Cronicamente (In)viável: “Meu corpo me pertence. Tire suas mãos de mim”

O corpo feminino ainda é tratado como objeto coletivo

Meu corpo me pertence. Só eu posso autorizar que toquem nele. A frase parece óbvia, mas precisa ser repetida como um mantra. Para que nunca mais nos esqueçamos que quem manda nas nossas vontades somos nós. Para nunca mais termos receio de ser quem somos. Para não cairmos no conto do “é só uma brincadeira”. Porque não é brincadeira. É violência! Para nunca mais sentirmos aquele medo ou a vergonha que nos silencia.

O mantra vale para todo mundo, porque todas as pessoas, independente do gênero, da orientação sexual, do comprimento da roupa, da cor da pele ou do tamanho da conta bancária, têm direito à privacidade e ao respeito. Só que, na maioria esmagadora das situações, são os corpos femininos que são tratados como propriedade coletiva, como coisa pública, objeto sem valor. Então, é fundamental que as mulheres fortaleçam a certeza de que não são culpadas, não são responsáveis pelo descontrole, pela falta de caráter, pelo machismo alheio.

Também na maioria das vezes, a invasão do corpo feminino acontece com os homens avançando o sinal sem permissão para apalpar, violando direitos básicos. Então, vale sugerir que eles pratiquem outra frase: “não devo tocar o corpo de nenhuma mulher sem consentimento”. Talvez, se os homens repetirem à exaustão, absorvam de forma orgânica e consciente a certeza de que todas as mulheres têm direito ao respeito.

Vale também eles praticarem outras verdades, aqui listo algumas sugestões:

“Não sou o dono do corpo e nem da vontade de nenhuma mulher.”

“Nenhuma mulher é obrigada a transar comigo”.

“Nenhuma mulher é obrigada a corresponder meus sentimentos por ela”.

“As mulheres são tão livres quanto eu para escolherem ser e fazer o que quiserem”.

Objetificar é tirar das mulheres as decisões sobre o próprio corpo

Maldição antiga sobre o corpo feminino

A ideia de que os corpos femininos são propriedade masculina é antiga. Vem das origens do patriarcado, quando os homens perceberam que não bastava apenas ter poder sobre a terra, era preciso controlar também a descendência. Vem da ideia equivocada de que o corpo das mulheres é o depósito da semente masculina, que ela nada mais é do que um vaso, sem vontade própria, um ventre oco, que quando semeado, gera um herdeiro, o filho do homem. Assim, mulheres passaram séculos sendo vistas como propriedade, tal qual o gado, o arado, o celereiro de grãos. Só mais um dos itens listados no feudo como pertencentes ao ‘grande senhor’.

Romper com séculos desse equívoco, incentivado inclusive por muitas religiões, é bem difícil, ninguém nega isso. Mas, convenhamos, estamos no século XXI e não no XII. Já passou da hora dos homens admitirem a culpa de perpetuarem o machismo, que nada mais é do que um exercício sórdido de poder. A conversa de que o problema está na ‘educação que eu recebi’ já não convence diante de tantos avanços atuais. Diante da possibilidade real que todas as pessoas têm hoje, graças ao acesso ilimitado a informação, de desconstruir seus preconceitos.

Apenas melhorem, rapazes, parem de inverter a equação. E, uma vez confrontados com seus erros, parem de se colocar na defensiva e culpar seus bisavôs pelos discursos e atitudes que vocês reproduzem por conveniência e por apego aos privilégios.

Ao abusarem dos nossos corpos, a intenção também é quebrar nossos espíritos

O xis da questão

É importante parar de apontar o dedo para as mulheres que reproduzem o discurso machista. Toda mulher é vítima do machismo, mesmo quando ela dissemina mensagens e comportamentos machistas. O que acontece é que toda vez que homens são confrontados com seus erros e a forma perversa e assassina de tratar o feminino, aparece alguém para bradar: ‘mas também existe mulher machista’.

