Desabafo: Sim, uma vítima do preconceito

PreconceitoMinha pele é clara, meu cabelo tem poucos cachos, meus olhos são castanhos escuros, mas eu sou negra. O tempo me fez perceber que raça não tem relação com cor de pele, mas com postura, com cultura, com ideologia. Meu sonho de menina era ter uma cor escura na pele. Minha mãe é negra, minhas melhores amigas são negras. E eu, droga, eu era amarelada, encardida. Ouvi de alguém recentemente que pessoas da minha cor não sabem o que é o preconceito. As lágrimas molharam meu rosto depois que saí dali, porque eu já senti na pele o preconceito.

Senti na pele o preconceito quando manifestei minha vontade de torrar no sol para ver a pele escurecer e fui advertida sobre os problemas que teria se minha cor fosse preta. Mas eu era negra e ninguém conseguia entender. E eu não conseguia entender por que as pessoas não me entendiam. Mas ali foi apenas o início da dor. Eu não sabia, mas ela haveria de piorar bastante. E piorou, quando eu comecei a namorar com um homem lindo, apaixonante, que amei verdadeiramente, e que era negro. Tive de suportar cada olhar, que metralhava as nossas mãos dadas, as nossas manifestações públicas de carinho.

Demorei a entender que as pessoas fitavam a diferença da nossa cor. Cheguei a achar, ingênua, que era admiração pelo amor entre nós. Mas não era. Eram olhares de quem não entendia, de quem não aceitava aquele casal de cores tão opostas. Cada olhar de incompreensão me fuzilava. Uma vez, caminhando pela orla da praia, não resisti e disparei um: “está olhando o quê??”. Percebi o constrangimento da pessoa. E entendi que não era coisa da minha cabeça. Para mim, o conceito de raça não cabe numa aquarela, não cabe numa tela de photoshop. Pra mim, as discussões de raça hoje perpassam essa miudeza.

E, por favor, não me venham dizer que nunca senti na pele o que é o preconceito.

Leia Mais