O Último Tiro (Lee Child) – Resenha do livro

O Último Tiro - Lee Child | foto: conversa de meninaUm massacre acontece em uma rua movimentada de Indiana. Seis tiros e cinco mortos. Todas as evidências apontam para o mesmo suspeito: James Barr, veterano da guerra, que alega inocência. As provas são tão consistentes, que nem o advogado de defesa acredita na versão de Barr.

Ele sabe que apenas uma pessoa é capaz de ajudá-lo e faz um pelo para encontrarem Jack Reacher, o herói dos livros de Lee Child. A partir daí, desenrola-se uma história bastante criativa, recheada de muito suspense e aventura, até o enlace interessante.

Confesso que as primeiras páginas do livro, que narram o percurso do assassino até o local de onde vai efetuar os disparos, não me cativou. O trecho tem um ritmo mais lento, diria até monótono. Cheguei a achar que o livro não conseguiria prender minha atenção, contrariando toda a expectativa que tinha a respeito de Lee Child, uma vez que o livro Dinheiro Sujo havia me deixado muito boas impressões (leia resenha de Dinheiro Sujo aqui).

Mas passados estes parágrafos iniciais, a narrativa ganha uma nova cadência, e você não consegue se separar do livro até chegar ao fim.

O Último Tiro (Lee Child) - Resenha do livro | foto: conversa de meninaA linguagem é simples, frases curtas e diretas, sem rodeios, com narrativa em terceira pessoa. O personagem principal, Jack Reacher tem um toque arrogante, mas sem ser repulsivo. Pelo contrário, ele nos conquista. A forma como vai juntando os indícios e desvendando a trama é bem envolvente.

A ação é constante, você consegue reproduzir mentalmente cada cena. Lançado inicialmente como “Um Tiro”, o livro ganhou capa nova e novo título após se transformar em filme. Um ótimo livro para os amantes do estilo.

Ficha Técnica
O Último Tiro (o livro também pode ser encontrado com o título Um Tiro)
Autor: Lee Child
Páginas: 406
Editora: Bertrand Brasil
Média de valor: na internet é possível achar entre R$ 42 e R$ 62, é bom pesquisar antes de comprar.

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Os Gatos de Gorete – Resenha do livro

Os Gatos de Gorete | foto: conversa de menina

Um homem é deixado em um orfanato e adotado por uma mulher. Já adulto e cheio de questionamentos pessoais, decide ir em busca de seu passado. Concursado da Prefeitura, com um trabalho monótono no departamento de achados e perdidos de documentos, Gustavo está insatisfeito com sua vida pessoal e profissional e cheio de dúvidas a respeito de sua verdadeira história. O que teria acontecido a sua mãe e seu irmão?

A inquietude o faz tomar uma importante e drástica decisão: pedir licença de seu estável emprego, comprar uma moto e encarar a estrada rumo ao Uruguai em busca de sua família biológica. A partir de algumas poucas informações conseguidas no orfanato em que foi deixado, já que sua mãe adotiva já é falecida, ele decide deixar a Bahia e refazer todo o percurso que sua mãe teria enfrentado há cerca de 25 anos, para tentar encontrá-la.

A narrativa de os Gatos de Gorete, do promotor baiano Maurício Cerqueira Lima, é praticamente toda na estrada, Gustavo vivenciando uma série de experiência sobre duas rodas, encontrando e desencontrando pessoas, encontrando e desencontrando a si mesmo. os gatos de gorete | foto: conversa de meninaO livro é bem estruturado, com uma linguagem simples de ser compreendida e amarrado o suficiente, para que você consiga terminar a leitura no que chamamos de “uma sentada”. Durante todo o tempo, vamos nos perguntando o que vai acontecer ao final e se Gustavo vai conseguir finalmente se bater de frente com sua história.

O livro promove ainda diversas reflexões sobre assuntos que norteiam o nosso dia a dia, como o tempo, Deus, o autoconhecimento. Em um diálogo bem interessante entre Gustavo e um andarilho, somos convidados a uma “viagem” paralela à do personagem, em que estes temas acabam sendo colocados à prova. O desfecho do livro também é bem interessante. No final de que, em qualquer busca que nos empenhemos a fazer, nós nunca saberemos o que efetivamente vamos encontrar. E o que é a vida, afinal?

