Making off: saiba como se monta um editorial de moda

Tem um tempo que estou para publicar esse material muito bacana que a jornalista Jane Fernandes preparou para vocês, com todo o carinho, mostrando os bastidores de um editorial de moda. Corre daqui, corre dali, às vésperas de encarar a maratona de plantões carnavalescos, tiro da gaveta, para deleite das fashionistas e pesquisadoras deste vasto mundo da beleza feminina. Os bastidores de uma produção de moda sempre rendem uma curiosidade enorme. Nesse caso, o texto e as fotos tratam da realização de um ensaio da revista europeia ModaCycle, que movimentou as ruas do Centro Histórico de Salvador, em meados de fevereiro. A produção de maquiagem contou com a experiência de Valeria Meier, make up artist baiana radicada na Suiça, que também em fevereiro, deu curso de automaquiagem e foi convidada especial do encontrinho do blog (relembrem aqui).

Em tom de crônica, de quem observa a cena, Jane une jornalismo e subjetividade. As fotos, também de sua autoria, só ajudam a compor o cenário montado na nossa imaginação a partir da sua narrativa. Deu vontade de estar lá, mas como não estávamos, saibam o que está por trás do glamour que vemos nas revistas e divirtam-se! Eu me diverti…

Por trás da cena fashion

*Jane Fernandes

Quando vemos fotos maravilhosas que nos fazem desejar a roupa da modelo, o sapato que ela usa ou a maquiagem perfeita que exibe, mal podemos imaginar a trabalheira por trás de um editorial de moda. No último dia 14 estive nos bastidores de um editorial produzido em Salvador para a revista europeia ModaCycle e aproveito o espaço para dividir essa experiência com vocês.

Tudo começou com um imprevisto, a van alugada para servir de camarim, armário, transporte e o que mais fosse preciso teve um problema mecânico. Assim que a locadora enviou uma van substituta, a maquiadora Valéria Meier partiu para buscar a modelo Bruna Cabral e seguirem para a sede da D’Malicuia. O relógio marcava 10h quando Valéria e a prima Andressa começaram a arrumar o cabelo de Bruna. O calor era escaldante e a modelo a cada instante ganhava mais volume no cabelo, formando um moicano pra lá de estilizado.

O clima era de colaboração, o fotógrafo Fábio Abu-chacra definia com a modelo que a linha era natural, enquanto seus assistentes ajudavam a segurar o material de maquiagem, as meninas da D’Malicuia (Diane Lima e Mari França) ajudavam a definir os detalhes da make up e Andressa bancava a manicure. Eu, me limitava a observar, fotografar e, às vezes, perguntar. Como fiz quando Valéria colou um fita crepe na testa da modelo após preparar a pele da menina com base, corretivo e todos os produtinhos mágicos que usa para esse fim. Me assustei por não saber detalhes da proposta, mas a fita era para delimitar bem a área dos olhos a ser pintada, assim como se faz com as paredes, hehehe.

A tarde já tinha começado quando saímos em direção ao Santo Antônio Além do Carmo. Primeira parada: Antoniu’s Bar. Hora de descarregar todo o equipamento, medir a luz e fazer todos os ajustes para as primeiras fotos. A modelo vai entrando no clima de não fazer pose e logo está “esbarrando” no balcão deste bar com ares de armazém das antigas. Lembrei de Seu Elias, do Sítio do Pica-pau Amarelo, claro que foi viagem minha, mas fazer o quê se eu lembrei?

Sequência concluída e hora de trocar de roupa, sapato e acessórios, enquanto Fábio e equipe preparam tudo para o cenário de rua, que inclui uma parede que mescla grafite e pichação. As trocas de roupa são feitas na van, tarefa facilitada por um figurino composto de vestidos, saias e blusas. Ao longo do ensaio a modelo usou seis looks diferentes e era para carregar todas essas peças que a van fazia as vezes de armário.

