Há alguns dias assisti à matéria veiculada no Repórter Record, sobre prisões de crianças pelo mundo. É revoltante. É revoltante a forma como o poder público lida com nossas crianças. São tratadas como animais, são treinadas para tornarem-se verdadeiros monstros sociais. A prisão de menor é proibida por lei. Mas, mandados para reformatórios, acabam em prisões tão cruéis quanto aquelas para as quais são encaminhados adultos criminosos.
Será que ninguém enxerga isso? É mesmo mais fácil tapar os olhos, ignorar o que acontece à nossa volta. Mas, esquecem-se nossos governantes, que ali está o futuro. Que aquelas crianças serão resultado do que estamos fazendo com elas hoje. A vulnerabilidade dos pequenos é protegida por lei. O Estatuto da Criança e do Adolescente reconhece esta vulnerabilidade. O problema é que as leis acabam transformando-se em verdadeiras piadas.
Ontem, em uma propaganda na televisão, li uma frase interessante. Dizia que em um mundo de honestos a lei é desnecessária, e em um mundo de corruptos a lei é inútil. Isso reflete bem a nossa sociedade. Tenho me indignado muito nos últimos tempos. É revoltante assistir aos casos de violência contra a mulher, contra a criança, contra o idoso. É revoltante como são tratadas estas pessoas. São seres humanos, mas cadê o respeito?
Na reportagem de televisão que deu início a este post, as crianças são autoras de crimes. Mundo afora, elas roubaram para arranjar comida para a irmã pequena faminta e o avô que, doente, não pode trabalhar. Elas fumaram craque, injetaram heroína, cheiraram cocaína. Largadas nas ruas, se abraçaram no vício das drogas e foram presas porque entraram nesse mundo. Mas quem é mesmo o grande responsável por esses crimes?
Assista ao programa do Repórter Record exibido em 21/06
Eu não consigo conceber que uma criança tenha discernimento e noção das consequências de suas atitudes. Não aceito a ideia de que são elas responsáveis pelos próprios atos. Essa vulnerabilidade é ainda maior nos países subdesenvolvidos, claro. Não há educação, e cidadania e direitos humanos são palavras que só existem no dicionário. Elas convivem com a falta de perspectivas, sem expectativas. Esperança? De quê?
Os adultos são reflexo da criação que tiveram quando crianças, são resultado do ambiente em que cresceram. Qualquer preocupação com o futuro precisa perpassar pelo cuidado com o desenvolvimento das nossas crianças. Elas serão as cabeças pensantes do amanhã. Serão elas as responsáveis pelo mundo que é jogado em suas costas. Mas se este mundo as trata com desprezo, com indiferença, o que esperar delas? E, mais uma vez, de quem é a culpa?
Fico me perguntando o que pensar do futuro de uma nação na qual 90% das crianças de zero a três anos não frequentam creches. Ou em que 932 municípios foram identificados como áreas de exploração sexual de crianças. E ainda 1,9 milhão de crianças e adolescentes na faixa de 5 a 14 anos sofrem exploração de trabalho infantil. Isso é o Brasil, minha gente.
Em 2006, 60 mil adolescentes cumpriam medidas sócio-educativas. Já nos Estados Unidos, eram 2387 crianças em prisão perpétua em 2007. Um dos maiores centros de detenção de menores na terra do tio Sam, a prisão de Tallulah, tem 33 edifícios e abrigava entre suas paredes 620 rapazes entre os 11 e os 20 anos. Vocês acham, de coração, que estas medidas resolverão? Como será o futuro destas crianças, você consegue imaginar?
Lugar de criança é na escola. Se quer ressocializar, dê educação, faça aquela criança acreditar que há possibilidades, que há esperança. Eduque, profissionalize, socialize, trate-a como criança. Não dá para imaginar um mundo melhor vendo nossas crianças serem destratadas, ignoradas, violentadas física e moralmente. Os centros que acolhem estas crianças que cometem infrações deveriam ter o condão de educar.
Do jeito que está não dá pra ter esperança de um mundo melhor. Esse post é pra abrir a discussão, é para fazer-nos refletir. Eles cometem crimes, estão nas ruas, entregam-se às drogas. Mas de quem é a responsabilidade? De quem é a culpa? Será que estas crianças têm autonomia? São capazes de gerir suas próprias vidas? Nós, adultos, caímos diante de tantas dificuldades, como exigir que estas crianças mantenham-se de pé?
Vamos parar pra pensar, gente. Diminuir a maioridade penal não vai resolver. Se é a educação que tranforma, como vamos alimentar a vontade de trancafiar nossas crianças entre as grades de uma prisão? Estes pequenos precisam da gente. Vamos pensar sobre isso, vamos brigar por um tratamento mais digno à nossas crianças. Elas são apenas crianças.
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Informe-se sobre o assunto:
>> Vulnerabilidades e fatores de risco na vida de crianças e adolescentes
>> Crianças e adolescentes no Brasil: a busca pela visibilidade
>> Não bata. Eduque. Campanha contra os castigos físicos e humilhantes
>> Dicas para ajudar na educação das crianças
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Olá.
Hoje vim aqui parar por acaso, já nem me lembro como; fiquei impressionada com o seu post. Sou portuguesa, nao vivo a realidade do Brasil. Por isso mesmo, nunca comento nada sobre a vossa realidade social, sobretudo sobre este tema. Mas o que aqui escreve é o que penso; ninguem nasce infractoir; o resultado das açoes da maioria destes jovens (senao todos) devem-se a condiçoes sociais moseraveis, indignas de qualquer estado social. Se o Estado -. que é constituido por todos nós, cidadaos – CUIDASSE das suas crianças, a sociedade nao estaria como está. Os centros de detençao juvenis deveriam EDUCAR, preparar para a vida. Com educaçao, firmeza e carinho. Deveria haver follow-up;.a eles e âs suas familias. Devia haver politica de prevençao. Nao entendo como um jovem, quantas vezes ainda crianças, sao presas nesses centros, sem apoio para a recuperaçao de drogas, sem apoio escolar, sem apoo seja ele qual for. Nao admira que depois reincidam, como o exemplo desse menino que saiu. As condiçoes em que a familia vive, sao indignas. Que oportunidades tinha ele, depois de sair, de estudar, de se fazer homem? É impossivel.
Força no seu trabalho.naquilo que acredita. Eu acredito tambem, partilho da sua visao.