Ficha técnica:
Os Gatos de Gorete
Autor: Maurício Cerqueira Lima
Páginas: 146
Editora: Baraúna
Média de valor: R$ 38,00

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Depois do Funeral – Resenha do livro

livro depois do funeral | foto: conversa de meninaA escritora Agatha Christie dispensa comentários e apresentações. É uma das autoras mais publicadas em todo o mundo. No currículo estão 63 livros, 163 contos, sem contar as inúmeras peças, poemas etc. Seus livros trazem narrativas policiais sempre muito bem amarradas e envolventes, cercadas de mirabolantes mistérios, rumos sinuosos e finais surpreendentes. Com a publicação Depois do Funeral não é diferente.

Durante a leitura do testamento do Sr. Richard Abernethie, a irmã do falecido milionário, Cora, deixa todos os familiares presentes atônitos ao levantar a hipótese de que ele teria sido assassinado. Uma semana depois, ela é assassinada em sua casa, de forma bastante violenta. É a gota d´água para que o Sr. Entwhistle, advogado do Sr. Richard, resolva contactar seu velho amigo Hercule Poirot, o famoso investigador belga dos livros da rainha do suspense policial.

A narrativa é envolvente e muito bem destrinchada, cheia de detalhes minuciosos que confundem a cabeça do leitor até seu desfecho. Durante a leitura, todos os personagens se mostram potenciais culpados, o que é marca registrada das histórias da autora. O relato é tão sedutor que torna a leitura ágil e de fácil digestão. Atiça a curiosidade de tal forma, que você simplesmente não consegue parar de ler.

livro depois do funeral | foto: conversa de meninaA construção da ambientação também é maravilhosa. A sensação é de estar ali, na antiga Inglaterra, com todo seu charme histórico. Os personagens são deliciosamente bem caracterizados, cheios de particularidades, pormenores. E neste livro, eles são muitos! Por isso é fundamental ficar atento a quem é quem, o que vai permitir a fluidez da leitura.

É um livro curto, ótimo para quem está em busca de um romance policial sedutor. E para quem nunca leu Agatha Christie, mas é fã do gênero literário, se prepare. Este será o primeiro, mas certamente não o último de sua coleção!

Ficha técnica:
Depois do Funeral
Autor: Agatha Christie
Páginas: 282
Editora: L&PM Pocket
Média de valor: R$ 17,00

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Resenha do livro Curimatê – Um Ensaio Sobre a Tolerância

Curimatê - Um ensaio sobre a tolerância | foto: conversa de meninaA tolerância é uma questão de debate ético que ganha destaque na modernidade. Não cansamos de assistir frente às nossas TVs às demonstrações grosseiras e reticentes de intolerância. Andamos inflexíveis e intransigentes. Não aceitamos as diferenças e não nos esforçamos para enfrentá-las com compreensão e respeito. E é sobre este tema que versa o livro “Curimatê – Um ensaio sobre a tolerância”, do promotor público baiano, Maurício Cerqueira Lima.

Ambientada em meados do século XVI, onde hoje está localizado o Chile e a Argentina, a ficção é inspirada na história da tribo Mapuche, submetida à escravidão pelos colonizadores.  O índio da tribo que dá nome à publicação, Curimatê, é capturado pelos colonizadores, aprende suas técnicas de combate e após conseguir fugir torna-se líder de sua tribo no embate contra os invasores. Uma série de situações vão se desenrolando ao longo da leitura, promovendo no leitor um intenso processo de reflexão a respeito de como andamos lidando com o outro e suas diferenças.