Nessa locação,  a ideia é colocar a modelo em movimento, então ela caminha em direção aos rebatedores, enquanto o fotógrafo a enquadra em diferentes ângulos. Bruna vem direto, vem e gira, vem e pula, vem, vem e vem inúmeras vezes, e o cabelo começa a exigir os primeiros retoques: um grampinho (ou vários) no lugar certo e muito laquê para segurar o topete. Para compensar, na próxima parada, uma pousada cheia de charme, a modelo fica o tempo todo sentada numa rede. Aí, o trabalho maior foi de Fábio e seus assistentes às voltas com todos os ajustes necessários para conseguir um perfeito jogo de luz e sombra.

Ao escurecer, fizemos um pequeno lanche em frente à igreja do Boqueirão. O dia começou com sanduíches, coxinhas e refrigerantes ainda na D’Malicuia, passou por pastéis bem recheados e neste momento estava no sanduíche de padaria. Nada de parada para almoço ou qualquer refeição mais substancial. Para matar a sede, além de refrigerante tinhamos bastante água na caixa térmica, mas com a temperatura nada amena de Salvador, no final do dia a água estava longe de ser gelada.

Mas ninguém sofria, claro que depois das fotos na escadaria e na ladeira do Passo (últimas locações) estávamos todos exaustos, mas o saldo era super positivo, pois o dia também teve muita diversão e todos estavam super instigados.  Não acompanhei a seleção das fotos, então só verei o resultado quando a ModaCycle publicar o material, mas a mistura daqueles looks, com o cenário do Santo Antônio e a competência da equipe só pode resultar num editorial sensacional.

*Jane Fernandes é jornalista e proprietária da Quarta Via

**O texto foi cedido pela autora para o blog Conversa de Menina e publicado mediante citação da autoria e respeito à integridade do conteúdo. Todos os direitos são reservados à Jane Fernandes/Quarta Via.

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Artigo: A comunicação convergente e os mitos da nova tecnologia

Hoje me aconteceu uma coisa engraçada no trabalho. Um colega, que sabe que sou editora de internet e blogueira, me mandou um scrap pelo nosso “msn corporativo”, me pedindo para ajudá-lo a entrar em uma comunidade virtual. Expliquei como funcionava e para que servia a comunidade em questão e ele ficou bastante animado com a possibilidade de trocar informações com pessoas desconhecidas e de fora de Salvador sobre a sua área de cobertura jornalística. Coincidentemente, ao chegar em casa, encontrei no meu email o texto abaixo, escrito pelo também jornalista Gustavo Schor. Coincidências não existem, diriam os místicos, e por isso, trago o artigo de Schor aqui para o blog, para ajudar a esclarecer quem, assim como o meu colega, está entrando no universo das comunidades on line pela primeira vez. As reflexões – lógico! – servem também para quem já é “rato de internet”. Ao menos para mim, é sempre bom refletir sobre a nossa cultura pós-contemporânea e em permanente conexão. Aproveitem as lições!

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**A comunicação convergente e os mitos da nova tecnologia

*Gustavo Schor

Redes sociais não existem. Ou, melhor, existem desde sempre. Pelo menos desde que os primeiros australopitecos estabeleceram relações afetivas e conseguiram demonstrar isso de maneira objetiva, segundo códigos que puderam ser apreendidos pelo grupo e reproduzidos sistematicamente. Talvez mesmo antes, o “elo perdido”  já pudesse interagir – racionalmente – com os de sua espécie e com outras entidades do mundo físico.

O que não há é o advento da “rede social” enquanto decorrência do avanço tecnológico, das plataformas de troca de dados por meio dos sistemas digitais online. Esta definição, que internacionalmente consagrou o fenômeno dos espaços virtuais agregadores de pessoas (ou perfis) e que proporcionam a interação remota entre elas, é nada mais do que o exercício da capacidade humana do relacionamento, só que agora em um novo terreno midiático.

Claro que o Twitter, o Facebook, o Orkut e similares só foram possíveis por conta do amadurecimento tecnológico dos meios de comunicação. Mas o fato é que este avanço configurado no aumento do espectro de possibilidades gerado pela internet não é um acontecimento social – no sentido de exprimir o significado sociológico de relacionamento – mas simplesmente um amplificador de uma característica inerente aos seres humanos: comunicar e estabelecer relações de reciprocidade entre si e com as coisas do mundo.

