Conto: Hora de dizer adeus

-Eu quero o divórcio, Dom!

-Hã??! Do que você está falando, Raquel?

-Divórcio, separação, fim… Acabou, Dom! Não dá mais para ficarmos juntos.

-Como assim??? Do nada??? Está tudo bem, e de repente você toma essa decisão assim??? Sozinha???

-Eu não tomei essa decisão sozinha, Dom. Você me ajudou, e ajudou muito!

-Eu te ajudei??? Você está ficando louca????Do que é que você está falando??

-De tudo aquilo que você não quis ouvir durante nossa relação. Tudo o que você achou que era bobagem e decidiu deixar pra lá…

-Deixe de loucura, Raquel! Eu sempre te ouvi, ouvi todas as suas queixas, todas as reclamações…

-Ouviu… E não fez nada para mudar, pelo jeito, só ouviu mesmo. Que inútil esse seu modo de “ouvir”.

[Dom se jogou no sofá, colocou os cotovelos sobre as coxas e enterrou o rosto nas mãos. Respirou fundo por alguns segundos e levantou a cabeça. Ao tentar argumentar, foi interrompido por Raquel]

-Pois é, Dom, a decisão está tomada. Obrigada por torná-la mais fácil nestes últimos meses. Não adianta gastar palavras em vão. Guarde-as para o dia em que elas forem realmente necessárias.

[A pequena mala com os objetos pessoais já estava pronta. Em um rompante, ela jogou a sacola nas costas e saiu da casa de Dom sem olhar para trás]

Nos últimos três meses, Raquel ensaiava em frente ao espelho a conversa que nunca tivera coragem de começar. Era assim, diariamente, até as 18h, quando Dom chegava do trabalho, cumprimentando-a com o rotineiro “boa noite, amor”. Naquele momento, todas as suas vontades se entalavam no coração que ela era incapaz de dominar. Ao tardar da noite, na cama do noivo, pregava os olhos alimentando uma chama de que amanhã, tudo iria mudar.

Um comentário em “Conto: Hora de dizer adeus

  1. Adorei o esquema com colchetes. Talvez roube para um conto futuro.

    E adorei este final, nega. É bem o que acontece, de fato. Tanto nos homens quanto nas mulheres. Tenho um conhecido que namorou com uma mulher por oito anos, sem coragem para acabar desde os dois anos de relacionamento. Era um caso patológico já: a mulher chupava até dedo na boca…

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