Homenagem: sobre exemplo, incentivo e motivação

roque jorgeSabe o bom de escrever um blog? Ter a liberdade de postar sobre o que queremos, o que achamos importante, o que nos motiva. Por isso, o post de hoje, por exemplo, é uma homenagem. Admiro muito aquelas pessoas obstinadas, que buscam seus objetivos com foco, com disciplina, com amor. E hoje, após ler um post emocionado dele, em seu instagram pessoal, decidi vir aqui escrever essas palavras sobre ele, para vocês. E quem é ele? Roque Jorge, vulgo “a máquina”, meu instrutor de krav maga e, mais pessoalmente, posso garantir, meu amigo. Porque toda história de sucesso, de alguém que realizou um sonho com muita persistência, que nos motive e nos faça acreditar que tudo é possível, merece ser compartilhada. E, nesse caso, merece mesmo uma homenagem.

Conheço Roque há alguns bons anos. Eu diria, há quase duas décadas. Nos conhecemos no ambiente de trabalho, éramos funcionários da mesma empresa, trabalhávamos para o mesmo produto desenvolvido por essa empresa. Ele era programador, eu era jornalista. Ele fazia a roque jorgeprogramação do sistema que eu utilizava para alimentar os sites da empresa com conteúdo. Ou seja, trabalhávamos diretamente, em contato frequente. Roque saiu da empresa anos antes de mim, e perdemos o contato pessoal, mas seguíamos nos acompanhando em redes sociais. Na época, ele ainda não treinava krav maga. Era um profissional da zorra, competente pra caramba. Não tinha um problema que eu apresentasse para ele, que ele não achasse uma solução.

E, quer saber, porque eu estou falando dele aqui agora? Pra mostrar a cada um de vocês que lê esse texto que, realmente, não existe problema que não tenha solução. E que muitas vezes precisamos apenas buscar essa resposta com mais dedicação e afinco, que um dia ela chegará. Ontem, quando vi a imagem postada por ele no instagram, deitado no chão, emocionado por ter se transformado em um ultramaratonista, por ter corrido 21 km no sábado, na Meia Maratona Olympikus do Rio de Janeiro, e ter corrido mais 42km no domingo, na Maratona Caixa da Cidade do Rio de Janeiro, me deu vontade de vir aqui e escrever esse texto, porque isso é uma lição de vida.

Nós, que acompanhamos o dia a dia de Roque, seja na qualidade de aluno ou de amigo, temos ele como um verdadeiro exemplo de vida. Sabe aquela pessoa que luta para alcançar suas metas, que não desiste, que não se deixa abater por nenhum obstáculo? Ele é esse tipo de pessoa, um incentivador, um motivador nato. Acompanhamos todo esse percurso em busca dos melhores tempos, do melhor desempenho, do melhor que ele é capaz de dar. Assistimos de camarote, sua luta roque jorgepara evoluir, para chegar ao topo. E ele consegue ser uma pessoa tão agregadora para nós, seus alunos, que viramos mesmo uma família, daquela que torce e vibra por cada uma de suas vitórias.

Quando vi a imagem de Roque deitado no chão e o depoimento do quanto ele chorou na linha de chegada, me deu um orgulho tão grande de ser sua aluna, de fazer parte da vida de alguém assim. Me lembrei de Roque com o braço imobilizado, resultado de uma cirurgia, sem poder treinar. Me lembrei que sua dedicação permitiu que ele voltasse aos treinos muito antes da previsão médica. Lembrei também de ele chegar à academia com o pé inchado, falando da dor, mas garantindo que participaria da prova de corrida no dia seguinte. Me lembrei de quando ele conquistou a faixa preta do krav maga, depois de 15 anos de treinos intensos.

