Sobre viver confortável na própria pele

Todas as belezas, de todas as cores e tamanhos, merecem o mesmo respeito

Sentir-se confortável com o próprio corpo ainda é um desafio para as mulheres. Com tantos apelos na mídia, tantas receitas ‘milagrosas’, e os padrões que começam a ser construídos desde a infância; para algumas, olhar-se no espelho e gostar do que estão vendo é um exercício constante de construção e manutenção da autoestima. Falo das mulheres porque é sobre elas que ainda pesa a exigência por uma imagem impecável. É delas que ainda se exige que “existam para enfeitar o mundo”. É sobre o corpo feminino que existe toda uma pressão e controle. O que não significa que homens, ou qualquer outra pessoa dos gêneros para além do binarismo homem x mulher, também não sofram com padrões de beleza às vezes impossíveis de alcançar e insensatos.

O esforço diário para a construção e manutenção da autoestima é mais que necessário. E estar confortável na própria pele não significa acomodar-se aos ‘defeitos’. Até porque, onde está o manual que diz que tal característica é de fato um defeito? Pessoas não nascem com manuais e qualquer tentativa de enquadrá-las só serve para disseminar preconceitos e causar angústia. A beleza é uma construção social que se encaixa na cultura de cada época. Isso significa que ela é relativa e que algo considerado muito bonito hoje, pode não ter sido valorizado há vinte ou trinta anos. E vive-versa. E se os padrões de beleza mudam constantemente, porque não podemos fazer um exercício de aceitar todos os padrões? O que significa, de fato, que o bacana é não ter padrão.

Vale tudo sim!
“Será que vão gostar do meu cabelo pink?” “O que importa é que você gosta!”

Foi-se o tempo em que ser ‘diferente’ era algo negativo. Cada vez mais, o mundo – apesar das resistências acirradas de alguns – abre-se para a diversidade. E que coisa maravilhosa é essa tal de diversidade! Que libertador é olhar-se com amor e respeito pela história escrita nas rugas, nos fios brancos, nos quilos a mais ou em um nariz mais largo.

Vale cabelo liso? Vale. Cacheado? Vale. Crespo, volumoso, colorido, descolorido? Sim! Ser careca? Lógico! Ir ao salão toda semana? Se é possível pagar por isso, por que não? Não gostar de fazer as unhas, maquiar-se? O que tem de errado em não fazer as unhas ou pintar o rosto? Ser assíduo na academia e manter uma rotina de alimentação controlada? Se te faz bem, se é por você mesma que está fazendo o esforço de abrir mão do brigadeiro e não porque impuseram regras sobre o seu corpo e o seu existir, então faça seus exercícios e sua dieta e, principalmente seja feliz!

Saudável vestindo XL
“Amiga, tá me achando bochechuda na foto?”  “Que nada, você está linda!”

Vestir GG, XL ou qualquer outro manequim grande e ainda assim ser saudável? A ciência e a medicina estão revisando vários estudos e derrubando mitos sobre a relação peso e saúde. Já caiu por terra, por exemplo, a ideia de que o Índice de Massa Corporal (IMC) é o indicador supremo de que tudo vai bem no organismo. Na verdade, o IMC é só um dos muitos índices que precisam ser checados antes de apontar se uma pessoa considerada gorda é de fato doente. Ou se uma pessoa considerada magra é de fato saudável.

Junto com o IMC, exames precisam comprovar o estado do organismo do indivíduo. Há gordos com taxas de triglicérides, colesterol e glicemia normais e há magros com índices estratosféricos. Nem sempre, um corpo volumoso significa sedentarismo ou um corpo magro significa vida ativa. Nem sempre, um corpo maior é sinal de desleixo ou de voracidade à mesa. Estresse, descompassos hormonais, predisposição genética e uma infinidade de outros fatores podem levar alguém a engordar ou a emagrecer.

Além disso, nunca é demais lembrar que quem faz dieta e pega firme nos halteres de forma consciente e responsável, faz acompanhamento médico e nutricional, se submete a exames de rotina de acordo com as orientações desses profissionais e utiliza os serviços de preparadores físicos, fisioterapeutas, personal trainers, instrutores etc., para evitar lesões musculares e complicações às vezes difíceis de tratar.

