Carta de protesto pelo descaso com a saúde pública

O descaso com a saúde pública não é novidade. A novidade é ler um desabafo tão comovente e tão cheio de sentimentos, como o deste médico, que teve a coragem de enfrentar o sistema, peitar o corporativismo que impera nas relações profissionais e denunciar a atitude de três colegas de profissão, que são acusados de recusar atendimento a uma menina de oito anos. Ana Larissa Menezes Baptista morreu depois de passar cerca de 12 horas em busca de atendimento médico em quatro unidades públicas de saúde. A carta é um protesto, é a exteriorização da falta de humanidade e de solidariedade. Vamos refletir, vamos ler a tal carta do início ao fim, vamos fazer alguma coisa, mínima que seja, para tentar mudar esta realidade. Vamos ser mais humanos!

Entenda o caso:
>> Médico acusa três colegas pela morte de criança de 8 anos (matéria do Jornal A Tarde, publicada em 05.10.10)

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Leia a íntegra da carta do médico
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“Transferência inter-hospitalar de Ana Larissa Menezes Baptista

Salvador, 24 de agosto de 2010,

Inicialmente quero dizer que não acredito, acreditem, que este texto possa mudar qualquer das barbaridades que vivenciei nessa madrugada. Acreditem, não acredito que encontrarei eco em algum lugar. Preciso, entretanto, falar.

Por volta de 22h30min da última segunda-feira, 23 de agosto de 2010, fui contactado pela Central Estadual de Regulação (CER) para realização do transporte da menor, Ana Larissa Menezes Baptista. Ao me dirigir à mesa do chefe do plantão para pegar a ficha de atendimento para o transporte inter-hospitalar fui informado que deveria transportar a paciente supracitada do Hospital São Jorge (HSJ) para o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) para a realização de tomografia computadorizada (TC) de crânio.

A história que ouvi era a de uma paciente em estado grave, no pronto atendimento (PA) do HSJ, em ventilação mecânica (VM), usando adrenalina e dobutamina, após ter sido reanimada ao dar entrada naquela unidade por volta das 18h. Como de costume, solicitei ao chefe de plantão – Dr. Jisomar – e à médica que fora responsável pela regulação, cujo nome me foge nesse momento, que mantivessem contato com o chefe de plantão da emergência do HGRS naquele dia – Dr. Raimundo – ratificando o quadro clínico da paciente e solicitando ao mesmo que verificasse as condições da sala da TC a fim de que a transferência fosse feita no menor tempo possível e Ana Larissa não fosse exposta a qualquer entrave que prejudicasse ainda mais o seu quadro que, naquele momento, já era grave.

Informei ainda ao Dr. Jisomar que não realizaria o exame caso o HGRS não possuísse um ventilador disponível na sala de bioimagem ao qual a paciente pudesse ser conectada. Informei ao mesmo que muitos coordenadores do HGRS tinham o hábito de autorizar a regulação de pacientes em VM para a realização de TC sem ao menos confirmarem a existência de ventilador na bioimagem. Informei ainda que por diversas vezes “ambuzei” pacientes que precisavam realizar TC em respeito aos mesmos, bem como aos seus familiares. Disse-lhe ainda que por diversas vezes, sensibilizado com o quadro, e com a necessidade dos pacientes, aceitei fazê-lo, mas que não estava disposto a novamente solucionar um problema que deveria ser resolvido antes da regulação. Dr. Jisomar informou-me que Dr. Raimundo sabia do quadro da paciente, mas que tentaria manter novo contato e que ratificaria o meu pedido.

Em virtude da gravidade do quadro de Ana Larissa resolvi sair da base da CER para realizar o transporte o quanto antes. Ao chegar ao HSJ fui recebido por Dra. Danielle Souza, CREMEB 20.733, pediatra de plantão, que relatou a história de Ana Larissa. Segundo ela, a paciente há cerca de uma semana havia sido atendida numa emergência após episódio de vômito, febre e cefaléia. Naquela oportunidade, a paciente foi submetida à punção liquórica que descartou meningite. Após remissão do quadro na emergência, a menina recebeu alta e evoluiu em casa por quase cinco dias assintomática. Naquela manhã, 23 de agosto, entretanto, Ana Larissa demorou a acordar, fato que chamou a atenção dos seus familiares.

No meio da tarde a menina apresentou crise convulsiva e rebaixamento do sensório sendo levada ao Hospital Menandro de Farias (HMF). Após ser atendida naquele hospital, Ana Larissa foi encaminhada para o Hospital Couto Maia (HCM) em ambulância convencional, acompanhada pela mãe e por uma técnica de enfermagem. Segundo Dra Danielle, a mãe relatou que no caminho Ana Larissa apresentou piora do estado geral, com cianose central e ausência de “reflexos”. O motorista da ambulância resolveu então parar no hospital mais próximo, tendo chegado ao HSJ. Ao dar entrada na unidade, a menina apresentava de fato cianose central e ausência de batimentos cardíacos.

