Resenha do livro Curimatê – Um Ensaio Sobre a Tolerância

Curimatê - Um ensaio sobre a tolerância | foto: conversa de meninaA tolerância é uma questão de debate ético que ganha destaque na modernidade. Não cansamos de assistir frente às nossas TVs às demonstrações grosseiras e reticentes de intolerância. Andamos inflexíveis e intransigentes. Não aceitamos as diferenças e não nos esforçamos para enfrentá-las com compreensão e respeito. E é sobre este tema que versa o livro “Curimatê – Um ensaio sobre a tolerância”, do promotor público baiano, Maurício Cerqueira Lima.

Ambientada em meados do século XVI, onde hoje está localizado o Chile e a Argentina, a ficção é inspirada na história da tribo Mapuche, submetida à escravidão pelos colonizadores.  O índio da tribo que dá nome à publicação, Curimatê, é capturado pelos colonizadores, aprende suas técnicas de combate e após conseguir fugir torna-se líder de sua tribo no embate contra os invasores. Uma série de situações vão se desenrolando ao longo da leitura, promovendo no leitor um intenso processo de reflexão a respeito de como andamos lidando com o outro e suas diferenças.

A história, com um ritmo de narrativa bastante envolvente, traz à tona uma série de questionamentos a respeito de como nos posicionamos frente ao diferente. O tempo inteiro é possível fazermos referência ao que temos vivenciado no dia a dia, seja no campo da religião, partidarismo, gêneros e raças. E isso só para exemplificar. Estamos deixando-nos dominar pelo individualismo exacerbado, pela falta de compaixão. Triste realidade.

curimatê - um ensaio sobre a tolerânciaVale a pena dar uma lida no livro e repensar a forma como estamos nos colocando diante do mundo, da natureza, do outro. O tema é muito bem explorado no livro, de uma maneira bastante incisiva e clara. É óbvio que é possível fazer diferente, é óbvio que há outro caminho. Uma leitura gostosa e reflexiva que nos dá a certeza de que é sempre tempo para mudar. 

FICHA TÉCNICA
111

Curimatê – Um ensaio sobre a tolerância
Autor : Maurício Cerqueira Lima
Editora: Baraúna
Páginas: 180

Para comprar, clique aqui.

Leia Mais

Cada um tem seu limite

paciencia-300x268Falar de limites é sempre importante, porque muitas pessoas não conseguem compreender que cada um tem seu limite, tem seu prazo de tolerância para certas situações da vida. Quando falo que cada um tem seu limite, quero dizer que uns conseguem suportar determinadas situações por muito mais tempo do que outros. O pavio de algumas pessoas é infinitamente mais comprido que o de outras. E não há de nada de errado nisso, e ninguém deve ser julgado por isso.

Certa feita, uma amiga veio conversar comigo. Havia sido traída pelo marido, mas não conseguia terminar e estava entalada com tudo aquilo, porque todos com quem conversava julgavam ela, criticavam, ela se sentia péssima. O que disse pra ela naquele momento foi que ela se acalmasse, porque cada um sabia quando uma situação se tornava insuportável e que se aquela situação se tornasse insuportável para ela, ela ia identificar e certamente ia saber que havia chegado a hora de colocar um ponto final.

Conversamos muito. Tempos depois ela me ligou e me disse que eu tinha razão, que havia ficado insuportável para ela naquele momento e que ela havia terminado. E que estava feliz porque sabia que tinha terminado na hora certa. É isso, gente. Não podemos cobrar das pessoas que tenham a atitude que teríamos se fôssemos nós naquela situação. Cada um tem seu tempo de maturar uma decisão, cada um tem seu prazo, tem seu tamanho de pavio. As decisões acabam surgindo na hora certa, sem que tenhamos que extirpá-la de dentro de nós, como se fosse uma lasca de madeira que entrara em nosso pé durante uma caminhada.

Melhor tomar uma decisão na hora certa, com consciência tranquila, depois de ter refletido o bastante, do que se precipitar e passar o resto da vida se perguntando “e se?”.

É isso, amores, tenham um final de semana lindo, cheio de risos, abraços e coisas boas.

Leia Mais

Como é que o amor chega ao fim?

Quantas vezes você repetiu um “eu te amo” na vida? E a quantas pessoas já falou isso? Aliás, em quantas oportunidades você achou que havia encontrado o(a) parceiro(a) ideal e chegou a ter certeza de que, daquela vez, seria para sempre? A vida é engraçada, não é? Hoje, remexendo na papelada do guarda-roupa, encontrei uma pastinha surrada em que guardei uma série de cartões que recebi em dois relacionamentos longos que mantive. Não resisti e abri, como uma criança pequena ansiosa por descobrir alguma coisa. No meu caso, relembrar o passado.

