A editora Companhia das Letras vai relançar a obra completa da escritora Zélia Gattai, falecida em maio do ano passado. Paulista de nascimento, esposa do escritor baiano Jorge Amado, Zélia “abaianou” depois de mais de 50 anos ao lado do autor. Ela começou a escrever na maturidade, primeiro, lembrando a história dos seus pais, depois, reunindo as deliciosas crônicas do cotidiano da família Amado. Quem não riu muito com as aventuras dos Gattai em Anarquistas Graças a Deus, que até virou minissérie? E quem não viveu a aflição dos imigrantes italianos atravessando o Atlântico em Cittá Di Roma? Zélia, que escreveu também Crônica de Uma Namorada, seu primeiro livro de ficção, tem um estilo delicioso, de uma tia muito querida ou uma delicada avó contando suas memórias mais caras. Outro livro da autora, Chão de Meninos, é ambientado na infância dos filhos. Além de usar experiências pessoais e de amigos como fonte de inspiração, Zélia Gattai buscou no dia-a-dia do brasileiro, na Bahia, no Rio de Janeiro, ou na São Paulo da sua infância, elementos para deixar um legado que se constitui em verdadeiro registro histórico do cotidiano miudinho, geralmente aquele que os historiadores relegam. Nos seus escritos, há espaço também para recordar os memoráveis encontros de Jorge Amado com artistas e pensadores como o filósofo francês Jean Paul Sartre. Zélia faz parte daquele ramo de autores que se dedica ao memorialismo, ao registro de um passado nem tão remoto, mas bastante pitoresco. Confira a sinopse dos livros da autora, atualmente disponíveis em edições da Record:
Anarquistas, graças a Deus, 1979 – Resgata memórias da infância de Zélia, caçula de cinco irmãos. A autora passou a infância na Alameda Santos, no bairro Paraíso em São Paulo. Ernesto Gattai, seu pai, tinha mania de inventor e vivia fazendo experiências, principalmente com motores de veículos. Dona Angelina, a mãe, adorava ópera. Impagável a sequência em que Zélia conta que quebrou um dos discos preferidos de sua mãe quando era criança.
Um chapéu para viagem, 1982 – Este livro traz as memórias da escritora entre 1945 e 1948, quando conheceu Jorge Amado e a família do autor baiano. Os dois se conheceram durante um movimento para a libertação de presos políticos.
Passáros noturnos do abaeté, 1983 – Este livro, lançado pela editora Macunaíma, de Salvador, reúne desenhos do artista plástico Calasans Neto e texto de Zélia.
Senhora Dona do baile, 1984 – Resgata o período em que Jorge Amado e Zélia viveram exilados na Europa, em 1948. Os dois tiveram de sair do país porque o partido Comunista, do qual eram membros, foi considerado ilegal. Eles moraram em Paris e na atual República Tcheca, que na época ainda era Tchecoslováquia.
Reportagem Incompleta, 1987 – Em todos os momentos da família Amado, lá estava Zélia com sua rolleyflex, registrando tudo. As fotos viraram este livro, que teve até edição trilíngüe: português, inglês e francês.
Jardim de Inverno, 1988 – Novo registro da escritora sobre o período em que viveu com Jorge Amado na França, Tchecoslováquia e Rússia, complementa as memórias iniciadas com Senhora Dona do baile.
Pipistrelo das mil cores, 1989 – Estréia de Zélia na literatura infanto-juvenil, é todo narrado em versos e fala sobre as consequências da destruição ambiental para os seres humanos.
O segredo da rua 18, 1991 – Nesta nova aventura infanto-juvenil da cronista, ela conta a história de um grupo de crianças que vivem diversas situações engraçadas e estranhas em busca do tesouro do pirata Gancho de Ouro.
Chão de meninos, 1992 – Crônicas da família Amado que resgatam a infância dos filhos de Zélia e Jorge. Foi lançado no ano em que Jorge Amado fez 80 anos. O texto é leve, alto-astral e contagiante, quase dá para se sentir parte da família.
Crônica de uma namorada, 1995 – Através da primeira experiência amorosa de uma adolescente, contada com muita graça e leveza por Zélia, ficamos sabendo como era a vida das meninas nos anos 50, suas expectativas, seus sonhos e as cobranças sociais. Jorge Amado escreveu o prefácio e foi o principal incentivador para que Zélia entrasse no ramo da ficção.
A casa do Rio Vermelho, 1999 – Nestas crônicas, Zélia coloca sua casa e a de Jorge Amado, no bairro boêmio do Rio Vermelho, em Salvador, como protagonista das histórias vividas pela família. O livro celebra a amizade, pois traz histórias deliciosas dos encontros ocorridos sob as mangueiras da antiga casa.
Cittá di Roma, 2000 – Neste livro, Zélia mergulha fundo nas memórias de sua família e conta a história da imigração dos italianos para o Brasil, no final do século XIX, através da viagem que seus avós, os pais de Ernesto Gattai e Angelina Dacol, fizeram no navio Cittá Di Roma.
Jonas e a sereia, 2000 – Outra obra infanto-juvenil da escritora, que reinventa o mito das sereias e conta uma história de amor improvável, mas perfeitamente possível no mundo da literatura, a paixão entre um homem e uma sereia.
Códigos de família, 2001 – Quem não gostaria de saber o que se passa entre os membros de uma família famosa? Seus casos, as piadas, apelidos, os micos que pagaram? Pois é o que Zélia divide com os leitores em mais um volume das suas deliciosas memórias.
Um baiano romântico e sensual, 2002 – O último livro publicado por Zélia Gattai foi escrito por ela e pelos filhos como uma homenagem a Jorge Amado, morto em 2001. Reúne três relatos, um de Zélia, um de João Jorge e um de Paloma.
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