Foi, então, reanimada com adrenalina e massagem cardíaca e submetida à intubação orotraqueal. Desde então, a paciente encontrava-se em uso de Adrenalina (0,5) 1ml/h e Dobutamina (5) 1,5 ml/h e em ventilação mecânica. Naquele momento, Ana Larissa apresentava Glasgow 3, midríase paralítica bilateral, freqüência cardíaca (FC): 165bpm, pressão arterial (PA): 104X41 (62 mmHg), oximetria de pulso indicando SpO2: 99%, em VM, com PEEP: 5/ PI: 15/ FAP: 22 e FiO2: 60%. Preparamos a paciente para o transporte e nos dirigimos ao HGRS. Todo o transporte até o HGRS transcorreu sem qualquer intercorrência. Fomos acompanhados por Dona Silvia, mãe de Ana Larissa.

Ao chegar à porta da emergência pediátrica solicitei à enfermeira que me acompanhava, Lidysi, que verificasse na sala da TC se tudo estava preparado para a realização do exame, conforme combinado, para que só assim eu pudesse descer da ambulância com Ana Larissa. Após retornar da bioimagem, Lidysi informou-me que não existia ventilador preparado e que a técnica de radiologia nem mesmo sabia que esse exame seria realizado. Resolvi, então, descer da ambulância com Ana Larissa para realizar o exame, mais uma vez em respeito à sua mãe que chorava e rogava a Deus pela melhora de sua filha e por ela – uma menina de oito anos que até a manhã daquele 23 de agosto de 2010 era apenas uma menina saudável e feliz. Entrei, então, na sala de TC e pedi a técnica de radiologia que fizesse o exame no menor tempo possível.

Informei-lhe que aquela paciente estava regulada, que Dr. Raimundo estava ciente da necessidade da realização do exame e que assim que terminássemos o mesmo eu retornaria à ambulância, conectaria Ana Larissa ao ventilador da UTI móvel da CER e solicitaria aos médicos de plantão que fizessem a solicitação da TC de crânio a fim de que o filme pudesse ser liberado. Após compreensão da técnica de radiologia, vesti uma capa protetora de chumbo e “ambuzei” por cerca de 5 minutos Ana Larissa dentro da sala da bioimagem, durante a realização da TC. Após retornar à ambulância, solicitei a Lidysi que informasse à pediatra de plantão do caso que já estava regulado e que pedisse a ela para ir até a ambulância conversar comigo, visto que eu assistia Ana Larissa e que a mesma encontrava-se em VM, necessitando, pois, de um ventilador e em uso de Adrenalina e Dobutamina em bombas de infusão, as quais não deveriam ficar muito tempo fora das tomadas para não descarregar.

Caso fosse impossível a vinda da mesma à ambulância, que ela fizesse então a solicitação da TC de crânio para que pudéssemos ter acesso ao filme impresso. A médica, Dra. Antonia Aleluia – pediatra de plantão -, resolveu então apenas solicitar a TC de crânio. Lidysi foi então ao setor de bioimagem e recebeu o filme da TC de crânio de Ana Larissa após entregar a solicitação do exame. Ao retornar à ambulância com a TC de crânio identifiquei um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH) extenso, com sinais de sangramento intraventricular. Pedi novamente à enfermeira que mantivesse contato com Dra. Antonia Aleluia e que solicitasse a ela um encaminhamento para avaliação neurocirúrgica, visto que eu havia identificado um AVCH extenso.

Dra. Antonia informou a Lidysi que não faria qualquer solicitação visto que a paciente deveria ter sido regulada com tal pedido. Ora, tínhamos uma paciente com um AVCH extenso dentro do HGRS e ela não seria avaliada por um neurocirurgião porque no seu pedido de regulação não havia essa solicitação? Para quê então precisávamos da TC de crânio, se não para direcionar, os nossos próximos passos? Precisaríamos então prever que Ana Larissa tinha indicação neurocirúrgica para só assim levá-la ao HGRS? Essas foram questões colocadas por mim para a plantonista supracitada a fim de sensibilizá-la para o que estava acontecendo ali, tudo sem qualquer efeito. Direcionei-me então por conta própria à emergência do HGRS, atrás de algum neurologista que desse o direcionamento adequado à Ana Larissa. Encontrei, então, Dra. Miriam Sepúlveda, CREMEB 3784, neurologista de plantão do HGRS. Mostrei a ela a TC de crânio e a mesma informou se tratar de um AVCH.