E vale ainda lembrar que muitos gordos se exercitam sim, porque fazer exercícios não está diretamente relacionado a emagrecimento, mas a manter o corpo ativo, os músculos e articulações saudáveis para as atividades cotidianas.

Xô, gordofobia!

Saúde nem sempre é sinônimo de um corpo enxuto. A questão é sentir-se bem. E se você está bem internamente e se seu corpo está saudável vestindo 38/40, ótimo! Mas se está saudável e você se sente bem também vestindo 50/52/54…, não deixe ninguém dizer ou te fazer pensar o contrário. Empodere-se!

E aqui, ressalto, não estamos falando de extremos. Ninguém está fazendo apologia a anorexia ou a obesidade extrema. Não é bacana ser internada com desnutrição severa por privar o organismo de nutrientes essenciais à sobrevivência; ou pesando 300 quilos por algum piripaque severo no sistema endócrino. Mas também não é bacana julgar anoréxicos e obesos extremos como se fossem sub-pessoas. Antes de atirar pedras, faça um exercício de empatia e entenda que nesses casos é necessário ajudar porque a vida de alguém pode estar em risco. Mas essa ajuda precisa ser especializada, com tratamento médico e psicológico. E o apoio de quem não é especialista tem de ser oferecer compreensão e suporte emocional. Julgar, reclamar ou fazer pressão psicológica só agrava o problema.

Enfatizo que anorexia nervosa, bulimia, obesidade extrema ou qualquer outro transtorno alimentar requerem intervenções totalmente diferentes de simplesmente achar que toda pessoa que veste tamanhos extras-largos é uma ‘gorda sem força de vontade’ que tem de ser conscientizada porque está ou vai ficar doente se não emagrecer. Muitas vezes, o nosso comentário “bem intencionado” esconde preconceitos, camufla uma horrorosa gordofobia.

Beleza é um estado de espírito
“Acho que vou assumir os meus fios grisalhos” “E eu vou jogar umas mechas azuis no platinado” “Vou de vermelhão, que hoje eu quero causar!”

Gostar de se cuidar, seja da forma física ou da pele, dos cabelos, unhas, etc., é algo muito particular. Algumas pessoas são mais ligadas nessas rotinas de beleza, outras menos. A questão é ter em mente que a beleza precisa vir de dentro para fora e que padrões só servem para criar categorizações excludentes, que isolam e deprimem. Além disso, de nada adiantará ter um ‘corpo do verão’ e um ‘espírito de porco’.

Felizmente, vemos cada vez mais pessoas de todas as cores, todos os tamanhos, todas as idades, gêneros e orientações sexuais estampando capas de revistas, posando para ensaios, escrevendo blogs, postando vídeos cheios de autocuidado, autoestima e boas vibrações no Youtube. Essas iniciativas ainda são gotas no oceano de padronizações que muitas publicações, sites, redes sociais ou  programas de tv vendem como sendo ‘o modelo ideal’. Mas é um avanço e de avanço em avanço, construiremos um mundo decente. Fico feliz em ver que no mosaico das gentes maravilhosas que povoam esse nosso planeta, haverá cada vez mais espaço para as muitas belezas que existem e que ainda vão surgir!

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Nutrição para mulheres é tema de livro

Reeeducação alimentar, nossa blogueira Giovanna que o diga, é um assunto mais do que sério. Por isso mesmo, o mercado editorial dá sua contribuição ao debate, através do livro Nutrição da Mulher  – Uma abordagem nutricional da saúde à doença,  organizado pela nutricionista Simone Morelo Dal Bosco, lançamento da Editora Metha. A publicação promete, ao longo de 416 páginas, abordar temas como TPM (Tensão Pré-Menstrual, atividade física, dieta durante a gestação e lactação, obesidade, transtornos alimentares, diabetes, hipertensão e câncer de mama sob a ótima da terapia nutricional. A linguagem, embora acessível, é embasada por estudos científicos e pela experiência prática dos colaboradores que escreveram os capítulos da obra. Voltado para estudantes de Nutrição, o livro serve ainda de guia para quem deseja uma vida mais saudável e como material de apoio a profissionais de área de saúde.

