Artigo: Amuletos e talismãs

Na terça-feira, a caminho do trabalho, fui abordada por uma senhora que tentou pregar para mim. Agradeci, mas expliquei que seria mais interessante se levasse sua mensagem a outra pessoa que pudesse dar-lhe a devida atenção. Ela me agradeceu, mas antes de ir embora, olhou o escapulário de prata no meu pescoço. Me perguntou por que eu usava um “objeto de idolatria”? Respondi que sempre gostei de escapulários, da mesma forma que gosto de brincos, aneis, da beleza solene da arte sacra ou do silêncio das velhas igrejas barrocas de Salvador, quando estão vazias. Não tenho religião, mas tenho uma relação profunda com a religiosidade. Hoje, acordei pensando num artigo que recebi por email em 9 de novembro passado, há quase um mês, e que fala justamente de amuletos, talismãs e fé. Creio que se eu tivesse uma religião, seria a filosofia, o que é um paradoxo! Mas o artigo de Célio Pezza me colocou para refletir. Trouxe o texto para cá nesta quarta, dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Bahia, para vocês pensarem um pouquinho também!

Amuletos e talismãs

*Célio Pezza

Quem de nós nunca ouviu dizer algo sobre um amuleto ou um talismã? Quem de nós nunca conheceu alguém que tenha um destes objetos? Você tem um? Você acredita neles? Você sabe a diferença entre eles? Um amuleto é utilizado para afastar o mal, proteger o seu usuário e normalmente é algo natural. Já um talismã é utilizado para atrair influências boas para quem o usa e é algo preparado e consagrado dentro de uma seita qualquer.

Desde os primórdios da História, o ser humano procura se defender através do uso de amuletos e talismãs. Encontramos no homem primitivo o uso de garras, dentes e peles de animais, seguidos de pedras pontiagudas, conchas, anéis, etc.. Existiram tribos indígenas que usavam dentes ou dedos de seus inimigos para proteção ou para intimidar seus desafetos. Os egípcios, os romanos, enfim todos os povos recorriam a esta prática de proteção. Na Europa, durante a idade média, deixava-se em um local da casa um prego usado em caixão de defunto para afastar a má sorte. Ainda hoje, quantas casas não possuem uma ferradura como símbolo da boa sorte? Existem regiões da Europa em que colocam colares nos chifres das vacas para afastar os perigos. Será que dentro de nossas carteiras não existe nenhum amuleto ou talismã? Círculos, quadrados, triângulos, cruzes, estrelas, luas, números, moedas, notas antigas, dentes de animais, sementes, imagens de santos, escaravelhos, conchas e muitos outros. Pedras e metais que vão desde o latão mais barato até o ouro mais nobre são utilizados para fazer um amuleto ou talismã.

Já os animais, coitados, estes não usam amuletos ou talismãs. Quem já viu um cachorro do mato carregando um amuleto? Ou um pássaro com um pequeno colar para atrair a boa sorte? Será que tudo isto é privilégio do Homem, que com sua inteligência e pretensa supremacia sabe como criar proteções e artefatos para atrair a boa sorte? Será que o ser humano possui determinadas crenças e, por conta delas, tem medos? Esta conversa pode até derivar para questões filosóficas profundas, portanto, vamos voltar ao uso dos tais objetos.

Existem também os objetos sagrados, relíquias dos santos e mártires, etc.. Na verdade, tudo isto remete para um ponto em comum: ter fé. Se você realmente acredita que determinado objeto vai trazer boa sorte, talvez ele realmente o traga, não por ele em si, mas pela sua fé. Da mesma forma, não adianta carregar o talismã mais poderoso do planeta, se não acreditarmos na sua eficácia, ou seja, se não tivermos fé!

Muitos já ouviram dizer que “a fé remove montanhas”, mas será que remove mesmo? Quantos acreditam de verdade?  Muitos dirão que é impossível, que é um jogo de palavras, que é sentido figurado, etc. Por outro lado, talvez estes mesmos que pensam desta forma, estejam usando amuletos e talismãs neste exato momento.

Das invocações de Maria, a que mais me atrai é a Conceição, com seu panejamento barroco e o símbolo da lua crescente sob os pés

Usá-los para que? Sem fé, sem acreditar, para que servirão? Servirão somente como um adorno qualquer. Por outro lado, com bastante fé, será que precisamos de amuletos e talismãs? Estamos falando tudo isto e dando uma volta tremenda para simplesmente dizer que um dos grandes problemas do ser humano é simplesmente falta de crença e de fé! Acreditamos no próximo? Acreditamos nos nossos governantes? Acreditamos nos discursos dos candidatos a qualquer cargo eletivo? Acreditamos em todas as notícias que diariamente nos chegam pelos mais diversos meios de comunicação? Acreditamos no que vemos na televisão? O lado ruim disto tudo é que esta crise de falta de credibilidade nos conduz a uma diminuição gradativa da nossa fé. Acreditamos em pouca coisa e desconfiamos de tudo e de todos!