Li os cartões e pensei: “nossa, eu fui muito amada”. No mesmo momento, lembrei dos cartões que escrevi, das surpresinhas que já fiz, das juras de amor, da vez em que achei que seria eterno. Fiquei algumas horas distraída, relembrando, analisando… Eu tambem já amei demais. E como é que um amor daquele tamanho pode acabar? Escorrer como água pelos dedos e desaparecer? Aí você passa a conviver com a pessoa com quem você dividiu a mesma cama por tanto tempo como se nada tivesse acontecido, como se uma borrachinha mágica tivesse apagado tudo.

O que leva as relações ao fim? Que pergunta difícil. Hoje, eu diria que a impaciência e a intolerância são algumas das causas. As pessoas perderam a paciência de se conhecer, de dar um tempo até se adaptarem uma à outra. Transformam as relações em casamento em questão de segundos e vão começar a conhecer os defeitos do outro já envolvidas numa rotina um tanto difícil que é a de dividir o mesmo teto. Não eu nunca casei. Mas posso afirmar, sem qualquer receio, que vivi uma relação que podia ser perfeitamente entendida como um casamento.

O que me motivou a escrever isso foram os textos nos cartões. Declarações lindas de amor, sentimentos intensos traduzidos em palavras. Nossa… Eu não revivia estas coisas há muito tempo. Há muito tempo que aqueles cartões deveriam estar ali, empoeirando meu passado, agora enclausurado em uma pasta plástica envelhecida… Hoje, um pouquinho mais madura, com um pouquinho mais de experiência, percebo que compreensão é fundamental. E mais fundamental ainda é a aceitação e a disposição a conhecer o outro e a entender que esse outro não mudará para te agradar.

Lembro que, quando chegou ao fim a minha relação, fiquei imaginando como seria ter de encontrar outra pessoa, me adaptar a outro estilo, me acostumar a outras manias. Achava que não conseguiria. Não me lembrei que já havia passado por tudo isso antes. Simplesmente parecia que aquele era o primeiro amor da minha vida, o primeiro com quem pensei em dividir uma vida inteira. É que foram tantos anos de relação, que eu já sabia na ponta da língua tudo o que significava cada uma das caras dele, cada um dos gestos… Eu imaginava como seria chegar a este estágio com outra pessoa.

Hoje, eu dediquei várias horas às memórias. Depois de reler, olhei algumas fotos, me lembrei de coisas engraçadas, de como nos dávamos bem. E mais uma vez me perguntei como é que as relações acabam e ficam esquecidas no passado. Pois é. Vou continuar sem saber. Tenho minhas teorias, algumas coloquei logo acima. Vocês devem ter as teorias de vocês. Mas como já frisei diversas vezes ao falar da vida a dois, não há fórmula mágica. Se as coisas começam e acabam, a responsabilidade é toda de cada um dos envolvidos, que não soube superar as crises.

Claro que estou falando das relações sólidas, não daquelas furtivas, efêmeras. Uma vez encontrei um amigo em comum e ao contar que a minha relação havia acabado, lembro de ele ter ficado meio atordoado e ter dito que pra ele nunca chegaria ao fim, que ele não conseguia imaginar um sem o outro de tanto tempo que estávamos juntos. Mas, sim, tinha acabado. Por que as relações acabam? Não sei, repito. Só sei que nem sempre é por falta de amor. Afinal o amor, por si só, não é capaz de sustentar uma relação. Às vezes você ainda ama, até. Mas alguma coisa pesou mais na hora de você decidir dizer adeus.

Toda vez que ouço alguém comentar sobre mais uma relação que chegou ao fim, me reservo o direito de alimentar a certeza de que cada dia é mais difícil manter um relacionamento com alguém. Hoje, portanto, venho aqui só pra dizer uma coisinha que talvez faça diferença na hora que você ler: se você acha que aquela pessoa vale à pena, que vocês formam uma dupla bacana, parceira e amiga, pensa nisso antes de tomar alguma decisão baseada em um momento difícil, em uma fase crítica, ou no meio de uma crise. Não há relações perfeitas, as discussões acontecerão sempre. Mas eu me permito dizer que há pessoas perfeitas para uma relação. E estas, queridos amigos, façam questão de segurar.

Certa vez, um amigo conversava com outro sobre a namorada dele. Ela é estressada, sempre brigavam no meio do trânsito, e ele ali, paciente.  Esse outro amigo pegou carona com o casal, e acabou presenciando mais uma discussão boba, um estresse dela, por causa de um caminho errado. Alguns dias depois, os dois trocavam ideias e ele tocou no assunto, perguntando como ele aguentava aquilo, que ele tinha ficado impaciente no fundo do carro com toda a situação, enfim. O outro respondeu que amava aquela mulher, com os defeitos que ela tinha. Porque as qualidades dela eram tão maiores, que ele tinha aprendido a lidar com a parte ruim.