Chamar estas plataformas de comunicação de “redes sociais” é, portanto, um pouco de exagero. Sem dúvida elas se prestam ao que trazem na nomenclatura, proporcionar o relacionamento entre pessoas. Mas não são, definitivamente, redes sociais: são, sim, espaços virtuais para o interação daqueles que utilizam tais meios como forma de encontrar outros membros do mesmo serviço. Ou seja, são mais um ambiente para colocar em prática o desenrolar, a evolução e constante modificação dos embates psicossociais dos integrantes destas redes – que não são tecnológicas, mas humanas.

E esta interação acontece nestes espaços, assim como acontece na rua, em supermercados, nas escolas, no trabalho. A internet criou apenas mais um palco para que pessoas encontrem outras. Certamente este novo campo tem suas especificidades e regras que permitem a ordenação semântica das mensagens trocadas e do relacionamento ali travado. Mas o mesmo acontece com todos os outros espaços da prática social.

No trânsito, por exemplo, precisamos interpretar um farol vermelho como o comando para parar; na internet, em algumas destas plataformas mencionadas, se eu não clicar em “adicionar contato”, não será possível dizer “oi” para a pessoa com quem quero me comunicar. Se não parar ao sinal vermelho, posso causar um acidente ou então receber uma multa; se enviar uma mensagem a um membro do Orkut sem adicioná-lo como contato e sem ter a certeza de que “tenho este direito”, posso ser ignorado ou até bloqueado por aquele a quem endereço a mensagem.

Existem milhares de possibilidades em um e outro sistema. O ponto é que cada um deles tem seus mecanismos de interação predeterminados. E todos que compartilham daqueles modelos devem seguir as respectivas estruturas de significação a fim de que seja possível a interação entre os membros.

O nome do meio, todavia, pouco importa. Chamar o Twitter de “rede social” não interfere na finalidade ou nas conseqüências de seu uso. Este exercício retórico, no entanto, se presta a uma análise mais cautelosa dos mitos que permeiam o estabelecimento das plataformas de comunicação e seu estudo.

A primeira conclusão a que se pode chegar é que as tais redes sociais não são em si um índice de evolução tecnológica (embora dependam dela, assim como dependeram todas os outros artefatos que suportam a comunicação, como o telégrafo e o telefone). São, em verdade, um item importante que denota a evolução dos mecanismos de comunicação.

O avanço da tecnologia proporciona a criação de novos braços, de novos tentáculos para a interação humana e amplificam imensamente a capacidade de profusão e absorção de informação. E seu o impacto não é sobre a tecnologia, mas sobre as estruturas de comunicação.

Em seu livro Cultura da Convergência, Henry Jenkins descreve de maneira muito didática e instigante este fenômeno. Seu argumento principal se baseia no rompimento de uma dos mais importantes lendas que circundam o progresso tecnológico, que é o das novas plataformas de comunicação suplantando as antigas. Jenkins tem uma visão absolutamente pluralista e propõe que, diferente das profecias da extinção dos meios, o que deve acontecer é a convergência multimidiática dos mecanismos. Daí, conforme seu raciocínio, o estabelecimento de novos paradigmas de comunicação e a reinvenção dos suportes de mídia de maneira complementar e proporcionando novas significações técnicas e socioculturais.

Ou seja, ele entende que a televisão não vai acabar por conta da internet, assim como a internet não vai inventar um novo modelo de comunicação em vídeo: o acoplamento das duas propostas vai criar uma terceira via, com a possibilidade de novas ferramentas e de mecanismos de interatividade. E isso, por sua vez, deve reconfigurar a maneira pela qual as pessoas se apropriam da comunicação em vídeo, vai determinar um novo modelo de raciocínio comunicacional e que, por fim, vai gerar impactos na economia, na arte, nos modos de consumo e no relacionamento entre pessoas e o mundo como um todo.

Como explica Jenkins, “a convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento.”