Ficha técnica:

Nutrição da Mulher – Uma abordagem nutricional da saúde à doença
Autora: Simone Morelo Dal Bosco (organizadora)
Editora: Metha
Páginas: 416
Preço: R$ 98,00

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Acompanhe o processo de reeducação alimentar de Giovanna:

Alimentos integrais são base de reeducação alimentar

Alimentação ruim gera processos inflamatórios no organismo

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Saúde: O que é Síndrome dos Ovários Policísticos?

Selecionei para publicação nesta quinta aqui no blog, uma reportagem enviada para nós, via email, pela jornalista Márcia Wirth, da MW Consultoria – empresa especializada em assessoria na área de saúde -, sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos. O texto explica o que é a SOP, quais os sintomas mais comuns e quais as consequências para a mulher portadora deste problema. Faz ainda um alerta sobre a necessidade do diagnóstico e tratamento para a manutenção da qualidade de vida. Vale a pena conferir:
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*Síndrome dos Ovários Policísticos: Sintonia entre ginecologista e endocrinologista facilita diagnóstico e tratamento

Para muitas pacientes, não é nada esclarecedor quando elas são informadas que tem a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). A começar pelo nome, pois a Síndrome dos Ovários Policísticos pode ocorrer sem que o exame de ultra-sonografia revele cistos nos ovários. Além disso, 20% das mulheres normais podem apresentar ovários policísticos, sem nenhuma manifestação clínica ou alteração hormonal, não sendo classificadas como portadoras da Síndrome dos Ovários Policísticos. O diagnóstico da SOP é feito quando pelo menos 2, dos 3 critérios abaixo forem positivos em uma adolescente ou mulher adulta:

(1) infertilidade devido a falta de ovulação;
(2) evidências clínicas (acne, excesso de pelos corporais, seborréia, queda de cabelos) e/ou laboratoriais de excesso de hormônios masculinos;
(3) múltiplos pequenos cistos ovarianos vistos através da ultra-sonografia pélvica.

Sinais de alerta – Alterações menstruais constantes constituem-se num sinal de alerta para as mulheres, pois podem indicar a presença da Síndrome dos Ovários Policísticos ou de endometriose. “A mulher que apresenta a Síndrome dos Ovários Policísticos menstrua a cada dois ou três meses e, freqüentemente, tem apenas dois ou três episódios de menstruação por ano. Outros sintomas da doença são o hirsutismo (aumento de pelos no rosto, nos seios e na região do abdômen); a acne; a obesidade e uma dificuldade para engravidar”, explica o ginecologista Aléssio Calil Mathias, diretor da Clínica Genesis.

A Síndrome dos Ovários Policísticos surge, normalmente, na puberdade e vai até a menopausa. Geralmente, tudo começa por volta dos 10 ou 12 anos, quando os ovários da menina, até então inativos, passam a produzir hormônios em grande quantidade, desencadeando a puberdade e com ela a menarca, nome dado a primeira menstruação. “Nessa época, já se nota uma maior tendência ao ganho de peso. No rosto, os efeitos dos hormônios sob a forma de acne e seborréia, características que dão à pele da adolescente aquela aparência oleosa, se fazem notar. Tudo isso pode ser normal e desaparecer lentamente, assim que a turbulência hormonal dá lugar às secreções hormonais cíclicas e regulares da mulher adulta”, explica Silvia Mizue, endocrinologista da Clínica Genesis.

Mas em alguns casos, estes sintomas não desaparecem…  Por isso, é comum a mulher com ovários policísticos procurar vários especialistas, ao longo da vida, em busca de tratamento apropriado. Nos consultórios dos endocrinologistas e ginecologistas, elas se queixam de grande dificuldade de perder peso e das alterações clínicas secundárias ao excesso de hormônios masculinos que seus ovários fabricam.