Disse ele que brigar no trânsito era pouco, sim, e que, por ele, não seria assim. Mas que ele sabia que ela não ia mudar, e que ele tinha decidido aceitá-la daquele jeito, porque em milhões de outras situações mais importantes, ela se mostrava a mulher que ele sempre quis ter ao lado. Acho que é isso. Uma história real de uma relação em que as pessoas decidiram se aceitar, aprenderam a conviver com os defeitos alheios, em que um conseguiu enxergar o quão fundamental é ter o outro do lado.  Decidiram que querem ficar juntos.

Se eles vão mesmo ficar juntos, eu não sei. Não os conheço. O que sei é que esse é um passo. Um passo muito importante. No dia em que fiquei noiva (sim, eu já fui noiva), o tio do meu ex-noivo chamou a gente em um canto e nos disse: “a partir de agora vocês precisarão ser muito tolerantes um com outro se quiserem ficar juntos. A palavra agora é tolerância, porque amor vocês já têm”. Nós não soubemos ser tolerantes, mas ainda dá tempo de você aprender, se achar que vale à pena. É isso.

Leia Mais

Temos religiões diferentes. E agora?

judaismo

*Texto e reflexões de Andreia Santana

Esta semana uma cena me chamou atenção na novela Caras & Bocas, exibida no horário das 19 horas pela Rede Globo. O personagem Benjamim, judeu ortodoxo, sugeriu à Tatiana, sua namorada na trama, que se convertesse à religião dele para que a moça seja aceita por sua família. No horário das 21h, a novela Caminho das Índias dá exemplos diários das dificuldades vividas pela personagem Camila, brasileira, para de adaptar aos costumes e religião da família do marido Ravi, indiano. Exageros da ficção à parte, o envolvimento de pessoas de religiões e culturas diferentes faz parte do contexto social tanto pelo fato de sermos seres gregários, que buscam sempre um grupo onde se encaixar; quanto porque com a globalização, com a internet, as fronteiras que separavam uma cultura da outra foram dissolvidas e reconfiguradas.

cristianismoO ser humano necessita relacionar-se na essência. Parece chavão, mas a verdade é que nenhum de nós pode viver sozinho. O diálogo, a comunicação, o interesse, a curiosidade pelo que é diferente está na maioria de nós. Só os muito intolerantes não admitem que precisam conhecer e entender o outro. Só os preconceituosos não aceitam o diferente e não buscam aprender com essas diferenças. E existe uma quantidade de intolerância e preconceito suficientes no mundo para provocar uma série de problemas. Vide as guerras e atentados que explodem de um lado a outro do globo.

A cena entre Benjamim e a namorada me chamou tanta atenção na novela porque fiquei pensando até que ponto alguém tem o direito de pedir a outra pessoa que altere seu modo de vida para ser aceito em determinado grupo. Também penso até que ponto alguém deve ceder e alterar suas crenças por amor. Me perguntei porque Tatiana não poderia ser aceita pela família do namorado mesmo sem ser judia ortodoxa. Nem torço pelos dois personagens e nem gosto muito de Tatiana, acho uma personagem cabecinha oca, como muitas que existem nas novelas. Mas, a situação vivida por ela pode muito bem ser a situação de qualquer rapaz ou moça.

islamismoCasais de religiões diferentes devem tentar converter um ao outro? Minha opinião é não, porque a escolha religiosa de alguém tem de ser algo ditado por uma necessidade pessoal e não por conveniência. A opção por esta ou aquela religião, ou até a opção por não ter nenhuma religião deve ser respeitada.

Acredito que deva ser difícil para um casal de religiões diferentes, ou em que um é religioso e o outro ateu, negociar a convivência. Mas negociação e diálogo são a base de qualquer relacionamento. Então, que os acertos com relação aos credos de cada um sejam estabelecidos no início do relacionamento, sem preconceitos e sem intolerância.

oxossiSe o marido é evangélico e se sente bem na sua crença e se a esposa é católica e se sente bem assim, por que tentar mudar? O ideal é que um respeite a religião do outro. Se é preciso acompanhar o marido até sua congregacão evangélica, porque não fazer isso de forma respeitosa. Não é preciso se envolver no culto, ou tomar parte dele. Se a esposa católica quer ir a missa e o marido é de outra crença, há duas opções. Ir com ela e respeitar aquele momento, sem necessariamente precisar tomar parte dele; ou deixá-la ir sozinha, respeitando esse momento que ela precisa para manifestar sua comunhão com Deus ou com a divindidade que ela cultua.

