Conto: Superação

Lágrimas que correm pelo rosto descontroladas, pensamentos desordenados em busca de um porquê, uma justificativa. O sentimento de culpa é cruel, avassalador, corrói as ideias na velocidade da luz. A culpa é minha! Eu fiz tudo errado! Mas o que mesmo eu fiz de errado? As respostas se embaralham, brincam de esconde-esconde. O desespero vai aumentando em progressão geométrica. Saio pelas ruas, sem rumo, perdida em mim mesma, tentando encontrar-me em alguma esquina, querendo entender o que não é para ser. Uma angústia exacerbada vai tomando conta de mim.

Sempre soube que doía, mas nunca imaginei que tanta dor, sofrimento e decepção podiam habitar um coração concomitantemente por tanto tempo. As lembranças atormentam dia e noite. De repente, parece que nada foi ruim, só consigo recordar os bons momentos. Mas a gente estava brigando tanto… Onde foram se abrigar ESTAS memórias, logo agora que dependo delas para sobreviver? Dói mais um pouco, o frio na barriga se intensifica, mais lágrimas fogem dos meus olhos, autônomas, independentes. Silenciosa, rezo apenas pela chegada do amanhã, imploro. Ele chega, mas ainda dói.

Não consigo me concentrar nas tarefas do dia. Sinto vergonha de pedir a Deus para esquecê-lo, depois de insistentemente pedir para que ele um dia fosse meu. Sinto tanta coisa agora, tanta, uma mistura de sentimentos e sensações… Uma semana se passou, e ainda dói. Um turbilhão de pensamentos povoam minha cabeça, tudo junto ao mesmo tempo. Como as músicas são estúpidas, letras estúpidas. Elas arrancam mais lágrimas de mim. Desligo o som. Sento, levanto, deito, ligo a TV, choro. Amanhã chega, e depois de amanhã, e depois. Um mês…

As músicas estão menos estúpidas. O sono já consegue me ninar, durmo. Já lembro das nossas discussões e de seus adjetivos mais marcantes. Egoísta. Individualista. Orgulhoso. Lembro do conselho da terapeuta, e pela primeira vez, volto a sorrir. “Você não precisa querer chegar logo ao topo. Só precisa subir o primeiro degrau”. Ela tem razão.

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