Mais empatia e menos sorrisos vazios, por favor!

Ser empático é reconhecer as dores e necessidades do outro como se fossem nossas
Ter empatia é reconhecer as dores e necessidades do outro como se fossem nossas

Brasileiro é aquele povo aguerrido e que tem a capacidade de rir de si mesmo e das próprias tragédias, confere? O problema é que segundo pesquisa divulgada em outubro deste ano pela Universidade do Estado do Michigan (EUA), nosso país figura na 51ª posição no ranking que mede o nível de empatia em 63 países. Vi a reportagem sobre a pesquisa essa semana, na Revista AzMina, e não fiquei surpresa. De fato, e a história recente do país está aí para comprovar, uma parte considerável dos brasileiros não consegue colocar-se no lugar do outro. Basta prestar atenção no tanto de preconceito e ódio destilados nas redes sociais. Temos fama de simpáticos, mas simpatia e empatia não são palavras sinônimas, como bem lembrou minha irmã quando conversávamos sobre a pesquisa.

Fiquei pensando nos acidentes de carro e nos engarrafamentos quilométricos que se formam porque as pessoas diminuem a velocidade para olhar os mortos e feridos no asfalto. Ter empatia, nesse caso, seria tirar o carro do caminho para deixar o socorro chegar  a quem necessita, seria não chafurdar no sangue alheio feito vampiros, apenas para saciar uma curiosidade mórbida. Fiquei pensando nas pessoas que fotografam e compartilham imagens de desastres e cenas de violência e maus-tratos no Whatsapp e Facebook. Por mais revoltado que se esteja com uma situação considerada injusta, invadir de tal forma a privacidade de alguém enlutado, ferido ou desesperado não é empatia, é crueldade. Compartilhar essas cenas não é revolta, é desumanidade.

Fiquei também pensando no sensacionalismo carniceiro da cobertura de parte da imprensa. E aqui, mesmo sendo jornalista, é preciso admitir que nem sempre nossos veículos noticiosos agem de forma respeitosa e empática. Infelizmente está virando norma caçar cliques à custa da dor alheia. As mancadas de sites, jornais e telejornais na cobertura da tragédia com a Chapecoense são prova nítida de que muitos profissionais de comunicação precisam reaprender normas básicas da profissão e conceitos essenciais para a vida em sociedade, como o respeito.

Uma parte do público rejeita coberturas toscas e manifesta essa indignação. Portais de notícias fizeram matéria mostrando o apelo dos internautas para que as conhecidos não alimentassem a rede dos carniceiros expondo fotos dos mortos no acidente aéreo. Mas, infelizmente, existe uma quantidade de interessados suficientes na selvageria para explicar, embora não tenha justificativa, a caça por audiência das coberturas sensacionalistas na mídia.

Um passeio rápido pelas caixas de comentários das reportagens que denunciam estupros, violência doméstica ou agressões contra homossexuais, por exemplo, oferecem um panorama bem real das estatísticas da pesquisa norte-americana. Com raras exceções, quase ninguém no nosso país que comenta esse tipo de matéria (não estou falando dos trolls, mas da suposta ‘gente de bem’) consegue se colocar no lugar das vítimas. Sequer consegue imaginar que a situação poderia ocorrer com familiares. As pessoas abrem mão da educação e do bom senso e promovem linchamentos virtuais, destilando crueldade e preconceito.

E a explicação para essa incapacidade de vestir a pele dessas vítimas, ou para respeitar o desespero ou o luto de uma mãe negra e pobre porque seu filho foi morto por policiais, é porque no Brasil existe mesmo, como bem diz a antropóloga ouvida pelas repórteres da AzMina, uma noção equivocada de que nós e a nossa família somos mais dignos e melhores do que aqueles que estão em uma classe social ou possuem etnia, cor de pele, grau de instrução, orientação sexual ou professam credos diferentes dos nossos. A crença na superioridade de alguns ‘eleitos’ em detrimento da ‘ralé’ é a perdição do povo brasileiro.

