Especial Dia da Criança: o cuidador

O quinto artigo – segundo publicado nesta terça – selecionado para a série Especial Dia da Criança é da psicóloga Sonia Bagatini e fala da primeira infância e do impacto causado na formação do futuro adulto, a partir das influências sofridas dos cuidadores (família ou não) nessa fase da vida e do desenvolvimento dos pequenos. Confiram:

O cuidador

*Sonia Bagatini

Especialistas e estudos da psicologia, medicina e outras áreas a fim comprovam que as primeiras experiências infantis até os três anos de idade são as que formam a personalidade do ser humano, e, ainda que as marcas que os adultos cuidadores – pais, parentes, babás ou professores – deixam é para sempre na vida destas crianças. Nesse contexto, reciclar e agregar conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil é um desafio para a toda a sociedade.

Sabemos que a convivência familiar na infância é fundamental para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança, assim como sabemos que ambientes familiares hostis podem causar danos com conseqüências irreversíveis à existência humana, afetando o bem-estar e a saúde mental dos envolvidos, principalmente dos mais frágeis que são as crianças. Na busca em diminuir essa fragilidade física e emocional das futuras gerações, a permanência da criança deve se dar em um ambiente seguro e afetuoso, onde há os ensinamentos sobre o amar. Isso só é possível quando amamos as nossas crianças.

Vamos reciclar, reforçar e despertar os estudos e questionamentos entre todos para sempre buscar o melhor para a vida humana. Primeiro aquela pequenina vida da qual somos os cuidadores responsáveis, em segundo a nossa própria vida, buscando a satisfação e o prazer em atingir os resultados esperados na criança como reflexo daquilo que oferecemos a ela. Cabe lembrar que a nossa natureza humana se não for instigada, desafiada e motivada, pode esquecer muitas coisas importantes caindo no sentido negativo da palavra rotina.

Tudo o que fizermos para as nossas crianças terá registro eterno em seus corações e nas suas mentes.

*Sonia Bagatini é psicóloga e assessora da SOS Casas de Acolhida

**Material encaminhado ao blog pela WH Comunicação Ltda.

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Leia os outros artigos já publicados pela série:

>>Especial Dia da Criança: Preservação ambiental

>>Especial Dia da Criança: Avós e netos

>>Especial Dia da Criança: “ser” criança

>>Especial  Dia da Criança:  consumismo infantil

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Especial Dia da Criança: consumismo infantil

Para abrir a  série de artigos do Especial Dia da Criança, nesta terça, escolhi um texto muito lúcido e realista da pedagoga Rosangela Borba. Sem ser utópica, como ela mesma diz, e achar que todos só consumimos o extritamente necessário e básico, a autora lança importantes pontos de reflexão sobre o quanto “os extras” do consumo podem se transformar em algo vazio e sem sentido, descartável e destoante da verdadeira simbologia que é o ato de presentear alguém. Vale a pena pensar no assunto!

Consumismo Infantil

*Rosangela Borba

Cena do filme A fantástica fábrica de chocolate, versão de 2005, de Tim Burton. Na imagem, a mimada e consumista Veruca Salt, que sempre consegue tudo o que quer dos pais a custo de chantagem e "chiliques"

É impressionante a maneira como as diferentes mídias são utilizadas por meio de estratégias das mais variadas para conduzir as pessoas ao consumo inconsciente. Digo “inconsciente” porque uma parcela significativa do que é adquirido por nós em decorrência do poder da publicidade não é realmente necessário ou importante para nossa existência ou bem-estar. Nesta época de Dia das Crianças, hábitos de consumo como estes aumentam de forma expressiva, atingindo todas as faixas etárias de compradores desenfreados, e, nesse momento, em especial a primeira infância. As crianças, inclusive, são um alvo fácil, pois se seus mestres (familiares e educadores) não conseguirem dar exemplo neste aspecto, dificilmente deixarão de cair na rede viciante da compra desnecessária. Vê-se então o quanto a educação para o consumo se torna fundamental – e quanto antes, melhor.

Não se pretende cair aqui no pensamento utópico de que só devemos comprar às nossas crianças o que é essencialmente indispensável à sobrevivência delas. Este seria outro extremo da história. O que ocorre é que a forma como o consumo de artigos infantis tem sido incentivado pelas mídias fere questões éticas de sustentabilidade e influencia diretamente a maneira como os pequenos valorizam o esforço dos pais para a aquisição de um produto, assim como o relacionamento que elas têm com as brincadeiras.

E aqui, a personagem Veruca dando um "piti", na primeira versão do filme, nos anos 70. A fantástica fábrica de chocolate é uma adaptação da obra infanto-juvenil homônima do escritor inglês Roald Dahl

Antigamente, existiam datas ansiosamente aguardadas pelas crianças para que pudessem ganhar um brinquedo novo. O presente vinha belamente empacotado e, quando recebido, era valorizado, cuidado com zelo e, com ele, seu dono passava dias a fio envolvido nas mais diversas brincadeiras que a criatividade lhe permitia. Atualmente, porém, existem tantas opções de brinquedos que o ato de ganhar um presente pode ser banalizado por parte da criança. Algumas chegam a ganhar uma lembrança destas a cada semana e, quando suas petições de compra são recusadas, o inconformismo e os escândalos públicos são certos.

Nós, pais e professores, nos preocupamos com as notas que as crianças tiram na escola, com as palavras que saem de suas bocas, com a forma como tratam os mais velhos, porém, esquecemos de educar para o consumo. Esta educação começaria com um presentear pontual, em datas específicas, que dessem à criança a sensação de valorização do brinquedo e de merecimento em ganhá-lo. Os pais devem deixar claro o motivo da compra para que o prazer da criança esteja na brincadeira proporcionada e não na sede de se ter algo a mais em um estoque de produtos que, num futuro próximo, será acrescentado ao lixo da humanidade.

*Rosangela Percegona Borba é graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Tuiuti do Paraná e em Metodologia de Ensino pela Universidade Positivo. Especialista em Educação Infantil pelo Instituto de Educação do Paraná, possui MBA em Gestão de Pessoas pela Universidade Positivo. Atualmente, Rosângela Borba é coordenadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Positivo.

