O amor que eu amo

amorÉ tão difícil falar sobre o amor. São tantas variáveis… Eu acredito no amor e tenho a minha forma própria de enxergá-lo, como todo mundo a tem. O amor que cultivo em mim tem uma certa tranquilidade, um ar de paz. Sim eu já amei. Amei de duas maneiras diferentes, porque talvez a maturidade nos ensine um jeito mais estável de amar. Perguntei-me durante muito tempo como é que a gente sabe que é amor. As respostas, eu as encontrei vivendo. Por cada reação, por cada emoção, por cada riso e lágrima, ali tinha mais uma certeza de que, sim, era amor.

Percebi que o amor se mostra pela vontade de querer estar junto, pelo respeito, pela cumplicidade, pela troca. O amor que eu costumo amar exige de mim dedicação nos momentos difíceis para o outro. Eu não aprendi a amar pela metade, nem consigo amar apenas os momentos bons. Meu amor ama o todo, na alegria e na tristeza. Esse amor que floresce em mim não costuma medir esforços para ver o outro feliz. Talvez seja mesmo um amor exagerado, ou talvez não. Não consigo imaginar amor sem exageros.

Percebi que o amor se sustenta na segurança, na certeza de que os dois querem ficar um com o outro. Também entendi que não há como haver amor sem discussão, sem adaptação de ideias e sonhos. O problema não são as brigas, mas como lidamos com elas. A gente pode prolongar a briga, ou pode resolver colocar um ponto final nela. A gente pode remoê-la por toda a vida ou pode esquecê-la, deixá-la para trás. Descobri que o amor só dura à base do diálogo, e que o diálogo exige duas vozes para se concretizar. O amor não sobrevive à mudez da alma. Até o silêncio, no amor, precisa se expressar. Ah, e também compreendi que o amor em si não é romântico, ele é cotidiano, é vida, é diário.

Amor que é amor sofre junto, perde a noite para dividir a responsabilidade, tenta fazer a tristeza do outro sorrir. No amor, a gente faz escolhas. E algumas delas significam abdicar dos próprios sonhos, para minimizar a dor do outro. Significa partilhar a dor quando ela parece não ter mais fim. Quando a gente ama, a gente enxerga o sofrimento e a alegria no olhar do outro. A gente sabe quando o outro sorri a tristeza. A gente sabe quando o outro finge a felicidade apenas para seguir em frente, mesmo quando a dor ao redor não cansa de se mostrar. Quando a gente ama, a dor do outro dói na gente.

Mas como eu disse logo acima, o amor é cotidiano, é vida, é diário. E ele não sobrevive sozinho, samorem a troca. Ele não é florido, cor de rosa. Não no relacionamento a dois, pelo menos. A incerteza do outro gera incerteza na gente. A relação só evolui se houver mútuo empenho. Quando o outro deixa de ter certeza, quando o amor do outro já não parece brilhar, o amor da gente murcha, recua, se esconde. É como um bichinho amedrontado, acuado, que perde a coragem de arriscar. O alimento do amor é a segurança, são aquelas atitudes do outro, aqueles gestos naqueles momentos específicos que inflam o nosso amor.

O meu amor deixou de ser romântico há algum tempo. Ele ainda é regado a surpresinhas e doçuras, ele ainda vive de carinho. Mas ele é real, ele permeia a divisão de tarefas, o estresse da correria da vida. As briguinhas desnecessárias. Ele está ali, entre a discussão de um problema e outro, entre uma notícia boa e uma ruim. O amor que eu amo entende a hora de administrar uma crise, entende que há conflitos, entende que às vezes é necessário parar para reparar. O meu amor quer partilhar. Não aprendi a amar o amor solitário. O amor que eu amo precisa ser amado. Insisto até não poder mais. E quando não é mais partilhado, embalo ele num papel qualquer e jogo fora, simples assim. Sem dor, sem arrependimento, sem tristeza.

Na mesma intensidade que me deixo amar, me deixo “desamar”. É que cheguei à conclusão, ao longo da vida, que só sofre quem quer. E eu nunca quero. Há sempre um novo amor no ar. Sim, é simples assim. Pelo menos pra mim.

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Quanto pode doer um adeus?