Distúrbios hormonais – É importante dizer que todas as mulheres produzem fisiologicamente hormônios masculinos. Na mulher, uma importante função dos andrógenos é aumentar a libido. Mas, o principal problema que a Síndrome dos Ovários Policísticos provoca está relacionado com a ovulação. “A testosterona interfere nesse mecanismo e, ao mesmo tempo, aumenta a possibilidade da incidência de cistos. Os cistos representam a parada do desenvolvimento dos folículos para ovular. Nesta situação, a mulher não ovula porque lhe faltam condições endócrinas para tanto”, explica Silvia Mizue.

As queixas ginecológicas mais importantes das mulheres com SOP são a irregularidade menstrual e a infertilidade. “Além disso, várias complicações podem ocorrer com essas mulheres, quando elas conseguem engravidar, como maior índice de abortamentos, diabetes gestacional, hipertensão arterial na gestação e pré-eclâmpsia. Para todas estas complicações, o tratamento adequado reduz a incidência dessas complicações e quase as igualam às mulheres normais”, diz o ginecologista Aléssio Calil Mathias.

Possibilidades terapêuticas – O tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos depende essencialmente da fase de vida da mulher. O que é mais importante em determinado momento e qual o sintoma que mais  incomoda esta mulher são perguntas que os especialistas que assistem esta paciente devem se fazer. Como se trata de uma doença crônica, não há cura da síndrome, e sim, tratamento dos sintomas.  “Uma adolescente de 15/16 anos, obesa, com pelos, acne e perturbações menstruais, precisa tentar emagrecer. Às vezes, perder peso já pode ser suficiente para reverter o quadro, porque a obesidade gera resistência à insulina e essa resistência produz o aumento de andrógenos, os hormônios masculinos”, explica a endocrinologista da Clínica Genesis.

“Se ela não for obesa, torna-se necessário diminuir a produção dos hormônios masculinos e uma das maneiras mais simples de fazê-lo é por meio da pílula. O anticoncepcional atua também na unidade pilossebácea, reduzindo o crescimento dos pelos e a produção de sebo. Dessa forma, melhoram os quadros de hirsutismo, acne e as alterações menstruais, uma vez que a pílula regulariza os ciclos”, explica o ginecologista Aléssio Calil Mathias.

Infertilidade e SOP – Até os 23 anos de idade, mais ou menos, mulheres com a Síndrome podem ovular esporadicamente. Sabe-se que nem todas as menstruações que ocorrem espaçadamente são ovulatórias, mas algumas são, e a mulher consegue engravidar. “É muito comum a referência de que antes dos 23 anos, elas tiveram um ou dois filhos. Depois, não conseguiram mais engravidar. Essa é uma das patologias mais simples de serem tratadas porque as mulheres, em geral, respondem ao indutor da ovulação. Ele é administrado por via oral, cinco dias por ciclo, a partir do primeiro dia, e é capaz de corrigir as anomalias endócrinas e provocar ovulação. Grande parte das mulheres responde bem ao tratamento e engravida”, diz Mathias. Para as que não conseguem engravidar com o indutor de ovulação, resta, ainda, o estímulo dos ovários com gonadotrofinas, o que se faz normalmente na fertilização in vitro.

Obesidade x SOP – Apesar da obesidade não entrar nos critérios diagnósticos da SOP, ela é muito frequente. A grande maioria das pacientes tem sobrepeso, obesidade ou uma grande dificuldade de manter o peso ideal. “Além disso, a SOP se associa a um tipo especial de obesidade, aquela que se acumula no tronco, principalmente no abdômen. É a obesidade visceral, que traduz o excesso de insulina que acompanha essas pacientes e, muitas vezes, dificulta a perda de peso”, destaca Silvia Mizue, endocrinologista da Clínica Genesis.

O excesso de insulina no sangue é a marca de uma obesidade mais resistente à perda de peso. A insulina é um hormônio anabolizante e favorece o estoque de calorias, em detrimento da queima. “Logo, todas as formas de se reduzir o excesso de insulina são válidas, mas a mais importante é a melhora da sensibilidade à ação do hormônio. Assim que possibilitamos uma maior eficácia do hormônio, ele passa a ser produzido em menor quantidade e seus níveis sangüíneos caem. Isso pode ser conseguido com atividade física, dieta adequada, perda de peso e alguns medicamentos”, defende Silvia Mizue.

