Educação cidadã: você tem feito a sua parte?

Foi-se o tempo em que reinava o paradigma de que educação era responsabilidade da escola. Vai muito além dela, é uma responsabilidade de todos nós. Dirigindo pelas ruas, observei o quanto de sujeira, por exemplo, se espalha por nossa cidade. Não é preciso percorrer um caminho muito longo para se deparar com papéis, plásticos, restos de comidas e tantos outros objetos. Certamente alguns culparão o Estado, o descaso do poder público. Você já parou para pensar que a culpa é também sua? Um pouquinho de esforço te fará lembrar daquela vez em que não havia uma lixeira por perto e você, prontamente, abandonou alguma carga, não necessariamente inútil, no meio da rua. Se não você, um familiar, um amigo…

Cidadania 2A transformação social é um processo histórico. E Paulo Freire ainda complementava a frase, ressaltando que “a conscientização não é apenas conhecimento ou reconhecimento, mas opção, decisão, compromisso”. É do que estamos carentes, de compromisso com a nossa cidade, com os nossos bens públicos, com a nossa sociedade. Há determinadas exigências que podem ser cumpridas com um gesto simples de cada um. Com uma modificação no comportamento, na atitude. Vivemos um período em que a preocupação com o meio ambiente tem estampado capas de jornais e revistas. Nós, integrantes dependentes desse meio ambiente, precisamos também fazer a nossa parte. Cada indivíduo exercendo seu papel de cidadão em prol da satisfação da coletividade.

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Parada para entender o contexto histórico

Não dá mais para se iludir com o pensamento de que o poder público vai resolver todos os nossos problemas. Já não há mais espaço para o Estado de bem-estar social, aquele em que o próprio Estado funciona como promotor e regulamentador de toda a vida social e econômica da sociedade, garantindo toda a sorte de serviços públicos e de segurança. Depois da grande depressão, em 1929, fazia sentido a política intervencionista de Roosevelt implantada nos Estados Unidos. Naquela época, o discurso de que “o indivíduo tinha direito, desde o nascimento até sua morte, de um conjunto de bens e serviços que deveria ser prestado pelo Estado”, nascia como uma resposta, a luz no fim do túnel, para encerrar uma fase de altos índices de desemprego e caos social.

Só que o contexto histórico faz surgir novas necessidades. E foi o que aconteceu entre as décadas de 60 e 70, com os movimentos estudantis norte-americanos questionando os valores que haviam sido estabelecidos. Foi a fertilização do terreno para a instalação do neoliberalismo. O que fortaleceu esta nova estrutura? Muitos fatores, como a guerra do Vietnã, a revolução sexual… A crise do petróleo foi a gota d´água para fazer ruir as bases do Welfare State. Desenvolvida em Chicago, a teoria neoliberal encontrou terreno no Chile, quando irrompeu o golpe militar de Pinochet, derrubando Allende. Em seguida, foi a vez de Margaret Thatcher aplicar os ideais no Estado inglês e de Ronald Reagan fazer o mesmo nos Estados Unidos. E na década de 90, a implantação do neoliberalismo chega por aqui, brotando de economistas como Pedro Malan, Lara Resende e Gustavo Franco, inspirados nas teses de Milton Friedman.

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Cidadania 3Voltando à questão do papel do Estado, é inevitável chegar à conclusão de que o Estado do Bem-Estar Social faliu. Financeiramente, então, por razões diversas que não vamos discutir aqui agora, não há mais como o poder público financiar todas estas necessidades. Agora a nova resposta à ordem econômica e social instalada é chamada de Estado Subsidiário, regido por princípios que interligam a liberdade econômica e os interesses da sociedade. Ou seja, agora, há uma redistribuição de responsabilidades a órgãos privados, ONGs, sociedade civil, e o Estado se queda na função de fiscalizador e regulador da atividade exercida pelo particular. E, neste caso, estamos nós inseridos nesse “particular”, não tenha dúvidas.

Chegamos a um momento em que é indispensável, eu diria fundamental, assumirmos esta condição de responsáveis pela melhoria da situação da coletividade. E, enquanto indivíduos, nos cabe uma série de novas obrigações, de transformação de mentalidade e atitude pró-ativa. Não apenas na questão da preocupação com a limpeza da cidade e do meio ambiente. Nossa interferência em todos os demais setores, como saúde e educação, poderá ser crucial para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária no futuro, inclusive. Porém, tudo começa pelo que nos é mais fácil e simples de assimilar, em nosso caso, as tais pequenas atitudes. Começa no disseminar do conhecimento, na compreensão das nossas necessidades e, mais que tudo, de nossa nova função social, tão cheia de encargos.

E começa, também, com a prática destas novas atitudes. Se estamos em busca de um tipo de sociedade, por que não colaborarmos para construi-la? Muitos vão optar pelo caminho mais fácil: transmitir a obrigação para terceiros e passar o resto da vida culpando sempre “os outros” pelo nosso fracasso social. Mas você pode optar pelo caminho mais útil e ajudar no processo, abrindo espaço para que nossas futuras gerações vivam com mais dignidade. A escolha é de cada um. Faça a sua.

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Para se aprofundar:
>> A falência do Estado do Bem-Estar Social e a instituição das Parcerias Público-Privadas: Uma análise da Lei nº 11.079/2004
>> Educação e direiros humanos – A experiência de Caxias do Sul (sobre educação cidadã)
>> A liberdade econômica e o interesse público como novos paradigmas do Estado
>> Rede de educação cidadã

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