A faixa preta

Aliás, a faixa preta merece um parágrafo apartado. Li certa vez uma frase que dizia que só não realizava seus sonhos quem desistia deles no meio do caminho. E Roque é um grande exemplo dessa frase. Quinze anos treinando em busca da tão sonhada faixa preta. E, nós, seus alunos, não tínhamos a menor dúvida de que ela chegaria lá. Roque é aquela pessoa que valoriza cada passo até chegar à conquista, que vive cada etapa, que acredita ser capaz e se superar. Conquistar a faixa preta foi um momento de muita emoção não apenas para ele, mas para todos nós, seus alunos.

roque jorge

Quando recebemos a notícia pelo whatsapp, direto do Rio de Janeiro, foi uma chuva de mensagens positivas, de comemoração, uma energia boa sem fim. A primeira aula dele com a faixa preta foi emocionante, porque é um sonho que muitos de seus alunos de krav maga também almejam. E nós, que estamos no caminho, vivenciamos todas as dificuldades de se chegar à técnica perfeita. E o nosso grande incentivo é, sem dúvida alguma, Roque. Porque ele é perfeccionista, porque ele não desiste da gente. Porque ele corrige 15 mil vezes se necessário, até a hora que vai dizer que “está bom”.

roque jorge homenagem

Quando entrei no krav maga, me senti completamente perdida. Achei que nunca aprenderia, que nunca conseguiria concatenar os golpes. E ele corrigia daqui, corrigia dali, cobrava a presença nos treinos. Mandava repetir uma, duas, 400 vezes. Até que fui pro exame pra faixa amarela. E quer saber? Me senti muito confortável ali. Eu sabia que tinha treinado com o melhor. Não tinha como dar errado. E não deu mesmo. Os golpes saíram com naturalidade no exame de faixa. O resultado não podia ter sido diferente. Porque sou aluna dele.roque jorge homenagem E se você quiser, vai se tornar o melhor que puder ser, dentro de suas limitações, basta treinar. E eu tenho certeza de que se você pode perguntar a qualquer um de seus alunos se ele mudaria de treinador, a resposta seria um sonoro e intenso não.

São anos de treino e dedicação, de comprometimento com a realização de um sonho. E aqui fica o exemplo pra gente: vamos treinar. Frequentar as aulas, treinar, corrigir as falhas, ouvir as orientações, insistir. Em relação ao krav maga, especialmente, ele existe para que a gente coloque nossa segurança em primeiro lugar. Sejamos persistentes, que o resultado só chega com a persistência nos treinos. A lição é essa: Quer a técnica perfeita? Treine. Sem mistério, sem segredos. Simples assim, treinem!

Sobre acreditar, incentivo e afins

Eu não tenho nenhuma dúvida de que Roque é daquelas pessoas capazes de realizar qualquer sonho que queira. Inclusive, acho que nenhum de seus alunos tem. O tipo de pessoa que precisamos admirar e nos inspirar. Que faz a gente perceber que tudo na vida é possível, é só dedicarmos esforço, buscarmos a superação. No final das contas, presenciar tantas de suas vitórias só me faz acreditar ainda mais, acreditar que posso ir além também, em qualquer de meus objetivos. roque jorgeAcreditar que tudo está ao alcance de nossas mãos, basta que a gente erga essa mão e corra no sentido do objetivo.

Eu não moro perto da academia que treino krav maga. Esses dias estava sem carro, e ele me mandou mensagem na véspera da aula, dizendo que era pra ir pra aula. Era a véspera do dia da prova dele no Rio de Janeiro. Ele me disse que era para ir, que ele estaria no Rio, mas Cris, sua esposa e a melhor monitora de krav maga do universo (de verdade, eu sou a maior fã dela), daria aula. Eu coloquei umas três dificuldades para conseguir chegar à academia. Em um momento da conversa ele me disse: “para cada problema que você apontar, eu vou te dar uma solução. Você não terá desculpa para faltar a aula amanhã. Quando a conversa parou, fiquei pensando exatamente nisso, porque Roque Jorge é isso, um exemplo de que tudo é possível, desde que você queira. Eu fui à aula. Realmente não tinha desculpas para não ir.

Parabéns, mestre! Muito orgulho de poder conviver com uma pessoa como você.

