Cronicamente (In)viável: Velhinhos ativos e cansados, mas com energia de sobra…ou quase

Chronos, o senhor do tempo

Me entendo por velha antes mesmo de saber-me gente. Criada por mãe e avó com grandes diferenças de idade, a velhice não me assusta por sua existência, mas pelas ausências que ela comporta. Tenho medo de ficar sem memória e de passar a depender dos outros e me agarro a vã esperança de que serei uma idosa independente, estampada de flores e calçada em tênis confortáveis.

Converso com um amigo, um ou dois anos mais novo que eu. Refletimos sobre o que é ser uma pessoa de quarenta e poucos anos no século XXI e o que era ter essa idade algumas décadas atrás. Em geral, não nos sentimos abatidos ou sisudos como eram os quarentões do tempo de nossos avós, embora os amigos de nossos filhos nos chamem de ‘tio’ e ‘tia’. Ao mesmo tempo, sabemos que não somos mais novinhos. “Vivemos uma espécie de maturidade cheia de energia”, filosofa o meu amigo, convencido de que estamos em plena forma.

Outro conhecido, de 54 anos, me confessa que na própria cabeça, ele se imagina com 18. “Mas um cara de 18 responsável!”, enfatiza. Já eu, tem dias que me sinto com 90. A verdade é que, de vez em quando, percebo que me falta energia. Alguns dias mais, outros menos, os quase 45 anos – daqui há 22 dias – pesam e me recordam que os joelhos já não são tão flexíveis. A coluna também cobra a postura torta de uma vida.

Jovens para sempre

Tenho percebido que aquele vigor intenso vendido nos comerciais de Vitamina C anda escasso entre as pessoas da minha geração e até entre as mais jovens, como se elas já nascessem cansadas e precisassem de um banquinho para descansar cada vez mais cedo. Outra amiga, essa com 30, me confidenciou que, ultimamente, só vai em eventos onde tenha lugar para sentar. Ri alto dessa velhinha precoce e lembrei que eu mesma me sinto idosa desde criança.

A sensação de que o tempo passa cada vez mais depressa é real para vários conhecidos. Acordo e a lista de afazeres não cabe no dia. As pausas necessárias para recarregar as baterias são cada vez mais necessárias e escassas. Abrir um tempo para não fazer nada é praticamente recomendação médica para pessoas que andam estressadas, super atarefadas e sentindo-se cansadas quando a velhice ainda nem apontou na esquina da vida.

E as soluções para combater o cansaço são igualmente cansativas, porque o mundo contemporâneo não permite que o tempo da pausa seja apenas para ficar sem fazer nada. É preciso encher a existência com atividades. O que se entende por descanso é só a troca de um cansaço por obrigação, por um cansaço lúdico. Descansamos do trabalho e das demandas obrigatórias em atividades de lazer cada vez mais barulhentas e menos contemplativas.

Ao mesmo tempo, a ideia atualmente em voga para a velhice é a da hiperatividade. Como a expectativa de vida aumentou muito desde que uma pessoa era considerada anciã aos 40 anos, cada vez mais é preciso incutir na humanidade a certeza de uma maturidade cheia de afazeres e disposição.

Comerciais de TV, personagens de ficção, coaches, personal treinares, artistas, etc. vendem a velhice que se disfarça de juventude eterna e, com isso, acredito que existe um lado negativo, que nos faz perder a dimensão de que envelhecer, se por lado traz conhecimentos e experiências acumuladas, por outro significa fragilidade e necessidade de cuidados. E não tem nada de errado em tornar-se frágil depois da vida inteira gastando reservas de força.

Se tem muitos idosos que naturalmente mantém-se ativos e produtivos até depois dos 80 anos, existe também um contingente enorme que se debilita muito mais rápido. E isso vai depender de diversos fatores da vida de cada um.

A meta é ter autonomia, lucidez e independência pelo máximo de tempo possível, mas isso não significa que a existência da velhice deva ser negada e escondida; ou que as palavras ‘velha’ e ‘velho’ sirvam apenas para definir coisas imprestáveis ou ultrapassadas. O tempo é velho, no sentido de infinito, e dele ninguém diz que é imprestável.

A velhice é um estágio da vida. Sempre me recordo de minha mãe dizer que se a gente não morre jovem, envelhece. E ninguém – ou quase ninguém – quer morrer jovem, porque a gente se apega demais à vida. Por mais complexa que ela seja, queremos esticá-la o quanto der.

