Tocar violão: realizando um sonho antigo

tocar violão fusart Aprender a tocar violão era um sonho antigo. No meu aniversário de 16 anos, ganhei um violão de meu pai. Foi uma felicidade gigantesca, mas ele acabou encostado na parede, dentro da capa, por anos a fio. Sempre tive a vida muito corrida, então surgia uma prioridade depois da outra, e o sonho de tocar violão foi sendo adiado. Mais de duas décadas se passaram e vejo na internet um processo seletivo para um curso de violão na Fusart. Era preciso preencher um questionário e responder o motivo de eu querer ter aulas de violão. Sabe aquela sensação de que uma vaga seria minha? Eu tinha certeza!

Alguns dias depois, recebi a boa notícia. Eu havia passado na seleção, e as aulas já começariam na segunda-feira seguinte. Confesso que sempre me achei meio burra para tocar violão. Eu não conseguia imaginar que teria coordenação motora, que sequer conseguiria gravar as notas, as posições dos dedos, a batida nas cordas.

Muita informação! Para mim sempre foi algo surrealmente difícil de imaginar. No primeiro dia de aula, conheci as outras meninas da turma e o professor, Claudio. Cheguei meio desconfiada, achando que ia pagar o maior mico de minha vida, que seria o patinho feio da turma, aquela que não levava jeito pra coisa.

Chegamos, aliás. Eu e meu violão desafinado, com cordas antigas e que já não serviam. Na turma, descobri que todas partilhávamos do mesmo desejo e da mesma “ignorância”. Ninguém sabia tocar violão bulhufas, e todas se sentiam como eu, meio perdidas ali, com muita vontade, muita esperança e sem saber direito o que aconteceria. Mas a turma era maravilhosa. Pensa em uma galera parceira? Em pessoas que motivam umas às outras? Todas incentivam, elogiam, fazem você se sentir muito melhor arranhando nas cordas do que realmente é. E isso facilita muito o processo, ajuda um bocado.

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Como é tocar violão com ele?

Mas isso não é suficiente, porque nenhuma de nós sabia sequer segurar o violão direito. O diferencial mesmo tem nome, sobrenome, muito conhecimento técnico e uma didática maravilhosa. O nome dele é Claudio Santos, licenciado em música pela Ufba, o tal do professor. Um profissional incrível, que faz você aprender a tocar sem perceber que aquilo é uma aula. Que acrescenta as notas de uma maneira leve, fazendo tudo parecer muito mais simples.

tocar violão fusart O motivo para hoje eu arriscar uma musiquinha ou outra no violão é ele. Talvez tivesse eu me batido com outro perfil de profissional, teria desistido. Meu dia é corrido, meu tempo é escasso e são zilhões de prioridades. Mas se você mostrar interesse e quiser mesmo aprender, ele não vai desistir de você, ainda que você pense em desistir.

Vai e vem chega aquele zap maroto perguntando se você treinou. Vai e vem, uma cifra. Você piscou, tem lá uma mensagem de incentivo. Claudio é aquele professor que demonstra gostar do que faz. É paciente, ajusta suas mãos o tanto de vezes que você precisar.

E tira suas dúvidas com toda seriedade do mundo, por mais bobas que pareçam. Eu, por exemplo, fui a aluna chata da “mão direita”. Ele deve ter ficado exausto do tanto que lamentei que não sabia fazer a batida, que minha mão direita não obedecia, que eu não tinha ritmo, blá blá blá. E ele sempre foi muito tranquilo e disponível. Me dava todas as dicas do mundo, respondia meus zaps ansiosos. Por isso quis escrever esse post. Porque nós, enquanto alunos, merecemos um professor assim. Porque se você quer aprender a tocar violão, você precisa conhecê-lo, não vai se arrepender.

Sobre a Fusart

Claudio Santos e Mylane Mutti

A Fusart é um espaço que agrega uma série de atividades artísticas, possibilitando aos alunos vivenciar o contato com a arte, ainda que a intenção dele não seja se transformar em um profissional (como é o meu caso). Estão à frente do instituto essa dupla que está aí na foto, os profissionais Claudio Santos (professor, compositor, arranjador e guitarrista) e Mylane Mutti (professora, cantora e arranjadora). Juntos, eles implementam ideias e metodologias para o estudo da arte, valorizando a prática. 

A Fusart oferece aulas técnicas, teóricas, práticas e complementares de violão, piano, canto, desenho artístico e fotografia. Tem turmas para todos os níveis, iniciante, intermediário e avançado. Eles também promovem eventos bem bacanas, como saraus, recitais e festival da arte, para que os alunos pratiquem e desenvolvam suas habilidades vocais e corporais, além de aprender a controlar as próprias emoções. É um lugar super aconchegante, a gente se sente em casa. 