No dicionário, empatia significa, literalmente, a “capacidade de compreender o sentimento ou a reação de outra pessoa, imaginando-se nas mesmas circunstâncias”. Esse é um exercício que requer esforço, porque necessita de um desapego do próprio ego e a aceitação da realidade de que o mundo não gira em torno do nosso umbigo. Ser empático é ser consciente de que é preciso respeitar as diferenças e criar pontes de compreensão no lugar de muros de intolerância. Empatia pressupõe abrir mão de condenar as atitudes, comportamentos e preferências que não nos dizem respeito, para amparar o outro nas suas necessidades humanas, sem estabelecer critérios além daqueles ditados pela solidariedade.

Filosofia e psicologia explicam:

O termo empatia vem do grego empatheia, formado pelo prefixo ‘en’ (em) + ‘pathos’ (emoção, sentimento). A palavra foi usada pela primeira vez pelo filósofo alemão Theodor Lipps (1851-1914), para explicar a relação entre o artista e o espectador que se auto projeta na obra de arte. Na psicologia, a empatia é definida como uma das inteligências emocionais e é dividida em: cognitiva, quando conseguimos compreender a perspectiva psicológica do outro; e afetiva, quando conseguimos nos emocionar com as experiências alheias como se elas tivessem ocorrido conosco. A empatia também é grande um incentivo para o altruísmo, ou seja, para o amor desinteressado ao próximo, para a generosidade e a preocupação não egoísta com as necessidades de alguém, mesmo que esta pessoa não seja da nossa família. A empatia é o que nos torna humanos.

>>Confira a íntegra da pesquisa no Journal of Cross-Cultural Psychology (texto em inglês, arquivo em pdf)

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Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor – IV

E para fechar a série Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor, um texto de Ricardo Sá, escritor e membro da Canção Nova, sobre as escolhas do amor. Obrigada a todos que curtiram os textos e para não perder nenhum artigo, mais links:

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>>Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor – I (namoro virtual)

>>Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor – II (namoro e tempo)

>>Especial Dia dos Namorados: artigos para pensar no amor – III (namoro e prazer)

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Amor é decisão

*Ricardo Sá

Desde que ouvi falar que o amor é uma eleição – afinal, elegemos a pessoa que passará o resto de nossas vidas conosco –, lembrei-me de meus pais e de seus inúmeros conflitos. Bem que eles podiam ter escolhido o amor, ao invés das intrigas. Compreendi que escutar “eu te amo” é direito da pessoa amada tantas vezes quantas ela tiver necessidade de ouvir.

Lembrei-me também dos amigos que passaram por minha vida, de alguns dos quais estou distante há tanto tempo, mas que permanecem em mim, pessoas que se alojaram em minha alma sem que eu tivesse que escolhê-las. Simplesmente vieram e fazem parte do que eu sou! Não daria certo contar a história de minha vida sem passar pela vida delas. Coisas que somente o Amor explica!

Fui compreendendo que o amor é uma experiência tão linda e exigente que requer muito mais do que meus sentimentos. Pede minha alma, minha consciência, “queima de fosfato” e decisão. Quando a gente ama, fica mais parecido com Deus! Assim, amor de verdade é coisa de decisão! Amo, quando decido fazer do ser amado a pessoa mais feliz do mundo e deixo isto bem claro, isto é, digo mesmo: “Meu bem, prepare-se para ser a pessoa mais realizada deste planeta. Aqui está, bem do seu lado, quem te ama e fará de você o habitante mais feliz da Terra”.

Daí passarão os anos, virão as tempestades, as mudanças de comportamento – ninguém é uma fotografia que a gente tira e pronto, “é assim que ela é”. Não! As pessoas mudam, repensam seu modo de ser, retraçam os planos, mudam por causa das exigências da vida, saúde, projetos que a gente não faz. Mas quem eu amo continua sendo quem é: a pessoa que eu escolhi amar!