Para saber mais sobre a Síndrome:

Site: www.clinicagenesis.com.br

Rede Social: http://twitter.com/dralessio

Blog Gestação Saudável

*Material elaborado por Márcia Wirth, da MW Consultoria de Comunicação em Saúde

Um lembrete importante: O blog não prescreve tratamentos e nem faz diagnósticos. As fontes da reportagem acima, por exemplo, são dois médicos. Faço um alerta para que as leitoras que queiram mais esclarecimentos, que  busquem marcar consultas presenciais com as suas ginecologistas e endocrinologistas. As reportagens de saúde publicadas aqui no Conversa tem a função apenas de alertar, informar e disseminar uma cultura do cuidado de si. Sempre selecionamos com muito cuidado as fontes de pesquisa e também os textos prontos e os artigos enviados para nós e só publicamos material de boa procedência e elaborado por quem entende do assunto.  Batemos tanto na tecla da saúde, porque é um tema muito caro a nós mulheres, mas combatemos a auto-medicação e como não somos médicas, não fazemos diagnósticos e nem damos consultas ou indicamos remédios. Cuidem-se meninas, para si mesmas e para as pessoas que amam vocês!

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Ano novo, novos hábitos alimentares

Vamos fazer um trato? Não mais uma daquelas promessas vazias de ano novo, que nunca se cumprem. Mas um compromisso assumido para valer. Um daqueles pactos inquebráveis. O trato é o seguinte: vamos nos cuidar mais em 2010. Cuidar principalmente da alimentação, que nestes primeiros anos do século XXI, deixou muito a desejar em termos de qualidade. Como nas festas de fim de ano a gente sempre exagera, vale se organizar para iniciar a desintoxicação alimentar logo no comecinho de 2010. Para estimular os mais céticos, eis uma reportagem elaborada pela equipe do Citen (Centro Integrado de Terapia Nutricional), entidade que atua na prevenção à obesidade, em São Paulo. A fonte da reportagem é a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva, além de amplo material de pesquisa com Anvisa e FDA (Food and Drugs Assossiation) órgão americano que regula remédios e alimentos. Apesar de extensa, vale a leitura, para ajudar a compreender quanto ingerimos de porcaria no dia-a-dia. Gostosas, sem dúvida, isso ninguém nega. Mas a longo prazo, essas guloseimas cobram seu preço sobre a nossa saúde.

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Excesso de gordura, sal e açúcar são ameaças reais à saúde

No início do século 20, nossa maior preocupação em relação aos alimentos era com a contaminação e com as medidas sanitárias para garantir que eles não veiculassem doenças. Os Estados Unidos adotaram medidas sanitárias para garantir alimentos não contaminados, como a inspeção das carnes já em 1906. No Brasil, as primeiras resoluções sobre o assunto datam de 1929. Uma ênfase maior foi dada ao problema através de um decreto presidencial de 1952.

Atualmente, o maior risco alimentar, na maior parte do mundo, não são os micróbios, mas os excessos alimentares sob a forma de calorias, açúcares, sal e gorduras. Somos mais de 1,6 milhões de pessoas com sobrepeso em todo o mundo de acordo com o Dr. Barry Popkin, professor de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Carolina do Norte nos Estados Unidos.

De acordo com Popkin, esse número assustador já ultrapassou os 800 milhões de desnutridos espalhados pelo mundo, fazendo da obesidade uma pandemia, responsável direta ou indiretamente pela maior taxa de mortalidade imposta por qualquer fator de risco existente. Nos Estados Unidos, um terço da população adulta é obesa. No Brasil, de acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE 2002-2003, num universo de 95,5 milhões de pessoas acima de 20 anos há 3,8 milhões de pessoas (4,0%) com déficit de peso e 38,8 milhões (40,6%) com excesso de peso, das quais 10,5 milhões são consideradas obesas.

Industrializados mais saudáveis – Um exemplo recente dos nossos equívocos na industrialização dos alimentos foi a produção da gordura hidrogenada para substituir a gordura saturada da manteiga. “Passamos a comercializar margarinas duras, ricas em gordura hidrogenada, que, grama por grama, causa um risco cardiovascular muito maior do que a gordura saturada da manteiga, uma vez que, além de aumentar o mau colesterol (LDL colesterol), a gordura hidrogenada ou trans ainda reduz o colesterol protetor (HDL colesterol), sendo duplamente prejudicial à saúde”, diz a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva.