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Uma homenagem “de mãe” ao Dia Internacional da Mulher

O Dia Internacional da Mulher em 2011 enfrenta a concorrência do Carnaval, uma festa que acredito cada vez mais se caracteriza por desrespeitar e desvalorizar o feminino. Independente da mídia criar factoides do tipo “A força delas na avenida”, o que vemos, na maioria das vezes, é agressão. E não falo só das letras pejorativas das músicas. Há todo um imaginário essencialmente machista construído por trás da festa, que em nada mais, nos dias de hoje, lembra os rituais antigos de celebração à fecundidade e ao “sagrado feminino”. Mas, a intenção desse post não é discutir feminismo e nem levantar bandeiras além daquela em nome do amor. Para quem ainda duvida da importância simbólica do 8 de Março, creio já ter falado bastante sobre o assunto aqui neste texto.

Para quem está sentindo falta dos artigos e textos especiais sobre o Dia Internacional da Mulher, que já é tradição aqui no blog, ao longo da semana abriremos espaço para esse material. Mas hoje, o que queremos é celebrar uma das facetas do feminino: a maternidade. Embora o blog seja feito só por uma mãe, temos três filhas blogando no Conversa e esse post é uma forma também de homenagear as nossas mães, com quem, acima de tudo (e independente dos erros e acertos) aprendemos a ser mulheres.

Quem  nos acompanha diariamente sabe que fizemos um sorteio e pedimos para mães de meninas e meninos enviarem fotos de momentos de carinho com seus filhotes e filhotas. A promoção já foi encerrada e ao todo, sete mães atenderam ao nosso pedido e permitiram a publicação das imagens que vocês veem abaixo (veja o resultado do sorteio). São momentos de carinho, descontração e grande afetividade. E no semblante de cada uma dessas mães, mais modelos de feminino do que os ínfimos rótulos que tentam nos impor nas revistas. Esperamos que gostem de descobrir-se em uma dessas meninas, mães, mulheres…

Obrigada as mães, por compartilharem essa vivência delicada conosco e nossos leitores!

"Acredito que esta foto é a que demonstra mais carinho, afeto e amor que eu possuo, pois foi o primeiro mamá que meu filho recebeu em meu peito!!" (Aline Beulke)
"Com o coração" (Ana Laura Cunha)
"Um amor de menino" (Sarah Mendes)
"Te amo, mãe!" (Michele Gerbase)
"Um mosaico de puro amor" (Daniele Ramos)

*E para terminar a série, as duas vencedoras do sorteio:

"Um beijinho, um carinho" (Renata Santana)
"Orgulhosa mãe de Jeniffer e João Vitor" (Priscila Lucas)

*Importante: As duas mães vencedoras foram escolhidas por sorteio eletrônico. Não houve qualquer julgamento sobre beleza ou qualidade das fotos ou cenas retratadas, porque é o tipo de coisa que não daria para julgarmos! Todas são lindas com seus meninos e meninas e só temos de agradecer mais uma vez às que concordaram em nos mostrar essas lições de amor materno e esses exemplos de beleza feminina que transcendem a ditadura do fashionismo vazio. Amamos moda, mas amamos principalmente, as pessoas!

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Festival Tudo Sobre Mulheres abre inscrições

Estão abertas  até o dia 30 de setembro, as inscrições para o V Festival de Cinema Tudo Sobre Mulheres, que acontecerá de 24 a 28 de novembro, na Chapada dos Guimarães – Mato Grosso. Podem participar produções brasileiras de até 25 minutos, finalizadas a partir de 2007, e que de alguma forma abordem o universo feminino.

O nome do festival é uma alusão ao filme de Pedro Almodóvar, Todo sobre mi madre (Tudo Sobre Minha Mãe). Almodóvar é um dos cineastas que exploram magistralmente todas as idiossincracias da feminilidade.

O objetivo do evento é estimular a produção audiovisual que aborde a questão feminina, não importando o sexo dos realizadores. O festival também contribui para a descentralização da produção cultural, ao sair do eixo Rio-São Paulo e levar o evento para o interior do Brasil.