As pessoas falam tanto em liberdade de expressão, mas por que tentar alterar o credo de um namorado ou namorada? Isso não seria ferir a liberdade de expressão e justo da pessoa que dizemos amar? É preciso que ela mude por pressões familiares? Em pleno século XXI, as pessoas ainda sucumbem a esse tipo de coisa ao invés de tentar ser aceito da forma que é? Por que vai ser inconveniente levar uma namorada não evangélica, ou não católica, ou não budista a um evento da sua igreja? Sinceramente não consigo entender que alguém diga que ama outra pessoa, mas com ressalvas: “Eu te amo, mas você precisa se converter antes ao meu credo para ser aceita na minha comunidade”. Não consigo ver esse tipo de coisa como amor. Para mim, amor pressupõe compreensão e aceitação, independente de credo, cor, posição social.

hinduismoLógico que vai precisar haver muita maturidade no relacionamento para que um entenda o credo do outro e aceite que, em um determinado momento, o seu par precisará cumprir os seus ritos religiosos, isso no caso daqueles que seguem todos os preceitos de sua religião. Também não sou ingênua a ponto de achar que ao escolher o caminho da não conversão, a pessoa vai ser recebida de braços abertos logo de primeira. Infelizmente não, o caminho do desafio às normas vigentes é sempre pedregoso. Mas é possível percorrer um caminho assim de forma serena, sem partir para a agressão, desde que haja o mínimo de predisposição em tentar entender o outro, o que é diferente.

AnkPor que não aceitar? Por que impor regras como o tamanho do cumprimento da saia da namorada? Ou preceitos que não faziam parte da realidade dela ou dele antes de se conhecerem? Sinceramente, creio que forçar alguém a aparentar o que não sente, a ser como não é de fato, seja ainda mais árduo do que tentar fazer com que a família e a comunidade aceitem aquele membro que é diferente, mas que respeita as crenças dos outros. Ele é evangélico, mas ela não é. Ou vice-versa. Mas desde que haja respeito de um com o outro e respeito próprio, que mal há nela usar batom ou um vestido acima dos joelhos porque se sente bem assim? Ou que mal há nele gostar de festas e de pular Carnaval mesmo que a religião dela não permita?

As pessoas não gostam do que dá trabalho. E dá trabalho conviver com alguém de credo diferente porque as cobranças dos outros são muitas e exercem grande pressão. Mas será que um casal que permite que as pressões externas afetem o relacionamento construiu uma base sólida para este relacionamento?

BudaDesde que haja respeito, cooperação e a intenção de conversar sobre o que incomoda, colocando as cartas na mesa, creio que seja possível a convivência inter-religiosa numa família. E conheço exemplos que dão muito certo. Uma amiga, por exemplo, é espírita, o esposo é ateu, a mãe é evangélica e uma das irmãs é filha-de-santo de um Terreiro de Candomblé. Todos se dão bem, todos se respeitam e nenhum deles tenta converter o outro ou faz comentários intolerantes e ofensivos a outras religiões. Para mim, esse é o verdadeiro sentido de se ter uma crença.

CrucifixoFanatismo não tem relação com religião. E eu, particularmente, quero distância das pessoas fanáticas. Acredito que quem segue uma crença busca por algum tipo de equilíbrio, por paz interior, elevação espiritual. Não consigo encaixar o fanatismo nem em equilibrio, nem em paz interior e muito menos em elevação espiritual. Para mim, não existem eleitos, visto que, se existe um Deus que todas as religiões fazem questão de dizer que é a expressão da suprema bondade, a suprema bondade para mim não implica em escolher um povo ou um credo em detrimento de todos os outros.

Não sou especialista em religião, nunca estudei teologia e muito menos tenho a receita para os relacionamentos amorosos perfeitos. Aos que vivem uma relação inter-religiosa, só posso imaginar o que vocês passam e de que forma resolvem seus conflitos, mas não sei como é na prática. No entanto, acredito no diálogo, na tolerância e na negociação como bases para se resolver qualquer problema.

Minha intenção com este post é dividir com os religiosos e os não-religiosos, ideias que me ocorreram após ver uma cena de novela, que na minha opinião, configura-se em desrespeito às individualidades. Um casal é sempre um conjunto, mas jamais podemos esquecer que antes de ser conjunto, cada parte envolvida na relação é um indivíduo único, que merece respeito como tal.

*Andreia Santana, 37 anos, jornalista, natural de Salvador e aspirante a escritora. Fundou o blog Conversa de Menina em dezembro de 2008, junto com Alane Virgínia, e deixou o projeto em 20/09/2011, para dedicar-se aos projetos pessoais em literatura.

Leia Mais