Uma dica interessante que recebi no meu guia de programação da tv fechada e divido com vocês: Nesta terça-feira, dia 04, às 21h, na faixa “GNT.doc”, do canal fechado GNT (Globosat), será exibido o documentário Infância Perdida, de Scott Harper. Inédito na TV brasileira. A produção faz uma análise do comportamento das crianças contemporâneas, que estão sem tempo para brincar e não podem sair de casa para se divertir. Na produção, Harper explora as mudanças de costumes e avalia as consequências destes novos hábitos na vida das crianças. Segundo especialistas em psicologia infantil, neurologistas, pedagogos e professores, algumas descobertas científicas sugerem que o isolamento das crianças pode prejudicar desde a sua criatividade até a perspicácia social e a saúde mental.
Ao ler a chamada para o documentário, esta que resumi acima, fiquei pensando na questão da infância atual. Ao menos para mim, perpassa a segurança pública e o medo da violência, que faz com que os pais se tornem mais cautelosos na hora de deixar as crianças brincarem na rua, por exemplo, como era comum até a minha geração. Quem era criança nos anos 80, como eu, brincou bastante na rua.
Outro fator que eu também considero é que as novas tecnologias criam novas formas de interação social. Não estou julgando aqui se as brincadeiras de agora (msn, orkut, facebook, jogos de computador) são melhores ou mais saudáveis do que aquelas do meu tempo, estou apenas constatando uma realidade: as crianças e os jovens de agora se divertem de outra forma; e considerando que existe uma nova forma de interação – tanto devido à insegurança, que confina mais as pessoas em casa, quanto devido a natureza desses novos “brinquedos”, não sei se diria que a infância de agora é perdida (ao menos neste aspecto), antes acredito que seja diferente daquela que eu tive.
Uma criança contemporânea, por exemplo, não brinca na calçada da porta de casa com tanta frequência quanto brincavam seus pais, mas ela conversa com outros amigos, via msn, e joga no PC, ou vai bem mais ao cinema do que eu ia, por exemplo. E aí, nesta questão, enquanto há cientisfas que condenam, outros dizem que jogos de computador estimulam áreas do cérebro responsáveis pela concentração e até aprendizado.
No edifício onde eu moro, crianças ainda brincam no playground, mas também usam computador com muita frequencia. E na periferia, independente da procura pela Lan House, ainda existem grupinhos na rua, batendo papo, jogando bola…A questão do acesso não pode deixar de ser considerada na hora de falar do assunto. Crianças classe média tem infâncias diferentes daquelas mais pobres, com toda certeza.
Tem muito tempo que não vejo ninguém pulando amarelinha, mas em compensação, no meu tempo, eu não conseguia executar nem metade das multiplas tarefas que meu filho executa: falar no msn com até 10 pessoas ao mesmo tempo, fazer a pesquisa escolar, postar no seu blog, baixar um jogo, atualizar a comunidade de bibliófilos (colecionadores de livros) da qual ele faz parte, tudo isso simultâneo.
Existem diversos beneficios e diversos malefícios de se viver em uma sociedade em rede, permanentemente conectada e com muita interação virtual e pouca interação real, mas uma coisa é certa, o mundo não é mais como era no meu tempo, que naquela época, por sua vez, já não era mais como no tempo da minha mãe, muito diferente, acredito, do que era no tempo de vovó e assim até o princípio das eras. Dá uma certa nostalgia, claro, mas é impossível voltar no tempo. O que nós podemos fazer é dar outras opções às crianças, levá-las mais vezes para sair, dar-lhes bons livros para ler, conversar, mas abolir a tecnologia não vai resgatar a tal “infância perdida”.
Além disso, a falta de tempo de algumas crianças, a meu ver, tem relação com uma certa paranoia que domina pais e professores atualmente, a de que você precisa hiperextimular a criança, colocá-la em centenas de aulas e cursos, ocupar todo o seu dia, mal sobrando tempo para não fazer nada. O estímulo é importante desde o nascimento, mas o excesso só provoca estresse e criança estressada, é consequencia do estresse nos pais, na escola, na sintonia do mundo, que anda toda acelarada. Infelizmente, nossa sociedade condena o ócio (no sentido daquela pausa de que todos precisamos de vez em quando, para descanso e acomodar nas camadas do cérebro tudo o que vimos e aprendemos). Para mim, a infância se perde também no consumo excessivo, na falta de diálogo dos pais com seus filhos, na violência doméstica (que não é o tema do documentário).
Enfim, nem vi o programa ainda, mas acredito que há bastante no que pensar.
Serviço:
Documentário Infância Perdida
GNT – Canal Globosat
Terça-feira (4/05), às 21h
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Artigo: Videograme incentiva atividade física
Artigo: O papel da rotina na vida das crianças
Nasci mais ou menos em meados da década de 1980 e peguei o finalzinho dessa “infância feliz”. No entanto, não a considero mais feliz que a que as crianças vivem atualmente. Vejo que são contextos diferentes, mentalidades diferentes e é preciso compreender que as crianças precisam adaptar-se a isso, assim como seus pais ou responsáveis por sua educação.
Só acho que devemos prestar mais atenção a um fenômeno cada vez mais crescente: a “adultização” das crianças, as quais são obrigadas a adquirir responsabilidades e até comportamentos considerados inadequados à sua idade, como preocupação com dinheiro, com aparência física (mais comum em meninas), decisão da futura carreira e até questões mais delicadas, como a estimulação precoce da sexualidade, a qual envolve questões mais amplas.
Cada vez mais, principalmente no mundo virtual, percebo que as crianças e adolescentes não estão sabendo lidar uns com os outros de forma a priorizarem a educação, o respeito e outros val. Entretanto observa-se no dia-a-dia que os pais também estão cada vez mais adquirindo esse tipo de comportamento, muitas vezes praticando-o dentro de casa.
Uma outra jornalista fala em “infantilização dos adultos”, os quais tem fugido de certas responsabilidades – inclusive ensinar o certo e o errado aos filhos – e ainda pagam profissionais para que cuidem da sua vida no geral, porque eles mesmos não estão sabendo como fazer isso (teria que ler o artigo, ela explica isso muito melhor).
Enfim, as mudanças estão ocorrendo rápido demais e as gerações dos 30 aos 40 anos são as que mais sentem. Consequentemente, elas criam comportamentos que serão reproduzidos por seus filhos, resultando também em uma mudança de valores. Se esses valores serão bons ou ruins, creio que só daqui a alguns anos haveremos de saber, pois aí teremos os resultados.