A história, com um ritmo de narrativa bastante envolvente, traz à tona uma série de questionamentos a respeito de como nos posicionamos frente ao diferente. O tempo inteiro é possível fazermos referência ao que temos vivenciado no dia a dia, seja no campo da religião, partidarismo, gêneros e raças. E isso só para exemplificar. Estamos deixando-nos dominar pelo individualismo exacerbado, pela falta de compaixão. Triste realidade.

curimatê - um ensaio sobre a tolerânciaVale a pena dar uma lida no livro e repensar a forma como estamos nos colocando diante do mundo, da natureza, do outro. O tema é muito bem explorado no livro, de uma maneira bastante incisiva e clara. É óbvio que é possível fazer diferente, é óbvio que há outro caminho. Uma leitura gostosa e reflexiva que nos dá a certeza de que é sempre tempo para mudar. 

FICHA TÉCNICA
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Curimatê – Um ensaio sobre a tolerância
Autor : Maurício Cerqueira Lima
Editora: Baraúna
Páginas: 180

Para comprar, clique aqui.

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Resenha: Dinheiro Sujo (Lee Child)

1Hoje nós vamos passear pela literatura, vou contar a vocês minhas impressões sobre Dinheiro Sujo, de Lee Child. O livro apresenta uma trama recheada de romance, aventura, falsificação de dinheiro e mortes mirabolantes. O personagem principal, Jack Reacher, é um ex-policial militar que vai parar na pequena cidade de Margrave e acaba preso, acusado por um crime. A partir daí, um thriler bem interessante se desenvolve, com uma história bem amarrada e, embora previsível em algumas passagens, consegue prender a atenção do leitor.

Li muitos comentários sobre o livro, todos muito elogiosos. Realmente, a narrativa do autor é bem bacana. A história também tem um cunho informativo que atiça a curiosidade sobre os processos de falsificação de dinheiro. No entanto, achei o livro por demais longo. Em algumas passagens, me senti sendo enrolada, entendem? Do tipo: “vamos aumentar o texto”. Para mim, o livro se resolveria em pouco mais que a metade das páginas.

Algumas de vocês dirão que devo ser excessivamente objetiva ou tenho preguiça de ler. Nenhuma das duas alternativas. Adoro ler, já li livros enormes. Mas acho que o tamanho, por si só, não diz muita coisa, nem significa que porque é longo, é bom. Cada história tem seu tamanho necessário de ser contada e, neste ponto, achei Dinheiro Sujo com páginas que sobram, poderiam ser facilmente extirpadas.

Mas nada que desbote o prazer de ler a história. Super indico, meninas, para quem está a fim de se divertir em uma aventura.

Ficha técnica:
Dinheiro Sujo
Autor: Lee Child
Páginas: 472
Editora: Bertrand Brasil
Média de valor: R$ 40,00

 

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Série Miniensaios de Filosofia: Amor, Existência e Morte; Desejo, Vontade e Racionalidade; Ética, Medo e Esperança

Série Miniensaios de Filosofia: Amor, Existência e Morte; Desejo, Vontade e Racionalidade; Ética, Medo e EsperançaA filosofia é a arte do conhecimento, por meio do estudo dos temas relacionados à existência humana. No fundo, no fundo, todos nós temos um pouco de filósofos, buscamos entender os problemas fundamentais da vida e criamos nossos próprios conceitos e soluções para o que vivemos. Para despertar o desejo de promover estas reflexões, a Editora Vozes lançou no mercado a série Miniensaios de Filosofia. São três livretos, estilo pocket, super prático para carregar na bolsa: Amor, Existência e Morte; Desejo, Vontade e Racionalidade; Ética, Medo e Esperança.

Recebi os três livros da editora e aproveitei o final de semana para lê-los e contar para vocês. A proposta dos livros é trazer pílulas filosóficas sobre os temas indicados nos títulos. Cada livreto traz 33 ensaios, bem curtinhos, com no máximo 1400 letras cada ensaio, em formato de reflexão e com texto literário, para despertar a curiosidade do leitor e estimulá-lo a pensar sobre os assuntos e, quem sabe, se interessar pela filosofia.