Passional, intenso, terno e contraditório, o universo feminino em toda sua intensidade e matizes é tema recorrente da filmografia do espanhol Pedro Almodóvar. Na foto: Cena de Tudo sobre minha mãe. O título do filme serviu de inspiração para o Festival de Cinema Tudo Sobre Mulheres

Além da exibição de obras audiovisuais na Mostra Competitiva, o Tudo Sobre Mulheres também oferece apresentações de companhias de teatro, shows, lançamento de livros, feira de artesanato, dança e exposição de artistas locais. Tudo isso acontecerá em período de lua cheia (a lua é símbolo máximo da feminilidade, os místicos bem o sabem).

Homenagem – Na edição deste ano, o Tudo Sobre Mulheres prestará uma homenagem à Tetê Moraes, jornalista e cineasta que foi presa e exilada durante a ditadura militar por trabalhar no jornal O Sol, marco da imprensa opositora ao regime da época. Ela estreou no cinema na virada dos anos 70, com documentários que retratavam o cotidiano carioca. Entre seus filmes estão Terra para Rose, O Sonho de Rose, Dez Anos Depois e O Sol – Caminhando Contra o Vento.

Serviço:
V Tudo Sobre Mulheres – Festival de Cinema Feminino
De 24 a 28 de novembro de 2010.
Local: Chapada dos Guimarães – Mato Grosso.
Inscrições de filmes até 30 de setembro.
Informações e inscrições pelo site: www.tudosobremulheres.com.br

*Com informações da assessoria de comunicação do Tudo Sobre Mulheres

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*Mãe Carmem recebe comenda da Unesco

A ialorixá do Terreiro do Gantois, Mãe Carmem, recebeu a medalha dos Cinco Continentes ou da Diversidade Cultural, uma homenagem da Unesco. A condecoração se dá em reconhecimento a instituições que promovem diálogo intercultural e não fazem distinção nem proselitismo com outros segmentos religiosos. Mãe Carmem foi condecorada também com as faixas da Sociedade Secreta Geledé, sendo considerada uma Iyalodê, por ser uma líder que salvaguarda a ancestralidade de matriz africana em sua comunidade religiosa.

Outra integrante do Gantois também foi reconhecida. Márcia Maria de Souza – Maié Oxum e membro do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA – recebeu a Medalha Toussaint Louverture. A comenda leva o nome do libertador do Haiti e é oferecida pela Unesco às pessoas que desempenham importante papel de conscientização da afrodescendência e promoção das culturas africanas em função da diáspora.

*Com informações da assessoria da Unesco

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Museu da Língua homenageia Cora Coralina

Vi a reportagem na TV de madrugada: O Museu da Língua Portuguesa abre nesta quarta uma mostra em homenagem à poeta Cora Coralina. Pensei com meu teclado (não estava usando roupa com botões), taí uma boa oportunidade de falar de Cora no blog. Vamos saber um pouco mais sobre ela? Reproduzo também alguns de seus belos e delicados poemas. Aproveitem!

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Quem é?

Cora CoralinaCora Coralina nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, em 20 de agosto de 1889, as margens do Rio Vermelho, na cidade de Goiás, em uma casa antiga, de construção datada do século XVIII; e morreu em 10 de abril de 1985, em Goiânia. Passou a vida entre o interior de Goiás e o interior de São Paulo, para onde se mudou após casar-se e onde morou por 45 anos.

Cora começou a escrever aos 14 anos, embora só tivesse cursado as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Exercia oficialmente a profissão de doceira, mas também trabalhou vendendo livros e fabricando linguiça, após ficar viúva. A notoriedade porém, só viria aos 75 anos, quando Carlos Drummond de Andrade escreveu um artigo elogioso ao primeiro livro da poeta, Poemas dos Becos de Goiás.

Cora 2Além de escrever poemas, Cora Coralina também era contista e cordelista. Seu primeiro conto, escrito aos 14 anos, foi publicado em um jornal da sua cidade natal. A prosa e os versos da autora são ricos em simplicidade e em cenas do cotidiano do Brasil do interior. A vida doméstica e as cenas da infância e juventude de Cora servem de inspiração para compor pequenos libelos a vida. Muito difícil alguém que tenha nascido em cidade pequena, não se identificar com a autora.

Uma das filhas de Cora Coralina, Vicência Tahan, escreveu a biografia romanceada Cora coragem, Cora poesia, lançada pela Global editora, em 1989.