Não existe! Existem é mulheres que não conseguem enxergar a própria opressão. Ou, mesmo quando a enxergam, agem como carcereiras de outras mulheres, repassam a opressão sofrida para as irmãs. E não adianta xingar essas mulheres, é preciso dar a elas os mecanismos que tornem possível que enxerguem com clareza. É um processo de aprendizado e de descoberta.

Esse processo de educação feminina, que para umas acontece mais rápido e para outras mais devagar, não diminui em nada a responsabilidade e a culpa dos homens. Vamos olhar para o lugar certo. Ao invés de tentar encontrar justificativas para culpabilizar as vítimas pelos abusos que elas sofrem; ou de culpar outras mulheres pela manutenção do machismo, vamos olhar para o machismo que mata milhares de nós diariamente no mundo.

Vamos apontar nossos dedos para a direção certa: machismo é criação de homens. É abuso de poder de homens para com mulheres. É majoritariamente violência física, moral e psicológica de homens contra mulheres. É culturalmente disseminado, em primeiro lugar, entre os homens, de pai para filho. Para que não percam o poder absoluto que alguns tem a cara de pau de atribuir à vontade divina! Mesmo quando as mães colaboram, ao educar filhos e filhas de forma diferente, ajudando a manter a crença de que meninas nunca podem e meninos podem tudo, essa mãe não é a inventora e nem o sujeito ativo principal da estrutura machista da sociedade.

Autonomia sobre o próprio corpo não é uma concessão, mas nosso direito

Canalhas não passarão

Nem todo homem comete abuso, mata ou é do tipo machista mais torpe. Mas, ainda assim, os machistas light se beneficiam da estrutura desigual da nossa sociedade. O fato de serem homens, num mundo governado e pensado de e para homens, lhes confere privilégios. Felizmente, existem cada vez mais deles dispostos a exercitar a empatia, a ajudar no combate ao machismo, que como já foi dito muitas vezes, também os oprime.

Mesmo aqueles que inicialmente tentavam colocar-se como protagonistas da luta feminina por igualdade de direitos, falando em nome das mulheres, estão aos poucos entendendo que a participação mais importante deles é na educação dos seus pares. Homens podem ajudar a educar outros caras que ainda desrespeitam e abusam das minas.

Aos canalhas, aos abusivos, aos assassinos, cada vez mais eles perceberão que seu reinado acabou e o que existe agora são os estertores de quem já entendeu que o jogo virou. As mudanças sociais que vêm ocorrendo velozmente em todo o mundo, não têm mais volta. Nenhuma mulher vai voltar ao estágio de submissão, de medo e de vergonha. E juntas, cada vez mais, umas tirarão os grilhões das outras. As reações femininas para cada abuso masculino vão ser em tamanho e força igual à injúria sofrida, porque se tem um outro conceito que muitas de nós já absorveu como uma segunda camada super-protetora de nossos corpos violados, é o de que juntas somos sim muito mais fortes!

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Que 2011 seja melhor do que esse que passou…

*Texto da jornalista Giovanna Castro

É triste constatar, mas o ano de 2010 foi marcado pela violência. Do começo ao fim, foram 12 meses de crimes bárbaros, mortes no trânsito, assassinatos, assaltos a ônibus e chacinas. Este ano, nem mesmo o futebol contribuiu para desviar a atenção das pessoas do medo de andar nas ruas e se deparar com marginais. A Copa do Mundo da África, primeira no continente negro, decepcionou com a Seleção Brasileira saindo pela porta dos fundos. O time do Vitória frustrou a torcida ao cair para a segunda divisão do campeonato brasileiro contra todos os prognósticos e estatísticas. Feliz mesmo, só a torcida do Bahia, que deixou para trás 7 anos de azar pra ser alçada à elite do futebol nacional. Bom, ainda assim, 2X1 para a tristeza, isso no futebol, porque na vida cotidiana, a população baiana perdeu de goleada.