Amor que a gente escolhe amar dura para sempre. Por isso, “treinar” o amor gera insegurança e imaturidade afetiva, inibe a capacidade de amar e desprepara o casal para assumir aqueles compromissos necessários que geram fundamental gratuidade para que o amor floresça e cresça. Por isso, o amor, quando precisa ser “treinado”, não é o amor divino, vindo de Deus. Ele é superficial, não é um sentimento que surge da alma de ambas as pessoas envolvidas no relacionamento.

Muitos me perguntam como percebemos o amor verdadeiro. E eu vos digo: que o amor de Deus é aquele repleto de nobres sentimentos, como a partilha, a amizade profunda, o respeito mútuo e o sentimento de admiração um pelo outro, além, claro, do sentimento de fato de amor pelo companheiro (a). Todo esse conjunto é o que resulta no mais bonito dos sentimentos, que é o amor divino e realmente verdadeiro, o “amor que a gente escolhe amar”.

Infelizmente, vivemos hoje uma época de inversão de valores. Muitas pessoas vêm escolhendo o falso amor, aquele que supre carências momentâneas e as prende em uma vida infeliz. Um casamento feliz é um namoro que deu certo, justamente porque os dois souberam dar os passos adequados na direção da descoberta um do outro. E quando chegou a hora da entrega total, inclusive de corpos, já experimentaram aquele sentimento profundo de que pertencem um ao outro, sem direito à devolução.

*Ricardo Sá é membro da comunidade Canção Nova, músico, autor de cinco livros e apresentador do programa “Trocando Ideias” naa TV Canção Nova.

**Texto publicado mediante autorização e respeito à autoria e integridade do conteúdo e ideias do autor. Enviado ao blog pela assessoria da Canção Nova.

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Artigo: Geração Y

O artigo que selecionei para esta quarta-feira serve como dica aos pais na minha faixa etária, entre os 3o e os 40 anos, e que tem filhos pertencentes à Geração Y, ou seja, as crianças nascidas a partir do final dos anos 90, os chamados filhos da revolução digital. Com uma linguagem acessível, a autora – a psicóloga Roselake Leiros – explica como os pais podem potencializar os pontos fortes dessa turminha, ajundo-os a se tornarem seres humanos que valem a pena e que terão a missão de nos conduzir a um futuro mais digno enquanto civilização. Parece utopia, mas nem por isso é impossível. Pessoalmente, acredito que o que nos mantém esperançosos, independente do caos exterior, é justamente a crença de que apesar de sermos uma espécie animal em termos biológicos, somos dotados de “humanidade”. Espero que apreciam o texto e reflitam sobre ele…

Geração Y: Todos nós estamos aprendendo o tempo todo…
*Roselake Leiros

Pois é, uns mais, outros menos; uns mais rápidos, outros mais devagar, mas todos estamos aprendendo: Pais e Filhos.

Temos repetido incansavelmente que aquela situação de pais ensinando filhos ou filhos aprendendo com os pais é coisa do passado. Agora, pais e filhos aprendem juntos, uns com os outros.

Para as crianças e jovens de hoje, conhecidos como a geração “Y”, em alguns aspectos as coisas não são muito diferentes do que para as crianças e jovens de gerações passadas. Se prestarmos atenção, sempre foi assim a cada geração, carregando as características próprias do seu tempo. Com 30 anos, os mais velhos estão fazendo a sua revolução silenciosa, diferente das gerações passadas, dos anos 60 e 70. Eles são uma força poderosa de mudança, sabem que muitas coisas do passado não funcionam mais e trazem a sua nova forma de ver e interagir com o mundo novo.

Os pais da geração “Y”, encarregados de acompanhá-los na sua trajetória de vida, têm muito mais informação e capacidade de compreendê-los e ser, assim, aliados e até facilitadores na sua missão de transformar o mundo de hoje.

