O amor é um dos sentimentos mais esmiuçados e confundidos. Chamamos de amor coisas que nem de longe se parecem com ele. Criamos expectativas que os contos de fadas não dão conta de suprir. Nem mesmo zerando a tag de comédias românticas da Netflix. Inclusive porque, a depender do modelo de relacionamento vendido por esses filmes, a confusão só aumenta. E é por causa de tanto mal entendido que acreditamos que cuidar do outro no relacionamento é uma via de mão única. E toda esburacada pelo peso de carregar sozinha a história que deveria ser compartilhada pelo casal.
Quem aí nunca se sentiu pateta ao perceber que se esforçou ao máximo para que as coisas dessem certo e no fim elas deram errado por conta de tanto esforço? Quem nunca confundiu cuidado com o outro com sobrecarga? E quem nunca botou a culpa no outro pelo fracasso do relacionamento, justamente porque a pessoa que recebeu tanta dedicação não soube valorizar nosso esforço?
Primeiro, é importante ressaltar que a gente só deve se relacionar com quem nos valoriza, em todos os sentidos. Se a pessoa desmerece nosso corpo, nossas ideias, nossos sentimentos, nossos projetos e ambições, se encontra defeito em tudo o que somos ou fazemos, a solução é uma só: caia fora. Ninguém precisa de relacionamentos tóxicos para viver. Não se permita, jamais, viver relações abusivas e ser o tapete onde alguém limpa os pés.
Ser valorizada e valorizar com quem estamos não tem relação com ser mártir. Infelizmente, ainda existe quem se martiriza em nome de uma promessa de amor. Relações sadias não exigem sacrifícios, não requerem que a gente se anule ou auto-flagele. Amor mesmo, e não outros sentimentos confusos que se disfarçam de amor, não nos violenta.
Inverdades universais
A pessoa mártir é aquela que faz questão de assumir todas as responsabilidades da relação, de controlar cada detalhe, de prover o parceiro de tudo o que ele necessita sem que a criatura sequer precise pedir. E depois, exausta, sofre por estar sobrecarregada. E o relacionamento, que era para ser bacana, vira fonte de dor de cabeça e decepções.
Nossa cultura ainda é prejudicial às mulheres em muitos aspectos. Um deles é o de propagar como verdade universal a ideia falsa de que as meninas amadurecem cedo e aprendem desde novas a serem responsáveis, a se comportarem e a resolverem os perrengues da vida diária; enquanto os meninos crescem e viram homens que aos 50 anos ainda precisam de cuidados maternos.
Na verdade, isso acontece não porque a natureza quis assim, mas porque meninos e meninas recebem educações diferentes. Enquanto somos treinadas para amar incondicionalmente, obedecer e servir; eles são estimulados a conquistar, dominar e ter todos os desejos atendidos. Já passou da hora de mudar essa educação desigual.
Para alguns homens, é cômodo ficar na posição de garotão e depois reclamar que a parceira é ‘controladora’. Ou então, deliberadamente, deixar que ela resolva as coisas chatas do cotidiano, porque é muito bom que outra pessoa esquente o juízo no nosso lugar. Mas, também é difícil, às vezes, fugir desse círculo porque tem muita gente que repete o padrão e toma para si o cultivo da relação, sem dividir as responsabilidades.
Relacionamentos afetivos são vias de mão dupla, sempre. Amor abnegado, sacrifício extremo, não esperar nada em troca, nada disso se aplica aos casais. E aqui não se trata de criar expectativas falsas sobre relacionamentos falidos, mas exigir reciprocidade. Não dá para sustentar um casal se só um lado doa, enquanto o outro vampiriza.
Seu boy não é seu filho
Para começar a botar ordem nas coisas, vale lembrar que nossos parceiros afetivos não são nossos filhos. Se o cara precisa de uma ‘mãezona’ para organizar a vida dele, o problema, companheira, não é seu, é do cidadão em questão. Não assuma papel de mãe, babá, secretária, enfermeira ou qualquer outro que te deixe desconfortável ou se sentindo usada na relação. Cuidar de quem está doente, ajudar nas necessidades, gerenciar a casa, educar filhos, zelar pelo sentimento de vocês, é tarefa de ambos, não apenas sua.