Disse-me que a paciente precisava de uma vaga em UTI pediátrica e de avaliação neurocirúrgica. Questionei a ela sobre a possibilidade de Ana Larissa ser admitida e ela me informou não ser a responsável por resolver essa questão. Disse-me que mantivesse contato com Dr. Raimundo ou Dra. Paula (coordenadora da emergência pediátrica, segundo ela). Mantive contato com Dr. Jisomar para colocá-lo a par do que ocorria e ele me pediu que aguardasse até que conseguisse falar com Dr. Raimundo. Paralelo ao tempo que aguardava o contato mencionado, procurei por Dr. Raimundo na sala da coordenação médica do HGRS, sem sucesso. Encontrei-o, entretanto, na sala de repouso da equipe médica. Coloquei-o a par de tudo que acontecia e da necessidade de avaliação neurocirúrgica da paciente. O mesmo informou-me que esse não era o acordado com a CER e que eu deveria procurar a plantonista da pediatria para saber se seria possível aceitar Ana Larissa naquela unidade. Lembrei a ele, porque imaginei que ele tivesse esquecido, que aquele era um hospital de referência para avaliação neurocirúrgica. Ainda assim, Dr. Raimundo me disse que fosse à emergência pediátrica resolver com quem estivesse de plantão por lá o que seria feito.

Entrei em contato com Dr. Jisomar que me orientou a de fato permanecer com Ana Larissa no HGRS. Ele me orientou a informar à plantonista que Ana Larissa ficaria no hospital, a procurar um ponto de oxigênio dentro do PA do HGRS e disse-me que se fosse preciso montasse o ventilador da UTI móvel no PA da pediatria do HGRS. Procurei então a pediatra do plantão, Dra. Antonia Aleluia, mas não a encontrei dentro do PA. Consegui apenas falar com Juliana, enfermeira que estava de plantão naquela unidade, e pedi a ela que mantivesse contato com Dra. Antonia informando-a das orientações que eu havia recebido. Juliana me informou que falaria com Dra Antonia e que ela me encontraria na entrada do PA.

Fui então à ambulância retirar Ana Larissa. Descemos com toda monitorização que fazíamos – monitor Dixtal, torpedo de oxigênio, ambu, oxímetro, cardioscópio e manguito de PA não invasiva, bem como com duas bombas de infusão para adrenalina e dobutamina. Encontramos com Dra. Antonia na porta da emergência pediátrica. A partir dali, seguiu-se um show de horrores que foi iniciado por Dra. Antonia e seguido por Dra. Heloísa, uma segunda plantonista com a qual, poucos minutos mais tarde, eu tive a infelicidade de cruzar. Dra. Antonia, se posicionando na porta de entrada da emergência, me disse de maneira ostensiva, e num tom inapropriado para a situação, que não tinha lugar para aquela paciente ali. Disse-me ainda que eu enganava os familiares de Ana Larissa e que ali eles não fariam nada por ela. Disse-me que sairia do plantão e o deixaria sob minha responsabilidade.

Eu a informei que havia sido orientado que Ana Larissa deveria permanecer no HGRS. Após se retirar da porta, fato que impedia minha passagem, entrei no HGRS. Direcionei-me à sala de reanimação, onde existiam dois ventiladores mecânicos que não estavam sendo utilizados, para então instalar Ana Larissa. Nesse momento, fui então surpreendido por Dra. Heloísa Cunha que aos gritos insultou-me. Dizia ela que eu estava acostumado a chegar naquela unidade e deixar os pacientes por lá, mesmo sem que fosse possível recebê-los.

Dizia, ainda, que eu havia sido expulso daquela unidade há alguns dias por um neurocirurgião. Eu retruquei, informando-a que aquilo não era verdade. Lembrei-lhe que na oportunidade à qual ela se referia eu trazia uma paciente, vítima de atropelamento, do Hospital Ernesto Simões Filho. Disse-lhe que a paciente em questão estava regulada para o hospital e que não era meu papel levá-la à sala de TC, muito menos ao Centro Cirúrgico, após a realização da mesma, como eles desejavam. Fiz-lhe lembrar que, ainda reconhecendo naquele dia não ser minha função dar encaminhamento dentro do HGRS à paciente, aceitei fazê-lo em respeito à paciente e aos seus familiares, e nunca em consideração a ela ou ao neurocirurgião ao qual ela se referia. Aos gritos, completamente desequilibrada, a Sra. Heloísa Cunha tentou expulsar-me da unidade. O que se ouvia nos corredores eram gritos de: “saia”, “saia”, “saia”. Naquele momento, muitos dos acompanhantes dos pacientes que estavam naquela unidade correram para assistir o tumulto que se seguiu.