Atualmente, são muitas as leis que obrigam a indústria de alimentos a declarar a quantidade de gordura hidrogenada de seus produtos em seus rótulos, como é o caso do Brasil. Exemplos muito bem sucedidos, como é o caso de Nova York, que conseguiu praticamente abolir a gordura trans de seus alimentos industrializados, inclusive nos alimentos servidos em bares, lanchonetes e restaurantes. O fato mereceu destaque numa das mais importantes revistas médicas dos Estados Unidos. O artigo, publicado em julho de 2009, não é um ensaio clínico, pesquisa ou revisão de literatura. Trata-se de cinco páginas com a descrição da metodologia usada por Nova York para conseguir mudar o perfil dos cardápios da cidade. A ação atingiu todos os estabelecimentos licenciados para comercializar alimentos, incluindo restaurantes, lanchonetes, cantinas escolares, cafeterias, empresas fornecedoras de alimentos e comércio ambulante.

“O fato inédito envolveu várias estratégias adotadas pelo órgão equivalente a uma secretaria municipal de Saúde e culminou na redução, a níveis muito baixos, do consumo de gordura hidrogenada pelos restaurantes da cidade de Nova York. Esse processo só foi possível graças a uma emenda ao Código de Saúde da Cidade, pois as várias tentativas anteriores, feitas através de campanhas educacionais, não obtiveram sucesso”, conta a médica.

O amargo sabor do açúcar – Sempre nos perguntamos o porquê da esmagadora preferência das pessoas por alimentos doces. A indústria de alimentos percebeu isso bem e milhares de alimentos nos supermercados são adoçados. “Muitas vezes, nos perguntamos se esse excesso de alimentos doces induziria a um quadro de grande necessidade deles e compulsão por doces, tão freqüente nas sociedades modernas. Enquanto ainda não temos respostas definitivas para tais questões, procuramos entender a predileção da maioria das pessoas pelos doces. Sabemos, por exemplo, que se provermos uma gestante com grande quantidade de doces, seu bebê será mais predisposto a gostar das guloseimas do açúcar”, conta Ellen Paiva.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o açúcar de adição não ultrapasse 10% das calorias de uma refeição. Apesar disso, nos Estados Unidos, as crianças consomem o dobro dessa recomendação. Os refrigerantes são os maiores contribuintes individuais dessa ingestão. “O açúcar, incorporado na maioria dos alimentos industrializados, leva a um consumo expressivamente alto desse ingrediente, causando um aumento das calorias das dietas com um poder de saciedade muito pequeno. O resultado dessa equação é sempre muito amargo e um dos responsáveis pela epidemia de obesidade e diabetes em todo o mundo, principalmente entre crianças e adolescentes”, diz a diretora do Citen (Centro Integrado de Terapia Nutricional).

O desafio de reduzir o sal – Esse desafio é ainda maior, mas também muito importante. Alimentos muito salgados “tomam conta do nosso paladar”, induzindo-nos a preferir comidas mais temperadas e a recusar aquelas de sabor mais natural. “Comer muito sal é um hábito e um vício que se traduz pela sensação de que qualquer comida, com menor  teor desse ingrediente, pareça sem graça e sem sabor”, diz a endocrinologista.

Os americanos consomem quase duas vezes a recomendação máxima diária de 2300mg de sódio. Estima-se que a redução de 1300mg por dia na ingestão de sódio salvaria cerca de 150 mil vidas. Tal redução seria mais eficaz do que tratar todas as pessoas com hipertensão arterial, utilizando medicamentos específicos para isso. Os alimentos processados e aqueles consumidos em restaurantes respondem por 77% do sal ingerido, tornando muito difícil a redução deste ingrediente.

O reconhecimento da necessidade de redução do consumo de sal é bem antiga. Em 1981, o FDA já havia declarado sua intenção de reduzir o sal dos alimentos processados, mas até o momento pouca coisa mudou, além da obrigatoriedade da descrição da quantidade de sódio nos rótulos dos alimentos, medida também adotada pela ANVISA, no Brasil. E quanto ao consumo, nos últimos 30 anos, a ingestão de sódio aumentou 69% entre as mulheres e 48% entre os homens nos Estados Unidos.