Faça o boy enxergar que casais se ajudam, são parceiros, jogam no mesmo time. Porque senão fica injusto e desequilibrado, provoca sofrimento ao invés de felicidade. Se o cidadão não aprender ou não estiver pronto para fazer a parte dele na história, então é hora de avaliar se o romance vale seu esforço.
Acordei com vontade de refletir sobre a amizade, um tema que já foi abordado aqui no blog algumas vezes, mas que é daqueles recorrentes. Fiquei pensando nos diversos grupinhos por onde transitamos e também no que certos amigos podem significar para nós. Lembrei das amizades “solares” e daquelas “pé no chão”, todos conhecemos amigos assim. O que me motivou foi um trecho de uma oração que li ontem à noite. Quem costuma acompanhar o que escrevo, aqui ou nos outros blogs que mantenho, sabe que não tenho religião definida e nem gosto que tentem me convencer a abraçar uma. Mas tenho um sentimento, digamos, de religiosidade filosófica, que transcende os credos. Talvez essa “conexão mística reflexiva” venha do interesse enorme pelas mitologias: a oriental e a ocidental.
Mas, qual a relação da religiosidade com amizade? Já explico. Na oração que estava lendo, um dos trechos da novena para Santa Edwiges, de quem minha mãe é devota, há uma meditação de São Thiago – o apóstolo – sobre o silêncio, mais precisamente o não pecar por palavras. Basicamente, o trecho fala da necessidade de saber calar, de não “se divulgar o que os outros não tem o direito de saber”. Mais adiante, em outra frase, o santo reflete o seguinte: “Quantas vezes a falta de silêncio em torno de certos assuntos não é também uma falta de caridade!”
E aí é que faço a conexão entre essa oração lida e minha inquietação com a amizade. Em outras ocasiões já defendi que gosto sempre de saber a verdade, mesmo que ela doa. Mas, refletindo um pouco mais a questão, tem momentos na vida em que é melhor não saber por exemplo, o que dizem pelas nossas costas. Isso porque, de nada vai servir saber que alguém não gosta de nós a ponto de destilar veneno sempre que possível ou mesmo de criticar uma decisão ou trabalho nosso, sem sequer ter se dado ao trabalho de investigar melhor o tema ou as nossas motivações para agir de uma forma e não de outra.
Pessoalmente, prefiro saber daqueles que gostam de mim, relegando à mais fria indiferença os que não gostam. Também tenho verdadeira repulsa por frases do tipo: “só estou te contando isso para abrir seus olhos”. É aqui que entraria o que São Thiago chama de falta de caridade e que eu, no meu modo “pagão”, chamo é de falta de respeito, de carinho e de solidariedade. E sim, amigos, mesmo que sem intenção declarada, são capazes de cometer tanto falta de respeito, quanto de carinho ou solidariedade. E nós também. Basta fazer um exame de consciência profundo, que em algum momento iremos encontrar uma frase, uma resposta, uma palavra desferida na direção de um amigo com a precisão de uma flecha no peito. Por menos que gostemos de admitir, há momentos em que somos cruéis ou então, vítimas da crueldade, até mesmo dos mais íntimos.
Voltando aos dois tipos de amizade que estou analisando aqui neste post, nossos amigos “pé no chão” são aqueles que vira e mexe nos puxam para a realidade dura da vida, geralmente quando estamos “viajando demais na maionese”. Eles são mais que necessários para contrabalançar as forças, principalmente se temos uma tendência a devanear em excesso e alguma dificuldade de retomar o foco depois. Mas, esses mesmos amigos “pé no chão”, em alguns momentos, perdem a medida. Há ocasiões, bem sabemos, em que a verdade não precisa ser jogada na nossa cara com tanta veemência, ou que temos até o direito de quebrar a cara para ver como é a sensação. Não é necessário mentir ou adoçar a pílula como diz o ditado, mas basta fazer silêncio. Não tocar naquele assunto que abre feridas, não azedar o dia com as fofocas de bastidor que infelizmente, tornam-se cada vez mais norma neste mundo. Não exercer a crueldade infantil da pirraça, provocando discussões bobas. Não fazer uma crítica só pela crítica, sem de fato contribuir para o crescimento do outro. E aqui, vale um adendo: em alguns casos, essa necessidade tão grande de nos “puxar para a realidade” nada mais é do que uma estratégia que nosso amigo “pé no chão” tem de estar sempre certo, de apontar o dedo e dizer: “eu não te disse!”