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Cora em versos:

Versos… não
Poesia… não
um modo diferente de contar velhas histórias

Cora Coralina (Poemas dos Becos de Goiás )

Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera
das obscuras!

Cora Coralina

Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina  (Outubro, 1981)

O Passado…

Homens sem pressa,
talvez cansados,
descem com leva
madeirões pesados,
lavrados por escravos
em rudes simetrias,
do tempo das acutas.
Inclemência.
Caem pedaços na calçada.
Passantes cautelosos
desviam-se com prudência.
Que importa a eles o sobrado?

Gente que passa indiferente,
olha de longe,
na dobra das esquinas,
as traves que despencam.
-Que vale para eles o sobrado?

Quem vê nas velhas sacadas
de ferro forjado
as sombras debruçadas?
Quem é que está ouvindo
o clamor, o adeus, o chamado?…
Que importa a marca dos retratos na parede?
Que importam as salas destelhadas,
e o pudor das alcovas devassadas…
Que importam?

E vão fugindo do sobrado,
aos poucos,
os quadros do Passado.

Cora Coralina

Considerações de Aninha

Melhor do que a criatura,
fez o criador a criação.
A criatura é limitada.
O tempo, o espaço,
normas e costumes.
Erros e acertos.
A criação é ilimitada.
Excede o tempo e o meio.
Projeta-se no Cosmos

Cora Coralina

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>>Para saber mais sobre a mostra em homenagem a Cora (Estadão)

>>Post no blog sobre o Museu da Língua (publicado em 21 de março)

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Feira de Saúde e homenagem às mulheres do Axé

Painelque cerca a Praça de Oxum, na Casa Branca, de autoria do artista plástico baiano Bel Borba / Crédito: Secretaria de Cultura da Bahia
Painel que cerca a Praça de Oxum, na Casa Branca, de autoria do artista plástico baiano Bel Borba / Crédito: Secretaria de Cultura da Bahia

Neste sábado, 26, das 9h às 17h, acontece a VII Feira de Saúde da Casa Branca, na praça de Oxum – Terreiro da Casa Branca, Engenho Velho da Federação. Ao longo do dia, diversos serviços serão prestados à comunidade do bairro, como medição da pressão arterial e glicemia. No mesmo dia, às 17h, após a feira, acontece uma homenagem a sete mulheres ligadas ao Candomblé na Bahia: Mãe Tatá, Mãe Stela de Oxóssi, Mãe Raidalva, Makota Valdina, Ekedy Sinha, Ekedy Lurdinha Siqueira e Alaide do Feijão; além do lançamento da Rede de Mulheres de Terreiros da Bahia.

Estandes montados pela Secretaria Municipal de Saúde reunirão informações sobre prevenção e tratamento das doenças sexualmente transmissíveis, a exemplo de DST/Aids, orientações sobre saúde bucal e saúde da mulher. Haverá também vacinação de cães e gatos e programa de prevenção às zoonoses.

Na abertura da feira de saúde, o ogan Arielson da Conceição e a Ekedy Sinha, ambos da Casa Branca, darão as boas-vindas aos participantes. Depois, a professora de enfermagem da UFBA, Luiza Huber, ministrará aula pública sobre exercícios de respiração e alongamento. A partir das 11 horas será realizada uma gincana com as crianças e jovens com o tema “saúde ambiental”. As tarefas estarão relacionadas a atitudes sustentáveis no uso dos recursos naturais.

Para completar, os estudantes de Nutrição da UFBA farão, a partir das 12 horas, uma oficina sobre Alimentação e Nutrição, explicando o valor dos alimentos e como podem ser melhor utilizados. Já ás 14 horas, será realizada uma mesa redonda com o tema: “O diálogo pelas águas, a saúde das mulheres e as políticas para a população negra”. Uma das presenças confirmadas é a de Gersoney Brandão, chefe do escritório de coordenação de ajuda humanitária da Missão da ONU no Sri Lanka, país localizado no Sul da Ásia. 

A Feira será encerrada com as premiações da gincana e apresentações culturais.