Na apresentação do mesmo livro, o produtor Mark Warshaw nos traz outra reflexão sobre a mudança de paradigma no consumo de informação e entretenimento. E ironiza o discurso apocalíptico dos entusiastas das tecnologias midiáticas (aqueles que entendem o avanço da mídia enquanto tecnologia, não como fenômeno determinante das relações sociais): “O comercial de 30 segundos morreu. A indústria fonográfica morreu. As crianças não assistem mais à televisão. As velhas mídias estão na UTI. Mas a verdade é que continuam produzindo música, continuam veiculando o comercial de 30 segundos, um novo lote de programas de TV está prestes a estrear, no momento em que escrevo estas linhas – muitos direcionados a adolescentes. As velhas mídias não morreram. Nossa relação com elas é que morreu. Estamos numa época de grandes transformações, e todos nós temos três opções: temê-las, ignorá-las ou aceitá-las.”

O interessante da observação de Jenkins é a paulatina reinvenção dos meios. Ele fundamenta seu raciocínio na relação entre três conceitos basais da comunicação contemporânea, que pautam toda a avaliação sobre os casos práticos apresentados em sua obra: a convergência dos meios, a cultura participativa e a inteligência coletiva.

Por convergência das mídias, Jenkins toma a expressão da informação em múltiplos suportes. Ele dá um exemplo bastante pitoresco: a associação de Osama Bin Laden com um personagem de Vila Sésamo, decorrente da brincadeira de um jovem norte-americano. A montagem feita pelo adolescente percorreu o mundo em diversos formatos e com diferentes finalidades. Foi descoberta na internet por um militante islâmico que, sem conhecer o verdadeiro sentido da brincadeira e mesmo o tal personagem da TV, estampou a imagem criada pelo americano em faixas de protesto. Tais cartazes foram filmados pela CNN e voltaram ao ocidente em forma de matéria jornalística transmitida pela televisão. Os criadores da série Vila Sésamo execraram a ligação indevida do personagem com o terrorista e ameaçaram entrar na justiça (sabe-se lá contra quem).

Cultura participativa, conforme o professor Jenkins, é a interação dos atores sociais envolvidos no processo de comunicação, como emissores e receptores das mensagens e atuando em papeis distintos, em diferentes situações – e variando esta atuação indefinidamente tanto quanto assumem diferentes papeis sociais. É o caso de um executivo de uma empresa, que em determinado momento é telespectador, noutro, formador de opinião, num terceiro, pai de família e que interage com a professora de seus filhos numa reunião escolar. Esta professora também é mãe, tem seus filhos na mesma escola (e são colegas dos filhos do executivo), e consumidora crítica, quando, em dado momento, posta na internet comentários sobre um produto que, por acaso, é a marca líder da empresa na qual o pai de seu aluno é diretor de marketing.

Finalmente, se apropria do termo “inteligência coletiva”, cunhado pelo teórico francês Pierre Levy, para definir a malha amorfa de informação e conhecimento que é resultado da confluência do pensamento e da participação de muitas pessoas, em ambientes diversos e com propósitos não necessariamente relacionados. É o grande “banco de dados” coletivo que possibilita o armazenamento e a troca de informação infinita sobre qualquer tema em qualquer lugar. Ele explica que isso acontece porque ninguém pode saber tudo: cada um de nós sabe alguma coisa. Juntando-se estas peças temos a inteligência coletiva. A internet é o advento da comunicação capaz de elevar este sentido a sua milésima potência.

Unindo-se o tripé proposto por Jenkins, temos as bases da comunicação de hoje, num mundo guiado pela renovação infinita dos meios e dos conceitos. E aqui volto ao assunto das redes sociais. Não seriam elas muito mais mecanismos convergentes de interação do que propriamente redes? As ditas redes sociais, na verdade, são alguns dos alicerces que sustentam este novo modelo de comunicação.

Os Twitters, Facebooks e Orkuts, são, sim, as expressões mais nítidas e propositoras da realidade mais atual da convergência midiática. É aí que está a beleza e a riquíssima contribuição destas plataformas: ser o ambiente que proporciona o relacionamento humano em perspectiva multimídia, com a possibilidade de criação e reconfiguração dos discursos e da própria cultura num plano mediado em constante transformação. É o espaço da revisita, da releitura, da paráfrase de si e dos outros e o resultado da ação de muitas mãos.