Contatos da Fusart

Quem quiser conhecer mais da Fusart, é só entrar em contato com um deles dois.
Cláudio Santos: [email protected] | (71) 99113-8689
Mylane Mutti: [email protected] | (71) 99313-9067

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Wilson Simonal – Só ele mesmo sabe o duro que deu…

Divulgação
Simonal foi um artista único que acabou sendo arrancado de si mesmo e largado à própria sorte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*Texto da jornalista Giovanna Castro

Estou atrasada quase dois anos, é certo, mas o comentário que se segue ainda vale muito em tempos nossos de superficialidade. Não pude ir ver quando passou nos cinemas, mas finalmente consegui assistir na televisão o documentário “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei”, filme do Casseta Cláudio Manoel, co-dirigido por Micael Langer e Calvito Leal, lançado em 2009. Eu sempre tive curiosidade por essa figura da MPB, de quem tinha forte na memória, infelizmente, apenas as músicas “Meu limão, meu limoeiro” e “Sá Marina”.

Em casa, muito embora meu pai e minha mãe sempre tenham ouvido muita música – ele com LPs e, mais recentemente, CDs – e ela, no dial do rádio mesmo – não me lembro de ter ouvido Simonal na infância ou adolescência. Meu pai não tinha disco de Wilson Simonal, confirmei depois, mas minha mãe disse que o acompanhava pela TV e por revistas. “Ele era muito charmoso”, ela fez questão de ressaltar. E era mesmo, pude atestar nas cenas antigas do documentário. Um sedutor nato.

Me interesso muito por documentários. Por histórias de vida de pessoas que, de uma forma ou de outra, fizeram a diferença em algum momento da vida para pouca gente no seu entorno, ou para multidões, como foi o caso de Simonal, pioneiro na função de animador de auditório, por assim dizer. Isto porque, antes dele, segundo conta Miele, outra figura lendária da história da MPB, artistas se apresentavam em pequenos espaços. Simonal regia multidões em ginásios lotados. Ele brincava com a plateia e as dividia em partes que cantavam pedaços e tons diferentes de cada canção, fazendo um animado côro. Impressionante!

Lembro que, durante as entrevistas de divulgação do filme, me chamou muito a atenção o fato de a carreira de Simonal tem caído num terrível declínio em decorrência de sua suposta colaboração com o governo militar, naquele tempo, em seus anos mais duros e cruéis. Simonal teria sidou um X-9 do governo militar e teria delatado artistas da MPB, naquela época sombria em que ser delatado poderia significar literalmente uma sentença de morte. Claudio Manoel, um dos diretores, disse que, no filme, preferiu apenas registrar os comentários das pessoas sem fazer nenhum juízo de valor, e ele consegue o seu intento.

Toda a polêmica teria começado depois que Simonal descobriu que o seu então contador teria surrupiado dinheiro seu. Segundo se comentou, ele teria mandado uns fortões darem uma coça no contador, homens que seriam ligados ao temido DOPs, Departamento de Ordem Política e Social, responsável por controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime. Não fica claro no documentário se houve realmente a tal coça, principalmente dada pelos durões do DOPs, mas fato é que depois disso, Simonal ficou marcado como aliado dos militares.

A partir daí, foi ladeira abaixo. Especialmente depois que o jornal O Pasquim começou a publicar charges em que atribuía a Simonal a pecha de dedo-duro. Foi quando o showman que arrebatou multidões começou a receber sua “overdose de ostracismo”, como descreve a viúva do artista. Segundo ela, ainda no leito de morte, Simonal tinha esperança de ter sua imagem desvinculada da delação que jamais foi comprovada.

Ele mesmo correu atrás e conseguiu um documento do governo federal que atestava que ele nunca havia sido colaborador da ditadura. Me senti constrangida de ver aquele homem de tamanho talento, que anos atrás conseguira hipnotizar plateias com seu carisma, olhos brilhantes e sorriso arrebatador, sentado num sofá de programa de televisão tentando limpar a própria imagem já completamente consumida pelos radicalismos políticos da época que coincidiu com o auge da carreira.

Simonal foi vítima do acirramento de posições, conforme o próprio cartunista Jaguar, uma das figuras proeminentes de O Pasquim, tentou explicar. Entendo o ponto de vista dele, que aparentemente não hesitou, na época, em vincular nos seus desenhos o nome de Simonal à figura do dedo-duro. Ele fala que a conjuntura política levava a essa polarização e O Pasquim estava do lado contrário à ditadura, daí ter assumido uma furiosa posição contra o cantor. No entanto, sob toda esta capa política que é parte da história do Brasil, na minha opinião, como também é sugerido no documentário, está a sombra do racismo.

Como era possível um homem negro, de origem humilde, ex-militar, fascinar tanta gente, envolver a todos com seu carisma e conseguir do público amor, paixão e devoção, gratuitamente, sem pressões ou imposição de medo e ameaças? E mais do que isso, ganhar muito dinheiro mesmo. Naquele tempo até se disse que Simonal estaria alinhado com a cartilha do governo de tentar distrair o povo do que acontecia nos porões do regime. Creio que foi uma infeliz coincidência.

Na época, ninguém buscou verificar a verdadeira história e nenhum artista se levantou, ao que tudo indica, em defesa de Simonal. Não houve sequer quem se apresentasse como tendo sido delatado ou dedurado pelo cantor. Foi mais fácil deixar as coisas como estavam… Fato é que a sombra resultou na dilaceração do artista, morto há quase 11 anos.