A cidade sofreu, como sofre todos os anos, com as chuvas que voltaram a deixar muita gente morta e muitos vivos desatinados com a inoperância do poder público que, mais uma vez, não se programou, não planejou, não fez obras que há muito são necessárias e não deu o devido suporte para quem ficou sem ter onde morar e perdeu parentes para o aguaceiro (veja fotos do período). Mas, talvez, o fato mais marcante do ano, diante do seu ineditismo, tenha sido mesmo o imbróglio das barracas de praia. Por força de determinação da justiça, os barraqueiros foram obrigados a sair de área de marinha delimitada, o que é proibido por lei, e acabou por deixar muitos trabalhadores desempregados, mais de três mil pessoas, pra ser mais exata. Os donos das barracas grandes e melhor estruturadas também tiveram seus equipamentos demolidos mas não contam tanto, pois muitos deles já se reergueram em outros negócios ou mudaram de ramo (veja fotos da derrubada das barracas).

Sobrou mas uma vez para a população que, acostumada com a cultura da barraca de praia e do atendimento à beira do mar – ainda que um serviço sofrivelmente ineficiente e pouco higiênico, em sua maioria – dividiu-se entre os favoráveis e contrários à extinção das barracas. Quem não tinha alternativa e não quis perder o lazer das praias, recorreu à saída de improvisar a velha “farofa” e levar para não passar fome durante a diversão. Fato é que a situação não foi resolvida e os quilômetros de orla mostram-se à deriva e à espera de alguma alternativa do poder público que possa contemplar, a um só tempo, o hábito cultural do baiano sem desrespeitar determinações legais. Mas isso é assunto que ainda vai render muito em 2011.

Outro processo marcante em 2010 foram as eleições majoritárias, em que pela primeira vez, uma mulher foi eleita presidente da República no Brasil. Com a candidatura turbinada pelo carisma e poder de transferência de votos do presidente Lula, Dilma Roussef conseguiu vencer uma disputa marcada pela baixaria e invencionices em um pleito em que propostas foram deixadas de lado para favorecer uma troca de acusações que lembrou a fatídica eleição presidencial de 1989, em que Lula foi derrotado pelo surgimento de uma filha fora do casamento. Episódio altamente explorado por parte da mídia, assim como o episódio da bolinha de papel também foi este ano, mas com resultados diferentes. Naquele momento, Lula não conseguiu se reeleger. Este ano, Dilma por pouco não sofreu um inesperado revés.

2011 começa com uma mulher no mais importante cargo da República já com uma série de desafios a enfrentar

No cenário local, poucas mudanças, com a reeleição de Jaques Wagner e a promessa de realizar ações que não foram cumpridas ao longo do primeiro mandato, como atitudes concretas contra a degradação da segurança pública na Bahia, que passou a ser palco de acontecimentos antes só vistos em cidades historicamente violentas, como a decapitação com requintes de tortura de duas adolescentes por traficantes em um caso ainda envolto em mistério. Em outro episódio forte que chocou os soteropolitanos foi a morte do menino Joel, um garoto de 10 anos, que se preparava para dormir dentro de casa, dentro do seu quarto, quando foi atingido mortalmente por duas balas disparadas por policiais que agiam no bairro de Nordeste de Amaralina. Espero que este caso não caia na vala comum daquele velho ditado citado por nossas avós “Quem morreu, é que perdeu a vida” e que a justiça seja feita para que casos assim não se repitam, ceifando vidas de inocentes. Acompanhe o vídeo da Bahiatursa em que Joel aparece contando seu sonho de ser mestre de capoeira.

