O medo de ficar só é como uma sombra, mas daquelas que atormentam seus autores. Comumente é citado nas pesquisas que procuram identificar os grandes pavores da humanidade. Uma experiência empírica bem simplória nos mostra o tamanho do temor que a solidão provoca nas pessoas. É só acessar a página do google e digitar no campo de busca qualquer expressão referente ao assunto. Um catatau de resultados vai aparecer em sua frente. São desabafos em blogs pessoais, pesquisas científicas, estudos e mais estudos sobre o tema. Uma conversa entre amigos pode também trazer à tona algumas afirmações surpreendentes.
O medo da solidão pode ser cruel, a ponto de fazer um indivíduo se manter resistente em uma relação que visivelmente não mais rende bons frutos. Presenciamos situações destas em nosso cotidiano, já ouvimos falar sobre isso em conversas, desabafos. Talvez em um bate-papo alheio, até. É difícil enxergar isso, eu sei, perceber que determinada insistência é apenas resultado do medo de ficar só, do medo da “solteirice”. Outra palavra que ganhou um tom bem pejorativo nos últimos tempos, o termo “solteiro”. Terminar uma relação virou sinônimo de incapacidade de gestão, no contexto deste mundo capitalista e globalizado em que vivemos.
É a tal da famosa “incompatibilidade de gênios”. Expressão bonitinha esta que inventaram. Se tivesse a oportunidade de conhecer o autor da tal expressão iria parabenizá-lo com certeza, por escancarar, com uma sutileza gramatical sui generis, que o casal chegou ao limite, que as brigas estão insuportáveis e que os dois não toleram mais estar junto. E as crises se transformam, docemente, em uma incompatibilidade. Mas, ainda que de forma delicada, melhor admitir as divergências, e cada um seguir seu caminho, do que sustentar uma situação que não faz mais o casal feliz na essência.
Aprendi com o passar do tempo a não rotular de fracassos as relações que não deram certo. Ninguém fracassa em uma relação, apenas não se sujeita mais, apenas deixa de achar que vale a pena estar com outro, deixa de querer. Eu sou uma defensora ferrenha da tolerância e da paciência dentro do relacionamento – embora nem sempre tenha me comportado assim nas minhas relações. Certa vez escrevi aqui um texto entitulado “Como é que o amor chega ao fim?“, sobre os “the end” da vida. Se vocês tiverem a curiosidade de lê-lo perceberão que eu acredito que uma relação pode dar certo e na felicidade a dois. No entanto, não podemos ignorar que há relações que realmente ninguém merece ter. E é a respeito delas que estou falando agora.
Sinto que as pessoas precisam aprender a conviver consigo mesmas, precisam se amar solitariamente. Alguns passam a solteirice em busca de alguém, esquecem que é um momento de aproveitar a fase para se dedicar mais ao que gosta, a si próprio. Hora de colocar os sonhos e projetos em dia, ajustar as rotinas, aproveitar os amigos, conhecer o mundo sem precisar administrar agendas ou dar satisfações. Sem se preocupar se alguém vai se incomodar com suas decisões, sem ter que tomar decisões a duas cabeças. Não é que estar solteiro é melhor. Para mim, não existe o “é melhor”. Estar com alguém ou estar só tem seus pontos positivos e negativos. O que importa não é um nem o outro. O que realmente importa é estar feliz, solteiro ou acompanhado.
Penso que esse medo da solidão está intimamente ligado ao não conhecer as inúmeras possibilidades que o estar só também nos oportuniza. Precisamos encontrar estas novas formas de convivência e de vivência, nos redescobrir após o fim de uma relação e continuar a caminhar com passos novos. Como diz Fernando Pessoa, “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares”. Somos nós que alimentamos esse medo, de alguma forma, intimamente. E só nós podemos nos livrar dele também, buscando as surpresas que a vida nos guarda. Até que, um dia, vai aparecer alguém. Ou então, não aparecerá ninguém. Não dá para abrir mão de ser feliz por causa disso.
Adorei o que você escreveu. Me lembrei muito de uma música de Vanessa da Mata chamada “Onde ir”. Ela canta assim: “De que adianta a espera de alguém? O mundo todo reside, dentro em mim. Cada um pode com a força que tem, na beleza e na doçura de ser feliz”.
Parabéns pelo blog! Os posts sobre relacionamentos e as reflexões sobre a vida são os meus favoritos.
Obrigada Eduarda. Boa lembrança, a música de Vanessa. É esse o sentido mesmo, somos nós que precisamos assumir as rédeas da nossa vida. Beijão!
Belo texto amiga! Arrasou!! 🙂
Adorei o texto!! Adorei o blog!!
^^
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Um abraço.
Olá Kerem,
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