Amigos, por mais íntimos, não estão insentos do sentimento de superioridade e tampouco de sentir inveja. Antes de ser o confidente de todas as horas, ele é humano e como tal, está apto a querer a vida do outro se essa parecer mais interessante que a sua própria. A questão não é sentir, mas saber o que fazer com os sentimentos. A sabedoria não é apregoar aos quatro cantos a perfeição muitas vezes inexistente, mas admitir a imperfeição e buscar mudar de postura. No mínimo, avaliar se aquela crítica ou “puxada para realidade” tem a real motivação de ajudar ou é só uma forma de “punir” o outro por ele ser ou ter aquilo que nos falta.
Já os amigos “solares” tem uma vantagem em momentos de necessidade de silêncio ou naqueles de dor. Eles podem não servir para analisar a questão com você sobre todos os ângulos possíveis e nem vão te jogar verdades na cara que o farão amadurecer, tampouco são os melhores trabalhadores por uma causa e nem pense que vão segurar sua barra, dividir a responsabilidade por um projeto, doar-se sem esperar recompensa. Mas certamente, saberão elevar o seu astral. Com sorrisos, conversas frívolas, distrações, os amigos solares irão desviar o seu foco da ferida e fazer com que você relaxe. E, de maneira indireta, essa também é uma valiosa contribuição, porque quando nos afastamos de nós mesmos, quando estamos tranquilos para pensar melhor no assunto, geralmente a solução para aquela crise surge como num passe de mágica.
Amigos “pé no chão” tendem a bancar nossos pais, mesmo de forma inconsciente, porque estão eternamente preocupados com o nosso bem-estar e perguntam tantas vezes como estamos nos sentindo, que acabam nos fazendo passar mal. Interpretam qualquer sinal de cansaço, desânimo e melancolia – somos humanos e propensos a qualquer desses momentos na vida -como sinais de fraqueza ou instabilidade. Isso porque geralmente, os amigos “pé no chão” são ou buscam ser pessoas muito centradas. No entanto, é bom que eles lembrem que a instabilidade faz parte da essência humana tanto quanto a certeza. Ninguém é uma coisa só, nem a Lua, que sempre mantém uma de suas faces na sombra. Mas, temos de reconhecer, sem um bom “amigo pé no chão”, corremos o risco sério de cair na autopiedade ou de nos perdermos em ilusões que podem nos ferir mais profundamente. Além disso, ao contrário dos “solares”, esse tipo de amigo carrega o piano com você.
Os amigos que chamo de “solares” são aqueles que tem a capacidade de tornarem-se um bálsamo naquelas horas em que não queremos analisar ou decidir nada, mas apenas viver um dia de cada vez. Eles que costumam incentivar todas as nossas loucurinhas, inclusive escolhem a jaca mais madura para que a gente enfie o pé. Podem não ser úteis para apontar nossos defeitos, nos fazer crescer e assumir responsabilidades, mas nos divertem e a vida sem diversão é impraticável. Uma vez que ele leva a vida despreocupadamente, pode perder o limite tênue que separa a independência do egoísmo, ou confundir autoestima elevada com egocêntria. Ou ainda, não perceber que a hora do recreio acabou. Mas para isso, para lembrar que toda diversão tem um fim, é que existem os “amigos pé no chão”, com sua sisudez e um pouco de peso que mantém o equilíbrio do nosso senso de gravidade.
Não pretendo aqui eleger qual tipo de amizade é mais valiosa, se a “pé no chão” ou a “solar”. Tampouco estou afirmando que não existam pessoas que tenham um pouco de cada, mas essas são criaturas raras. Quero apenas mostrar – acredito nisso – que há momentos na vida em que nos inclinamos mais para um tipo do que para outro.
De qualquer modo, a única maneira que conheço de fazer com que tanto um tipo de amigo quanto o outro respeitem os seus momentos de luz ou de sombra é falar para eles, sinalizar que naquele momento, você quer mais leveza ou mais responsabilidades na relação.