Um homem que, amargurado pelos acontecimentos e pela impotência em reverter a situação, entregou-se à bebida como se com litros de álcool pudesse afogar a vergonha, a injustiça e a incompreensão por ter sido arrancado de si mesmo, do talento em seu estado mais puro, poesia etérea que sucumbiu à força bruta da inveja, do ressentimento, do pré-julgamento e do pré-conceito.

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TCA fará oficinas de figurino, cenografia e iluminação

Uma dica para quem é da área teatral. O Núcleo de Teatro do TCA (Teatro Castro Alves), em Salvador, realiza inscrições, até esta sexta-feira, dia 30, para as oficinas de Figurino, Cenografia e Iluminação. As oficinas, que integram o processo de montagem do segundo espetáculo de 2010, com o título provisório de “Ocasiões”, serão ministradas por Miguel Carvalho (Figurino, 2 a 6 de agosto), Renato Bolelli (Cenografia, 2 a 6 de agosto) e Aurélio de Simone (Iluminação, 10 a 14 de agosto). Todas acontecerão de 9 às 13 horas, no Centro Técnico do TCA.

Para se inscrever, os interessados devem apresentar fotocópias de RG, currículo e comprovação (via atestado ou programa) de participação em, no mínimo, duas montagens com função correspondente à oficina. As inscrições devem ser feitas no Núcleo de Produção do TCA, de segunda a sexta-feira, das 14 às 18 horas. Mais informações pelos telefones (71) 3117-4882/4881 ou pelo e-mail [email protected].

OSBA no interior do Estado

Orquestra Sinfônica da Bahia / Crédito da foto: Isabel Gouvea - Divulgação do TCA

E por falar em TCA, a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), sob a regência do maestro Eduardo Torres, fará duas novas apresentações dentro do projeto OSBA Itinerante. Desta vez, os músicos visitam Itabuna e Ilhéus, no sul da Bahia. O projeto Osba Itinerante tem o objetivo de levar a orquestra para outras cidades baianas e até fora do Estado, contibuindo para democratizar o acesso à música clássica.

O concerto em Itabuna acontece nesta quarta, dia 28, às 20h, na Av. Beira Rio, Espaço Marimbeta. Já Ilhéus, cidade vizinha, recebe os músicos no dia 29, quinta, também às 20h, na Catedral de São Sebastião. A entrada para os espetáculos é gratuita.

Camerata Opus Lúmen / Crédito da foto: TCA-Divulgação

Cameratas – Durante a viagem, a orquestra também apresentará o projeto Cameratas da Osba, que reúne pequenos grupos de músicos para apresentações de música de câmara. Na quinta-feira, 29, as cameratas Opus Lúmen, formado por oboé, clarineta e fagote, e Bahia Cordas, integrado por quatro violinos e, ainda, viola, violoncelo e contrabaixo, apresentam-se no Teatro Municipal de Ilhéus, às 16 horas, também com entrada gratuita.

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Michael Jackson se foi há um ano, mas não está morto

*Texto da jornalista Giovanna Castro

Eu amo Michael Jackson, sempre amei, desde criança. Depois que cresci um pouco e comecei a entender como as coisas funcionavam, percebi que o meu amor servia como uma forma de tentar fazê-lo sentir melhor diante de tanta dor que parecia emanar dele.  Não duvido que muitos outros tantos fãs pensassem da mesma forma, ainda que inconscientemente.

Para mim, MJ era também um caso a ser observado, volta e meia me questionava sobre como um homem brilhante como ele se deixou consumir pela roda viva da fama que acabou virando seu algoz. Amanhã, 25 de junho, faz exatamente um ano que ele se foi e a dor continua. Mas é uma dor que não vai passar porque faltam respostas para entender como a genialidade sucumbiu a si mesma. Porque Michael, mesmo ainda magnífico como se vê nas cenas do documentário-despedida This is it, que registra os ensaios do que seria sua última série de shows, se retirou de cena tão cedo, com apenas 50 anos de vida?

Para mim, sempre foi um grande enigma entender porque Michael mudou sua aparência tão radicalmente

Morrer cedo talvez tenha sido uma forma de ele se livrar do sofrimento que certamente o afligia internamente desde o dia que nasceu numa família doente, num contexto de pobreza, violência, frustrações, castração de desejos infantis, trabalho forçado, porque não?, e da omissão de uma mãe de nove crianças que deixava o genitor dos seus filhos fazer deles o que quisesse com requintes de humilhação e violência física e psicológica. Nunca vou entender o papel desta mãe que, ao que parece, fechou os olhos à tirania do velho Joey.