Com a velhice se instalando – ao menos na teoria – cada vez mais tarde e, consequentemente, a infância, adolescência e juventude se prolongando em ciclos que ultrapassam os 30 anos, cobramos dos mais velhos que mantenham-se eternamente bem dispostos, desrespeitando, muitas vezes, seus ciclos naturais.

O preço do tempo

Tem uma hora que as pessoas vão mesmo envelhecer, que não vai ter plástica, Pilates, suplemento ou meditação que dê jeito. O tempo só avança e nosso corpo, essa máquina que muitas vezes é bem castigada, se desgasta com o uso. Então, é preciso aceitar as limitações da idade sem se sentir um fracasso.

Acredito que meu temor em depender dos outros com o passar dos anos se explica por essa ameaça de termos um mundo cada vez mais povoado por adultos infantilizados e incapazes de aceitar e compreender a velhice e seus limites. Ou mantemos a independência ou teremos de depender de pessoas imaturas e desprovidas de empatia para com as necessidades de uma humanidade cada vez mais velha e, consequentemente, frágil.

O cansaço crônico sentido por gente com até metade da minha idade também pode ser um fenômeno atrelado justamente a essa ideia de velhice hiperativa, que na verdade começa ainda na infância. É tanto estímulo recebido diariamente, nas redes sociais, nas ruas, na escola, no trabalho, no shopping center, etc.; e tanta cobrança para sermos eternamente vigorosos e atuantes – e bem dispostos e lúcidos e ágeis e habilidosos e bonitos e atraentes -, que simplesmente queimamos a pilha mais depressa do que antigamente.

E haja combustível para suprir tanta demanda por movimento!

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*Também publicado no blog Mar de Histórias

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*Cronicamente (In)viável: “Ah, mas as mulheres também…”

“Ah, mas as mulheres também…” Leio essa frase com frequência na internet, em reportagens de sites diversos, em redes sociais ou toda vez que uma conhecida posta críticas ou cobranças direcionadas aos homens. Geralmente, é outro homem que vai lá na caixinha de comentários e começa com “Ah, mas as mulheres também (fazem isso ou aquilo, são assim ou assadas, etc.)”

Me dá impaciência porque é uma estratégia que ainda engana muita gente. Mas, felizmente, cada vez menos mulheres caem nessa tentativa de desviar o foco da discussão. Tirar a atenção dos próprios erros apontando os defeitos alheios não é sinônimo de esperteza, é só imaturidade mesmo.

Homens, com exceções, claro, mas em geral, não gostam de ser criticados e não são muito dados a autoanálise, que dirá autocrítica. Basta alguém, principalmente se for mulher, apontar o dedo para um erro deles, uma atitude que não é bacana – tipo o machismo, que é uma estrutura de poder criada e mantida por e em benefício de determinados homens, de determinado padrão -, e eles já se ressentem, se doem, e buscam formas de desqualificar a queixa: “Ah, mas as mulheres também… blá blá blá”.

A gente sabe, rapazes. Sabemos que também existem mulheres que reproduzem a educação machista que receberam, que existem mulheres que por conta dessa educação equivocada, aprendem até a ser nocivas com outras mulheres. A gente sabe que a educação de meninas e de meninos precisa ser melhorada anos luz para se alcançar a tão sonhada igualdade de direitos. Temos noção de que mães educadas longe do machismo educam filhos solidários e que não vão reproduzir o machismo ad eternum como se fosse norma. A gente sabe de tudo isso e não estamos passando a mão na cabeça de nenhuma mulher.

E sua parcela de responsabilidade?

Mas o foco da queixa está em vocês, nos maiores beneficiários da estrutura machista da sociedade. A queixa está nos pais que deveriam fazer a parte deles na educação dos filhos e filhas. A queixa está nos maridos, namorados e afins que ainda deixam as parceiras batalharem sozinhas para manterem a saúde dos relacionamentos.

Dos erros das mulheres na perpetuação do machismo a gente sabe, agora vocês é que precisam ter consciência e responsabilidade com as falhas de vocês. Não desviem o foco da discussão, apenas melhorem!

Se os homens fizessem um esforço de prestar atenção com mais cuidado, veriam que embora sejam os criadores, mantenedores e beneficiários supremos do machismo, também são muito prejudicados pela sociedade desigual que resulta desse sistema desigual.