Tendemos a achar que nossos amigos nos conhecem com perfeição e que por isso não precisaríamos ficar sinalizando nada. Ledo engano. Se nem nós mesmos nos conhecemos com profundidade, como um amigo, mesmo aqueles trazidos desde a infância, vão conhecer? Geralmente, eles usam a si mesmos como parâmetro para se comportar e relacionar conosco. Todos nós fazemos isso, levamos para uma relação aquilo que temos. E o que temos de fato é a nós mesmos, nossas convicções, os aprendizados, a educação que recebemos, nosso modo de apreender o mundo, que não é – e nem deve ser – igual a dos outros, independente de ser uma amizade antiga.
Bem sei que jogar com todas as cartas na mesa às vezes é utopia, porque se para algumas pessoas a transparência é importante, para outras suscita mal-entendidos, mágoas e interpretações equivocadas. Mas na medida do possível, é preciso dizer ao outro como nos sentimos em relação às suas atitudes. Independepente do tipo de amigo que você cultive, uma coisa é certa, ele não vêm com bola de cristal.
*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.
O artigo abaixo foi enviado ao blog pela escritora infantil Lu Martinez. No seu texto, ela fala das novas tecnologias da informação e do quanto elas podem ser aliadas no aprendizado e no incentivo à imaginação da meninada. Desde que haja cuidado dos pais, a internet e outras novidades da era digital podem ser bastante educativas. Leiam a íntegra do texto:
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Conhecimento e diversão na era da informação
Lu Martinez*
Histórias sobre a reação das crianças ao descobrirem as novidades do mundo sempre deram pano para manga. Os pequenos e suas lúdicas relações cognitivas são arcabouço para piadas divertidíssimas entre os adultos.
Na era digital, essas histórias ganharam um sabor todo especial. Quem nunca viu uma criança de pouco mais de dois anos ser fotografada e ir para trás da câmera para conferir a imagem? Quem nunca ouviu a história do pai que apresentou ao filho a máquina de escrever e foi surpreendido com elogios entusiasmados a respeito da máquina “que já imprimi automaticamente o que nela se escreve’?
A cada dia somos “cúmplices” das histórias divertidas dessas crianças em busca do conhecimento. Na era da informação, os meios pelos quais os pequenos conhecem o mundo também se modernizaram.
O acesso fácil e rápido a informações atualizadas, além do acervo de bibliotecas, museus e jogos educativos, é essencial para potencializar o conhecimento por meio da experiência. Pela Internet, é possível brincar com os famosos jogos de sete erros, ligue-pontos, quebra-cabeças, além de ouvir histórias e assistir animações que contribuam para o desenvolvimento da coordenação motora e da agilidade do raciocínio. Esses instrumentos de educação estão à disposição de todos.
Sabemos que os riscos de ações indesejadas pela Internet também são constantes e crescentes. Por isso, o acesso deve ser sempre orientado e monitorado pelos pais e professores.
Antes mesmo do advento da Internet, ensinar a lidar da forma mais segura com o mundo ao redor sempre foi tarefa dos pais. E não deixou de ser nos tempos de hoje. Claro que a questão ganhou novas formas. Frases comuns no passado, como por exemplo, “Não abra a porta para estranhos”, foram substituídas por algo como “não fale com estranhos no computador”.
As possibilidades cognitivas – que, à primeira vista, parecem ilimitadas – proporcionadas pelas novas tecnologias sugerem que esses riscos são os “efeitos colaterais” inerentes.
Por isso mesmo, é que se faz necessária, cada vez mais, a participação ativa dos adultos na trajetória de aprendizado e mesmo na hora da brincadeira. Até em razão de ser essa uma experiência extremamente importante para a criançada, o acesso à Internet não deve ser coibido.
O conteúdo cada vez mais focado no aprendizado dos pequenos, os jogos que exercitam a imaginação, o raciocínio, que diverte ensinando, estão à disposição das crianças e, sob a orientação dos adultos, essas ferramentas podem ser usadas de forma a enriquecer ainda mais o conhecimento adquirido pela forma mais “tradicional”.
A facilidade proporcionada pela web é um caminho sem volta. Precisamos usá-la ao nosso favor!
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