Dica de filme: Sem Filtro, porque as mulheres querem falar sem censura

No filme Sem Filtro, a atriz Paz Bascuñán vive Pia, uma mulher em busca de liberdade

O filme chileno Sem Filtro, dirigido por Nicolás López, foi minha escolha para a sessão “cinema no sofá” no fim de semana. E porque a produção diz muito sobre as mulheres e suas aflições, trago a dica para vocês.

Sem Filtro (Sin Filtro), disponível no catálogo da Netflix, é uma comédia dramática que conta a história de Pia (Paz Bascuñán). Publicitária de 37 anos, sua rotina é atribulada e ela sofre de ansiedade, falta de ar e dores no peito. Está a beira de um colapso. Seu ex-namorado é o confidente com quem troca mensagens via Whatsapp. O cidadão é o típico ex metido a ‘príncipe encantado’. Mesmo já envolvido em outro relacionamento, fica rondando e não deixa espaço para ela se libertar e seguir a vida.

Com a língua solta

Ao procurar um tratamento experimental com um acupunturista, Pia recebe a orientação de deixar suas emoções fluírem. Ela deve dizer o que sente, ao invés de esconder o que incomoda para agradar os outros. Suas dores são o reflexo da repressão externa e de uma severa autocensura.

O filme foi lançado em 2016 e tornou-se uma das películas mais vistas do cinema chileno. O sucesso se deve a atualidade da obra. Além de tocar na questão da dificuldade das mulheres para fazerem-se ouvir, também traz temas contemporâneos, como a medicalização da vida. Pia começa o dia engolindo um coquetel com diversos tipos de calmantes.

A produção discute ainda as redes sociais e as celebridades instantâneas; e o contato de adolescentes com a pornografia violenta que circula na internet, criando nos jovens a cultura do abuso e estimulando a misoginia.

Não somos neuróticas, só estamos cansadas!

Um dos momentos interessantes de Sem Filtro é quando Pia tem coragem de se impor diante do chefe e do marido. Os dois, chocados com o fato dela assumir o protagonismo da própria vida, querem saber se ela está ‘con las reglas’. A personagem, cansada de imposições, questiona: “Por que, toda vez que uma mulher se irrita, os homens acham que ela está menstruada?”

Acredito que muitas mulheres se identificam com Pia. Em algum momento da vida, já carregamos mais peso do que deveríamos, iludidas pelo mito da Mulher Maravilha. Não são poucas as que adoecem e usam remédios para suportar abusos variados. Ou que vivem com maridos que não as valorizam e nem dividem obrigações cotidianas.

Muitas têm familiares e amigos que as sobrecarregam com problemas e raramente retribuem esse cuidado. E elas aguentam as situações porque foram condicionadas desde a infância a serem “boas meninas”.

A Pia do filme percorre seu caminho em busca da própria liberdade, errando e acertando, disposta a seguir em frente. Que a sua jornada inspire outras mulheres a se livrarem de tudo que oprime o peito e as faz adoecer!

……

>>Veja o trailer de Sin Filtro:

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Caso Uniban: carta de repúdio da UNE

Recebemos uma carta assinada pela diretoria de mulheres da União Nacional dos Estudantes (UNE) repudiando o ato da Universidade Bandeirantes (Uniban) que decidiu, pasmem, expulsar a estudante de turismo hostilizada, humilhada e atacada pelos colegas de curso por ter ido à aula usando uma minissaia. Reproduzimos a íntegra da carta, pois o alerta da UNE nos dá muito no que pensar enquanto sociedade (incluindo o papel da imprensa, que se arvora o título de representante da população), confiram:

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*UNE repudia expulsão da estudante de Turismo da UNIBAN

Diretoria de Mulheres divulga nova nota sobre o caso de machismo da UNIBAN

Episódio de violência sexista acaba em mais uma demonstração de machismo

No dia 22 de outubro, o Brasil assistiu cenas de selvageria. Uma estudante de turismo da Universidade Bandeirante (São Paulo) foi vítima de um dos crimes mais combatidos na sociedade, a violência sexista, que é aquela cometida contra as mulheres pelo fato de serem tratadas como objetos, sob uma relação de poder desigual na qual estão subordinadas aos homens. Nesse episódio, a estudante foi perseguida e agredida pelos colegas, hipoteticamente pelo tamanho de vestido que usava, e só pôde deixar o campus escoltada pela polícia. Alguns dos alunos que a insultaram gritavam que queriam estuprá-la. Desde quando há justificativa para o estupro ou toleramos esse tipo de violência?

Pasmem, essa história absurda teve um desfecho ainda mais esdrúxulo. A Universidade, espaço de diálogo onde deveriam ser construídas relações sociais livres de opressões e preconceitos, termina por reproduzir lamentavelmente as contradições da sociedade, dando sinais de que vive na era das cavernas.

Além de não punir os estudantes envolvidos na violência sexista, responsabiliza a aluna pelo crime cometido contra ela e a expulsa da universidade de forma arbitrária, como se dissessem que, para manter a ordem, as mulheres devem continuar no lugar que estão, secundárias à história e marginalizadas do espaço do conhecimento.

É naturalizado, fruto de uma construção cultural, e não biológica, que os homens não podem controlar seus instintos sexuais e as mulheres devem se resguardar em roupas que não ponham seus corpos à mostra. Os homens podem até andar sem camisa, mas as mulheres devem seguir regras de conduta e comportamento ideais, a partir de um padrão estético que a condiciona a viver sob as rédeas da sociedade, que por sua vez é controlada pelos homens.

Esse desfecho, somado às diversas abordagens destorcidas do fato na mídia, demonstram a situação de opressão que todas nós, mulheres, vivemos em nosso cotidiano. Situação em que mulheres e tudo o que está relacionado a elas são desvalorizados e depreciados. A mulher é vista como uma mercadoria – ora utilizada para vender algum produto, ora tolhida de autonomia e direitos, ora violentada, estigmatizada e depreciada. É essa concepção que acaba por produzir e reproduzir o machismo, violência e sexismo, próprios do patriarcado. Tal concepção permitiu o desrespeito a estudante.

Nós, mulheres estudantes brasileiras, em contraposição a essa situação, estamos constantemente em luta até que todas as mulheres sejam livres do machismo, da violência, do desrespeito e da opressão que nos cerca.

Repudiamos o ato de violência dos alunos contra a estudante de turismo, repudiamos a reação da mídia que insiste em mistificar o fato e não colocar a violência de cunho sexista no centro do debate e denunciamos a atitude da universidade de punir a estudante ao invés daqueles que provocaram tal situação.

Exigimos que a matrícula­ da estudante seja mantida, que a Universidade se retrate publicamente e que todos os agressores sejam julgados e condenados não somente pela instituição, a Uniban, mas também pela Justiça brasileira.

Somos Mulheres e Não Mercadoria!

*Diretoria de Mulheres da UNE -União Nacional dos Estudantes

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Leia também:

>>O que Mary Quant diria sobre os universitários do ABC?

 

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