Serviço:
 O quê: VII Feira de Saúde da Casa Branca

Quando: sábado, dia 26

Horário: das 9 às 17 horas

Onde: Praça de Oxum da Casa  Branca, na Av. Vasco da Gama, 463

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Terreiro da Casa Branca

Casa brancaO Terreiro da Casa Branca (Ilê Axé Iyá Nassô Oká, em iorubá) é considerado o Candomblé mais antigo do Brasil por alguns historiadores da religão de matriz africana. Outros defendem que é a primeira casa de Candomblé nagô (iorubá) de Salvador. Sua origem remonta ao Candomblé da Barroquinha, fundado há cerca de 300 anos, por três princesas africanas que vieram para a Bahia na condição de escravas, durante o tráfico negreiro colonial. Do Terreiro da Casa Branca, sairam as ialorixás que mais tarde fundariam os Terreiros do Gantois, celebrizado por Dorival Caymmi na canção Oração à Mãe Menininha, e Ilê Axé Opô Afonjá, fundado por mãe Aninha, uma das sacerdotizas do Candomblé que lutou pela liberdade de culto da religão afrobrasileira, chegando a se encontrar com Getúlio Vargas, durante o Estado Novo, para negociar o fim das perseguições policiais aos terreiros. A Casa Branca também é o primeiro monumento negro considerado patrimônio histórico do Brasil, desde 1984. A casa é ainda tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional desde 1986.

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>>Leia sobre as mães de Santo da Bahia, em texto da jornalista e doutora em História Agnes Mariano.

>>Saiba mais sobre a feira na Casa Branca, Candomblé e outras importantes questões sobre afrodescendência e afrobrasilidade no blog da jornalista Cleidiana Ramos.

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Exposição celebra chegada de Carybé à Bahia

Carybé em seu estúdio / Crédito: Acervo da família
Carybé em seu estúdio / Crédito: Acervo da família

A magia contida nas linhas de Jubiabá, um dos romances mais famosos de Jorge Amado, foi suficiente para trazer à Bahia o argentino, nascido em Buenos Aires, Hector Julio Paride Bernabó, lá pelos idos de 1938. Você não sabe quem é Hector Bernabó? E se eu chamá-lo pelo apelido que recebeu ainda na infância, quando era escoteiro, Carybé? Mesmo que não conheça a fundo a vida desse artista plástico, escultor, gravador, cenografista, jornalista, diretor de arte, multitalentoso baiano de coração – ele naturalizou-se brasileiro em 1957 e foi agraciado na mesma época com o título de cidadão da Bahia -, com certeza, já viu espalhadas pelas ruas de Salvador, obras que levam sua assinatura. Se for soteropolitano do dendê (carioca é que é da gema), conhece os gradis que cercam o Museu de Arte da Bahia (MAM-BA) ou o Campo Grande (praça 2 de Julho); ou já viu a escultura de uma mulher com o filho enganchado nos quadris, na entrada do shopping Iguatemi; ou ainda, os paineis no Teatro Castro Alves. Se for baiano e seguidor do Candomblé, mais especificamente frequêntador do terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro, já viu obras do artista e referências a ele no lugar de honra reservado aos obás (ministros) de Xangô da casa. Mesmo que seja turista, ao desembarcar no Aeroporto Internacional da capital baiana, no seu roteiro até a saída, há um painel do artista.

Caribé mostra que é bom também no pandeiro / Crédito: Acervo da família
Caribé mostra que é bom também no pandeiro / Crédito: Acervo da família

Com tanto de Carybé impregnado na cidade, era de se esperar uma homenagem. E vai haver mesmo uma série delas. A partir do dia 24 de abril até 31 de maio, quem é da terra ou de outros cantos do mundo, está convidado para dar uma passadinha no MAM, ali na Ladeira da Av. Contorno, para conferir a exposição Carybé – 70 anos de Bahia. Organizada pelo Instituto Carybé, com patrocínio da iniciativa privada e apoio do governo estadual, a mostra reunirá 200 obras que retratam a pluralidade de temas e técnicas utilizadas pelo artista ao longo da sua trajetória.  Serão pinturas, esculturas, gravuras, paineis, murais, ilustrações de livros (Carybé era um dos principais ilustradores das obras do amigo Jorge Amado), objetos pessoais, os figurinos que criou para cinema, teatro e balé; a exibição de dois filmes (O Cangaceiro, em que assina a direção de arte) e o documentário O capeta Carybé, sobre sua vida. Para completar, seus cadernos de viagem, com esboços e diários de bordo retratando as andanças pela Europa, Oriente e Brasil serão exibidas pela primeira vez.