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*Gustavo Schor é gerente de Comunicação do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, é jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, especialista em Jornalismo Econômico pelo Departamento de Ciência Política da Universidade de Brasília e pós-graduando em Gestão Integrada da Comunicação Digital pelo Núcleo Digicorp da ECA/USP. Trabalha com meios online desde a primeira grande bolha da internet, no final da década de 90, com atuações em Agência Estado, Terra, UOL, Reuters e outros veículos da imprensa digital.

**Texto encaminhado ao blog para publicação pela Cia da Informação.

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Sobre divórcio e “o luto” da separação

*Texto e reflexões de Andreia Santana

Há alguns meses devo aos leitores do blog um texto sobre a vivência do “luto” após o divórcio. Não vivi a experiência do fim de um casamento na pele, mas vivi finais de namoros longos, acompanhei a separação dos meus pais, de amigos próximos e de familiares, daí creio poder discutir o assunto com aquele distanciamento que às vezes falta a quem está no centro do problema. O interesse em falar no assunto não é gratuito. Semestre passado, numa das disciplinas que cursava como aluna especial do Mestrado em Cultura e Sociedade da UFBA, tomei contato com a obra do sociólogo inglês Anthony Giddens. No primeiro capítulo do seu livro Modernidade e Identidade (Jorge Zahar Editor), Giddens discute um estudo chamado Segundas Chances, das britânicas Judith Wallerstein e Sandra Blakeslee, justamente sobre o divórcio e as reorganizações famíliares e sociais da alta modernidade. Na ocasião, o assunto suscitou muito debate na minha sala de aula e a primeira coisa que pensei era que valeria a pena trazer esses conceitos para o blog. Mas, na correria diária, novos temas foram surgindo, novas atribuições, e o assunto ficou “na gaveta”.

Há algumas semanas, a vontade de retomar o tema voltou com grande força, principalmente após alguns dados que recebi via email, de conhecidos que sabiam do meu interesse em falar sobre luto e divórcio – dentro dessa perspectiva de Giddens, Wallerstein e Blakeslee no Conversa de Menina. Segundo os dados do IBGE repassados para mim, entre 1997 e 2008, houve um aumento de mais de 200% nos recasamentos entre as brasileiras na faixa dos 40 aos 45 anos. Ainda de acordo com o órgão, os percentuais mais elevados de recasamentos ocorreram entre homens divorciados que se casaram com solteiras.

Outros dados, desta vez do Colégio Notarial do Brasil – Seção São Paulo, mostram que desde que entrou em vigor a lei 11.441/07, que permite fazer a separação, divórcio e inventários consensuais em cartórios, o número de casos desse tipo cresceu substancialmente no país: separações 24,9% e divórcios consensuais 33,9%. De acordo com o levantamento, o estado de São Paulo é a região do país que mais pratica as vantagens da nova lei. Em 2009, os cartórios paulistas realizaram um total de 39.069 escrituras de separações, divórcios e inventários, cerca de 20% mais do que em 2008 e 84% mais que em relação ao primeiro ano de vigência da lei  no resto do país.

Segundas Chances – Diante desses dados, fiquei pensando para além dos números frios do IBGE. Associar as estatísticas à Giddens ou ao estudo das pesquisadoras britânicas foi inevitável. Também recordei os casos próximos de separação de que fui testemunha, tanto os que terminaram de forma amigável quanto os traumáticos. Lembrei ainda do impacto e das discussões aqui mesmo no blog, suscitados  pelos posts sobre a Lei de Alienação (relembre todos aqui).

Segundo Giddens, o livro/estudo Segundas Chances, descreve o impacto da ruptura dos casamentos no indivíduo e na estrutura social. As pesquisadoras usaram 60 casais (incluindo os filhos) e analisaram um período de 10 anos.  A principal conclusão é que, embora seja uma crise nas vidas pessoais dos envolvidos, apresentando risco à sensação de bem-estar, por outro lado, o divórcio pode abrir possibilidades para o desenvolvimento da pessoa envolvida e perspectivas de felicidade futura. É inegável que para algumas pessoas, desmanchar uma união que traz sofrimento é um benefício. Vi casos de pessoas que literalmente renasceram após se afastarem de um parceiro (a) que “vampirizava” as energias.