A nossa crença está muito abalada e as mentiras ganham terreno dia a dia. Começamos a nos acostumar com pequenas mentiras e elas vão aumentando em tamanho e quantidade. Elas se alastram como uma verdadeira praga e vão diminuindo a nossa fé.  Vamos aos poucos, perdendo esta força terrível, que talvez seja a única que pode realmente mudar o curso das coisas. Acreditamos em nós mesmos? Se nem acreditamos em nós mesmos, como resolver esta questão?

Durante o lançamento do meu primeiro livro, escrevi uma simples mensagem: “Um mundo melhor é possível!” Quantos acreditam nisto? Será uma bobagem, uma utopia, uma simples frase de efeito momentâneo sem nenhum significado? Escuto todos os dias alguém dizer que o mundo está ruim, que está pior do que no passado e que o futuro será terrível. Será certo deixar piorar e esperar pela ajuda divina? Neste caso, realmente precisaremos de algumas dezenas de amuletos e talismãs para nos proteger de nós mesmos!

Vamos acreditar que é possível um mundo melhor! Vamos trabalhar para isto! Como? Cada um de nós encontrará a sua forma. Criando uma aura de otimismo a nossa volta, fazendo pequenas ações que muitas vezes passam despercebidas e, principalmente, evitando fazer o mal a quem quer que seja! A regra é simples: se não puder fazer o bem, pelo menos não faça o mal.

Acredito que alguns leitores irão parar um instante e pensar um pouco sobre estas considerações; também pode acontecer que alguns sintam uma vontade tremenda de fazer algo para tomar parte nesta mudança. Estes terão mais fé e acharão uma forma de transformar o mundo, mesmo que seja só ao seu lado e serão mais felizes, mesmo sem usar amuletos e talismãs!

*Célio Pezza é escritor, mas tem sua formação acadêmica em Química e Administração de Empresas. Nascido em Araraquara, interior de São Paulo, mora atualmente em Veranópolis, no Rio Grande do Sul. Para saber mais, visite o site do autor: www.celiopezza.com.

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Temos religiões diferentes. E agora?

judaismo

*Texto e reflexões de Andreia Santana

Esta semana uma cena me chamou atenção na novela Caras & Bocas, exibida no horário das 19 horas pela Rede Globo. O personagem Benjamim, judeu ortodoxo, sugeriu à Tatiana, sua namorada na trama, que se convertesse à religião dele para que a moça seja aceita por sua família. No horário das 21h, a novela Caminho das Índias dá exemplos diários das dificuldades vividas pela personagem Camila, brasileira, para de adaptar aos costumes e religião da família do marido Ravi, indiano. Exageros da ficção à parte, o envolvimento de pessoas de religiões e culturas diferentes faz parte do contexto social tanto pelo fato de sermos seres gregários, que buscam sempre um grupo onde se encaixar; quanto porque com a globalização, com a internet, as fronteiras que separavam uma cultura da outra foram dissolvidas e reconfiguradas.

cristianismoO ser humano necessita relacionar-se na essência. Parece chavão, mas a verdade é que nenhum de nós pode viver sozinho. O diálogo, a comunicação, o interesse, a curiosidade pelo que é diferente está na maioria de nós. Só os muito intolerantes não admitem que precisam conhecer e entender o outro. Só os preconceituosos não aceitam o diferente e não buscam aprender com essas diferenças. E existe uma quantidade de intolerância e preconceito suficientes no mundo para provocar uma série de problemas. Vide as guerras e atentados que explodem de um lado a outro do globo.

A cena entre Benjamim e a namorada me chamou tanta atenção na novela porque fiquei pensando até que ponto alguém tem o direito de pedir a outra pessoa que altere seu modo de vida para ser aceito em determinado grupo. Também penso até que ponto alguém deve ceder e alterar suas crenças por amor. Me perguntei porque Tatiana não poderia ser aceita pela família do namorado mesmo sem ser judia ortodoxa. Nem torço pelos dois personagens e nem gosto muito de Tatiana, acho uma personagem cabecinha oca, como muitas que existem nas novelas. Mas, a situação vivida por ela pode muito bem ser a situação de qualquer rapaz ou moça.

islamismoCasais de religiões diferentes devem tentar converter um ao outro? Minha opinião é não, porque a escolha religiosa de alguém tem de ser algo ditado por uma necessidade pessoal e não por conveniência. A opção por esta ou aquela religião, ou até a opção por não ter nenhuma religião deve ser respeitada.