Fruto dos significados da geração de seus pais, a geração “Y” tem uma condição de vida melhor a partir da liberdade de expressão, o direito de serem eles mesmos e o acesso à informação. Crescem e desenvolvem-se diferentes das crianças da geração passada. Mas cá entre nós, eles já vieram predispostos ou até predestinados a transformar velhos paradigmas, e a prova disso, são as colocações e questionamentos inteligentes e seguros de crianças ainda em tenra idade, que deixam seus pais e educadores, muitas vezes, sem saber como se portarem diante de tal sabedoria.

Fica para nós, os mais velhos, a tarefa de entendermos e aprendermos com essas criaturas maravilhosas, ao invés de criticarmos ou afrontarmos.

Quadro comparativo sobre a geração y. Assim chamada porque são as crianças que nasceram de 1997 para cá, após a revolução digital. Clique para ampliar e visualizar melhor

Rápidos, fazem dez coisas simultaneamente, preocupados consigo e dispostos a construir um mundo melhor.  Mas dependendo do ângulo em que são apreciados, ou da condução das suas vidas, estas características podem parecer possibilitadoras ou muito ruins. A verdade é que eles têm um potencial imenso e dependendo da forma que lidamos com eles, estaremos acionando pontos específicos da sua personalidade e potencializando coisas distintas.

É preciso, antes de tudo, aprender a se relacionar com eles para que seus pontos fortes sejam revelados:

– Assuma o seu lugar de pai/mãe/professor sem rebaixá-los e sim reconhecendo suas qualidades. Nessa atmosfera de respeito e verdade eles sabem respeitar, aprender e também contribuir com o que sabem.

– Seja verdadeiro, autêntico. Diga a sua verdade e quando não souber de algo, fale que não sabe e se interesse em saber. Com a sensibilidade, que é um de seus traços, eles saberão se você está sendo verdadeiro. Lembre-se, verdade é sempre respeitável.

– Respeite suas diferenças, eles têm muita energia, tem foco de atenção múltiplo e geralmente aprendem através do nível de explicação, resistindo à memorização mecânica ou a serem, simplesmente, ouvintes.

– Focados nas coisas de seu interesse, mas muito distraídos quando não interessados, por isso você deve oferecê-los coisas interessantes, estimulantes e desafiantes.

– Como eles têm grandes idéias e se frustram com a falta de recursos para realizá-las, seja nessa hora um apoio, acompanhando-os e ajudando-os a buscar recursos ou mostrando, respeitosamente, outros pontos que por ventura ainda não foram percebidos. Lembre-se que você tem muito a ensinar também, e faça-o com naturalidade, de igual para igual.

– Enfim, seja um companheiro sincero, um colaborador responsável, mas assuma o seu papel de pai/mãe/professor. Eles precisam da sua presença, pois se experimentarem muito cedo a decepção ou falha, podem desenvolver um grande bloqueio e desistir da sua melhor expressão, privando o mundo de sua luz “índigo”.

*Roselake Leiros é psicóloga, master em programação neurolinguística e especialista em desenvolvimento humano.

**Texto enviado ao blog pela Agência Contatto e publicado mediante autorização desde que respeitada a integridade do conteúdo e autoria.

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Evento sobre pesquisa, ativismo e políticas LGBT em Salvador

Neste domingo, enquanto a Parada Gay bomba no centro de Salvador reunindo homo e heterossexuais que defendem a cidadania e o direito a livre expressão da diversidade sexual (veja fotos aqui), aproveito para anunciar um evento nacional que a capital baiana vai sediar esta semana, sobre pesquisa, ativismo e políticas LGBT.