Wallerstein e Blakeslee também concluem que é inegável que um casamento desfeito provoca luto, mesmo quando era uma união infeliz. O luto seria provocado primeiro pela sensação de perda das experiências compartilhadas, muitas prazerosas, e em segundo lugar, no caso das uniões que jã não íam bem, pela frustração do projeto a dois não ter dado certo e de se ter investido tempo e energia à toa na relação. Quem já terminou um namoro longo, por exemplo, não fica isento desse “luto”.

“Viver o luto”, de acordo com as pesquisadoras, é extremamente importante, pois seria o bálsamo que cicatrizaria o ressentimento pelo fim da união, impedindo que esse ressentimento se traduza em amargura. Sabemos que nem com todo mundo funciona assim e não são raros os casos em que a amargura se traduz nos sentimentos mesquinhos de vingança, como o próprio ato de alienação parental. Mas, as autoras de Segundas Chances defendem que o período de luto é justamente aquele que vai proporcionar o “descolamento” da identidade compartilhada de casal, e a retomada do “sentido de si próprio”. Os recasamentos apontados pelo IBGE demonstram que cada vez mais um número grande de pessoas, homens e mulheres, mesmo quando mais maduros, investem na retomada das suas vidas e na reconstrução de outras relações após o fim de uniões anteriores e da vivência do tempo de luto. Conhecemos essa fase como “fechado (a) para balanço”.

A questão chave é a retomada da autoconfiança. Principalmente porque quem vive um casamento longo tende a viver a vida do outro, ou a vida do casal, em detrimento de desejos e necessidades próprias, que eram prioridade no tempo de solteirice. Lógico que, embora manter o mínimo de individualidade seja necessário para a relação não cair no binômio “dominador-dominado”, quem entra numa relação estável está em busca é de projetos compartilhados.  A perda do sentido próprio do “eu” e a sua substituição pelo sentido compartilhado do “nós” é inevitável. O resgate do “eu” é lento e gradual com o fim da união.

Usando uma linguagem mais cotidiana, o primeiro passo seria viver a dor, depois exorcizá-la, daí juntar os caquinhos do abalo na autoestima e autoconfiança, reconstruir um “novo eu” e, com o tempo, partir para outra relação. Claro que isso não é fórmula matemática e nem todos os divórciados viverão a situação da mesma forma.

O fator filhos também pesa muito. Principalmente porque o estudo de Wallerstein e Blakeslee aponta que as crianças sempre esperam secretamente uma reaproximação do casal. E vai caber aos pais proporcionar que o “luto” dos filhos seja o menos traumático possível. Dar suporte emocional, não tentar usar as crianças como instrumento de barganha ou chantagem (alienação parental) e até introduzir a nova pessoa com que se relacionam na vida familiar de maneira madura e serena são algumas das medidas.

E é aí que entramos na seara das reorganizações familiares, com as crianças tendo pai e mãe (separados) e novos “pais” e “mães” (os companheiros recentes de seus pais). Negociação é a palavra de ordem, tanto para definir se os novos companheiros serão tratados pelos primeiros nomes, ou  como “tio fulano” e “tia fulana”, ou mesmo chamados de papai e mamãe, o que pessoalmente acredito ser meio forçado.

Negociar porém, pressupõe maturidade e “vontade política”. Com a ferida aberta ninguém é bom negociador e o mais sensato, na minha opinião, é deixar o tempo se encarregar de fazer seus curativos.