O tamanho que Michael atingiu como astro pop, como personalidade, como celebridade e alvo de críticas e recriminações foi maior do que ele poderia suportar. Um psicanalista me diria agora, neste momento, que nada acontece à revelia de quem quer que seja, que Michael construiu esse caminho para si próprio, que ele fez escolhas que o levaram a esse angustiante fim. É óbvio que sim, mas o que ele sofreu na infância, de acordo com seu próprio relato, de não poder brincar na rua, jogar bola, interagir com outras crianças, foi definidor para o resto da sua weird existência, pouco compreendida por quem está de fora, seus fãs inclusive. Muitos o taxavam de Jacko uma corruptela que significa algo como “doidão/esquisitão”, no jargão dos americanos. Excêntrico, ricaço sem ter o que fazer, que passou a viver de forma esquisita, astro que não mais conseguiu repetir o brilhantismo de fases anteriores e se rendeu ao ostracismo. Fácil julgar, mas eu não gostaria de estar na pele dele.

A morte de Michael Jackson me atingiu num dia como se fosse uma daquelas notícias falsas que circulam e que depois alguém desmente dizendo que foi apenas um boato. Liguei para minha mãe e disse “Michael Jackson morreu”, meio que sem acreditar que aquilo fosse verdade e tentando confirmar com alguém de confiança se aquilo não tinha sido um engano. O mesmo aconteceu quando falei com meus irmãos. Àquela altura, era apenas um boato propagado por um site de celebridades, mas que depois foi se consolidando como a notícia mais bombástica do mundo artístico do nível das über celebridades, que era a estratosfera que pairava sobre o mundo dos pobres artistas pop que aprenderam tudo com MJ.

Aos poucos, o meu racional se rendeu às notícias. Lembro exatamente da sensação daqueles dias, a música de MJ onipresente na Redação, emanando das televisões ligadas acompanhando minuto a minuto os acontecimentos, as notícias do hospital, as confirmações e desmentidos sobre enterro e funeral, os filhos, a família, o testamento, a mãe e o pai. Acompanhava tudo com imensa curiosidade, queria respostas sobre o que teria acontecido realmente. Respostas que não vieram e provavelmente, acredito, nunca virão por que, a menos que alguém daquela família, incluindo seus filhos, resolver contar a verdadeira história, tudo ficará encerrado para sempre entre eles.

Também me lembro perfeitamente de onde estava quando ouvi pela primeira vez o clipe de Thriller. Eu devia ter uns 11 anos de idade. E ter essa idade, há 26 anos, definitivamente não é a mesma coisa que ter 11 anos atualmente. Naquele tempo, os melhores clipes da música mundial estreavam com estardalhaço e expectativa no Fantástico.  E não poderia ser diferente com MJ. Era um clipe que definiria o astro que ele se tornaria dali em diante, dominando a cena pop norte-americana, internacional e minha cena interior, de pré-adolescente que gostava de ouvir música e ver a Sessão da Tarde.

Houve um momento, no auge da carreira, em que o peso da fama não tirou o brilho dos olhos de Michael Jackson, que sorria à tôa

Lembro que era tarde da noite e eu estava sozinha na sala de casa. Não sei bem se meus pais estavam dormindo e onde estavam meus irmãos. Mas lembro de ter me esforçado para ficar acordada e acompanhar a estreia do material. Consegui não dormir e fui sendo envolvida por aquela aura de mistério que é marca do clipe. Tudo escuro e eu estava sentada no chão. Assisti aquelas cenas inspiradas no clássico filme O Lobisomem Americano em Londres, de John Landis – que também dirigiu o clipe – com muita curiosidade, amando a música, a dança e a historinha do rapaz que se transforma em lobisomem e ameaça a própria namoradinha.

A noite, a história bem roteirizada, as belíssimas atuações me transportaram para aquele universo e eu senti medo. Aquela risada final, a voz grave de Vincent Price, me fizeram demorar a dormir. É uma daquelas coisas impactantes que se constituem em momentos marcantes da nossa existência nas mais variadas fases da nossa vida. E dali em diante meu fascínio por MJ só aumentava e minha curiosidade por sua história de vida também.

É no mínimo intrigante que uma criança que tenha crescido num contexto de violência e rigidez absoluta tenha conseguido construir coisas tão lindas. Michael foi um vitorioso por bastante tempo. Pelo menos, passou por cima do que eventualmente o fazia sofrer e curtiu o seu momento de fama no topo do mundo da música. É genuína a felicidade que se vê no brilho dos seus olhos nos clipes de músicas como Thriller, Off the Wall, Rock with you, Beat it entre tantas outras do auge da fama.

Depois que ele morreu, me questionei sobre o que sempre considerei omissão daquela mãe de expressão não menos dura do que a carranca do velho Joey e me surpreendi que ela tenha sido “premiada” com a citação do seu nome no testamento e sendo encarregada de criar os três netos. Parece que aquela mulher deve ter dado algum tipo de suporte emocional para o filho mais famoso e genial, do contrário, nenhuma recompensa – ainda que representada pelo simbolismo do dinheiro – seria atribuída a ela. A menos que Michael não tivesse melhor escolha a fazer. Vai saber?

A imagem de MJ sempre chegou a mim como uma expressão de grande sofrimento. Sabe-se que ele não tinha nada de ingênuo, em muitos momentos usou a imprensa para propagar informações sobre si mesmo a fim de criar “espuma” em torno do seu nome. Não é novidade para ninguém que ele sabia como poucos usar elementos de marketing para catapultar sua carreira. Mas pelo menos três “factóides” que ele criou, conforme sua biografia mais importante escrita por J. Randy Taraborrelli, se reverteram negativamente, que foi o caso de que ele dormia com um macaco e conversava com o bicho a quem levaria para todos os cantos, incluindo restaurantes; a câmara de oxigênio que, na verdade, era uma foto feita pelo próprio MJ e “plantada” na imprensa; além da ossada do  Homem-Elefante, que ele teria comprado a peso de ouro.