A garrafa verde - A hora do cão / Crédito: Sérgio Benutti (divulgação)
A garrafa verde - A hora do cão / Crédito: Sérgio Benutti (divulgação)

Também conteúdo inédito da exposição são as pinturas de países da América e o Gabinete de Humor Erótico, essa parte reservada apenas aos maiores de 18 anos, com desenhos e pinturas mais calientes do argentino-baiano. Ficou sem fôlego? Pois nem fique, porque os organizadores do megaevento ainda montaram um passeio cultural chamado Rota Carybé, que consiste em percorrer 19 pontos de Salvador onde existem interferências do artista na área urbana. Alguns desses pontos foram citados ali no começo do post, mas creiam que tem muito mais Carybé na atmosfera da soterópolis.

E as homenagens não se limitam à exposição. Carybé, morto em outubro de 1997, vai virar selo comemorativo dos Correios e Telegráfos. Reconhecendo o valor da obra do artista para a cultura baiana e nacional, o painel do aeroporto será totalmente restaurado através da iniciativa de uma empresa privada. A exemplo do que ocorre no Chile, com as casas onde Pablo Neruda viveu, o Instituto Carybé pretende ainda restaurar a sua antiga residência, no bairro da Boa Vista de Brotas, e transformá-la em um memorial e centro cultural aberto ao público.

Bahia, 1971 / Crédito: Sérgio Benutti (divulgação
Bahia, 1971 / Crédito: Sérgio Benutti (divulgação)

 Reserve espaço na agenda, porque vale a pena:

O quê: Exposição Carybé – 70 anos de Bahia

Onde:  Museu de Arte da Bahia – Ladeira da Av. Contorno, centro de Salvador

Quando: de terça a domingo, das 13h às 19h; sábados, das 13h às 21h

Período: de 24 de abril até 31 de maio

Entrada: gratuita

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Justa homenagem à Zélia Gattai

A editora Companhia das Letras vai relançar a obra completa da escritora Zélia Gattai, falecida em maio do ano passado. Paulista de nascimento, esposa do escritor baiano Jorge Amado, Zélia “abaianou” depois de mais de 50 anos ao lado do autor. Ela começou a escrever na maturidade, primeiro, lembrando a história dos seus pais, depois, reunindo as deliciosas crônicas do cotidiano da família Amado. Quem não riu muito com as aventuras dos Gattai em Anarquistas Graças a Deus, que até virou minissérie? E quem não viveu a aflição dos imigrantes italianos atravessando o Atlântico em Cittá Di Roma? Zélia, que escreveu também Crônica de Uma Namorada, seu primeiro livro de ficção, tem um estilo delicioso, de uma tia muito querida ou uma delicada avó contando suas memórias mais caras. Outro livro da autora, Chão de Meninos, é ambientado na infância dos filhos. Além de usar experiências pessoais e de amigos como fonte de inspiração, Zélia Gattai buscou no dia-a-dia do brasileiro, na Bahia, no Rio de Janeiro, ou na São Paulo da sua infância, elementos para deixar um legado que se constitui em verdadeiro registro histórico do cotidiano miudinho, geralmente aquele que os historiadores relegam. Nos seus escritos, há espaço também para recordar os memoráveis encontros de Jorge Amado com artistas e pensadores como o filósofo francês Jean Paul Sartre. Zélia faz parte daquele ramo de autores que se dedica ao memorialismo, ao registro de um passado nem tão remoto, mas bastante pitoresco. Confira a sinopse dos livros da autora, atualmente disponíveis em edições da Record:

anarquistasAnarquistas, graças a Deus, 1979 – Resgata memórias da infância de Zélia, caçula de cinco irmãos. A autora passou a infância na Alameda Santos, no bairro Paraíso em São Paulo. Ernesto Gattai, seu pai, tinha mania de inventor e vivia fazendo experiências, principalmente com motores de veículos. Dona Angelina, a mãe, adorava ópera. Impagável a sequência em que Zélia conta que quebrou um dos discos preferidos de sua mãe quando era criança.

um-chapeuUm chapéu para viagem, 1982 – Este livro traz as memórias da escritora entre 1945 e 1948, quando conheceu Jorge Amado e a família do autor baiano. Os dois se conheceram durante um movimento para a libertação de presos políticos.