As cobranças que eles recebem são pesadas para se comportarem como ‘homens de verdade’, bem sabemos. E esse conceito de ‘homem de verdade’ é todo pontuado por violência e preconceitos. Mas o sofrimento de boa parte dos homens com o machismo não se compara com o que acontece com as mulheres. Elas morrem por conta da estrutura machista e da permissividade do machismo.

Machismo mata, lembrem disso!

Nesse último final de semana de feriado prolongado, de 15 a 19 de novembro de 2018, em pleno século XXI, mulheres foram esfaqueadas por ex-parceiros que não aceitaram o fim dos relacionamentos na Bahia, no Rio, em Minas e em São Paulo. Quatro casos, quatro dias de feriadão, quatro estados diferentes do país!

Isso não é normal, então parem de chamar feminicídio de amor. Feminicídios ainda acontecem porque a estrutura machista da sociedade permite que namorados e maridos acreditem que são donos de suas parceiras! E ser dono das pessoas não tem a menor relação com amor. Amor demanda respeito pela autonomia e pelas vontades da outra pessoa. Feminicídio é crime e é crueldade. É uma doença social grave e deve ser combatido como tal.

Autoanálise e autocrítica é coisa de gente, não tem gênero. Então, os homens precisam admitir que mesmo indiretamente, mesmo quando não levantam a mão para as próprias parceiras, se eles se omitem, se calam ou minimizam qualquer forma de violência contra as mulheres, seja psicológica, verbal, física ou econômica, eles estão sendo coniventes com o machismo que cria assassinos.

Lista enorme de erros

Quem erra e quer redimir o erro, se esforça para entender o contexto do mundo onde vive e busca melhorar a cada dia, nos pequenos e nos grandes gestos. Você deixa sua colega da mesma profissão levar os créditos pelas ideias dela ou as rouba para si? Interrompe mulheres quando elas estão argumentando ou tenta desacreditar o argumento delas com deboche? Você controla o tamanho da saia ou o batom da sua namorada? Você se mete na forma como a sua esposa gasta o dinheiro que ela ganha com o próprio trabalho? Você se faz de surdo quando seus filhos estão traquinando ao invés de ir lá orientar e educar? Você deixa as despesas da casa a cargo da sua parceira enquanto o seu dinheiro vira gadgets descolados? Você não faz a sua parte nas tarefas da casa onde você também mora?

Tem uma lista enorme de atitudes machistas incorporadas na sua educação e que precisam ser modificadas, pense nisso. Para você sua parceira é uma substituta da sua mãe porque você acha normal sua mãe fazer todas as tarefas domésticas porque era assim que seu pai agia? Você trai a sua parceira porque seu pai tinha amantes e você acha que é assim mesmo porque homem não sabe se controlar? Deseduque-se desses equívocos e reeduque-se para ser participativo, solidário, parceiro de verdade da pessoa que está ao seu lado. Chega de reproduzir os enganos das gerações passadas por hábito e conveniência. A intenção é evoluir, se tornar alguém melhor e mais digno.

Comentários desnecessários

Dá trabalho, mas é possível, basta ter boa vontade e persistir nas tentativas de acertar e se esforçar mais e de verdade para mudar, ao invés de choramingar na internet que ‘já não se fazem mais mulheres como antigamente’ ou ‘ hoje em dia os homens não podem mais dizer ou fazer nada que as mulheres criticam’.

Rapazes, parem de entrar em caixas de comentários para dizer “ah, mas as mulheres isso e aquilo” cada vez que alguma garota aponta erros que vocês cometem e olhem com mais atenção para as próprias vidraças, mirem-se nos próprios espelhos sem medo e sem vergonha de admitir que o machismo é feio, injusto e injustificado.

*Também publicado na sessão (Im)paciente Crônica, do blog Mar de Histórias

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**Artigo: Adultos que fazem amigos

Um artigo muito bacana da psicóloga Cássia Aparecida Franco para brindar vocês neste Dia do Amigo. Beijos no coração de todos!

Adultos que fazem amigos

*Cássia Aparecida Franco

“… mire, veja: o mais importante e bonito do mundo é isto; que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam.”

João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.