Era para mim também algo enigmático a insistência em mudar a aparência – claramente um distúrbio de identidade, ele procurava um MJ que não era o que ele se tornou, um cara branco, glamuroso, maquiado, de cabelo liso. Reflexo do violento racismo que nos EUA se materializa em forma de segregação, não a tôa MJ começou na Motown, que era uma gravadora especializada em tornar “mais palatável” para os brancos a música vigorosa dos negros. Michael soube, como poucos, e com a ajuda de outro gênio, Quincy Jones, se equilibrar entre esses dois mundos e unir as duas porções dos EUA em torno da sua música. Mas não passou por isso impunemente.

Jamais nenhum artista conseguiu superar os 13 prêmios Grammy que Michael ganhou ao longo da carreira artística

Como já disse, não é adequado negar a participação do próprio MJ em toda a extensão do seu tormento. Ele poderia ter procurado ajuda, não se deixado levar por todo o glamur, mas é sintomático e motivo para se pensar quando após a sua morte descobre-se que ele realmente sofria de vitiligo, que a imprensa de modo geral fazia questão de colocar em dúvida.  Ser vítima de racismo num país como os EUA deve ser algo brutal e MJ desafiou a tudo e a todos quando conseguiu mostrar seu talento avassalador.

Os brancos que, apenas três anos antes de Michael nascer, agrediram Rosa Parks em 1955 por ter sentado num banco de ônibus reservado exclusivamente aos brancos e se negar a cedê-lo, eram obrigados a engolir um negro americano invadindo suas casas sem pedir licença e espalhando sua música por todos os cantos. Para quem não tem uma estrutura psicológica forte e não possui uma identidade solidamente construída e uma auto-estima alquebrada, como parecia ser a personalidade de Michael, é difícil resistir à pressão de não ser aceito pelo que se é.

Acredito que complexidade semelhante pode ser aplicada às acusações por supostamente molestar meninos. Mentes estranhas podem realmente fazer coisas estranhas mas nada ficou provado em relação ao primeiro rapaz cuja família aceitou uma bolada para desistir do processo (quanto vale, em milhões de dólares, para um pai ou uma mãe verdadeiramente indignados por ver a inocência do seu rebento violada, abrir mão de ver o criminoso atrás das grades?). No último julgamento, em 2005, MJ foi inocentado das acusações. Manobras legais podem ser facilmente criadas, principalmente quando há muito, mas muito mesmo dinheiro envolvido.

Amo e sempre vou amar Michael Jackson. Lembro que durante todo o tempo que durou a cobertura da mídia sobre sua morte e até o seu enterro, ouvia sua música sem cansar, belas eternamente.  Sua obra me faz feliz, me faz dançar, me transporta para momentos bons, traz lembranças felizes e o melhor é que sempre que tiver vontade de me sentir assim, bastará ligar o aparelho de som ou o DVD e trazê-lo de volta ao meu convívio. God bless you, Michael. You will always be the best.

Veja um pouco da genialidade precoce do mestre no primeiro teste do The Jackson 5 na gravadora Motown:

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Um pouco de música para vocês

Nada de artigos, reflexões profundas ou temas muito sérios. Afinal, é sábado. Navegando pela internet, vasculhando “São Youtube das Memórias Preservadas”, encontrei alguns vídeos antigos da música Retorn to Innocence (Retorno à inocência), do Deep Forest. Erroneamente, atribuem a música ao grupo Enigma, mas a confusão é compreensível, pois os dois grupos fazem a chamada World Music, ou música da nova era, que estourou no mundo e chegou ao Brasil nos anos 90. Traduzindo: world music é aquele tipo de som quase hipnótico, como um mantra, bom para meditar, contemplar, deixar a mente viajar um pouco. Enia e Lorenna McKennit são duas famosas artistas do gênero, sendo que a última faz uma bela junção de sintetizadores eletrônicos com instrumentos medievais e clássicos. Adoro esse tipo de música. Não para ouvir o tempo inteiro, claro, mas ouço com frequencia, principalmente quando quero apenas relaxar. E hoje é um dia para relaxar, ficar perto de quem se ama, recarregar as baterias… Divido com vocês minha redescoberta de Retorn to Innocence. De certa forma, sempre há aqueles dias em que todos buscamos voltar à pureza da infância.

Uma das versões no Youtube, atribuindo a música ao Grupo Enigma:

E aqui neste link (a incorporação foi desativada), vocês podem ver o videoclipe do Deep Forest, tal qual era exibido na TV na minha adolescência. É isso, gente, pausa para contemplação e nostalgia.

Eis a letra, para quem quiser cantar junto:

Return to Innocence
(Deep Forest)

Love
Devotion
Feeling
Emotion

Don’t be afraid to be weak
Don’t be too proud to be strong
Just look into your heart my friend
That will be the return to yourself
The return to innocence.