**Material encaminhado ao blog pela Lide multimídia.

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Leia os artigos publicados no início da série:

>>Especial Dia da Criança: Preservação ambiental

>>Especial Dia da Criança: Avós e netos

>>Especial Dia da Criança: “ser” criança

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Especial Dia da Criança: “ser” criança

No terceiro artigo da série Especial Dia da Criança, a diretora do Instituto Canção Nova, Shirleya Nunes de Santana fala sobre a missão dos educadores na formação da meninada e relembra a figura da educadora Zilda Arns, morta no terremoto do Haiti, ano passado, e de sua importância para mudar a forma como a pedagogia brasileira passou a encarar a infância depois das ações pioneiras da pesquisadora e militante em prol das causas infantis. Zilda Arns, que era também médida pediatra, tinha um importante trabalho no combate a mortalidade infantil e materna, não só no Brasil, mas em diversos países. Confiram:

E nesta terça-feira, os últimos quatro artigos da série!

A riqueza imensurável do “ser” criança

*Shirleya Nunes de Santana

É impressionante como o conviver com crianças nos leva muitas vezes a lembrar de quão belo é ser criança e de como elas se aventuram nas coisas e situações da vida com todo entusiasmo, sem medo de errar. Amam, choram, caem, sorriem, são amigas, brigam e fazem as pazes rapidamente, pois o ser criança implica em ser “livre” para demonstrar esses e tantos outros sentimentos e ações. Criança é criança e ponto!

A valorização dessa fase é primordial e faz toda a diferença na formação do futuro adolescente, do jovem, do homem ou mulher. E essa preocupação nos ajuda a tocar em tudo o que ela exige. É uma fase de cuidados e descobertas, para cada criança e para cada educador. Quem trabalha com crianças lida com o “novo” e com o “desprender-se” todos os dias. Entender sentimentos e ações é simples. O desafio é amar e demonstrar esse amor. E muitas vezes nós, educadores, premidos pelas responsabilidades do dia a dia, nos distanciamos dessa pureza e decisão de amar.

Pediatria social era uma das especialidades da médica e educadora Zilda Arns, incansável militante no combate a mortalidade infantil

A atividade educacional vai além do cotidiano escolar, estendendo-se a atividades nos finais de semana e inserindo o educador diretamente na vida e família de cada aluno. É uma missão envolvente, de grandes descobertas e de riqueza incalculável. Passam os anos, as turmas se renovam, mas o espírito de dedicação e de mútuo aprendizado é sempre o mesmo. O educador sempre ganha com as crianças a oportunidade de resgatar em si mesmo a “criança” que com o tempo acaba adormecida, impedindo o adulto de ser verdadeiro como os pequenos.

Houve uma mulher em nossa sociedade que foi e é referência para o Brasil e o mundo no que diz respeito à busca do entender e respeitar a criança como um todo. E sempre sem olhar onde, como e a quem serviu. Bastava ser uma criança e lá estavam ela e aqueles que com ela acreditavam na ajuda real, afetiva e concreta aos pequeninos. Zilda Arns Neumann, arrancada de nosso convívio durante um terremoto no Haiti, é o nome dessa mulher. Como médica, ensinou a educadores e pais o respeito e o amor pelas crianças, vistas como “um todo” em formação. Isso fez e faz a diferença.

Comemoramos o “Dia da Criança”, mas precisamos comemorar diariamente o dom da vida de uma criança, que se traduz na sua liberdade e simplicidade. As crianças carregam a mais bela forma de amar e o ato de construí-las é um dos mais nobres gestos de amor. Portanto, quando formos comemorar ou pensar na criança, olhemos mais que brinquedos ou travessuras, olhemos o belo presente que é ter uma criança perto de nós. Amor, atenção, educação, saúde e respeito são bons presentes para esses pequenos que se tornarão grandes homens e grandes mulheres, a exemplo da nossa querida Zilda Arns.

*Shirleya Nunes de Santana é diretora do Instituto Canção Nova – Unidade 2 da Rede de Desenvolvimento Social da Canção Nova.

**Material encaminhado ao blog pela Ex-Libris Comunicação Integrada

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Leia os posts anteriores da série:

>>Especial Dia da Criança: Preservação ambiental

>>Especial Dia da Criança: Avós e netos

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Especial Dia da Criança: Avós e netos

O segundo artigo escolhido para a série Especial Dia da Criança trata de consumo e das relações familiares. Quem de nós nunca se escondeu atrás das costas largas e protetoras dos avós, para burlar uma proibição dos nossos pais? Nesse pequeno texto, Lidia Aratangy, psicóloga, escritora e professora universitária, mostra como manter o equilíbrio na interação delicada entre pais, filhos e avós. Confiram:

Avós & Dia das Crianças: uma delicada combinação

*Lidia Aratangy

Cena do filme Arthur e os minimoys, adaptação do livro homônimo de Luc Besson. No livro, Arthur mora com a avó enquanto os pais precisam viajar devido ao trabalho. A história mostra uma delicada relação de afeto entre a avó e seu neto

Se a criança estiver de castigo e os pais decidiram não dar presentes, os avós podem presentear o neto? Quando os pais têm menos dinheiro disponível para o presente do Dia das Crianças a avó pode exagerar ou deve dar um presente compatível ao dado pelos pais? Na resposta a essas questões, respeito é a palavra-chave. O poder dos avós deve ser pautado pelo respeito aos pais.

Avós não são pais e têm o direito de ter vínculo direto com os netos e regras próprias para reger essa relação, que podem ser diferentes das regras dos pais. Mas não podem colidir com elas. No caso do castigo, os pais devem ser consultados sobre a extensão da pena: os pais decidirem não dar presentes é diferente de os pais decidirem que a criança não deve ganhar presentes…

O mesmo vale para a outra questão. Os pais pretendem comprar um presente simples por limitação de posses ou porque querem ensinar a criança a se contentar com presentes simples? Em ambos os casos, vale a regra de ouro da comunicação: os avós devem perguntar o que os pais pretendem e adequar-se a essa orientação.

*Lidia Rosenberg Aratangy é bacharel em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), especializada em Genética Médica em Turim (Itália) e Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) – Faculdade de Psicologia. Lidia é professora universitária desde 1962 e autora de livros adotados em vários estabelecimentos de ensino. Pela Primavera Editoral, publicou O anel que tu me deste – o casamento no divã e Livro dos avós – na casa dos avós é sempre domingo?, em coautoria com Leonardo Posternak.

**Material encaminhado ao blog pela Printec Comunicação e publicado mediante citação da autoria e respeito a integridade do conteúdo.