Mas não foi somente de violência que Salvador se ressentiu durante este ano de 2010. A cidade sofreu com lixo, com buracos, com falta de estrutura, com o famigerado transporte público e com o mais que prometido, nunca chegado, e sempre frustrante metrô da capital. O menor metrô do mundo, foi prometido, começaria a operar este ano, mas novamente não foi desta vez que a montanha de dinheiro investida no sistema começou a dar retorno para a população em forma de um serviço que nos faz falta: limpo, eficiente, rápido, pontual e com preço justo. Mas, em vez disso, as luzes do ano são fechadas com a notícia de mais um aumento na tarifa do nosso péssimo transporte coletivo que agora vai passar a custar R$2,50, uma das mais caras do país, se não a mais cara, se formos levar em conta a questão custo-benefício.

Marcante também foi a implosão da Fonte Nova, um equipamento da cidade que fez parte de muitas vidas, seja de torcedores ou não, seja de amantes do Vitória ou do Bahia. Um dia que entrou nos corações das pessoas que passavam pela região do Dique do Tororó durante pelo menos 50 anos e que agora já não vêem mais o estádio no horizonte. Episódio que pode representar o começo de uma transformação necessária para a cidade que será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e que precisa de muita infraestrutura, seja em termos de mobilidade urbana, no que diz respeito ao conforto de seus cidadãos que precisam de um lugar que já é prazeroso de se viver por suas belezas naturais, mas que necessita crescer impulsionado pelas ações humanas. Relembre o post sobre a implosão da Fonte Nova.

Para nós, do Conversa de Menina, foi um ano de consolidação de uma ideia que brotou de duas cabeças brilhantes (Alane e Andreia) e se mostrou vitoriosa. Foram 12 meses de trabalho honesto, troca de ideias, maior aproximação com os leitores e de fortalecimento da credibilidade conquistada com o aval dos nossos leitores. Fazer os posts do blog é um exercício diário de reflexão, de tolerância, de entendimento e de compartilhamento das opiniões dos outros e é nisso que acreditamos a cada dia.

A despeito de todas as mazelas vividas em 2010, o ano não foi somente de coisas ruins, afinal, cada pessoa passou por apertos, mas também experimentou conquistas pessoais que valem muito e cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, com o perdão do clichê. Nossa cidade nos ofertou com seu clima, com as pessoas, sempre agradáveis e dispostas a fazer contato com o outro e donas de um humor inigualável. Morar em Salvador, na Bahia, é bom demais e para nós três, soteropolitanas que somos, compartilhar nossas ideias, visão de mundo, cultura e opiniões é mais do que recompensador. Feliz Ano Novo para todos vocês, leitores e leitoras do Conversa de Menina! Que 2011 venha cheio de coisas boas e que a gente possa seguir sempre em frente em busca do que é melhor para nossas vidas, em todos os aspectos. Até o ano que vem!

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Por que mulheres acham que Eliza mereceu morrer?

*Texto da jornalista Giovanna Castro

Já não aguento mais ouvir os desdobramentos diários na mídia sobre o caso do sumiço da moça Eliza Samudio, que teria sido assassinada com requintes de crueldade pelo ex-goleiro do Flamengo, Bruno, e seus “comparsas”, até onde se sabe a partir da divulgação pela polícia dos depoimentos dos envolvidos. Os fatos que andam surgindo, é bem possível que vocês saibam, ainda que em partes, até porque está sendo praticamente impossível não tomar conhecimento dos detalhes sórdidos da história. O que talvez nem todos tenham prestado atenção, até porque esta reflexão não entra compulsoriamente dentro da casa de cada um pela TV ou pelo rádio, ou pela internet, é o tipo de conversa que vem sendo suscitada nas mesas de restaurante, de bar, nas escolas, residências e ambientes de trabalho, especialmente partindo de mulheres.

O que tenho ouvido me faz ainda mais incrédula em relação à queda das ocorrências de casos de violência contra o sexo feminino. É óbvio que a violência contra as mulheres sempre foi grande e escondida em quatro paredes das residências mais pobres e também das mais abastadas, mas o número de casos segue aumentando e vem sendo descrito pela imprensa em sua cobertura diária.