Eu disse a Sra. Heloísa Cunha que aquele comportamento não era adequado a alguém que assumia o papel de plantonista daquela unidade e que só poderia continuar a tratar com ela se a mesma fosse medicada e contida. Disse-lhe que a identificava como uma Sra. em surto psiquiátrico. Ela então se virou para a mãe de um dos pacientes que ocupava aquela sala e lhe disse que eu queria que o filho dela morresse, que eu estava ali trocando a vida do filho dela pela vida de Ana Larissa. Pediu a ela que saísse da maca para que eu colocasse Ana Larissa. Aos gritos dizia: “vou dar uma queixa sua no Cremeb, você vai pro Cremeb”. Após o paciente ter saído da maca, ela, ainda em surto, batia na mesma dizendo: “venha, coloque a sua paciente aqui”, “venha, eu já tirei o meu “mal epiléptico” da maca pra que você coloque a sua paciente aqui”, “venha”.  Após todo esse escândalo, ela se retirou da sala e pediu às suas colegas que não ficassem ali até que eu deixasse aquela unidade. Os pais de Ana Larissa, Sr. Carlos e Sra. Silvia pediram a ela que tivesse piedade da filha deles e ela aos gritos os expulsou de lá.

Disse a eles que fossem chorar lá fora, que ali não era lugar para que eles ficassem chorando. Sr Carlos se dirigiu a mim então e chorando me disse: “Dr. pelo amor de Deus, não deixe minha filha com ela”, “Dr. como minha filha vai ficar aqui com essa “médica”?” Eu disse a ele que jamais sairia dali até que alguém em condições psíquicas assumisse aquele caso. Liguei para Dr. Jisomar e coloquei-o a par do que estava acontecendo, o mesmo ao telefone ainda ouvia os gritos enlouquecidos da Sra. Heloísa Cunha. Solicitei então a Lidysi que trouxesse o ventilador da UTI móvel para que eu o montasse naquela unidade e não os deixasse sem ventilador, a despeito de lá existirem dois ventiladores que não estavam sendo usados. Enquanto eu montava o ventilador e Lidysi “ambuzava” Ana Larissa, a Sra. Heloisa, novamente aos gritos dizia: “nunca mais você vai voltar aqui”, “eu tenho quatro plantões noturnos aqui”, “não apareça mais aqui”, “saia das fraldas”, “saia das fraldas”. Eu repeti insistentemente que ela estava em surto, e disse a ela que voltaria ao HGRS quantas vezes fosse preciso.

Disse-lhe que havia recebido uma determinação para entrar com Ana Larissa naquela unidade e que a criança precisava de uma avaliação com um neurocirurgião. Ela foi novamente arrastada para outra sala dentro do PA por suas colegas que de certo já conheciam o seu temperamento descontrolado. Nesse momento, Dr. Raimundo já se encontrava no local e negou ter autorizado a regulação de Ana Larissa para aquela unidade, colocando-se ao lado das pediatras. Informei à terceira plantonista da pediatria que apareceu, Dra. Alderiza Jucá, que anotaria o nome das três médicas plantonistas da unidade pediátrica e que faria um documento para solicitar a quem de direito a apuração destes fatos que acima citei. Nesse momento, Dr. Jisomar me ligou informando que Dr. Marcos do Hospital Geral do Estado (HGE) havia aceitado a transferência da paciente para aquele hospital. Informei então à Dra. Alderiza Jucá que Ana Larissa seria encaminhada ao HGE. A Sra. Heloisa Cunha após ouvir o comunicado entrou novamente na sala de reanimação e novamente aos gritos questionava: “posso devolver meu mal epiléptico pra maca?”, “posso?”, “posso?”. Disse a ela que sob minha ótica ela não poderia jamais estar tratando de ninguém naquela condição de desequilíbrio, mas que não cabia a mim proibi-la, ou autorizá-la, a fazer qualquer coisa.

Ela então aos gritos me disse: “vá e não volte”, “você está saindo porque está com medo”, “você está com medo”. Eu disse a ela que não tinha condição de continuar tentando ouvi-la e que estava realmente de saída em benefício de Ana Larissa, já que eu não teria nenhuma condição de deixá-la sob a responsabilidade de alguém que não demonstrava controle emocional como ela. Disse aos pacientes que estavam ali que lamentava que eles estivessem sendo tratados por uma Sra. em surto psiquiátrico. Deixei, então, a unidade de emergência do HGRS em direção ao HGE por volta de 03h. Cheguei ao HGE às 03h15min da madrugada de 24 de agosto de 2010 e fui recebido de maneira bastante cordial por Dra. Ilana Rodrigues, CREMEB 8213, que prontamente pediu avaliação do neurologista.