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Leia o post anterior da série:

>>Especial Dia da Criança: Preservação ambiental

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Especial Dia da Criança: Preservação ambiental

Nesta terça, 12, para os historiadores é o Dia do Descobrimento da América, ao menos, essa é a data em que o navegador Cristovão Colombo desembarcou na atual São Salvador (capital de El Salvador), na América Central, em 1492. Para os católicos, 12 de Outubro é o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. O feriado é por conta da data religiosa. Mas, para a maioria da população (incluindo uma fatia considerável de gente que vive do comércio), é o Dia da Criança. Na verdade, a data ligada aos guris de todo o mundo, oficializada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), é o 20 de novembro. Nesse dia, em 1959, a ONU estabeleceu a Declaração dos Direitos da Criança. No Brasil, o 12 de outubro foi instituido por decreto, em 1924, pelo presidente Arthur Bernardes.

Dia 12 de Outubro reúne três datas comemorativas. Aqui uma montagem simbolizando as três com imagem de Nossa Senhora Aparecida; reprodução do quadro Pipas, de Cândido Portinari, que mostra crianças brincando; e uma gravura com representação do navegador Cristovão Colombo

Calendário a parte, o blog Conversa de Menina foca no Dia da Criança nestas segunda e terça-feiras, porque independente dos presentes e da correria nos shopping centeres, criança significa perspectiva de futuro. Para nos ajudar na empreitada, selecionamos sete artigos enviados ao blog, todos escritos por especialistas em áreas diversas, que abordam a infância em diversos temas como consumo, meio ambiente, sexualidade, relações familiares, educação e etc. O primeiro da série apresenta um projeto ambiental desenvolvido em São Paulo, mas que pode ser adotado por educadores do resto do país, pois a questão ambiental é universal. Confiram e esperamos que gostem da série:

A formação do caráter da criança e a preservação ambiental

*Mayara Cristiane Ribeiro e Cristiane Claro

A disposição incorreta dos resíduos gerados pela nossa sociedade tem se mostrado um problema grave. E aqui não tratamos da questão dos lixões abarrotados ou da falta de coleta em diversos pontos de nossa cidade. Falamos daqueles que jogam seus resíduos em terrenos abandonados, que largam o sofá velho no meio da calçada ou jogam o papel de bala no chão. É difícil encontrar um ponto da cidade em que as ruas não estejam cheias de lixo, mesmo com as diversas lixeiras espalhadas pelas calçadas.

Uma grande preocupação é o fato de toda criança se espelhar em um adulto para moldar suas ações e seu caráter. Ao crescer num ambiente sujo e poluído e presenciar as ações dos adultos em detrimento desse ambiente, as crianças assumem a situação e o comportamento como padrão, imitando e contribuindo ainda mais para a perpetuação dessa condição.

Pensando na nossa responsabilidade em relação à educação dessas crianças surgiu o projeto “Brincar e Reciclar é Cooperar”. Baseado na ideia de que a reciclagem, a cooperação e o cuidado com o meio ambiente são essenciais para o bom desenvolvimento da formação da criança, o projeto busca, por meio de atividades lúdicas, trazer a questão da reciclagem e a preocupação com a qualidade do meio ambiente para o seu dia-a-dia. Desde seu início, em 2008, o projeto já atendeu a mais de 10 mil crianças, sendo que, somente esse ano, já ultrapassamos os 4 mil participantes.

O símbolo universal da reciclagem

As atividades se iniciam com uma peça teatral interativa que aborda diversas questões sobre a temática da preservação ambiental, como: destinação correta do lixo, reciclagem, coleta seletiva, consumo consciente, higiene, entre outras práticas sociorresponsáveis. Em seguida, são oferecidas oficinas variadas. Entre elas, podemos citar a oficina de construção de brinquedos a partir de materiais recicláveis e a oficina de construção de terrário. A primeira trata diretamente da questão da geração e disposição dos resíduos. Utilizando materiais como embalagens, retalhos de papel, varal, entre outros, as crianças dão vida a brinquedos que podem ir desde uma boneca a um jogo matemático. Já a segunda oficina trata da importância da preservação do nosso ambiente e da manutenção dos ciclos naturais para o funcionamento do nosso planeta.

Um aspecto importante abordado nas oficinas é o consumo consciente. Muitas vezes, o consumo é ligado apenas ao ato da compra, mas essa é apenas uma etapa da ação. Antes dela, temos que decidir o que consumir, por que consumir, como consumir e de quem consumir. O consumidor consciente busca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal e a sustentabilidade do planeta. Ele também reflete a respeito de seus atos de consumo e como eles irão repercutir não só sobre si mesmo, mas também sobre as relações sociais, a economia e a natureza.

Imagem de historinha da Turma da Mônica sobre coleta seletiva

Por meio das oficinas, trazemos a questão do consumo consciente para a realidade das crianças. Tratamos da importância dos atos delas para a sustentabilidade, uma vez que, desde cedo, consumimos diversos bens e serviços. Além disso, apresentamos a reciclagem como uma alternativa sustentável ao consumo desenfreado, colaborando com a redução do uso de recursos do nosso planeta.

E é dessa forma, com diversão, educação e bons exemplos, que pretendemos comemorar o Dia das Crianças. Durante o mês de outubro, levaremos o projeto para diversos municípios, atendendo a cooperativas, escolas e à comunidade. É nosso objetivo mostrar que brincando e reciclando as crianças podem cooperar com a melhoria da qualidade do nosso ambiente.

Sabemos que uma iniciativa local não é capaz de impactar o mundo inteiro. Mas acreditamos que, se cada um se preocupar em preservar e manter o pouco que temos à nossa volta, é possível, a partir de iniciativas individuais, alcançar um resultado global.

*Mayara Cristiane Ribeiro é analista de projetos e Cristiane Claro é coordenadora do Núcleo de Educação em Cooperativismo, Saúde e Meio Ambiente do Sescoop-SP

**Material encaminhado ao blog pela Ex-Libris Comunicação Integrada e publicado mediante citação da autoria e respeito a integridade do texto.

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Saúde & Fitness: Dia de prevenir a gravidez precoce

A série Saúde e Fitness, deste domingo, destaca um assunto que tem relação com o corpo, mas não no sentido de atividade física. Embora a gravidez altere bastante o corpo feminino, é na alma que as transformações acontecem com mais impacto. Na adolescência, quando tanto corpo quanto alma estão em formação, a gravidez precoce e não planejada pode causar impactos para a vida toda. Hoje é o Dia Mundial de Prevenção da Gravidez na Adolescência e o blog recebeu uma contribuição fantástica do Instituto Kaplan, especializado em educação sexual. Confiram e ajudem a disseminar:

Educação sexual e atuação dos pais podem
reduzir os índices de gravidez na adolescência

O Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência, 26 de setembro, é de extrema importância como reflexão sobre a educação sexual para a redução do índice de jovens “grávidos”. Sexo responsável é o maior enfoque da proposta de trabalho educativo que o Instituto Kaplan desenvolve na capacitação de professores e técnicos que trabalham nas questões de métodos contraceptivos, os riscos das doenças sexualmente transmissíveis, além do impacto de uma gravidez nesta faixa etária.

Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan (Centro de Estudos da Sexualidade Humana), comemora este dia com dados expressivos conquistados através do Projeto Vale Sonhar, uma ação de política pública de conscientização na prevenção de gravidez na adolescência. “Conseguimos obter, entre 2008 e 2009, uma diminuição de 50% do número de gravidez nas escolas das cidades de Serra e Cariacica (ES). Em Alagoas este índice foi de 35%, o que é significativo para um estado nordestino. O Vale Sonhar também foi implantado nas escolas públicas do ensino médio do estado de São Paulo, na disciplina de Biologia, e alcançamos uma redução de gravidez em torno de 20%, o que equivale a 60.000 jovens que deixaram de engravidar na adolescência. É como ter um estádio do Morumbi lotado. No Brasil, este índice caiu em 8 pontos percentuais”.

A conscientização do impacto de uma gravidez indesejada é fundamental para que os jovens entendam a necessidade de prevenção: “É natural que havendo estímulo sexual, os jovens se desejem e, portanto, precisam ser bem preparados para esta liberdade em relação à questão sexual que a própria sociedade criou. Daí a importância do trabalho de educação nas escolas, com informação de credibilidade via internet, nos postos de saúde, enfim, onde os jovens estiverem”, ressalta Maria Helena Vilela.

A educadora e diretora do Kaplan acredita que, no Dia Mundial de Prevenção de Gravidez na Adolescência, a mensagem não é para os jovens, mas para os pais: “precisamos começar a refletir sobre a vida sexual como algo positivo, na qual nós devemos de fato estimular os nossos filhos a buscar consultas médicas e usar corretamente os métodos contraceptivos. A ajuda da família e de toda a comunidade é fundamental para que percebamos que hoje em dia, não dá mais para as meninas largarem a escola por causa de uma gravidez fora de hora”.

Veja vídeo com uma mensagem de Maria Helena Vilela:

Prevenção de Gravidez na Adolescência:

A gravidez na adolescência regrediu 34% na década passada, segundo dados do Ministério da Saúde, mas ainda é preocupante. O Instituto Kaplan, por exemplo, tira dúvidas sobre sexualidade de qualquer pessoa, por MSN (veja aqui no site deles como se conectar). Abaixo, perguntas e respostas de Maria Helena Vilela sobre o trabalho da ong:

A gravidez na adolescência tem diminuído no Brasil?
O trabalho com os adolescentes está tendo uma resposta positiva. Em 2004, quando nós começamos o trabalho do Projeto Vale Sonhar, o índice de gravidez na adolescência no Brasil era em torno de 28%. Hoje, a última referência que nós temos do DATASUS é de 2007, e estes dados nos mostram que houve uma diminuição de quase 8 pontos percentuais. Então atualmente, esse índice está em torno de 20% de gravidez na adolescência no Brasil.  Isso mostra que todo o trabalho com a educação sexual, de prevenção que vem sendo feito, pode ter tido sim, um impacto positivo na vida desses jovens e contribuído para a redução desses números de gravidez na adolescência.

É essencial que haja educação sexual nas escolas?
Sem dúvida. A gravidez na adolescência tem muitos fatores, mas sem dúvida nenhuma, a educação sexual é um dos principais que interferem na decisão ou na condição de uma jovem de engravidar na adolescência. É fundamental que os adolescentes não apenas saibam, mas de fato tenham consciência do porque este corpo se reproduz, o impacto que uma gravidez pode trazer na vida deles, e como evitar em um momento que eles não estão prontos para isso. Portanto, o trabalho com educação sexual é imprescindível na vida desses jovens. Vale ressaltar a informalidade com que a questão sexual é tratada hoje em dia e muitos jovens não estão preparados para viver neste ambiente liberal criado pela própria sociedade. A facilidade que veio com o avanço da ciência, como exames de DNA e pílulas anticoncepcionais permite que o sexo não mais seja visto apenas com o objetivo de reprodução. Se sexo faz parte da vida do homem, portanto é natural que, se houver estimulo sexual, estes meninos reajam a estes estímulos e se desejem. Portanto, eles precisam ser bem preparados para esta realidade em que eles vivem hoje, daí a importância do trabalho de educação nas escolas, via internet, nos postos de saúde, enfim, onde os jovens estiverem. O que eles precisam é de um espaço para que eles tenham consciência de que adolescência não é o melhor momento para eles terem um filho.

Essa liberdade de informação da internet não atrapalha os jovens a dividir o que é o joio do trigo? Como o Instituto Kaplan está usando essas novas ferramentas de informação para também balizar o jovem?
A internet abre o espaço para que os jovens tenham acesso a todo o tipo de informação e obviamente, separar o joio do trigo para o jovem é muito difícil. Então o papel do Instituto Kaplan como uma instituição educadora nesta área de sexualidade é já dar o joio separado do trigo. E é isso que nós procuramos fazer no nosso trabalho, buscar a atenção do jovem para aquilo que ele de fato precisa saber: usar a sua sexualidade em seu benefício e não contra ele mesmo. Por isso, não negamos a nenhum jovem qualquer tipo de informação que eles queiram saber e sempre nos baseamos em critérios científicos e de investigações que nós ou outros profissionais de outras instituições tenham feito que embasam o nosso trabalho e as nossas observações a fazer para eles.