A “pressa diária” para conseguir se organizar e dar conta com competência de todos os nossos afazeres acaba nos tornando “presidiários” de um campeonato da gente com a gente mesmo. Um dia após o outro, repetindo com pressa as tarefas mais ou menos iguais, costuma fazer com que fiquemos um tanto isolados, com a pilha fraca e sentindo um cansaço extremo. O preço disso tudo tem sido muito caro. Os relacionamentos de plástico e a solidão fazem parte dos altos juros que pagamos.

Quando adolescentes sonhamos com um grande amor e depois queremos escravizá-lo em posse. Quando jovens planejamos criar um mundo melhor, mais justo e depois poluímos o planeta sem dó. No começo da vida profissional, queremos um trabalho que nos realize e depois de algum tempo esta realização corresponde a conseguir pagar as contas no final do mês. E olhe lá! Alguns chamam isto de maturidade, onde a ingenuidade é substituída pelo realismo.

Talvez seja útil pararmos para observar se isso não é também um empobrecimento da vida, onde os sonhos congelam ou até encolhem restando apenas migalhas. A correria do dia a dia coloca os sonhos e a espontaneidade num grande liquidificador e ficamos embrutecidos como se o elemento humano fosse um artigo de segunda mão. Quando nos damos conta, sentimos a falta de gente, de relacionamentos significativos, enfim, de ter de amigos. Amigos com quem possamos conversar, ouvir e ser ouvidos, dar apoio e ser apoiado, em uma dança constante de troca e incentivo.

Mas que tarefa mais difícil é essa de fazer amigos na vida adulta. Quem trabalha ainda tem a facilidade de conhecer pessoas no ambiente profissional. No entanto, nem sempre ter muitos contatos irá corresponder a fazer muitos amigos.

Algumas atitudes podem ser de grande ajuda quando se quer plantar sementes que poderão resultar em novas amizades de valor. Se continuarmos fazendo o que sempre fizemos, continuaremos a obter os mesmos resultados. Portanto, mude. A mudança é a única coisa que oferece novas oportunidades. Loucura é continuarmos fazendo sempre as mesmas coisas e esperarmos por resultados melhores.

Assim sendo, criemos diálogos diferentes com aquelas pessoas consideradas por nós como difíceis ou irredutíveis. Colocar-se por alguns segundos no lugar destas pessoas, como se vestíssemos a sua pele temporariamente, pode nos ajudar a entender as suas necessidades. Quem sabe ela não está precisando ser mais ouvida ao invés de criticada? Um bom ouvinte não presta atenção apenas às palavras, mas também à musicalidade da voz e aos sinais de gestos e expressões faciais. É importante que também tenhamos consciência da nossa forma de falar, tanto nos gestos como na melodia da voz. Eles dizem muito mais do que as palavras.

Comprometa-se a dar o melhor de si e responsabilize-se pela comunicação. Nada de ficar esperando que o outro crie boas condições. Desafie-se a abrir boas conversas em terrenos aparentemente inóspitos. Imagine que gostoso poder deixar o seu interlocutor em um estado de animo melhor do que quando a conversa começou.

Evitar julgamentos preconceituosos pode ampliar nossos horizontes enquanto abrimos espaço para perceber a intenção positiva por trás de todos os comportamentos, inclusive dos nossos. Isso abre muitos caminhos.

Lembre-se que todos nós temos aspectos iluminados e aspectos sombrios na nossa forma de entender e atuar no mundo. Com atitudes adequadas, podemos transformar experiências negativas em lições e oportunidades que fazem valer nossas escolhas no mundo.

*Cássia Aparecida Franco é psicóloga e coach. Visite o blog da autora.

**Texto enviado pela Matéria Primma – Assessoria de Comunicação

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Leia mais sobre o tema:

>>20 de Julho: Dia do Amigo

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Uma conversa sobre Aids, Carnaval e juventude

Durante estes dias de cobertura carnavalesca pela mídia, ouve-se muito falar em Aids e fala-se muito da importância da camisinha, principalmente porque o Carnaval é uma festa que tem fama de mais permissiva. Toda a ênfase no beijar na boca, na “ficação”, no curtir o momento, todo o mito da máscara e do não saber como e com quem, é excitante, sem dúvida. Existe um fetiche na “festa da carne”, isso é inegável e a intenção aqui não é ser moralista. Sexo é bom sim, mas quando feito com consciência, ainda fica melhor. Quando digo consciência, quero enfatizar o conhecimento do próprio corpo, das próprias necessidades e também das necessidades da pessoa com quem compartilhamos esse momento, seja parceiro (a) fixo ou não.