Dizer adeus dói. Mais talvez para aquele que se despede de alguém que ama. É uma dor que sangra, porque faz sair da boca palavras que o coração rejeita. Quanta dor… quanta dor pode caber em um adeus? É no que me faz pensar as palavras do poeta cubano Buesa, que compartilho abaixo com vocês.

Poema de la Despedida

Te digo adiós y acaso, te quiero todavía.
Quizá no he de olvidarte, pero te digo adiós.
No se si me quisiste…No se si te quería…
O tal vez nos quisimos demasiado los dos. 

Este cariño triste y apasionado y loco,
me lo sembré en el alma para quererte a ti.
No se si te amé mucho…No se si te amé poco.
Pero si se que nunca volveré a amar así. 

Me queda tu sonrisa dormida en mi recuerdo,
y el corazón me dice que no te olvidaré;
pero al quedarme solo; sabiendo que te pierdo,
tal vez empiezo a amarte como jamás te amé. 

Te digo adiós y acaso en esta despedida
mi más hermoso sueño muere dentro de mí…
Pero te digo adiós para toda la vida,
aunque toda la vida siga pensando en ti.

(José Angel Buesa)

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José BuesaPARA SABER MAIS

***Quem foi José Angel Buesa? (em espanhol)

***Ouça algumas poesias do cubano recitadas

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Ah, o amor… em uma de suas facetas

Eu te amoNossa vida está repleta de conceitos, de definições. Para tudo temos uma explicação, qualquer que seja. Para tudo temos uma justificativa. Os argumentos, estes nunca nos faltam, por mais absurdos que sejam. Mas viver não seria tão magnífico se pudéssemos resumir em tão pouco nossa existência. Por isso nasceu o amor. Para contradizer, confundir, embaralhar. O amor tem razões próprias. Razões que fogem da nossa compreensão. Razões que ousamos dizer entender.

“E ele era o senhor de si, até que conheceu o amor”. É assim. Mesmo. Nestes termos. Somos senhores de nós mesmos até conhecermos o amor. Entregamos o posto de senhor a ele. Entregamos de bom grado. Nem sentimos que o estamos fazendo. Entregamos porque o amor é assim. Ele preenche cada centímetro do corpo e da alma. Ele nos alimenta. De uma alegria e felicidade plenas. De uma sensação gostosa. Gostosa de gosto. É quando tudo vale a pena só por gostar de gostar de quem gosta de nós.

Ama, apenas, quem sente. Não o amor, em si, porque talvez, em si, não exista amor. O amor é um conjunto. Um amontoado. Uma mixagem de coisas. De sentimentos que, somente juntos, transformam-se em amor. Não ama quem desconfia. Não ama quem desafia. Não ama quem ameaça. Não ama quem não respeita. Não ama quem trancafia. Não ama quem é desonesto, nem quem não nos deixa respirar. Não ama quem não se entrega, não ama quem não se esforça, não ama quem não se expõe.

O amor não é. O amor “são”. São todas estas manifestações, vezes correlatas, vezes desconhecidas, outras incômodas. Assim. O amor é um horizonte. Passamos a vida acreditando que um dia o alcançaremos, mas ele mantém-se distante, para que nunca percamos a vontade de persegui-lo. Ele está ali. A todo instante, ali, nunca aqui. Para que não cansemos dele. Para que não nos acomodemos por termos dissecado suas entranhas. Para que descubramos uma nova faceta, um novo vértice a cada tentativa.

AmorEle flui. Transforma. Metamorfoseia. Ele é o desconhecido. É o tudo. A síntese, tão difícil de ser feita. O amor não é traduzível, mas traduz. Uma fase, uma etapa, uma experiência, uma vida. Amar é sentir; antes de qualquer verbo, amar é sentir. O disparar dos batimentos cardíacos. O nervosismo inerente, descontrolador. A vontade de tocar. Encostar nem que seja o dedo mindinho na pele do outro. Observar, sorrir um sorriso espontâneo. O sorriso da presença. Um sorriso apaziguador.

O temor sufoca o amor. O medo e o desespero asfixiam, aprisionam. Amar é libertar. Em essência, amar é deixar livre, permitir voar. Correr riscos. Arriscado, sim, amar é arriscar. Saborosos, intensos, descabidos, sufocantes riscos. O voo pode ser longo e sem volta. Ainda assim, amar é deixar voar. É permitir a escolha. O amor não faz exigências; dá possibilidades. A escolha, esta caberá a cada um de nós.

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