A linguagem dos textos é super simples e cotidiana. Cada ensaio traz um direcionamento do tema proposto. Claro que ali não há verdades absolutas, mas apenas divagações, propostas de reflexão. Tampouco o tema se esgota em cada ensaio, porque para a filosofia não há quantidade de caracteres ou linhas, há infinitas possibilidades. A partir da leitura, o próprio leitor vai construindo sua releitura, concordando ou discordando, se permitindo filosofar junto, questionar, dar um novo significado e criar seu próprio conceito.

Uma coisa bacana é que como são ensaios, você não precisa seguir a ordem de leitura normal de um livro. É possível pular, adiantar, voltar, sem que isso comprometa a leitura. O próprio livro traz indicações de ensaios correlatos, possibilitando que o leitor faça a sua ordem de leitura, por meio da conexão dos temas. O que poso dizer é que esta seria uma introdução à filosofia, uma maneira de o leitor se familiarizar com os temas e a possibilidade de desenvolver o gosto pela matéria, para pular para os autores clássicos. A leitura é bem gostosa, de fácil assimilação e realmente é um pontapé para nos fazer refletir sobre uma série de questões que permeiam o nosso dia a dia.

Ficha técnica
Miniensaios de Filosofia
Autores: Flávio Tonnetti e Arthur Meucci
Editora: Vozes
Páginas: 80 por edição
Preço: R$ 9,50 (cada)

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Médica conta como é chegar aos 40 no livro Memórias de uma Envelhescente

Memórias de uma EnvelhescenteCada ser humano lida com a idade de uma maneira diferente. Há quem não se importe com o passar dos anos, há quem sinta aflição ao pensar na velhice e há quem aprecie a beleza das rugas e pés de galinha no rosto.

Mas o fato é que todos nós envelhecemos um pouco diariamente e temos de lidar – querendo ou não – com as dores e amores que chegam junto com a velhice. O auge da maturidade vem carregado de muita sabedoria, mas algumas vezes também traz consigo limitações físicas e até intelectuais.

No livro “Memórias de uma Envelhescente”, a médica Judith Nogueira narra a sua experiência ao chegar aos 40 anos, etapa da vida que traz marcas bem expressivas, como a saliência das rugas e a maturidade. O texto traz reflexões sobre o assunto e relatos autobiográficos e conta como a autora lidou com essa fase de transição na vida da mulher, tanto psicologicamente como fisicamente.

Claro que não é nenhum manual de como lidar com a chegada aos 40 anos, mas uma leitura com uma linguagem simples de alguém que chegou lá e da forma como administrou as dúvidas e questionamentos inerentes à idade.

Ficha técnica:
Memórias de uma Envelhescente
Autora: Judith Nogueira
Páginas: 144
Editora Regência
Preço: R$ 24,90

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Apontamentos sobre o livro Antígona

Honra, lealdade, justiça. Sentimentos nobres. E tenho visto o quão carente está nossa sociedade de atitudes pautadas nestas curtas, porém significativas palavras. Antígona fez aflorar em mim questionamentos sobre a importância de cultivarmos estas sementinhas. O livro, resultado de uma peça escrita por Sófocles, traz a luta de Antígona para dar ao irmão Polinice um sepultamento digno, depois que o rei Creonte -seu tio- proclamou pela cidade a ordem de deixá-lo insepulto, sem homenagens fúnebres, por tê-lo considerado um traidor.

Revoltada com a decisão do rei e disposta a cumprir o que considerava um dever – o de permitir que seu irmão fosse enterrado -, ela tenta ganhar o apoio da irmã, Ismênia. Submissa às leis da terra, no entanto, Ismênia aceita o destino imposto ao irmão, por medo das conseqüências da decisão de desobedecer às ordens superiores. Ela viu os pais morrer, um irmão matar o outro pelo trono do pai e, naquele momento, temia a terrível morte que caberia às duas se contrariassem a vontade do rei. Mas Antígona decide, mesmo sozinha, levar adiante seu plano, e o livro narra a sua saga.

A peça foi encenada pela primeira vez em 441 a.C. E é fácil identificar o contexto histórico inserido naquelas passagens. Grécia, período em que nasciam as cidades (pólis), os indivíduos começam a exigir seus direitos. O livro fala em exercício de cidadania, em democracia, em direitos, em luta pelo que é justo (não no sentido jurídico reducionista do termo), em enfrentar, na importância da luta, de não se deixar curvar diante das aberrações, de se permitir contrariar, desafiar, de ser leal a princípios e de morrer por um ideal que vale a pena.