“As necessidades diárias de sal estão relacionadas às necessidades de sódio. Elas são facilmente alcançadas sem a adição de sal no preparo dos alimentos, pois uma dieta normal já contempla os 500mg de sódio necessários ao organismo. Não quero dizer, no entanto, que devamos comer sem sal. Sabemos do maravilhoso sabor que ele incorpora aos alimentos… Mas é preciso tomar cuidado com os excessos”, diz a nutróloga Ellen Paiva.

O brasileiro também tem exagerado na ingestão de sal. De acordo com o Ministério da Saúde, em seu Guia Alimentar de 2006, estamos ingerindo cerca de 30 gramas de sal por dia (12gramas de sódio), quando deveríamos ingerir no máximo 12 gramas (5 gramas de sódio).

Praticamente, todos os alimentos industrializados contêm sódio. Do pão integral ao refrigerante… Até mesmo os sucos artificiais em pó contêm sal. “Mas os campeões são os embutidos (presunto, salame, mortadela, salsicha) e defumados, os caldos concentrados e temperos prontos, as sopas instantâneas, os salgadinhos industrializados em pacotes, os queijos amarelos, os pratos prontos congelados e as conservas”, diz a médica.

Quem come fora de casa regularmente tem mais dificuldade para controlar o consumo de sal, mas sempre é possível fazê-lo. A melhor estratégia para conseguir isso ainda é evitar o saleiro, uma vez que os alimentos já são normalmente preparados com mais sal e as saladas podem ser consumidas utilizando apenas o azeite, fazendo com isso cair a média de ingestão de sal na refeição. “Embora todos se beneficiem com a redução do sal, pessoas com hipertensão arterial, doenças cardíacas e hepáticas que causam retenção de líquidos e insuficiência renal devem reduzir o sal como parte fundamental do seu tratamento, pois o excesso de sal causa maior retenção de água, o que pode agravar essas condições clínicas”, conta Ellen Paiva.

Políticas públicas equivocadas – Diante de um problema de tamanha proporção, a indústria de alimentos e os governos devem desenvolver ações em conjunto no sentido de produzir alimentos mais saudáveis e de menor custo. As agências reguladoras de alimentos devem se empenhar  em exigir rotulações exatas e de linguagem acessível ao público leigo. “E finalmente, os governos devem sobretaxar alimentos mais calóricos e subsidiar alimentos mais saudáveis, tornando vantajosa a compra desses, não somente do ponto de vista nutricional, mas também econômico. Todo e qualquer aumento excessivo no teor de açúcar e gordura dos alimentos deveria ser tributado e não o contrário, como ocorre na indústria de alimentos. Hoje, um litro de leite desnatado é muito mais caro do que um litro de leite integral. Chega ser ínfimo o preço de um pacote de bolachas recheadas em relação ao preço do pão integral”, sugere a endocrinologista.

De acordo com o Dr. Barry Popkin, da mesma forma que os governos têm programas de prevenção de saúde extremamente bem sucedidos, como os de uso dos cintos de segurança e de combate ao tabaco, eles também devem olhar com a mesma preocupação para o avanço da obesidade no mundo e lançar programas relacionados à prevenção da mesma. Essa política de prevenção parece ser a única forma eficaz e economicamente viável contra o avanço da obesidade no mundo, uma vez que o tratamento das comorbidades desta doença impõe intoleráveis gastos aos países em desenvolvimento.

“Enquanto nosso arsenal terapêutico tem se mostrado frágil, muitas vezes, deletério, precisamos contar com povos esclarecidos e motivados, uma indústria de alimentos engajada no mesmo esforço e governos responsáveis e interessados em declarar guerra contra a doença que vem desafiando pesquisadores e governantes”, defende Ellen Paiva.

Para saber mais sobre alimentação saudável, visite o site do Citen: www.citen.com.br
ou entre em contato com eles através do email: [email protected]. O Citen também está no Twitter: http://twitter.com/Citensp

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