If you want, then start to laugh
If you must, then start to cry
Be yourself don’t hide
Just believe in destiny.

Don’t care what people say
Just follow your own way
Don’t give up and loose the chance
To return to innocence

That’s not the beginning of the end
That’s the return to yourself
The return to innocence

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“Lobo Mau”: um crime contra a ingenuidade infantil

Roubar a ingenuidade das crianças deveria ser crime. Hediondo. Inafiançável e com pena máxima, sem direito à liberdade condicional ou qualquer outro benefício, como a progressão de regime, por exemplo. Eu não levanto a bandeira contra o pagode baiano. Respeito os estilos musicais e danço o que toca. Não tenho CDs, não é um ritmo que toca no som do meu carro, mas eu vou a um show tranquilamente. E me divirto. Não vejo qualquer problema com o fato de cada um se divertir da forma que gosta. O que eu repudio são alguma letras que, por exemplo, abusam da nossa inteligência, ou, pior ainda, “coisificam” as mulheres. E minha revolta desta vez é por causa de uma música que está estourada aqui na nossa terrinha, e que brinca com a personagem da Chapeuzinho Vermelho, infelizmente intitulada “Lobo Mau”.

Eu bem sei, como muitos de vocês, que a fábula original da Chapeuzinho Vermelho é muito diferente daquela versão que contamos às nossas crianças. Aliás, muitos dos contos de fadas não foram originariamente escritos para os pequeninos. Ao longo do tempo acabaram ganhando adaptações direcionadas a auxiliar no crescimento e desenvolvimento deles, com direito a lições de moral no fim. No livro “Os 7 pecados capitais nos contos de fadas: como os contos de fadas influenciam nossas vidas”, de Sheldon Cashdan, o autor esclarece que as edições primárias nasceram como “entretenimento para adultos… e eram contadas em reuniões sociais, nas salas de fiar, nos campos e em outros ambientes onde os adultos se reuniam”. Era inclusive muito comum encontrar temas como erotismo, voyerismo e estupro nas entrelinhas dos escritos.

Lembro bem de uma das versões da história da Chapeuzinho, a de Charles Perrault, em que a menina fazia um streaptease para o Lobo Mau, além de comer a carne e beber o sangue da avó morta pelo animal. No final, acaba ao lado do lobo na cama e é comida por ele. Então, não vamos falar de ingenuidade literária aqui. A questão é que nossos pequenos ouvem as histórias de outro modo. Os livrinhos cheios de cores e desenhos da Chapeuzinho mostram a eles que eles não devem desobedecer a mamãe. Chapeuzinho se depara com o lobo, porque não seguiu as instruções de sua mãe e seguiu para a casa da vovó pela floresta. E lá estava o lobo, de “butuca”, seguindo seus passos. Na versão infantil, um caçador tira a vovó da barriga do bicho e também salva a menina.

Quando ouvi a letra da música a que me referi no início do post, fiquei bastante incomodada. A letra, em minha opinião, tem um apelo sexual muito forte. Mas o que mais me choca é a incitação nua e crua à pedofilia. Na música, o Lobo Mau é personificado. Mas a Chapeuzinho continua uma menina. Muitos de vocês podem pensar que eu estou “viajando na maionese”, que minhas observações são exageradas. Aí cabe a cada um refletir e tirar suas próprias conclusões sobre a polêmica, e eu respeitarei todas elas. Mas acho um verdadeiro absurdo brincar com a ingenuidade das crianças desta forma. A dança é erótica, a música toca o tempo inteiro, e ainda que você tenha o maior cuidado com o que seu filho, sobrinho, etc ouve, não dá para manter tudo sob controle. Entre quatro paredes, e entre adultos, aí sim, pode até valer tudo. Mas um mínimo de pudor público é essencial.

A ingenuidade é a coisa mais bonita que pode existir em uma criança. E me preocupa o fato de tratarmos isso com descaso e negligência. Não importa se os contos surgiram em um contexto em que tentava-se controlar o comportamento humano, principalmente o feminino. O cerne do problema discorrido neste texto é outro. É impossível desconsiderar essa nova função incorporada pelos contos de fada, de encher de ludicidade e de imaginação a vida das crianças. Até que alguém tem a “brilhante” ideia de jogar todo esse processo de reconstrução literária no lixo, apenas para tentar ganhar fama a partir da exploração e do apelo sexual envolvendo o universo das fábulas.

No Carnaval de Salvador, a música já virou polêmica. A intenção era ter publicado este post antes. Mas acabou sendo bom o atraso, afinal pudemos acompanhar a atitude dos artistas. Nos blocos infantis, nem sinal da tal canção. Carla Perez, que puxa o Algodão Doce, anunciou para todos os cantos que não cantaria a música. Que bom! Eliana e Tio Paulinho, que animam o Happy, não tomaram partido da discussão, mas também não entoaram a letra de mau gosto no circuito da Barra. Quanto aos astros e estrelas do axé, Ivete Sangalo, uma das musas do ritmo baiano, fez questão de fazer ecoar o refrão pelas ruas. Logo ela, que tem um público infantil tão forte. Pior, que fez um CD para crianças e acabou de colocar no mundo uma delas. Fico pensando por onde anda a assessoria da moça, que não fez qualquer observação a respeito  do assunto. Ou será que fez? Lamentável.