O Instituto Kaplan tem um trabalho pioneiro, que é o Projeto Vale Sonhar. Em alguns estados como Alagoas, São Paulo e Espírito Santo já há uma política pública que é o ensino da educação sexual com base no futuro, com os sonhos do futuro, dentro da disciplina de biologia. Quais têm sido os resultados efetivos dessa ação?
Os resultados são bem animadores! Nós conseguimos obter por meio de um trabalho de multiplicador (em que instruímos o coordenador pedagógico para que ele prepare os seus professores para realizar as oficinas do Vale Sonhar), uma diminuição de 50% do número de gravidez nas escolas das cidades Serra e Cariacica (ES) em 2008 e 2009. A partir dessa experiência, esse trabalho foi expandido para todo o estado do Espírito Santo. No estado de Alagoas que foi um trabalho desenvolvido em 2008 e 2009, também por este meio de multiplicador, conseguimos obter um resultado em torno de 35% de diminuição no número de gravidez na adolescência. Este trabalho, que foi o primeiro realizado na Secretaria de Educação do Estado de Alagoas, foi implantado em todas as escolas estaduais do estado, onde todos os municípios puderam desenvolver um trabalho monitorado pelo Instituto Kaplan em todos os momentos. São Paulo, que já é uma rede infinitivamente maior, (enquanto em Alagoas nós temos 187 escolas no estado inteiro de Ensino Médio, em São Paulo nós temos uma rede de 3.668 escolas), é um universo fantástico e o Instituo Kaplan fica muito feliz que esta secretaria tenha implementado a metodologia do Vale Sonhar dentro da matéria de biologia. E com isso, a gente conseguiu nesta primeira avaliação de 2008 e 2009, uma diminuição em torno de 20% do número de jovens que deixaram de ficar “grávidos” após as oficinas do Vale Sonhar. Isso é um dado muito significativo, já que na rede de São Paulo, são 600.000 alunos e podemos inferir que aproximadamente 60.000 jovens deixaram de engravidar nesse ano de 2009. É um resultado muito gratificante não só para o Instituto Kaplan como para todos nós que queremos que os nossos jovens e nossa população tenham uma melhor qualidade de vida.

Qual a reflexão que o Instituto Kaplan deixa nesse Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na adolescência?
A reflexão é para os pais e não para os jovens. Embora os adolescentes tenham vida própria, eles são frutos de uma educação, isto é, boa parte do que fazem e acreditam ainda está no núcleo familiar. O que eu gostaria de dizer para os pais é que sexo faz parte da vida da gente, é uma necessidade como outra qualquer e não é por si só ruim, pelo contrário sexo é uma coisa boa. Agora se ele não for bem trabalhado, se a pessoa não souber como lidar com a questão sexual, isto pode trazer conseqüências negativas para a vida delas. Ou nós começamos a refletir sobre a vida sexual como algo positivo, na qual nós precisamos de fato olhar para ela com carinho e estimular os nossos filhos a buscarem consultas médicas, e usarem os métodos contraceptivos ou o que nós vamos ter aí é uma dificuldade que vai além das possibilidades do Instituto Kaplan. Nós vamos até um ponto, mas agora, nós precisamos da ajuda das famílias, de toda a comunidade, para que a gente perceba que hoje em dia não dá mais para as meninas largarem a escola por causa de uma gravidez na adolescência.

Saiba mais:
INSTITUTO KAPLAN – www.kaplan.org.br

*Material elaborado e encaminhado ao blog pela jornalista Vera Moreira, usando como fonte Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan. A publicação no blog é mediante autorização, desde que respeitados a citação dos créditos e a integridade do texto.

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Leia mais textos de Maria Helena Vilela no blog:
>>Artigo: *É possível evitar gravidez na adolescência (publicado em 26/09/2009)
>>Um papo sobre sexualidade, menarca e dúvidas na “gineco” (publicado em 02/02/2010)
>>Artigo: Verdades e mitos sobre a homossexualidade (publicado em 06/06/2010)

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Traça de Biblioteca em homenagem à Independência

Terça é dia de Traça de Biblioteca aqui no blog (se você está nos acessando pela primeira vez, esse é o nome da nossa coluna semanal de dicas de leitura). Mas esta terça, em especial, é o feriado da Independência do Brasil. Em homenagem a data, selecionei três dicas de livros que tratam sobre História Geral e História do Brasil, tanto a oficial quanto aquela contada nos bastidores e, na maioria das vezes, que flerta de maneira hilária com a ficção ou então descreve realidades tão absurdas que de fato parecem saídas de um conto da carochinha. Confiram:

CASTELOS E PALÁCIOS

A obra conta a história de 40 castelos e palácios que, há mais de mil anos, retratam a ambição e os sonhos do homem. Segredos, sonhos, lendas, romance e uma boa pitada de crueldade. O livro, publicado em formato luxuoso pela Editora Europa, reúne textos, fotos, localização, posicionamento histórico e desenhos 3D dos mais belos e/ou importantes castelos e palácios do mundo. Ao longo de 236 páginas, o leitor encontra construções que vão de Portugal até o Japão, passando por Espanha, França, Inglaterra, República Checa, Romênia, Rússia, China e etc, num passeio por mil anos de história e evolução de escolas arquitetônicas. Entre as curiosidades retratadas, o fato de alguns castelos e palácios terem abrigado não apenas reis, príncipes, imperadores e a nobreza em geral, mas também personalidades importantes do mundo das artes, da literatura e da filosofia. Leonardo da Vinci, por exemplo, participou do projeto de muitos castelos do Vale do Loire, na França, tanto que está enterrado no castelo de Amboise. Já Franz Kafka viveu alguns meses em uma pequena casinha no Castelo de Praga, enquanto Martinho Lutero fundamentou parte das famosas teses que deram origem à Reforma Protestante no Castelo de Wartburg, na Alemanha.

Editora Europa (www.livrariaeuropa.com.br)

236 páginas

Preço sugerido: R$ 99,90

A OUTRA HISTÓRIA DO BRASIL

Por que Tiradentes tinha uma barba parecida com a de Jesus Cristo se era militar, e militar não tem barba? Por que D. Pedro I, que era português, libertou o Brasil de Portugal? Por que o Brasil foi excluído das grandes guerras? Essas e outras tantas perguntas são respondidas com muito humor no livro A outra história do Brasil – A versão desavergonhada e sem cortes que explica tudo. A obra mostra o lado cômico da história do país sob o ponto de vista de Jovane Nunes, ator e redator de programas de TV e da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo. É um convite para entender como tudo começou sem parar de rir, como na versão do escritor para a carta que “Pero Vaz de Caninha” escreveu, comunicando a descoberta das terras brasileiras: “Pero Vaz de Caninha, barman da frota de Cabral, mesmo embriagado, redigiu esta carta ao rei D. Manuel I para lhe comunicar as peripécias do cruzeiro marítimo que acabou no descobrimento de novas terras. Datada de 1º de maio de 1500, em Porto Seguro, este é o primeiro documento etílico escrito da nossa história”. A partir daí, a história segue em mais 12 capítulos (são 13 no total), com divertidas ilustrações criadas pelo ator e designer Welder Rodrigues. A outra história do Brasil é também um absurdo estudo antropológico e sociológico do nosso país. No capítulo sobre as capitanias hereditárias, o autor filosofa sobre a política do país: Com o Brasil já descoberto, o que dava a Portugal um enorme pedaço da América, o rei de Portugal, D. João III, deparou com a mesma dúvida que Lula teve ao assumir o governo: “o que fazer com isso?”. Apesar de usar datas, fatos e personagens reais, os autores brincam com a história e dão a sua versão debochada para os acontecimentos. A Traça de Biblioteca recomenda que seja lido como diversão e não como recurso didático.