Eliza Samudio morreu porque ousou exigir seus direitos?

Diante destes fatos, é inadmissível ouvir mulheres reforçando o machismo que envolve este caso, a ponto de justificar o acontecido com argumentos que muitas delas consideram irrefutáveis. Você já deve ter ouvido: ela era garota de programa, fez filmes pornôs, era maria chuteira, transou com o time inteiro do São Paulo, exigia direitos do ex-goleiro, queria lucrar com o golpe da barriga, participava de orgias, ou seja, era mulher “ruim”, “vagabunda”, daquelas em quem não se pode confiar de jeito nenhum e que “mereceu” o que lhe aconteceu. “Jogador de futebol é otário, porque sabe que essas mulheres querem mesmo engravidar e transam sem camisinha, querem mais o quê?”. Essa última, você com certeza já ouviu milhões de vezes.

O estilo de vida de Eliza parece ser condizente com sua história de vida. Não dá pra justificar seus atos pelo fato de ter sido abandonada pela mãe ainda bebê. É claro que cada um faz as suas escolhas na vida e ela poderia ter escolhido outro rumo, que talvez lhe desse outros resultados e outra forma de ver o mundo, mas ela escolheu sobreviver da forma que achou que poderia. Ela lançou mão dos atributos físicos que tinha. Você vai me dizer que algumas modelos e atrizes globais não fazem o mesmo quando posam nuas na Playboy? Qual a diferença então? É porque elas conseguiram romper a barreira do submundo e passaram a aparecer na televisão? A tela da TV anula tudo?

Eliza foi assassinada. Foi vítima de um pensamento machista e psicopata que, por se acreditar acima do bem e do mal, resolve seus “problemas” com violência e força bruta. Em mais uma dessas enigmáticas histórias que o destino nos prega, Bruno também foi abandonado pelos pais ainda bem pequeno. Mas, como ouvi em um programa de TV por esses dias, o fato de ter mais um filho – ele tem duas filhas do casamento com Dayane, que aparentemente também está envolvida no assassinato – poderia ter sido aproveitado como uma forma de se colocar frente a frente com sua própria trajetória de vida que, até ser descoberto o crime, era de superação – afinal de contas, não é qualquer um que sai da miséria para chegar ao auge do esporte numa cobiçada posição no clube de futebol mais importante do Brasil, o de maior torcida, pelo menos.

Bruno é o machão que resolve tudo na base da violência e da força bruta

As mulheres que criticam Eliza e desfiam justificativas para ela ter “merecido morrer” reforçam o conceito machista de que homem pode fazer tudo e mulher não pode fazer nada. Mulher não pode agir, não tem posição ativa na vida. É a que está à mercê das decisões do homem e não pode contrariar os desejos do macho. É a mesma visão dos pais que soltam os filhos para fazer o que quiserem com as filhas dos outros, mas ensinam as meninas deles a ficar dentro de casa se comportando como boas moças.

Mulher não pode atuar no trabalho, não pode agir com assertividade “ai, que mulher masculinizada…”. Qual o problema de a mulher ter um perfil incisivo, de força, de afirmação de posição, de superioridade? Qual o problema de ela chefiar, de ela decidir ter um filho de alguém, independente das motivações, até porque é ela mesma que vai arcar com as consequencias das suas escolhas? Qual o problema da mulher querer ser? Porque os homens não querem deixar e as mulheres também criticam as que querem?

Em pleno século XXI, a mulher continua sendo tratada como acessório. No meu ponto de vista, a mulher tem muita força interna, é a mulher que gera a vida, ainda hoje, por mais que alguns homens comecem a se inserir na vida doméstica, é a mulher que decide a educação das crianças, é a mulher que define os rumos da família, é ela que resolve quase tudo. Mas, por outro lado, a mulher se sabota. Muitas sabem do potencial que têm dentro de si, mas preferem ficar à sombra do homem porque seria mais seguro e socialmente aceitável continuar sendo marginal. Em tempos de Marina Silva e Dilma Roussef pleiteando o maior cargo do país, a presidência da República, temos que refletir cada vez mais sobre essa esquizofrenia. Porque a mulher tem medo de ser mulher e de se descolar do homem a que foi ensinada a se vincular desde cedo como se não tivesse força de se manter com as próprias pernas e pensamentos? Que mulher você quer ser?