Informei a ela o quadro da paciente e que Ana Larissa apresentava midríase paralítica bilateral, FC: 148bpm, PA: 79X45 (56 mmHg), SpO2: 99%, em VM, com FiO2: 100%. O neurologista, após examinar a paciente e avaliar a TC de crânio, informou aos pais que abriria o protocolo de morte encefálica para Ana Larissa. Após a notícia todos choraram dentro do PA do HGE. Ao fim, me despedi dos pais de Ana Larissa e fui abraçado pelos dois que me agradeceram por todo empenho durante aquelas mais de quatro horas de transporte. Ao sair do HGE e entrar na ambulância da CER fui novamente abordado pelos familiares de Ana Larissa que novamente nos agradeceram o empenho na resolução daquela história.

Deixamos o HGE por volta das 03h45min e fizemos, eu e Lidysi, o caminho de volta até a CER chorando por termos presenciado, e vivido, tanto sofrimento durante àquelas horas infindáveis. Chorei como há muito não fazia. Chorei destruído com a confirmação do quão frágil é a vida humana. Chorei lamentando que uma menina de oito anos tenha partido de maneira tão repentina. Chorei invadido pelo choro daqueles pais que me abraçaram agradecidos e reconheceram, num momento de perda, o nosso trabalho. Chorei porque encontrei tanta gente, que atende tantas outras gentes, sem estar de fato compromissada com isso. Chorei porque novamente vi um ser humano ser tratado como um problema, um problema cuja paternidade ninguém quis assumir. Chorei porque encontrei a Sra. Heloísa Cunha e toda a sua falta de amor, toda a sua mágoa frente à vida, todo o seu descaso e sua insensibilidade. Chorei porque encontrei abandono, desrespeito e incompreensão. Chorei porque tudo o que já era tão doído se tornou ainda pior tamanha as barbaridades que vi e ouvi. Chorei como nunca. Chorei descrente da profissão que escolhi.

Termino esse desabafo reafirmando que não acredito em mudanças reais. Os protagonistas desse drama continuarão por lá, pelos corredores do HGRS, pelos corredores de tantos outros hospitais públicos. Eles continuarão humilhando os mais necessitados – os fragilizados pela falta de saúde e de saída -, continuarão tentando intimidar os mais esclarecidos que se opõem às suas arbitrariedades. Esse desabafo existe, entretanto, para registrar a minha indignação frente a tudo isso. Seja você que me lê um instrumento de Deus por aqui. Coloque-se no lugar daquela família que perdeu uma filha e que presenciou tanto abandono. Sinta-se tocado por aquela dor e repense suas atitudes frente à vida, frente aos vivos. Tente fazer diferente. E, sobretudo, ame quem quer que seja e tenha a sorte de ser amado como eu sou. Só assim, experimentando a libertação, a salvação que é ser amado, você possa, então, ser amor nesse mundo.

Vinícius Viana Bandeira Moraes – CRM/BA: 18.761
Médico Intervencionista da Central Estadual de Regulação”

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Evite acidentes domésticos com crianças

Acidente domésticoMais de 140 mil crianças são internadas em unidades médicas anualmente, vítimas de acidentes domésticos, segundo dados da ONG Criança Segura. Além disso, as lesões não-intencionais representam a principal causa de morte de criançasS de 1 a 14 anos no Brasil, com cerca de 6 mil ocorrências anuais. E mais, há estimativas no sentido de que a cada morte outras quatro crianças ficam com seqüelas permanentes. O gasto do governo com este tipo de ocorrência, através do Sistema Único de Saúde chega a R$ 63 milhões.

Acidente domésticoQual o remédio para mudar esta realidade? A prevenção. Por isso, precisamos ficar atentos ao ambiente em que há crianças, idosos ou portadores de deficiência. Isso porque, também segundo os dados da ONG, 90% das lesões nas crianças, por exemplo, poderiam ser evitadas simplesmente com políticas caseiras de prevenção. Dentre os registros mais frequentes envolvendo acidentes domésticos com os pequeninos estão as quedas, choques elétricos, queimaduras e ingestão de substâncias químicas.