Editora Planeta (www.editoraplaneta.com.br)

Atendimento ao Consumidor: (11) 3087-8888

192 páginas

Preço sugerido: R$ 29,90

ELES FORMARAM O BRASIL

Já essa outra dica aqui vale a pena ter à mão para consultas escolares. Durante anos, a História do Brasil colonial foi narrada a partir dos ciclos econômicos e dos feitos heroicos de grandes personagens. Em muitos casos associados às batalhas, ao sacrifício, à entrega, ao grito de independência. Focando no humano, os historiadores Fábio Pestana Ramos e Marcus Vinícius de Morais selecionaram 12 personagens da história colonial e descrevem suas trajetórias neste livro. As personalidades escolhidas representam e simbolizam momentos significativos do mundo colonial. Alguns nomes são conhecidos do grande público e outros nem tanto. Caramuru tornou-se exemplo conhecido dos primeiros tempos do descobrimento. Dizendo-se náufrago, mas na verdade degredado, representa as dificuldades do momento inaugural da colônia. Bartira simboliza ao mesmo tempo o elemento indígena, na imagem de uma mulher, e o contato com o universo português. Manuel da Nóbrega e os jesuítas; Raposo Tavares e as bandeiras são duas figuras marcantes. Quem foi Branca Dias e Fernão Cabral Taíde? A Inquisição se fez presente a partir desses dois nomes. Ela representa os cristãos-novos, as perseguições, o preconceito contra os judeus. E a história dele mostra como a violência e o abuso de poder dos senhores de engenho era usual na época. Ambos foram processados pelo Tribunal do Santo Ofício. Já o insurgente Manuel Beckman nos traz outra face dos poderosos latifundiários. A presença holandesa aparece na figura de Maurício de Nassau – nos gastos e luxos de sua corte holandesa em Pernambuco e, também, nos artistas que fizeram as primeiras imagens do Brasil colonial. O barroco e o período da mineração ganham as páginas com o poeta satírico Gregório de Matos e com Felipe dos Santos, líder de uma revolta em Minas. O mundo da escravidão, o espaço concedido às mulheres e a grande circulação de diferentes culturas, que foi a região das Minas, estão ainda contemplados no capítulo dedicado a Chica da Silva. O último biografado é o Marquês do Lavradio, que nos apresenta a crise do Antigo Regime, o reformismo ilustrado, a era do Marquês de Pombal e o reinado de D. José I.

Autores: Fábio Pestana Ramos e Marcus Vinícius de Morais

Editora Contexto

272 páginas

Preço sugerido: R$ 43,00

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O último espetáculo da velha Fonte Nova

*Texto da jornalista Giovanna Castro

Quando acordei hoje de manhã e comecei a me preparar para ir para o Dique do Tororó, onde acompanharia a implosão do estádio da Fonte Nova, não imaginei que viveria a experiência insólita de vibrar juntamente com a torcida do Bahia. Imagina só, eu que sou rubro-negra desde criancinha! Mas era por uma boa causa. A Fonte Nova veio abaixo em cerca de 12 segundos unindo corações de torcedores das mais diferentes agremiações, mas especialmente das dezenas de torcedores do Bahia que equivocadamente ou não, tomaram a Fonte como sua ao longo dos anos, e que foram dar adeus ao que consideravam sua propriedade devidamente uniformizados. Enfim, coisa de torcedor apaixonado. Mas também vi por lá, caminhando no trecho do Dique liberado para o público, leões uniformizados e igualmente tomados pela expectativa de testemunhar o último espetáculo da velha Fonte Nova.

Torcedores que têm história pessoal com a Fonte, especialmente os tricolores, se posicionaram à beira do Dique do Tororó para acompanhar a queda do velho estádio

A expectativa crescia à medida em que o tempo ia passando e chegando mais perto da hora marcada para a implosão, 10h. Cheguei cedo, por volta das 9h e comecei a me sentir tomada por uma nostalgia e ao mesmo tempo me sentindo uma pessoa muito importante porque no futuro vou poder contar para meus filhos ou netos, se os tiver, que vi a implosão da velha Fonte. Um momento histórico do qual participei antes (já já explico o porquê deste antes), durante e, se tudo der certo, depois. Foi um espetáculo lindíssimo e emocionante. O estopim vermelho prenunciou a queda da fonte que rapidamente virou pó. Me emocionei muito a ponto de deixar de lado o foco da câmera digital que levei para gravar o episódio e preferir ver a olho nu o que se passava na minha frente. “Muito bom, muito bom, muito bom!”, repeti, impressionada.

Logo em seguida, uma nuvem de fumaça enterrou as minhas lembranças de jogos que fui ver com amigos e ex-namorado. Sabe como é, quando a gente gosta até assiste jogo do Bahia achando tudo lindo! E foi assim comigo. Vi jogo do Palmeiras nos anos 90, na era Parmalat, quando o palestra ganhava tudo e mais um pouco, vi jogos do Vitória, vi jogos do Bahia e também jogos sem muita repercussão nas tabelas dos campeonatos e em campeonatos inexpressivos. A sensação era sempre a mesma, a emoção de ver os torcedores gritando palavras de ordem a uma só voz, bandeiras, lenços e braços agitados, rolos e mais rolos de papel higiênico, fogos de artifício, fumaça, muito fumaça. E era como se pudesse tocar a energia que era passada para cada um dos jogadores lá dentro do campo.

Imprensa compareceu em peso para registrar momento histórico da primeira implosão de estádio da América Latina. Disputada pelos jornalistas, a elegância sutil de Bobô, ídolo tricolor

Quando vi a Fonte cair, me lembrei dos muitos degraus que subi até chegar a uma melhor posição. Nunca sentava atrás dos gols, sempre numa posição central que, na minha opinião, proporcionava melhor visão da partida. Lembro que sempre me fazia falta o replay da jogada, mas também me lembro muito claramente da sujeira dos corredores, do fedor de mijo nas arestas de concreto, da impossibilidade de ir ao banheiro, do concreto imundo das arquibancadas em qualquer local do estádio, mesmo nos chamados camarotes, nome pomposo demais para o que eram na prática.