Antígona fala do hoje, fala de valores que se dissiparam em nossa sociedade. Embora escrito há séculos, traz princípios que deveriam nortear nossas condutas a todo o tempo. Mas que acabamos deixando de lado por razões infinitas. Os diálogos narrados na peça me fizeram repensar nossos papéis de juízes. Em quantas vezes vestimos nossas togas e disparamos sentenças para todos os lados. Pra mim, ali está um material farto sobre sociologia jurídica. Um texto curto, fácil de ler, e que pode suscitar debates sobre a dicotomia jurídica do “ser” e do “dever ser”.

>> Baixe a íntegra do livro, em pdf.

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Conto: Hora de dizer adeus

-Eu quero o divórcio, Dom!

-Hã??! Do que você está falando, Raquel?

-Divórcio, separação, fim… Acabou, Dom! Não dá mais para ficarmos juntos.

-Como assim??? Do nada??? Está tudo bem, e de repente você toma essa decisão assim??? Sozinha???

-Eu não tomei essa decisão sozinha, Dom. Você me ajudou, e ajudou muito!

-Eu te ajudei??? Você está ficando louca????Do que é que você está falando??

-De tudo aquilo que você não quis ouvir durante nossa relação. Tudo o que você achou que era bobagem e decidiu deixar pra lá…

-Deixe de loucura, Raquel! Eu sempre te ouvi, ouvi todas as suas queixas, todas as reclamações…

-Ouviu… E não fez nada para mudar, pelo jeito, só ouviu mesmo. Que inútil esse seu modo de “ouvir”.

[Dom se jogou no sofá, colocou os cotovelos sobre as coxas e enterrou o rosto nas mãos. Respirou fundo por alguns segundos e levantou a cabeça. Ao tentar argumentar, foi interrompido por Raquel]

-Pois é, Dom, a decisão está tomada. Obrigada por torná-la mais fácil nestes últimos meses. Não adianta gastar palavras em vão. Guarde-as para o dia em que elas forem realmente necessárias.

[A pequena mala com os objetos pessoais já estava pronta. Em um rompante, ela jogou a sacola nas costas e saiu da casa de Dom sem olhar para trás]

Nos últimos três meses, Raquel ensaiava em frente ao espelho a conversa que nunca tivera coragem de começar. Era assim, diariamente, até as 18h, quando Dom chegava do trabalho, cumprimentando-a com o rotineiro “boa noite, amor”. Naquele momento, todas as suas vontades se entalavam no coração que ela era incapaz de dominar. Ao tardar da noite, na cama do noivo, pregava os olhos alimentando uma chama de que amanhã, tudo iria mudar.

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Conto: Medo da chuva

Os trovões e raios assustavam. Quando a chuva jorrava sua ira sobre o telhado de casa, Julia corria para montar a sua cabana. O destino era a cama da mãe. Embaixo do braço, uma colcha bem grande e quentinha. Em seguida, voltava ao seu quarto para carregar todos os seus bichinhos de pelúcia para lá. Ali, passava horas do dia, até que as chuvas decidissem dar trégua.

Julia acreditava que seus bichinhos tinham alma, tinham vida. Assim como ela, ficavam assustados e com medo do barulho alto e do clarão que desciam do céu. Sob a coberta, conversa com seus amiguinhos. Não era hora de brincar, mas de bater papo de gente grande.

Ela, a mais velha da trupe, se esforçava para manter os bichinhos calmos, convencê-los de que nada aconteceria a eles, era só mais um dia de chuva forte, ia passar a qualquer momento e novamente o sol limparia o céu e voltaria a sorrir lá de cima.

Ali ela ficava o tempo que fosse necessário, até acreditar que eles estavam mais tranquilos e felizes. Ali, junto com eles, protegida por uma redoma que só uma criança seria capaz de compreender.

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