Feliz Páscoa e um breve recesso…

Vou tirar os próximos quatro dias, em que consegui um feriadão inteirinho no trabalho (olha que coisa linda!), para descansar o corpo e as ideias. Como diria Fernando Pessoa “dói viver”, mas a intenção da frase é bem menos melancólica do que parece. Dói porque dá trabalho, porque cansa, porque decisões precisam ser tomadas e escolhas feitas o tempo inteiro. E que graça teria se fosse diferente, não é? Talvez, escreva qualquer coisinha lá no Mar de Histórias, ainda não sei se esse break é só aqui nas mulherices ou se as intelectualices entram também em recesso. Para falar a verdade, estou bem na vibe de assistir muitos filmes e ler romances. Mas não poderia tirar essas “mini-férias” de quatro dias sem desejar uma Páscoa maravilhosa para todos vocês que gentilmente visitam este e os demais blogs onde escrevo. Deixo um poeminha de Cecília, que fala em renovação – palavra que está no espírito da Páscoa – para lembrá-los de sempre começarem de novo, e de novo, e de novo… a cada vez que alguma coisa não sair exatamente como esperam. Muita luz crianças!

“Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.”

(Cecília Meireles)

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Homem de Palavra: “Amar de Noite”

Amar de Noite

YR@D0*

Por que de noite, e não de dia?
Por que as Anas, e não as Marias?
Porque o ódio, ao invés do amor?
E por que não o riso, no lugar da dor?
Por quê?
Eu quero a lua e seus encantos,
quero teu brilho… Não quero prantos…
Quero você em cada quarto… crescente, novo, cheio…
Quero morrer de paixão, em seus braços,
sob a magia do luar…
Eu quero!
Te amarei de dia, de noite, nas madrugadas…
Te amarei agora, amanhã, sem hora marcada…
Marcarei sim, você como minha amada…
Te amarei!
Sentirei o mel no seu beijo,
sentirei emoção no teu corpo,
sentirei vontade em seu fogo…
Desejarei…
Vou te buscar nas estrelas,
quando tiveres perdida de emoção,
te prenderei em meus braços,
ao som de uma doce canção…
Te farei mulher!!!
Serás minha rainha, de dia,
minha amante à noite,
minha amiga, quando eu chorar,
minha mulher pra toda eternidade…
Tanto faz…
Se é noite, ou é dia, se for Ana ou Maria,
se te amo, pra que agonia?

*YR@D0 é administrador de redes e, nas horas vagas, poeta.

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>>A série Homem de Palavra é um espaço dedicado à opinião masculina sobre o universo feminino, comportamento ou qualquer tema de interesse tanto de homens quanto de mulheres. As opiniões expressas nos artigos nem sempre coincidem com a das três autoras do blog, mas a ideia é abrir espaço para o debate e a diversidade. Acompanhe semanalmente a série Homem de Palavra. E, querendo participar, envie seu texto para [email protected].

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Para lembrar Castro Alves

Hoje é aniversário de Castro Alves, poeta abolicionista baiano que nasceu em 14 de março de 1847. Para lembrar a data, publico O Laço de Fita, um dos seus poemas que considero libelo à beleza feminina.

O laço de fita

Não sabes, criança? ‘Stou louco de amores…
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.

E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh’alma se embate, se irrita…
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!

Meu Deusl As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes…
Mas tu… tens por asas
Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios…
Beijava-te apenas…
Teu laço de fita.

Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N’alcova onde a vela ciosa… crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu… fico preso
No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova… formosa Pepital
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c’roa…
Teu laço de fita.

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Receita de Mulher – Vinicius de Moraes

Vou abrir um espaço para atender ao pedido de um casal de amigos. Os dois queriam ver no blog, um poema que marcou o início do relacionamento deles. Entre paquera, namoro, noivado e casamento, são 20 anos juntos. Se conheceram no final da adolescência, caminham lado a lado rumo aos 40. Brigam? Claro que brigam, todo casal briga. Mas sabem reconciliar interesses, afinar vontades, aparar arestas, respeitar individualidades. Por isso, a receita deles dá tão certo quanto essa Receita de Mulher de Vinicius. Em homenagem ao casamento feliz e possível dos meus amigos, um poema que descreve mulheres reais, mas ainda assim, com aquele toque de sonho que só o poetinha consegue dar.

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Leia também:
>> Vinicius de Moraes, o poeta
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Receita de mulher

vinicius-de-moraesAs muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República [Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem [saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de [coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima [penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca [inferior
A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer [beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ele não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

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