Acredito que deva ser difícil para um casal de religiões diferentes, ou em que um é religioso e o outro ateu, negociar a convivência. Mas negociação e diálogo são a base de qualquer relacionamento. Então, que os acertos com relação aos credos de cada um sejam estabelecidos no início do relacionamento, sem preconceitos e sem intolerância.

oxossiSe o marido é evangélico e se sente bem na sua crença e se a esposa é católica e se sente bem assim, por que tentar mudar? O ideal é que um respeite a religião do outro. Se é preciso acompanhar o marido até sua congregacão evangélica, porque não fazer isso de forma respeitosa. Não é preciso se envolver no culto, ou tomar parte dele. Se a esposa católica quer ir a missa e o marido é de outra crença, há duas opções. Ir com ela e respeitar aquele momento, sem necessariamente precisar tomar parte dele; ou deixá-la ir sozinha, respeitando esse momento que ela precisa para manifestar sua comunhão com Deus ou com a divindidade que ela cultua.

As pessoas falam tanto em liberdade de expressão, mas por que tentar alterar o credo de um namorado ou namorada? Isso não seria ferir a liberdade de expressão e justo da pessoa que dizemos amar? É preciso que ela mude por pressões familiares? Em pleno século XXI, as pessoas ainda sucumbem a esse tipo de coisa ao invés de tentar ser aceito da forma que é? Por que vai ser inconveniente levar uma namorada não evangélica, ou não católica, ou não budista a um evento da sua igreja? Sinceramente não consigo entender que alguém diga que ama outra pessoa, mas com ressalvas: “Eu te amo, mas você precisa se converter antes ao meu credo para ser aceita na minha comunidade”. Não consigo ver esse tipo de coisa como amor. Para mim, amor pressupõe compreensão e aceitação, independente de credo, cor, posição social.

hinduismoLógico que vai precisar haver muita maturidade no relacionamento para que um entenda o credo do outro e aceite que, em um determinado momento, o seu par precisará cumprir os seus ritos religiosos, isso no caso daqueles que seguem todos os preceitos de sua religião. Também não sou ingênua a ponto de achar que ao escolher o caminho da não conversão, a pessoa vai ser recebida de braços abertos logo de primeira. Infelizmente não, o caminho do desafio às normas vigentes é sempre pedregoso. Mas é possível percorrer um caminho assim de forma serena, sem partir para a agressão, desde que haja o mínimo de predisposição em tentar entender o outro, o que é diferente.

AnkPor que não aceitar? Por que impor regras como o tamanho do cumprimento da saia da namorada? Ou preceitos que não faziam parte da realidade dela ou dele antes de se conhecerem? Sinceramente, creio que forçar alguém a aparentar o que não sente, a ser como não é de fato, seja ainda mais árduo do que tentar fazer com que a família e a comunidade aceitem aquele membro que é diferente, mas que respeita as crenças dos outros. Ele é evangélico, mas ela não é. Ou vice-versa. Mas desde que haja respeito de um com o outro e respeito próprio, que mal há nela usar batom ou um vestido acima dos joelhos porque se sente bem assim? Ou que mal há nele gostar de festas e de pular Carnaval mesmo que a religião dela não permita?

As pessoas não gostam do que dá trabalho. E dá trabalho conviver com alguém de credo diferente porque as cobranças dos outros são muitas e exercem grande pressão. Mas será que um casal que permite que as pressões externas afetem o relacionamento construiu uma base sólida para este relacionamento?

BudaDesde que haja respeito, cooperação e a intenção de conversar sobre o que incomoda, colocando as cartas na mesa, creio que seja possível a convivência inter-religiosa numa família. E conheço exemplos que dão muito certo. Uma amiga, por exemplo, é espírita, o esposo é ateu, a mãe é evangélica e uma das irmãs é filha-de-santo de um Terreiro de Candomblé. Todos se dão bem, todos se respeitam e nenhum deles tenta converter o outro ou faz comentários intolerantes e ofensivos a outras religiões. Para mim, esse é o verdadeiro sentido de se ter uma crença.

CrucifixoFanatismo não tem relação com religião. E eu, particularmente, quero distância das pessoas fanáticas. Acredito que quem segue uma crença busca por algum tipo de equilíbrio, por paz interior, elevação espiritual. Não consigo encaixar o fanatismo nem em equilibrio, nem em paz interior e muito menos em elevação espiritual. Para mim, não existem eleitos, visto que, se existe um Deus que todas as religiões fazem questão de dizer que é a expressão da suprema bondade, a suprema bondade para mim não implica em escolher um povo ou um credo em detrimento de todos os outros.

