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agenor Álvares. Governo Federal decidiu criar o Gabinete Permanente de Emergência, para tratar dos assuntos referentes ao surto mundial de gripe suína / Crédito da Foto: Valter Campanato - Agência Brasil

Prevenção é a palavra de ordem, tanto nesse caso da gripe suína, quanto em qualquer epidemia, como a de dengue, que já nos dá muito trabalho. Lavar as mãos, evitar contato com doentes, higienizar frutas, verduras, não jogar lixo nas ruas, afinal, somos nós que vivemos nessas mesmas ruas. Tudo isso faz parte da consciência cidadã e ajuda muito a diminuir o poder avassalador de um vírus. Mas, ainda assim,  é preciso uma consciência maior dos governos, dos cidadãos na hora de escolher esses governos, dos mais ricos da sociedade. É preciso mais justiça na hora de dividir o bolo de riqueza do mundo, mais justiça na hora de permitir que os hospitais públicos e os postos de saúde de fato cumpram seu papel perante os mais carentes. É preciso mais compromisso da medicina, tanto nas faculdades, que formam os médicos, quanto na hora de exercer a profissão, de avaliar um paciente e dizer algo mais para ele do que simplesmente “você está com virose”.

Perder vidas por causa da gripe na Idade Média, quando não se sabia nem o que era que causava uma gripe, até se entende, mas perder vidas por causa da gripe em tempos de pesquisas milionárias, em laboratórios milionários, é sinônimo de que precisamos mais do que simplesmente lavar as mãos. Faz-se necessário repensar o que estamos afinal fazendo com este planeta que chamamos de lar, o que estamos fazendo uns com os outros.

===============================

Informações úteis sobre a gripe suína:

Abaixo, alguns links retirados do Portal A TARDE On Line; além da história da gripe espanhola, pandemia ocorrida em 1918 e considerada um dos mais graves surtos de gripe da história.

>>Conheça os sintomas da doença em uma infografia explicativa

>>Salvador tem primeiro caso suspeito de gripe suína

>>Secretário de Saúde da Bahia tranquiliza população

>>Vigilância nos aeroportos

>>Médicos dão orientações sobre o surto de gripe suína

>>Tripulação deve observar passageiros em voos internacionais

>>Site Banco da Saúde reúne guia para esclarecer sobre a gripe.  Confira

=================================

HISTÓRIA DA GRIPE*

O advogado Rodrigues Alves foi o 5º presidente do Brasil, governou entre 1902 e 1906. Disputou e venceu nova eleição presidencial em 1919, venceu, mas não governou, porque morreu na epidemia de gripe espanhola
O advogado Rodrigues Alves foi o 5º presidente do Brasil, governou entre 1902 e 1906. Disputou e venceu nova eleição presidencial em 1919, venceu, mas não governou, porque morreu na epidemia de gripe espanhola

A epidemia de gripe espanhola, em 1918, é considerada a pior da história da humanidade. Atingiu quase todo o globo, deixou 20 milhões de mortos e 600 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo. O único país que escapou foi a Austrália, que só registraria alguns casos isolados em 1919. Independente do isolamento da Austrália, nos confins da Oceania, o governo de lá tomou medidas drásticas para impedir a entrada do virus no país. Embora tenha recebido o nome de Influenza, ou gripe espanhola, até hoje não se sabe ao certo onde a epidemia começou. A certeza é de que ela se espalhou tão depressa e fez tantas vítimas graças a I Guerra Mundial. Literalmente, o vírus viajou nas solas dos coturnos das tropas e nos navios de combate.

Surtos de gripe são relatados desde a antiguidade, como o ocorrido em 400 a.C, em Creta. Na Idade Média, alguns historiadores acreditam que a temida peste ocorrida na época da Guerra dos Cem Anos foi uma epidemia de influenza. Nos séculos XVII, XVIII e XIX, a Europa sofreu diversos surtos graves de gripe. Entre 1889 e 1890, Ásia e América também teriam sido afetadas, mas a historiografia moderna é unânime em classificar a pandemia de 1918 como a pior até os dias de hoje.

A influenza chegou por mar ao Brasil e desembarcou nas cidades portuárias mais importantes do país, em setembro de 1918: Santos, Rio de Janeiro, aqui em Salvador e Recife. Desses locais, rapidamente ganhou o resto do território. Em finais de outubro daquele ano, o virus fez estragos comparáveis aos da epidemia de cólera morbus, no recôncavo baiano, em 1859, e já havia se espalhado por todos os estados, alcançando até a Amazônia, onde dizimou tribos indígenas inteiras. O próprio prefeito de São Paulo, Washington Luis foi vítima da doença. A capital industrial do Brasil – já naquela ocasião São Paulo respondia por 40% da produção industrial nacional -, sofreu baixas terriveis na sua população. Oficialmente, foram 66 dias de epidemia e 350 mil pessoas infectadas, o que correspondia a 65% da população da cidade no período.