O problema é que as crianças não possuem noção do perigo, nem discernimento sobre o que é certo ou errado. Elas se desenvolvem aos poucos e, neste processo, passam inclusive pela fase em que começam a enxergar pelos dedos. Por isso teimam em colocar a mãozinha em tudo o que veem pela frente, tocar os objetos que encontram, pegar, sentir. A obrigação de evitar deixar ao alcance dos pequenos objetos que lhes ofereçam riscos é nossa. E não podemos nos eximir desta responsabilidade, ao contrário, precisamos estar alertas para tentar evitar qualquer tipo de acidente.

Acidente domésticoClaro que somos humanos, falhamos, incorremos em erros aqui ou ali. O que não podemos é nos esconder atrás destas desculpas para justificar nossos vacilos.Mais uma vez precisamos estar cientes de que as crianças não possuem consciência para avaliar riscos. Tudo o que estiver ao alcance delas torna-se brinquedo em potencial. A ideia deste post é justamente chamar a atenção para alguns cuidados básicos e orientações que devem ser levados em conta se você tem uma criança em casa. Cabe a nós, adultos, protegê-las e manter um ambiente saudável ao seu redor, com o menor índice de riscos possíveis.

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CriançasRecomendações*
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Qualquer objeto inofensivo pode tornar-se uma arma poderosa na mão de uma criança. Justamente porque elas não conseguem dimensionar seus usos, acabam fazendo com ele o que lhes dar na telha. Assim, botões, tamAcidente domésticopas e rolhas de garrafas, moedas, e até brinquedos que tenham peças muito pequenas podem parar na boca de uma criança. Até os três anos, elas costumam levar tudo à boca. Imagine o problema se o pequenino ingerir um desses objetos? Podem acabar engasgando e até sufocando.

Dentre as principais causas de acidentes com crianças podem ser citados, além dos pequenos objetos deixados ao alcance dos pequenos, as quedas, os cortes, intoxicações e queimaduras. Se você já tem esta informação, já fica mais fácil identificar o que pode se tornar um risco se estiver ao alcance da criança. E não basta apenas reclamar, levantar a voz, gritar. Você deve orientar, ensinar, alertar. Precisa esclarecer, numa linguagem inteligível a ela, os riscos que pode correr se tomar aquela atitude. Acidente domésticoÉ uma forma de aprimorar a noção sobre o perigo. Ainda que o seu filho seja pequenino, use da paciência e do bom senso para as explicações, que são sempre fundamentais.

E, se ele não pode, você também não pode. O exemplo é o maior ensinamento para a criança. Não faça na frente dela aquilo que você não quer que ela faça. Se for fundamental que você tome determinada atitude na frente dele, esclareça porque você pode fazê-lo e ele não. Utilize os argumentos de idade, capacidade, segurança, responsabilidade. Aos poucos, ele vai aprendendo a importância de se agir com segurança.

Medicamentos também são grandes vilões. Devem ser deixados longe do alcance das crianças. Longe quer dizer longe mesmo. Nada de achar que ali ele não mexe. É preciso que ele não consiga mexer ainda que tente. Escolha locais altos, caixas fechadas, locais que possam  ser isolados do alcance do olhar do pequeno. O risco não é apenas de ele pegar o remédio e ingerir escondido de você. Outro risco, e dos grandes, é você dar medicamentos a ele sem prescrição médica. Essa também é uma atitude descuidada e perigosa. Como o exemplo, é a base do negócio, procure evitar tomar a medicação na frente dele, para que não queira imitá-lo, reação normal das crianças.

Escadas:
– devem ter um corrimão de apoio e o piso não deve ser liso (escorregadio);
– se há crianças pequenas, na fase de gatinhar ou começar a andar, coloque proteções e barreiras (portões) em todos os acessos da casa às escadas;
– não se esqueça de fechar as proteções e barreiras dos acessos às escadas depois de passar;

Janelas e varandas:
– coloque grades ou redes de proteção em todas as janelas e varandas;
– uma porta ou uma janela aberta representam um grande perigo;

Piscinas, lagos, lagoas e até na praia:
– nunca deixe a criança sozinha perto de uma piscina, mesmo que esta seja própria para ela;
– nunca deixe uma criança sozinha na piscina, em qualquer circunstância. Muitos afogamentos de crianças até aos 4 anos ocorrem porque os adultos se ausentam por “um minuto”, para atender o telefone, ir buscar o lanche etc;
– esteja atento às brincadeiras das crianças na água;
– coloque braçadeiras ou coletes nas crianças que não sabem nadar, mesmo quando estão apenas em volta da piscina. Se escorregarem e caírem na água estarão mais protegidas;
– se tem piscina em casa, coloque uma vedação ou tela de proteção à volta, de forma a impedir que a criança tenha acesso à água;