Embora se divulgue mais a escalada da epidemia de Aids entre os brasileiros em datas especiais, perto do Carnaval ou no Dia Mundial dedicado a conscientização sobre a doença, por exemplo, os números não são fantasia e nem estratégia de marketing para comover. Eles refletem a condição de milhares de pessoas reais. Liberar a informação perto ou durante o Carnaval, acredito, tem intenção de aproveitar sim que as pessoas estão focadas no sexo, mas ainda assim, os fatos existem, a epidemia existe, continua a crescer silenciosamente e atinge uma faixa etária cada vez menor.

Segundo o último boletim que recebemos (via email) do Ministério da Saúde, na faixa etária de 13 a 19 anos, o número de casos de Aids é maior entre as mulheres.  Dos 20 aos 24 anos, a divisão por gênero é semelhante e atinge tanto eles quanto elas (independente da orientação sexual) em percentagens iguais. Já entre os homens jovens, ainda segundo o MS, há maior incidência de infecção nas relações homossexuais. Vê-se com isto que a Aids nunca foi uma doença restrita a um gênero ou opção sexual, mas é alarmante o fato de tanta gente jovem adquirir o vírus. É falta de campanha? Acredito que não é só isso. Ainda assim, este ano, o foco da campanha pró-camisinha do MS durante a folia de Momo tem como alvo os jovens.

Acredito que, além da necessidade de se divulgar com mais frequência os números e as estratégias de prevenção, existe também uma falta de consciência corporal, um excesso de fé no outro (principalmente daqueles que tem parceiro (a) fixo), uma grande subserviência das mulheres (que ainda não aprenderam a agir de igual para igual com seus parceiros na relação) e, diante de tantos jovens ainda em tenra idade contaminados, um desejo até meio mórbido de desafiar a morte e dizer: “comigo não acontece”. Só que pode acontecer. E, até o momento, ainda não inventaram método mais simples de prevenção do que a camisinha.

Outro dia, respondi um comentário de alguém que dizia não gostar de sexo com camisinha. Ela revelava que não conseguia sentir prazer com a camisinha, mas acredito que sentir ou não prazer em uma relação está além da camisinha, porque está além da penetração. Cada casal deve buscar nas suas preferências e práticas, fazer o joguinho de sedução, caprichar nas preliminares, descobrir outras zonas de excitação no corpo do parceiro (a), para não limitar o sexo só ao ato da penetração. Ser criativo na vida é fundamental e o sexo faz parte disso. Então, para mim, esse aumento do número de casos de Aids entre gente jovem demais, ou de HPV, ou de outras doenças sexualmente transmissíveis (e aqui vale lembrar que a Aids se transmite por outros meios que não apenas o sexo), tem um pouco também de relação com falta de maturidade para gerenciar uma vida sexualmente ativa.

Os jovens se iniciam no sexo mais cedo, mas não estão preparados para administrar a situação, negociar o uso do preservativo, ainda não possuem aquela consciência corporal que já falei acima, as meninas mais novas são ainda mais vulneráveis à vontade do parceiro, sobretudo nas relações heterossexuais, que é onde a carga machista da sociedade traz toda aquela ideia de que a iniciativa é deles e só deles e que elas devem se submeter, espera-se até que se submetam. Creio que tudo isto ocorre porque a adolescência (e são pessoas de 13 a 19 anos se contaminando), é uma idade de tantas incertezas em tantas áreas da vida, porque não seria neste fator, o sexo?

Os pais, a escola, a sociedade, todos precisam atentar para o fato de que existe um alerta (e não é dos números do Ministério da Saúde) quando tantos jovens se contaminam em tão grande proporção com o vírus da Aids. Existe um alerta que perpassa a educação recebida em casa, a educação recebida na escola, a falta de diálogo, a erotização precoce de crianças que sequer foram alfabetizadas ainda mas estão expostas a letras de música e programas na tv acima da sua capacidade de compreensão. É uma cruzada social impedir que tantas vidas precoces se comprometam com algo tão complexo quanto ser portador de HIV. Todos, de alguma forma, temos de contribuir!