A partir da próxima quarta, dia 15, até a sexta, 17, a Saladearte Cinema do Museu, no Corredor da Vitória, vai sedir o Stonewall 40 + o que no Brasil?, promovido pelo Grupo Cultura e Sexualidade, da Universidade Federal da Bahia (CUS/CULT/UFBA). A atividade irá discutir e avaliar o movimento LGBT, os estudos acadêmicos sobre a temática e as políticas públicas e identitárias desenvolvidas no Brasil após o marco histórico que deu origem ao Dia Mundial do Orgulho LGBT, em 28 de junho de 1969. Nessa data, a comunidade homossexual que frequentava o bar nova-iorquino Stonewall se rebelou, pela primeira vez, contra a agressão gratuita e constante dos policiais.

Quem quiser participar do evento pode se inscrever até esta segunda-feira, 13, através do email [email protected]. A programação completa está disponível no site: www.cult.ufba.br/cus.

O Stonewall 40 + o que no Brasil? reunirá pesquisadores e ativistas de diversos estados. Ao longo dos três dias do evento, os especialistas discutirão temas como os estudos e movimentos LGBT no Brasil pós-Stonewall, marcadores sociais da diferença (raça, gênero, classe, idade), direitos sobre o corpo e a saúde e desafios políticos atuais. O evento contará ainda com programação paralela que inclui bate-papo com pesquisadores e performances artísticas.

O Stonewall 40 + o que no Brasil? é patrocinado pelo Fundo de Cultura da Bahia, através do Edital LGBT da Fundação Pedro Calmon (Secult).

Aqui, um resumo da história do Stonewall, passado pela equipe de Leandro:

The Stonewall Inn – Na segunda metade da década de 60, o bar nova-iorquino The Stonewall Inn se consolidou como um espaço de homossociabilidade, sendo freqüentado por gays, lésbicas e travestis. Assim como outros clubes gays da época, o local era foco de constantes batidas policiais sob qualquer pretexto. Mas, na madrugada de 28 de junho de 1969, pela primeira vez, as pessoas presentes no bar se rebelaram contra a repressão do Estado. Foram quatro dias de conflito com a polícia que resultaram não somente em diversos manifestantes agredidos e presos, mas no surgimento de um marco para a luta por direitos LGBT em todo o mundo.

Quem promove o evento?

O Grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade – Ligado ao Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT/UFBA) e coordenado pelo Prof. Dr. Leandro Colling, iniciou suas atividades em março de 2008. A partir de obras fundamentais do feminismo, da teoria Queer e dos Estudos Gays e Lésbicos, o grupo estuda questões de gênero, identidade e sexualidade. Desde setembro de 2008, tem pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) sobre a representação dos personagens não-heterossexuais nas telenovelas da Rede Globo e no teatro baiano.

Serviço:

O quê: Stonewall 40 + o que no Brasil?

Onde: Saladearte Cinema do Museu (Museu Geológico da Bahia, 2105, Tel: 3338-2241)

Âncora do Marujo – Av. Carlos Gomes, 804, Centro. Tel: 3329-1833

La Bouche Creperia – Rua Dias D´Ávila, 25ª, Barra.

Bahia Café Aflitos – Largo dos Aflitos, s/nº – Mirante dos Aflitos Tel: 3329-0944

Quando: 15 a 17/09/2010

Quanto: Entrada gratuita na Saladearte, Bahia Café Aflitos e La Bouche Creperia. Os ingressos no bar Âncora do Marujo custam R$3.

Realização: Grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS)/UFBA

E-mail: [email protected]

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*Artigo: O crime oculto na máscara