Cozinha, sala e área de serviço:
– não deixe crianças sozinhas na cozinha;
– guarde facas e objetos cortantes em locais inacessíveis a elas;
– não deixe panelas no fogo sem ninguém na cozinha e tenha especial cuidado com líquidos quentes, já que queimaduras com líquidos quentes são frequentes em crianças;
– não deixe as bocas do fogão ligadas quando acaba de cozinhar;
– vire os cabos das panelas para o interior do fogão, para evitar que as crianças tentem pegá-los;
– pode remover os botões do fogão quando este não estiver em uso;
– esconda os fósforos, pois as crianças não têm medo do fogo;
– torradeiras, bules, garrafas térmicas e outros equipamentos devem ser mantidos fora do alcance das crianças;
– cuidado ao utilizar panelas de pressão. Cumpra sempre as indicações do fabricante;
– tenha cuidado na utilização do gás no fogão. Acenda o fósforo antes de abrir o gás. Se o seu fogão tiver acendedor eléctrico, acenda primeiro o gás, no mínimo, e só então acione o acendedor;
– quando acender o forno, coloque-se de lado e não em frente do fogão;
– use apenas toalhas, aventais e panos de tecidos naturais. Evite usar roupa de tecidos sintéticos e aventais de plástico quando estiver cozinhando;
– na utilização do micro-ondas não cubra alimentos com papéis metalizados nem coloque, no seu interior, louças com decoração prateada ou dourados (causam faíscas);
– cuidado com produtos de limpeza e outros produtos tóxicos. Seja na cozinha, dispensa ou em qualquer outra divisão da casa ou no jardim, guarde estes produtos em locais inacessíveis a crianças e a animais;
– utilize fechos e protetores (inclusive cadeados) que impeçam a abertura de armários e gavetas da cozinha ou de outros locais;
– nunca coloque detergentes, lixívia, inseticidas ou pesticidas em garrafas de água plásticas já usadas, porque as crianças podem ingerir o produto pensando ser água, resultando num acidente com grande gravidade;
– cuidado com eletricidade e tomadas. Se possível, todas as tomadas devem ter ligação terra;
– instale protetores adequados em todas as tomadas da casa, para evitar choques eléctricos;

Objetos pontiagudos ou cortantes:
– facas, tesouras, chaves-de-fenda e outros objetos perfuradores nunca devem ser dados às crianças para elas brincarem. Mantenha esses objectos em locais fechados e a que a criança não tenha acesso;

Tábua e ferro de engomar:
– nunca deixe o ferro ligado com o fio desenrolado e ao alcance das crianças. Além da alta temperatura, é perigoso pelo seu peso e pela ligação à electricidade;
– evite o uso de tábuas de passar roupa que possam ser puxadas para baixo;

Armas:
– não tenha armas em casa. Se tiver, arrume-as ou guarde-as longe do alcance das crianças;
–  nunca tenha as armas carregadas em casa;
– nunca deixe as munições junto à arma. Guarde-as em local seguro e inacessível às crianças;

Fique atento:
– nunca deixe bebidas alcoólicas ao alcance de crianças;
– procure ajuda médica, se o seu filho engolir uma substância não alimentar;
– anote os números dos telefones do seu pediatra, do hospital, dos centros de envenenamento e de outros centros de ajuda em local bem visível (por exemplo, ao pé do telefone);
– leia atentamente os rótulos das embalagens antes de usar qualquer produto;
– ensine as crianças a não aceitarem bebidas, comida, doces que lhes sejam oferecidos por adultos que não conhecem;
– não deixe que crianças com idade inferior a 10 anos andem sozinhas de elevador;

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No caso dos bebês*
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Cuidados com potenciais quedas:
– nunca deixe o bebê ou a criança sozinha em cima de uma cama, bancada ou móvel onde muda as fraldas e a roupa;
– tenha as fraldas, as toalhinhas de limpeza e os cremes necessários sempre à mão;
– prepare as roupas que vai usar para vesti-lo com antecedência e tenha-as à mão na altura em que vai vestir a criança;

Cuidados com camas de grades:
– use cama de grades, pois evitam que o bebê ou a criança caia da cama;
– assegure-se de que os espaços entre as barras do berço são adequados. Normalmente as grades são adaptáveis em altura, para facilitar o colocar e tirar a criança da cama;
– não esqueça de verificar se a grade está bem colocada depois de pôr a criança na cama;
– tome cuidado quando a criança começar a mostrar movimentos de sentar, engatinhar ou ficar de pé; está na hora de adequar a grade, se for o caso, às suas novas capacidades;
– verifique se o estrado está bem seguro e se o colchão é adequado;
– Não deixe brinquedos dentro do berço ou da cama do bebé;