Destacamento de soldados brasileiros enviado à I Guerra. Acredita-se que os soldados disseminaram o vírus da gripe espanhola, pois foram contaminados nos campos de batalha
Destacamento de soldados brasileiros enviado à I Guerra. Acredita-se que os soldados disseminaram o vírus da gripe espanhola, pois foram contaminados nos campos de batalha

“A epidemia que tão impiedosamente se declarou no Rio, paralysando a vida da cidade, cobrindo-a de luto e de tristeza, e, até, ameaçando-a de fome, parece ter passado como um vendaval malfasejo, carregando vidas e alegrias no seu bojo monstruoso e deixando na sua esteira de sombra a lembrança tragica de um cortejo de dores e de maguas. “

(Trecho de reportagem publicada em 2 de novembro de 1918, na revista Fon Fon – RJ)

Os serviços de vigilância epidemiológica daquele período mostraram-se insuficientes para conter o avanço do vírus tanto em São Paulo, quanto nas demais cidades brasileiras. Os médicos, que não sabiam como tratar a doença, teciam todo tipo de teoria e tentavam combinações das mais esdrúxulas para tratar os pacientes. Em São Paulo chegou-se a catalogar a combinação de 178 substâncias diferentes em um único medicamento! Remédios para malária eram usados indiscriminadamente. Surgiam curandeiros prometendo maravilhas, mas que na maioria das vezes, só ajudavam a debilitar os pacientes ainda mais. Aglomerações públicas eram proibidas. Atletas do Corinthians que sairam para treinar, em outubro de 1918, foram punidos. Jogos e campeonatos eram suspensos. Cabarés e teatros fechados. Também não funcionavam escolas ou repartições públicas. Até a Câmara Municipal paulista fechou, porque os vereadores fugiram de medo da influenza. O índice de homicídios aumentou, porque o medo do contágio, o isolamento obrigatório e o excesso de medicamentos ingeridos, além da própria febre alta e da debilidade dos pacientes, favoreciam as alucinações. Muitos também atribuiam o surto ao castigo divino devido aos pecados da humanidade.

O surto de gripe espanhola em 1918 fez mais mortos do que os fronts da I Guerra
O surto de gripe espanhola em 1918 fez mais mortos do que os fronts da I Guerra

Nas memórias do jornalista e escritor Pedro Nava, a epidemia no Rio de Janeiro ganhou contornos de filme de terror do expressionismo alemão. Bondes e carroças eram usados para transportar centenas de caixões. Era proibido aos familiares acompanharem os mortos até o cemitério. As famílias, isoladas dentro de casa, não sabiam onde os parentes eram enterrados. Igrejas e escolas foram convertidas em hospitais. A população assustada e debilitada, promovia saques aos armazéns em busca de alimentos e remédios. Ainda assim, diante da ineficácia das políticas públicas, foi a união da sociedade civil que manteve o mínimo de ordem em meio ao caos que reinava nas principais metrópoles do país.

Com o fim da I Guerra, a epidemia de gripe foi regridindo no mundo todo. Em finais de novembro, aqui no Brasil, os casos já eram mais isolados e as cidades retomaram suas rotinas. Depois da pandemia, as pesquisas, que já ocorriam desde o século XIX – em 1891 Richard Pfeiffer isolou o bacilo haemophilus influenzae -, foram intensificadas e em 1933, cientistas britânicos anunciaram a descoberta do vírus da gripe. A partir daí, outros virus foram descobertos, todos do grupo myxo-vírus, e vacinas começaram a ser testadas. Na história recente, ocorreram epidemias de influenza em 1946, 57 e 68; além dos surtos de gripe asiática e da gripe do frango, já nos anos 2000. No entanto, nenhuma dessas chegou perto da calamidade registrada em 1918.

*Fonte: A Gripe Espanhola em São Paulo; artigo do professor Cláudio Bertolli Filho (Faculdade de Ciências Humanas da Fundação Valeparaibana de Ensino); in Revista Ciência Hoje, Volume 10, número 58, outubro de 1989. Coleção pessoal da autora deste post.

Leia Mais