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

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Serviço: Programa concede bolsas para TCC

O informe abaixo foi enviado ao blog pela ANDI – Agência Nacional dos Direitos da Infância – e visa divulgar a 5ª edição do programa InFormação, que está com inscrições abertas para bolsas de qualificação na área de jornalismo, que atenderá estudantes prestes a realizar o TCC (trabalho de conclusão de curso) interessados em dissertar sobre mídia e violência sexual contra crianças e adolescentes. Os interessados devem ficar atentos ao prazo, que é 10 de março. Confiram detalhes:

Últimos dias de inscrição para programa de concessão de bolsas para TCC

Encerram no dia 10 de março as inscrições para a concessão de bolsas para trabalho de conclusão de curso (TCC), promovida pelo Programa InFormação – Programa de Cooperação para a Qualificação de Estudantes de Jornalismo. Ao todo, são 15 bolsas de R$ 450,00 disponíveis durante seis meses para trabalhos que venham a ser produzidos e defendidos até 31 de agosto de 2010.

Nesta edição, os trabalhos deverão abordar a relação da comunicação com a questão da violência sexual contra meninos e meninas. Os quatro assuntos propostos são:

* Questões gerais da relação entre a mídia e a violência sexual contra crianças e adolescentes.

*As novas tecnologias de comunicação e informação no combate ao problema.

*A relação de gênero e mídia nas causas da violência sexual.

*Papel estratégico da comunicação no enfrentamento à violência sexual contra meninos e meninas.

Poderão concorrer alunos de graduação (de qualquer área) de quaisquer instituições de ensino superior sediadas nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe e no Distrito Federal. Os candidatos precisam realizar sua pré-inscrição gratuitamente no site www.informacao.andi.org.br, além de enviar o projeto conforme os critérios estabelecidos em edital. O resultado da seleção, com a lista dos contemplados, será divulgado até o dia 22 de março.

Essa edição do programa de apoio a projetos de Trabalhos de Conclusão de Curso é resultado de um convênio da ANDI com a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), e faz parte do projeto “O Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes: o Papel da Mídia”. O projeto também conta com o apoio da Rede ANDI Brasil, da Bem TV, da Revista Viração e do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ).

Serviço:
Programa de Bolsas para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC)
Inscrições de 20/01 a 10/03 de 2010
Acesse: www.informacao.andi.org.br

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“Na barriga da besta”: pensando o jornalismo

Ilustração de Índio San publicada na Revista Rolling Stone Brasil

Uma estudante de jornalismo decidiu alugar um barraco na favela do Piolho, em São Paulo, a fim de reunir material sobre a vida no local para o seu trabalho de conclusão de curso. O resultado foi uma matéria que até rendeu publicação na Revista Rolling Stone de janeiro. A atitude da menina me fez refletir, e queria muito dividir isso com vocês.

Sou jornalista formada, estudei quatro anos a profissão que exerço atualmente. E algumas coisas sempre me incomodaram. Dentre elas, até que ponto estamos diante de uma apuração jornalística e qual o real significado da expressão “função social”, tão atrelada à atividade jornalística.

Na matéria publicada na revista, a menina conta os riscos por que passou, afirma ter visto a morte de perto, e foi até convidada para presenciar uma cobrança de dívida: ela assistiu ao pagamento com a própria vida do devedor. Confesso que me preocupa um pouco este tipo de atitude.

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>> Leia parte da reportagem publicada na revista
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Não quero desmerecer a atitude da estudante, de forma alguma. Foi corajosa a menina, que passou um mês em um barraco alugado. Mas me pergunto até que ponto isso é jornalismo. Tenho pensado muito ultimamente sobre o assunto. Ainda não cheguei a conclusão alguma. Por isso, estou abrindo as portas para o debate.

Como vocês enxergam tal atitude? É assim que se faz jornalismo? Quando falamos em função social é sobre isso que estamos tratando? Será que não estamos confundindo as coisas? Vivemos um momento crítico, em que a exigência do diploma para o exercício da profissão tem sido motivo de discussão. É o momento de debater o assunto.

Penso que retratar essa realidade é válida (para quem ainda não leu, recomendo o livro Abusado, de Caco Barcellos). Mas me pergunto até que ponto isso é jornalismo. Questiono-me como um projeto desses passou pelo aval da coordenação do curso de jornalismo. Ainda estou amadurecendo as ideias, construindo minhas teorias… Quero muito ouvir a opinião de vocês.

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