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Confira a íntegra do Boletim do Ministério da Saúde divulgado em fevereiro:

*Epidemia de Aids atinge jovens entre 13 e 19 anos

Mariângela Simão, do Ministério da Saúde. Crédito da imagem: Agência Brasil

Os números mais recentes da Aids no Brasil mostram que a epidemia, na década de 2000, comporta-se de forma diferente entre os jovens. Na população geral, a maior parte dos casos está entre os homens e, entre eles, a principal forma de transmissão é a heterossexual.

Considerando somente a faixa etária dos 13 aos 24 anos, a realidade é outra. Na faixa etária de 13 a 19 anos, a maior parte dos registros da doença está entre as mulheres. Entre os jovens de 20 a 24 anos, os casos se dividem de forma equilibrada entre os dois gêneros. Para os homens dos 13 aos 24 anos, a principal forma de transmissão é a homossexual.

Diversos fatores explicam a maior vulnerabilidade dos jovens para a infecção pelo HIV. Entre as meninas, as relações desiguais de gênero e o não reconhecimento de seus direitos, incluindo a legitimidade do exercício da sexualidade, são algumas dessas razões.

No caso dos jovens gays, falar sobre a sexualidade é ainda mais difícil do que entre os heterossexuais. “Eles sofrem preconceito na escola e, muitas vezes, na família. Isso faz com que baixem a guarda na hora de se prevenir, o que os deixa mais vulneráveis ao HIV”, explica Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

Feminização – O aumento de casos de Aids entre as mulheres se deu em todas as faixas etárias. Em 1986, a razão era de 15 casos em homens para cada um caso em mulheres. A partir de 2002, a razão de sexo estabilizou-se em 15 casos em homens para cada 10 em mulheres. Na faixa etária de 13 a 19 anos, o número de casos de Aids é maior entre as mulheres jovens. A inversão apresenta-se desde 1998, com oito casos em meninos para cada 10 casos em meninas.

Entre 2000 e junho de 2009, foram registrados no Brasil 3.713 casos de Aids em meninas de 13 a 19 anos (60% do total), contra 2.448 em meninos. Na faixa etária seguinte (20 a 24 anos), há 13.083 (50%) de casos entre elas e 13.252 entre eles. No grupo com 25 anos e mais, há uma clara inversão – 174.070 (60%) do total  de 280.557 de casos são entre os homens.

A Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira, lançada pelo Ministério da Saúde em 2009, também ajuda a explicar a vulnerabilidade das jovens à infecção pelo HIV. De acordo com o estudo, 64,8% das entrevistadas entre 15 e 24 anos eram sexualmente ativas (haviam tido relações sexuais nos 12 meses anteriores à pesquisa). Dessas, apenas 33,6% usaram preservativos em todas as relações casuais, que são as que apresentam maior risco de infecção.

Nos homens, 69,7% dos entrevistados eram sexualmente ativos. Entre eles, porém, o uso da camisinha é maior: 57,4% afirmaram ter usado em todas as relações com parceiros ou parceiras casuais.

Homossexuais – Na faixa etária de 13 a 19 anos, entre os meninos, houve mais casos de Aids por transmissão homossexual (39,2%) do que heterossexual (22,2%), no ano de 2007. Essa tendência é diferente do que ocorre quando se observa todos os casos de Aids adquiridos por transmissão entre homens – 27,4% homossexual e 45,1% heterossexual.

Nas escolas – O carro-chefe das ações de prevenção à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis é o programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), uma iniciativa dos Ministérios da Saúde e da Educação. Criado em 2003, o SPE tem como objetivo central desenvolver estratégias para redução das vulnerabilidades de adolescentes e jovens. As ações se dão de forma articulada entre escolas e unidades básicas de saúde. Hoje, 50.214 escolas de todo o país participam do programa.

A iniciativa trabalha a inclusão, na educação de jovens das escolas públicas, dos temas saúde reprodutiva e sexual. O SPE reúne ações que envolvem a participação de adolescentes e jovens (de 13 a 24 anos), professores, diretores de escolas, pais dos alunos, e gestores municipais e estaduais de saúde e educação. É no âmbito deste programa que se disponibiliza preservativos nas escolas.

*Fonte: Assessoria de Comunicação do Ministério da Saúde – Brasília

Saiba mais:

Para ver material da campanha do MS durante o Carnaval, que este ano está focada nos adolescentes, visite: www.aids.gov.br.

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