Cuidados com o banho:
– nunca deixe o seu filho sozinho na banheira, seja qual for a circunstância. Mesmo com água rasa é perigoso. Uns segundos bastam para que se afogue;
– verifique a temperatura da água com um termômetro ou com o seu cotovelo, para evitar queimar a criança se a água estiver demasiado quente;
– use tapetes ou formas antiderrapantes na banheira;

Cuidados com brinquedos:
– os brinquedos devem ser suficientemente grandes para não poderem ser engolidos e suficientemente resistentes para não lascarem ou partirem;
– verifique os rótulos e etiquetas dos brinquedos para saber quais os materiais de que são feitos, evitando, por exemplo, o risco de alergias;
– os brinquedos não devem ter arestas ou ser pontiagudos;
– compre brinquedos adequados à idade da criança e verifique se os oferecidos também são apropriados.

Outras dicas:
– sacos plásticos, fios de telefone soltos, almofadas e travesseiros altos e fofos podem asfixiar ou estrangular;
– não permita que a criança mastigue pastilhas elásticas ou coma rebuçados;
– não ponha cordões à volta do pescoço da criança para segurar as chupetas;
– não permita que a criança brinque com objetos pequenos que possa engolir;
– não beba líquidos quentes com o seu filho no colo. Mantenha os líquidos quentes (café, chá etc.) fora do alcance dele;
– proteja os cantos das mesas e de outros móveis que possam significar perigo para o bebé.

*Fonte: Portal da Saúde.

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Como combater a dengue

Você tem uma tarefa importantíssima a cumprir a partir de hoje: impedir o acúmulo de água parada. O que isso tem a ver com a dengue? Absolutamente tudo. A reprodução do mosquito aedes aegypti, agente transmissor da doença, acontece nos recipiente de armazenamento de água, tanto nas áreas Campanha contra a denguesombrias, quanto nos locais ensolarados. Se a água é da chuva, da torneira ou do botijão reciclável, não importa. Basta que o líquido esteja acumulado em qualquer lugar para que tenhamos o habitat ideal para os mosquitos se multiplicarem. O que isso significa? Que é muito, muito difícil conseguir conter a proliferação do mosquito, e que precisamos nos unir nesta batalha.

Alguns posts atrás eu falava da questão da educação cidadã, a história da contribuição de cada um com o objetivo de construir uma sociedade melhor para todos. Pois é. Chegou mais um momento de vestirmos a camisa da luta de combate ao mosquisto da dengue. Só para dimensionar os estragos que ele tem feito por aí, das cerca de 50 a 100 milhões de pessoas que são infectadas por ano em mais de 100 países, aproximadamente 550 mil vão parar em um hospital. O dado mais alarmante vem a seguir: segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde, 20 mil infectados morrem em consequência da dengue.  Pois é, meninas e meninos. Não estamos falando de pouca gente não.

E o pior é que cada um só vai começar a se preocupar mesmo depois que alguma tragédia acontece na família ou na vizinhança. Até lá permanecemos passivos, assistindo às notícias na tevê. Nós não precisamos deixar acontecer o pior. Nem precisamos sentar de braços cruzados a esperar alguém fazer alguma coisa. Podemos, aliás devemos, nós mesmos, começar a agir neste exato momento, para tentar conter esta epidemia que está instalada em nosso País. Nossa querida Bahia já presenciou 15 mortes nos últimos dias. Precisamos dar um basta nisso, arregaçar as mangas e abraçar esta causa. Não dá para sentar e aguardar. Neste caso, como a reprodução do mosquito é facilitada, uma ação isolada é insuficiente para produzir o efeito desejado.

Mosquito da dengue================
>> O que é a dengue?
>> Como acontece a transmissão?
>> Reconheça os sintomas da dengue
>> Como é o tratamento?
>> Como se prevenir?
>> Saiba como evitar as picadas do mosquito
>> Medidas para eliminar os locais de reprodução do mosquito
>> Veja as perguntas mais frequentes sobre a dengue
>> Conheça o programa nacional de controle da dengue
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Depois de ler todas as informações necessárias para enfrentar este grave problema de saúde pública, é só colocar em prática. Lembremos, no entanto, que praticar apenas não é suficiente. O trabalho de combate à proliferação do mosquito da dengue é um trabalho que exige também uma nova postura, de conscientizar as pessoas que estão ao nosso redor, para que cada uma também dissemine esta ideia. Juntos, ninguém nos vence. A sociedade unida é imbatível. E não será um mosquito tão pequenino que vai nos derrotar. E então? A fim de entrar nessa luta também? E de se fazer a promessa de multiplicar estas informações, mobilizando sua comunidade ? Vamos lá, então!

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