Aqui, deixo meu apelo. Vamos cultivar a ingenuidade infantil. A vida adulta já nos arranca esta mesma ingenuidade a fórceps. Não deixem que façam isso com nossas crianças. A música não destrói apenas a imagem da Chapeuzinho Vermelho, destrói, aos poucos, os sonhos infantis.

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Setembro em Salvador tem PercPan

A Banda Beirut (EUA) ficou conhecida no Brasil após a música Elephant Gun ter sido incluída na trilha da minissérie Capitu
A Banda Beirut (EUA) ficou conhecida no Brasil após a música Elephant Gun ter sido incluída na trilha da minissérie Capitu

Ainda falta um mês, mas não custa nada anotar na agenda. A 16ª edição do Percpan em Salvador – o evento também ocorre no Rio e em São Paulo -, acontece nos dias 4 e 5 de setembro, no Teatro Castro Alves, reunindo concertos e workshops com talentos nacionais e estrangeiros da percussão e música étnica. Na capital baiana, estão confirmados: a banda Beirut, o   percussionista Airto Moreira, a cantora Flora Purim, jazzistas brasileiros, o  francês Cyril Hernandez, o italiano Andrea Piccioni, o alemão David Kuckhermann, o jordaniano Ahmad Al-Khatib e os japoneses da Oki Dub Ainu Band.

Segundo a organização do Percpan, as duas noites do evento terão propostas diferentes (veja programação completa abaixo). Para encerrar o festival, em Salvador e no Rio, percussionistas vão mostrar como o pandeiro é tocado de maneiras diversas. A idéia surgiu no ano passado, na Alemanha, durante o Tamburi Mundi, um festival que reuniu somente pandeiristas.

16º PANORAMA PERCUSSIVO MUNDIAL – PERCPAN

Participantes:

América do Sul – Brasil e Argentina

Europa – Itália, França e Alemanha

Ásia – Japão

América do Norte – EUA

Oriente Médio – Jordânia

Serviço em Salvador:

Onde: Teatro Castro Alves

Quando: 04 e 05 de setembro

Horário do primeiro show: 19:30h

Preços: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia)

Onde comprar ingressos: Teatro Castro Alves, SAC Barra e SAC Iguatemi

Censura: 14 anos

Informações e venda: (71) 3117-4899

Programação:

Primeira Noite

Trio 3-63 – Brasil/ RJ (Marco Suzano , Andrea Ernest, Paulo Braga)

Cyril Hernandez & Ramiro Musotto – França e  Argentina

Oki Dub Ainu Band, com Takashi Numazawa e Ushida Dub Mix – Japão

Beirut – EUA

Segunda Noite

Trio 3-63  –  Brasil/ RJ (Marco Suzano , Andrea Ernest, Paulo Braga)

Andrea Piccioni – Itália

Emerson Taquari & Banda – Brasil/ BA

David Kuckerman – Alemanha & Ahmad Al Khatib – Jordânia

Airto Moreira & Flora Purim – Brasil/EUA

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Santo Amaro em evidência

Santo Amaro da Purificação é uma das cidades mais místicas do recôncavo baiano.  E não digo isso porque é terra de Caetano Veloso e Maria Bethânia. Aliás, os dois grandes artistas são o que são porque nasceram e se criaram num caldo cultural que mistura a religiosidade afro-brasileira, tradições católicas, cultura popular e história de resistência. Pois a cidade, localizada a 72 quômetros de Salvador,  estará em evidência nos próximos dias. Aqui na capital, de hoje até domingo, o Conjunto Cultural da Caixa (Rua Carlos Gomes – Centro) apresenta o espetáculo teatral Besouro Cordão de Ouro, sobre a vida de um dos capoeiristas mais famosos de Santo Amaro, um homem tão peculiar que se não houvesse testemunhas jurando que ele existiu, passaria facilmente por lenda e das boas, daquelas de ouvir ao pé da fogueira. Além disso, de 13 a 17 de maio, a cidade do recôncavo celebra os 120 anos do Bembé do Mercado, festa criada em 1889 para comemorar a abolição da escravatura. Abaixo, informações sobre o espetáculo e a história do Bembé:

Besouro Cordão de Ouro

Cena do espetáculo Besouro Cordão de Ouro
Cena do espetáculo Besouro Cordão de Ouro

Manoel Henrique Pereira, apelidado Besouro Cordão de Ouro, nasceu em Santo Amaro no final do século XIX. Ficou famoso graças ao talento nas rodas de capoeira tanto na cidade natal quanto no Cais Dourado, em Salvador, onde desembarcava dos saveiros que cruzavam a baía de Todos os Santos, em busca de um bom desafio. Sua fama de valente o transformou em lenda viva. Sendo que o romance Mar Morto, de Jorge Amado, ajudou a consolidar a fama do lutador. Além de capoeirista, Besouro também era poeta, boêmio, tocador de violão dos mais afamados e compositor de chulas e sambas-de-roda.