Nada disso, acostumados que estávamos a tamanho descaso, atrapalhava o envolvimento com as trocas de passe e não calava cada grito de gol, nem a gostosa sensação de ver o time sair vencedor. E também a gozação de ver o Bahia perder para algum time de menor representatividade. Afinal, lá se vão dez anos de segundona.

Mas, voltando ao dia de hoje, sabe aquela sensação de que algo muito importante vai acontecer na cidade e que você precisa estar presente? Foi exatamente isso que eu senti. Devo confessar que fiquei um tantinho nervosa, tamanha a expectativa em torno da queda da mega estrutura. Ontem mesmo dava boas risadas com minha mãe que estava lá dentro da Fonte quando foi inaugurado o anel superior, em 1971. Eu nasceria no final do ano seguinte. Minha mãe conta que foi ao local com meu pai acompanhar a inauguração e lembra que naquela semana havia surgido um boato na cidade de que a estrutura desabaria.

Minha última foto da Fonte, tirada minutos antes do início da implosão

Na época, algumas construções edificadas por um funcionário que trabalhava na prefeitura, conta minha mãe, caíram, criando o temor de que o mesmo aconteceria com a Fonte, ainda que uma coisa não tivesse nada a ver com a outra. Coisas do imaginário coletivo. Minha mãe fala entre séria e risonha que perdeu o sapato na confusão e que foi segura pelo meu pai enquanto ficaram esperando a confusão passar. No meio do tumulto, ela não recorda exatamente, mas parece que alguém soltou uma bomba no meio do estádio e o estrondo despertou o pânico entre as pessoas que já estavam ressabiadas com a história do empreiteiro, digamos, picareta.

Foi o fim de pelo menos cinco décadas de grandes espetáculos do futebol

Ela me contou também que, alguns anos depois, voltou à Fonte comigo e meu irmão mais velho ainda pequenos para ver o Papai Noel descer de helicóptero no meio do gramado. Outra confusão, mais aterrorizante ainda para ela porque estava sozinha com duas crianças totalmente indefesas. Restou a ela encostar-se num paredão e aguardar a turba passar espremidinha com a cria. “Desde aquela época, não quero saber mais de aglomeração. Não quero conta”, diz, meio traumatizada, porque minha mãe não é de se consumir com as coisas, não. No segundo seguinte, ela está dando risada lembrando do sapato perdido e do boato sobre a queda da Fonte que rondou a inauguração do novo anel. Coisas de uma época em que as pessoas não eram tão acostumadas com a tecnologia e o fato de uma construção não estar exatamente “assentada no chão” causava medo.

Espetáculo da engenharia foi concluído em cerca de 12 segundos e a nuvem de poeira se dissipou rapidamente

Enquanto aguardava a enorme cortina de fumaça assentar, observava os gritos de empolgação das pessoas, que me remetiam aos momentos de gol comemorados nas arquibancadas da Fonte. É engraçado, mas a queda da Fonte também trouxe alegria para o público que pode ver de perto o acontecimento. Era como uma catarse que servisse para guardar para sempre na memória os momentos bons e apagar de vez da mente momentos trágicos. O grito das pessoas, em sua maioria torcedores e soteropolitanos que tinham o equipamento como parte da cidade e de suas vidas, foi uma forma de cumprimentar o estádio pelos serviços prestados e dar as boas vindas para a Nova Fonte.

É como disse o jogador da elegância sutil, Bobô: “A gente vai começar a construir uma nova história. Momento que não vou esquecer nunca é após a saída dos portões do estádio, com a torcida nos esperando lá fora. Este talvez tenha sido o momento mais marcante. Famílias inteiras, crianças que esperavam o ídolo com um presentinho. Até hoje me lembro com muita frequência. Cada um que construiu seu legado aí, não vai esquecer. Fico muito feliz de estar participando de dois ciclos, da velha Fonte Nova, que vivi com muita intensidade, com orgulho muito grande, e de estar trabalhando na nova Fonte Nova que é uma outra história a ser construída por uma geração nova de atletas”, disse o ídolo do campeonato brasileiro conquistado pelo Bahia em 1988.

Fonte Nova agora são escombros e o espaço dará lugar à nova arena, que deve começar a funcionar em janeiro de 2013, com expectativa de 80 eventos anuais com média de preço do ingresso de R$39

Jogador que, nos anos 70, foi ídolo das torcidas do Vitória e do Bahia, Osni demonstrou emoção: “Sinto hoje mais alegria que tristeza. Eu joguei nessa Fonte Nova, na outra não vou jogar, estarei lá somente como torcedor. Aquilo que eu vivi, que Bobô viveu e todos os jogadores da Bahia e do Brasil que fizeram história na Fonte Nova, que fizeram gols bonitos, já está marcado. O que é importante não é pensar em tristeza, vemos uma antiga era terminando e vamos ver uma nova era começando. A Fonte Nova de 2013 é a Fonte Nova que o torcedor merece”.

Para mim, a sensação foi um misto de alegria e tristeza. De não ter mais a velha Fonte e da expectativa de comprar os ingressos, possivelmente pela internet, para ver os jogos da Copa do Mundo de 2014 na nova Fonte. Faço questão de voltar à Fonte, que não vai ser mais a mesma, é óbvio, mas que vai certamente incorporar toda a mística do nosso maior templo esportivo. Amanhã, volto a fazer meu trajeto rumo ao trabalho, de manhã cedinho, e vai ser o primeiro dia em toda a minha existência em que não verei no horizonte o anel superior do estádio Otávio Mangabeira. A gente se acostuma com tudo nessa vida, mas vai ser uma espera difícil. Mas, pensando bem, três anos não demoram tanto assim…

Confira a implosão da Fonte Nova, neste domingo, 29 de agosto:


Gente, peço mil desculpas por não ter postado mais cedo, mas hoje foi o dia em que a tecnologia não me favoreceu. Levei máquina digital para filmar a implosão e filmei, além de ter gravado no celular entrevistas com o ministro dos esportes, Orlando Silva, com os jogadores do Bahia Osni e Bobô, além do titular da Secopa, secretaria que cuida dos assuntos da Copa de 2014 em Salvador, Ney Campelo, mas não consegui editar o vídeo e não consegui baixar do celular os áudios. Tudo que planejei foi por água abaixo. Fico devendo as minhas imagens e os meus áudios, mas ficam algumas das minhas fotos e o registro da emoção no dia em que a Fonte Nova virou pó e entrou inapelavelmente para a história do futebol nacional e para o imaginário dos torcedores que lá tiveram grandes e inesquecíveis momentos de divertimento.