Meninas e meninos, desculpem a ausência dos últimos dias. Mas, como postei ali ao lado, no nosso twitter, foi uma semana bem corrida para as blogueiras devido ao Festival de Verão Salvador, evento musical que funciona como pré-Carnaval aqui na capital baiana. Geralmente, neste período carnavalesco, a imprensa trabalha bastante e, diante da emergência na redação do jornal onde trabalhamos, sobra pouco tempo para os projetos pessoais, como é o nosso “Conversa”. Mas, uma vez que a banda passa, a vida segue seu curso. Nesta segunda-feira, separei para vocês um artigo muito interessante do advogado Antonio Gonçalves, sobre crimes na internet. No texto, ele reflete sobre realidade virtual e mundo real, analisando “as máscaras” que muitas pessoas usam para praticar delitos na rede e ficarem impunes. E nem precisa ser um crime grave, muita gente usa “anônimo” como pseudônimo para deixar comentários agressivos em sites e blogues. Aqui mesmo no nosso espaço, infelizmente, muitos comentários que poderiam enriquecer debates, descambam para a agressão gratuita, tudo sob a máscara do anônimato. Sempre reflito que, se a internet e, por tabela, a realidade virtual, simula a vida que levamos aqui fora e se, no mundo real fazemos tanta questão de respeito, porque não usar deste mesmo respeito nas relações on line? Fica a pergunta para pensarmos. Confiram o texto de Antonio Gonçalves:

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O crime oculto na máscara

**Antonio Gonçalves

É cada dia mais comum a convivência das pessoas com a internet. O que antigamente era tido como mera ficção ganha contornos cada vez mais reais. É preciso discernir os universos real e virtual, este último responsável pela concretização de sonhos, desenvolvimentos de personagens, etc.

Na internet e em sites de relacionamento proliferam-se cada vez mais a criação de personagens que nem sempre equivalem a seus pares reais. Ora, e qual a relação de um site com a vida cotidiana?

O cerne da questão reside no fato da falsa sensação de poder advinda com a criação dessa figura virtual, pois nada obsta criar uma “pessoa” com todas as características que uma pessoa gostaria de ter, todavia, não o tem.

Com isso, cresce o número de relações surgidas através de sites, numa nítida mistura entre real e virtual. O fato é que nem sempre a verdade é a que se apresenta, logo, a idoneidade pode estar esquecida ou corrompida, dando vazão a crimes que se imiscuem no virtual.

Os crimes afloram de relações calcadas numa tênue inocência por uma das partes que se predispõe a conhecer alguém para preencher a lacuna chamada solidão, cada vez mais atada à globalização, portanto, tudo se inicia em um despretensioso bate-papo, que evolui para trocas de e-mail ou contato via conversação instantânea.

Quando a porta de comunicação se estabelece, o criminoso desnuda suas armas e demonstra a seu alvo suas intenções. Se o autor for minimamente comedido, ainda haverá a opção de iludir seu interlocutor para obter uma passagem do virtual com um encontro no mundo real. O resultado pode ser a concretização de crimes variados: atentado violento ao pudor, estupro, roubo, etc.

As certificações e os cuidados inerentes ao processo de conhecimento na vida real são burlados pelo desenvolvimento de uma confiança virtual, com resultados que podem ser completamente desastrosos.

A solução é criar tipos penais para o mundo virtual? Endurecer as regras para a internet? Proibir as pessoas de acessarem sites de relacionamento? Na verdade, é necessário um incremento da legislação que combate os crimes digitais. Não podemos conviver pacificamente com crimes reais advindos de estratagemas do mundo virtual. Se a lei existente se mostra ineficaz, está na hora de modificá-la. O que não se pode é esconder ou mascarar a realidade delituosa por trás da falsa máscara da inocência criada pelo criminoso no mundo virtual.

Encarar o mundo virtual como uma diversão não passará de uma ilusão para proliferar as intenções criminosas de pessoas que veem a internet como meio para alcançar seus fins insidiosos. O legislador nacional deve assegurar a proteção à sociedade. O mundo virtual deve deixar de ser um local imaginário para ser penalizado de forma mais severa e garantir a diversão a que deveria se propor originalmente.

*Material encaminhado ao blog pela AZ Brasil

**Antonio Gonçalves é advogado criminalista e membro da Association Internationale de Droit Pénal – AIDP. Pós-graduado em Direito Tributário (FGV), Direito Penal Empresarial (FGV) e Direito Penal – Teoria dos Delitos (Universidade de Salamanca – Espanha). Mestre em Filosofia do Direito e Doutorando pela PUC-SP.

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