O espetáculo Besouro Cordão de Ouro, que aporta em Salvador neste fim de semana, é produzido por um grupo carioca, sob direção de João das Neves. O texto, as músicas e letras das canções entoadas na peça  são de autoria de Paulo César Pinheiro. A história de Besouro, também chamado Mangangá nas rodas de capoeira, é contada a partir dos atores que interpretam outros mestres famosos do ínicio do século XX como Bimba, Pastinha, Budião, Dora das Sete Portas e a mítica Rosa Palmeirão, também personagem de Mar Morto e que, diz a lenda, foi criada por Jorge Amado a partir de Maria Doze Homens, uma capoeirista valente do Cais Dourado, que derrubava qualquer um que se interpunha em seu caminho, fosse macho ou fêmea. Maria Doze Homens, por sua vez, é confundida na memória da cultura popular baiana com Maria Felipa de Oliveira, uma mulher que, na Guerra da Independência da Bahia, em 1823, teria liderado outras mulheres na guerrilha contra os portugueses.  Prometo contar a história dela aqui no blog, em outra ocasião.

SERVIÇO:

Espetáculo: Besouro Cordão-de-Ouro

Onde: Espaço Caixa Cultural

Rua Carlos Gomes, 57 – Centro – Tel: 3421-4200

Quando: 8 a 10 de maio, às 20h

Ingresso: Um quilo de alimento não-perecível, trocados pelo ingresso a partir das 14h do dia do espetáculo

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Bembé do Mercado

Caetano deve participar de mesa redonda durante o Bembé
Caetano deve participar de mesa redonda durante o Bembé

A origem do Bembé do Mercado remonta ao dia 13 de maio de 1889, no aniversário de um ano da abolição. Na ocasião, os terreiros de Candomblé de Santo Amaro e região se reuniram para fazer uma festa de três dias e três noites, tocando para os orixás e em memória aos antepassados que pereceram na luta pela liberdade. Durante anos, o Bembé foi erroneamente associado a uma homenagem à princesa Isabel, mas a festa de fato, marcava a resistência dos adeptos do Candomblé às perseguições a sua religião e também era uma forma de mostrar que existia um contingente negro que havia saído das senzalas, mas ainda não havia alcançado lugar de direito na sociedade. Mesmo com as perseguições o Bembé continuou acontecendo. Em alguns anos, limitava-se aos terreiros, em outros, acontecia na praça do mercado municipal da cidade. A partir do final dos anos 90, houve empenho de lideranças negras e religiosos do Candomblé, além de apoio de universidades e políticos, para que o Bembé fosse revitalizado. A palavra Bembé é uma corruptela de Candomblé.

Este ano, cerca de 30 terreiros irão se unir para realizar a festa dos 120 anos do Bembé, de 13 a 17 de maio, na praça do mercado. Além dos rituais religiosos, ocorrerão também apresentações de maculelê, capoeira, samba de roda e a encenação do Nego Fugido, folguedo que tem origem no distrito santoamarense de Acupe e representa a fuga de escravos das fazendas de açúcar da região e a implacável caçada empreendida pelos capitães do mato e feitores na tentativa de recapturá-los.

A festa de 2009 renderá homenagens ao escultor e museólogo Emanoel Araújo e a sambista santoamarense Edith do Prato, morta no início do ano. A programação prevê também uma mesa redonda, que deve ocorrer na quarta-feira, 13, na abertura do evento, sobre cultura popular, reunindo o Ministro da Cultura Juca Ferreira, o cantor Caetano Veloso e a folclorista Maria Mutti; além de um show de J. Velloso e Ulisses Castro.

SERVIÇO:

O quê: Bembé do Mercado

Local: Mercado de Santo Amaro da Purificação – BA

Data: 13 a 17 de maio

Horário: quarta-feira (04h alvorada, 18h abertura), quinta-feira e sexta-feira (18h), sábado (10h)

Como chegar: Saindo de Salvador, pegar a BR-324.  São 59 quilômetros até o entroncamento da BA-026, em direção a Santo Amaro, e mais 13 quilômetros até a sede do município.

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Músicas que falam do universo feminino

Na Idade Média e durante o período renascentista, as canções falavam de belas damas, senhoras dos corações dos cavaleiros. Era uma visão romântica e idealizada da mulher. Lembrei das antigas canções medievais porque vi um vídeo na internet, sobre um grupo de músicos brasileiros que, em pleno século XXI, resgatam a tradição do cancioneiro medieval nas suas letras e na sonoridade. Me fez lembrar também da cantora irlandesa Loreenna Mckennit, de quem sou fã.

Esses músicos cantam o universo feminino, enquanto nós, as autoras deste blog, tentamos revelar um pouco desse complexo mundo. Prometo contar para vocês a história da origem dessas canções de outrora em um outro post. Por enquanto, fiquem com o link do vídeo.

A música e a poesia são dois portais para alcançar a alma feminina, tão delicada, tão forte e tão multipla.

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