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Três visões sobre a paternidade…e um livro – I

Há um ano, refleti aqui no blog sobre a condição dos pais na atualidade (relembre o post aqui). Era exatamente o segundo domingo do mês de agosto, Dia dos Pais. Este ano, para homenagear a data e todos os homens que são ou cumprem papel de pai, selecionei três artigos que mostram visões sobre a paternidade que coincidem e divergem entre si e com a minha forma de encarar o assunto. Os autores são uma psicóloga, um religioso e uma educadora. Há ainda uma dica de livro para os marinheiros de primeira viagem. Para facilitar a leitura, publicarei os textos em sequência. Espero que gostem da seleção e que aproveitem o dia ao lado dos seus pais, não importa se eles são de fato ou de direito.

Palavra de Pai
*Cassia Aparecida Franco

Sabe, a verdade é que eu nasci para ser um herói. Passei anos vivendo como Batman, Homem-Aranha, The Flash e Super-Homem, este último, sem dúvida, o meu perfil predileto. Encarnei os personagens com fervor infantil e a lycra grudou no meu sangue com tanta vontade que me esqueci de despir a fantasia, depois de concentradas horas possuído pelo personagem.

Mesmo quando corria sobre os telhados na companhia do meu inseparável cachorro, eu imaginava ser imortal. Ou quando descia a rampa na frente de casa a bordo do meu skate, bike, carrinho de pedal, não houve Airton Senna que me ultrapassasse. Afinal, heróis são invencíveis. Não se deixam derrubar pelo cansaço, pela dor, pelos mais altos desafios ou pelas metas estratosféricas da empresa.

O grande problema é que heróis não se casam, não se relacionam por longos períodos, não se unem com a desculpa de não colocar a amada em risco e não têm filhos, com o pretexto de que precisam cuidar da humanidade. Quanta grandeza. Heróis são imbatíveis…. ou melhor dizendo, agora que o tempo passou e eu perdi tantas coisas de VOCÊ.

Filho, me dá de presente olhar de novo nos seus olhos e sair para velejar com você, sem pressa. Vamos curtir juntos a força das ondas e quem sabe ainda dê tempo do sal cicatrizar as feridas que a distância possa ter provocado em nós dois.

Filha, me diz que dá tempo de ouvi-la contar dos seus planos sem querer corrigi-los da minha “maneira mais correta”. Me dá  uma chance de aceitar que existe um peludo no meu sofá acariciando o seu pescoço, que eu julguei um dia ser só meu.

Eu vou precisar de ajuda pra confessar que também choro de saudades dos amores perdidos, que morro de medo um bocado de vezes nas incertezas. Que meu estomago também dói de ansiedade nas provas da vida, que me envergonho por agir sem pensar em muitas situações, que me orgulho de ser seu pai, que não posso sequer imaginar a minha vida sem você, que estou encabulado na sua frente, sem saber muito bem como lhe pedir: Por favor, me ensine a ser SEU PAI.

*Cássia Franco é psicóloga e coach. Acesse aqui o blog da autora.

**Texto enviado ao Conversa pela Matéria Primma – Assessoria de Comunicação

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Três visões sobre a paternidade…e um livro – II

Continue lendo a série especial de artigos sobre o Dia dos Pais…

Pai adotivo, expressão de verdadeiro amor
*Diácono Paulo Lourenço

São José, "pai adotivo" de Jesus

Gerar uma nova vida é o maior ato de amor que um homem e uma mulher, unidos pelo matrimônio, podem realizar. É na vida conjugal que a família se desenvolve como a maior expressão da realização humana. Ter um filho é a concretização do legado familiar, é o objetivo maior da vida conjugal. É para constituir uma família que o casal se une, abençoado por Deus e pela Igreja. O exercício da paternidade é um dos maiores dons dados ao homem por Deus. É a capacidade de amar, educar e encaminhar os filhos para a vida adulta, transmitindo-lhes os princípios éticos e morais que os acompanharão no desenvolvimento de seus talentos. É uma imensa responsabilidade que só pode ser totalmente compreendida e sentida sob a ótica do amor incondicional.

Muitos homens geram filhos mesmo sem estarem maduros para a paternidade. Como não estão conscientes de suas responsabilidades, muito menos da vocação da família, acabam muitas vezes abandonando-os à própria sorte. Com tantas crianças concebidas sem a devida conscientização, a figura do pai adotivo se tornou cada vez mais recorrente e especialmente necessária. Principalmente para uma criança que poderá nunca superar, nem mesmo na idade adulta, a dor de ter sido rejeitada por quem deveria tê-la amado e protegido. Os psicólogos dizem que a dor do abandono e da rejeição é uma das piores que o ser humano pode enfrentar. É uma situação muito triste e sofrida.

Entretanto, felizmente, muitos outros homens compreendem que a paternidade é feita de laços que são indestrutíveis, como o amor, respeito, carinho e amizade. Ser pai biológico é importante, mas não é o fator mais determinante na missão de ser pai. Quem compreende a dimensão desse gesto vê com verdadeira naturalidade a adoção. E quem são esses pais? Para mim pessoas especiais, a quem Deus deu a capacidade de amar verdadeiramente, de conhecer o amor em sua forma mais autêntica, ou seja, de forma gratuita e incondicional. É um grande dom de Deus. O pai adotivo é como Cirineu, o personagem que ajudou Jesus, durante o Calvário, a carregar a cruz quando Ele não suportava mais seu peso. O pai adotivo assume a cruz do abandono de seus filhos e a anula com seu amor e dedicação.

O cristão entende a paternidade espiritual porque Jesus ensinou que o caminho da verdadeira felicidade é o desprendimento, somente possível quando nos doamos. Quem nunca sentiu uma alegria inexplicável ao se oferecer de coração a uma causa, ao oferecer gratuitamente o que de melhor tem dentro de si mesmo? Dessa forma, eu pergunto: qual a diferença entre filhos adotivos e biológicos? A resposta: Nenhuma! Todos são iguais para aos olhos do pai. Todos são frutos do amor da família.

Neste Dia dos Pais, não podemos esquecer que todos temos em Deus um Pai amoroso, atencioso, que sabe tudo sobre nós e que conta até os cabelos da nossa cabeça (MT 10,30). Deus não se deixa vencer em generosidade por nós. Ele é a inspiração para nunca nos deixarmos vencer em bondade e desprendimento por nossos filhos.

*Diácono Paulo Lourenço pertence à Canção Nova. Acesse aqui o seu blog.

**Texto enviado ao Conversa pela Ex-Libris Comunicação Integrada

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