Não sou especialista em religião, nunca estudei teologia e muito menos tenho a receita para os relacionamentos amorosos perfeitos. Aos que vivem uma relação inter-religiosa, só posso imaginar o que vocês passam e de que forma resolvem seus conflitos, mas não sei como é na prática. No entanto, acredito no diálogo, na tolerância e na negociação como bases para se resolver qualquer problema.

Minha intenção com este post é dividir com os religiosos e os não-religiosos, ideias que me ocorreram após ver uma cena de novela, que na minha opinião, configura-se em desrespeito às individualidades. Um casal é sempre um conjunto, mas jamais podemos esquecer que antes de ser conjunto, cada parte envolvida na relação é um indivíduo único, que merece respeito como tal.

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Livros explicam sobre religião e Santos Dumont para crianças e adolescentes

Mais dois bons lançamentos para quem pensa em presentear filhos ou sobrinhos com livros. Vale a dica ainda para professores que querem dar aquele diferencial nas aulas, incentivando seus alunos a exercitar o saudável ato de debater e respeitar ideias e opiniões divergentes. Confiram:

Entre a cruz e a estrela – uma criança e duas religiões

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Max é personagem principal desta história que fala sobre como é viver numa família formada por pessoas de duas religiões: o Cristianismo e o Judaísmo. A história começa no Natal e passa por outras datas festivas, como a Páscoa, comemorada de maneiras diferentes nas duas religiões. Personagens adultos, como os pais e os avós de Max, ajudam-no a entender estas diferenças. A história explica também alguns termos específicos de cada religião e traz às crianças uma reflexão quanto a importância de saber conviver com qualquer tipo de diferença. A autora, a psicóloga Maria Taliba Chalfon se inspira na história da própria família, formada por judeus e católicos.

Ficha técnica do livro:

Entre a cruz e a estrela – Uma criança e duas religiões
Autora: Mariana Taliba Chalfon
Ilustrações: George Acohamo
26 páginas
Preço sugerido: R$ 24,90

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O  Brasileiro Voador

Brasileiro voadorO Brasileiro Voador foi publicado originalmente em 2001. No livro, relançado pela Record, o autor Márcio Souza reconta a história de Alberto Santos Dumont, desde a chegada em Paris até o vôo no 14-Bis. O livro acompanha a trajetória do pai da aviação, unindo momentos marcantes a acontecimentos históricos, com narrativa leve e bem-humorada. Ótima leitura para adolescentes e adultos.

Mestre em recontar a história do Brasil, Márcio Souza cria um divertido álbum de recortes que une os momentos marcantes da vida de Santos Dumont aos principais acontecimentos da época em que viveu o pai da aviação.

Sobre o personagem

Santos DumontEm 1893, o mineiro Alberto Santos Dumont chega a Paris. De francês, tem apenas um sobrenome e alguns parentes. Leitor voraz de Julio Verne na infância, ele renuncia a uma vida confortável como herdeiro de uma fazenda de café em Ribeirão Preto, para conquistar, na Europa, o ar. Financia seu primeiro voo de balão; mais tarde, passa a construir seus próprios dirigíveis. A bordo do No 6, contorna a Torre Eiffel, num episódio que assombra Paris, rendendo-lhe um prêmio de cem mil francos. Seu nome vira manchete de jornais e seu hangar torna-se tão concorrido quanto os ateliês de pintores da época. Ao contrário do irmãos Wright, que realizavam voos isolados, Santos Dumont fazia aparições públicas, atraindo as multidões. Em 1906, o lacônico inventor alça o voo mais alto de sua carreira. Conduzindo um aparelho motorizado mais pesado que o ar, o célebre 14-Bis, torna-se o primeiro homem a voar por seus próprios meios. Apesar da fama, Santos Dumont sentia-se um incompreendido, tanto no Brasil, quanto na França. Ao destruir seus diários, tornou sua vida pessoal ainda mais nebulosa para a posteridade. Os rumos industriais que a aviação tomou não correspondiam exatamente às suas previsões. Desiludido, o inventor morreu em 1932.

Sobre o autor

Marcio souzaMárcio Souza nasceu em Manaus em 1946. Formado em Ciências Sociais pela USP, começou a vida profissional no cinema, como crítico, roteirista e diretor. Tem ainda uma sólida carreira de dramaturgo. Seu primeiro livro foi Galvez Imperador do Acre, de 1976. A carreira como escritor já conta com mais de vinte títulos, entre eles Mad Maria (livro que deu origem à minissérie da TV Globo).

Ficha técnica do livro:

O brasileiro voador
Autor: Márcio Souza
Editora: Record
304 páginas
Preço sugerido: R$ 42,00

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