Passáros noturnos do abaeté, 1983 – Este livro, lançado pela editora Macunaíma, de Salvador, reúne desenhos do artista plástico Calasans Neto e texto de Zélia.

senhora-donaSenhora Dona do baile, 1984 – Resgata o período em que Jorge Amado e Zélia viveram exilados na Europa, em 1948. Os dois tiveram de sair do país porque o partido Comunista, do qual eram membros, foi considerado ilegal. Eles moraram em Paris e na atual República Tcheca, que na época ainda era Tchecoslováquia.

reportagemReportagem Incompleta, 1987 – Em todos os momentos da família Amado, lá estava Zélia com sua rolleyflex, registrando tudo. As fotos viraram este livro, que teve até edição trilíngüe: português, inglês e francês.

jardimJardim de Inverno, 1988 – Novo registro da escritora sobre o período em que viveu com Jorge Amado na França, Tchecoslováquia e Rússia, complementa as memórias iniciadas com Senhora Dona do baile.

pipistreloPipistrelo das mil cores, 1989 – Estréia de Zélia na literatura infanto-juvenil, é todo narrado em versos e fala sobre as consequências da destruição ambiental para os seres humanos.

segredoO segredo da rua 18, 1991 – Nesta nova aventura infanto-juvenil da cronista, ela conta a história de um grupo de crianças que vivem diversas situações engraçadas e estranhas em busca do tesouro do pirata Gancho de Ouro.

chaoChão de meninos, 1992 – Crônicas da família Amado que resgatam a infância dos filhos de Zélia e Jorge. Foi lançado no ano em que Jorge Amado fez 80 anos. O texto é leve, alto-astral e contagiante, quase dá para se sentir parte da família.

cronicaCrônica de uma namorada, 1995 – Através da primeira experiência amorosa de uma adolescente, contada com muita graça e leveza por Zélia, ficamos sabendo como era a vida das meninas nos anos 50, suas expectativas, seus sonhos e as cobranças sociais. Jorge Amado escreveu o prefácio e foi o principal incentivador para que Zélia entrasse no ramo da ficção.

casaA casa do Rio Vermelho, 1999 – Nestas crônicas, Zélia coloca sua casa e a de Jorge Amado, no bairro boêmio do Rio Vermelho, em Salvador, como protagonista das histórias vividas pela família. O livro celebra a amizade, pois traz histórias deliciosas dos encontros ocorridos sob as mangueiras da antiga casa.

cittaCittá di Roma, 2000 – Neste livro, Zélia mergulha fundo nas memórias de sua família e conta a história da imigração dos italianos para o Brasil, no final do século XIX, através da viagem que seus avós, os pais de Ernesto Gattai e Angelina Dacol, fizeram no navio Cittá Di Roma.

jonasJonas e a sereia, 2000 – Outra obra infanto-juvenil da escritora, que reinventa o mito das sereias e conta uma história de amor improvável, mas perfeitamente possível no mundo da literatura, a paixão entre um homem e uma sereia.

codigosCódigos de família, 2001 – Quem não gostaria de saber o que se passa entre os membros de uma família famosa? Seus casos, as piadas, apelidos, os micos que pagaram? Pois é o que Zélia divide com os leitores em mais um volume das suas deliciosas memórias.

baianoUm baiano romântico e sensual, 2002 – O último livro publicado por Zélia Gattai foi escrito por ela e pelos filhos como uma homenagem a Jorge Amado, morto em 2001. Reúne três relatos, um de Zélia, um de João Jorge e um de Paloma.

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