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Um tapinha dói mais do que a gente pensa

PalmadasRecebemos um material elaborado pela equipe da ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) sobre castigos físicos e os danos psicológico e morais na infância e adolescência. Deixar de bater em um filho porém, não significa que vamos deixar de dar-lhe limites e de, em certos momentos necessários, usarmos nossa autoridade de pais e mães para recusar alguma coisa que sabemos que naquele momento não é adequado para nossos filhos. Existem outras formas de educar que são muito eficazes e que passam longe de puxões de orelha e surras. No contexto de sociedade em que nossos avós viviam e bem antes deles, a palmatória na escola e o cinto de fivela em casa eram a norma. Ouço muita gente dizendo que naquela época os índices de criminalidade e uso de drogas eram bem menores. No entanto, não era por causa das surras nas crianças, era por todo um conjunto de fatores sociais, incluindo o tamanho da população mundial, bem menor, a quase ausência de vida urbana, resquícios de regimes autoritários que iam do colonialismo às ditaduras do começo do século XX e outras variáveis. Não significa que a violência não existisse. Existia sim, em larga escala, como hoje, contra mulheres e crianças. A diferença é que naquela época, era legitimada pelo patriarcalismo. O que não quer dizer que não estivesse errado. Mas a sociedade evoluiu e é preciso que saibamos lidar com nossos problemas, incluindo a educação infanto-juvenil, de uma forma menos bárbara que antigamente. Do contrário, a ideia de civilização cai por terra. Dizer NÃO para uma criança é uma das formas eficazes de educar, mas sempre dizer um não contextualizado, para fazer a criança entender porque não pode isso ou aquilo. O que vejo por aí são muitos pais que abominam a palmada, mas também não conseguem controlar os próprios filhos, criando verdadeiros “monstrinhos”, pequenos ditadores que desconhecem o respeito ao próximo. Vale a pena ler a reportagem da ANDI e acessar os links indicados pela Agência. Mas vale também refletir sobre o que de fato estamos fazendo para educar as futuras gerações.

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**Castigos físicos, mesmo com caráter “educativo”, causam danos à saúde de crianças e adolescentes

Estudos demonstram que crianças expostas à violência doméstica podem acabar se transformando também em agressores

A linha que separa o castigo corporal autorizado do maltrato infantil é muito tênue

Castigos podem gerar problemas de saúde mental e comportamento anti-social

O castigo físico contra a criança e o adolescente dentro do próprio lar é uma das formas mais comuns de violência familiar cometida no Brasil e no mundo, praticada há tempos e socialmente aceita como método corretivo pela maioria dos pais. Para muitos, dar uma palmada ou puxar a orelha dos filhos quando se comportam mal, entre outras formas de castigo corporal, é uma maneira eficaz de educá-los, contribuindo para o controle e a disciplina.

palmadas 2Segundo o relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) lançado em agosto deste ano, somente 24 países proíbem os castigos físicos legalmente, e destes, apenas três são membros da Organização dos Estados Americanos (OEA): Uruguai, Venezuela e Costa Rica. Por outro lado, países como Peru, Brasil, Canadá e Nicarágua apresentaram recentemente iniciativas legislativas para proibir o castigo corporal contra as pessoas com menos de 18 anos. Em seu documento, a CIDH pede que os Estados proíbam toda forma de violência contra a infância e adolescência e solicita políticas públicas que enfoquem integralmente os direitos da criança. Estabelece, ainda, que até 2011, os países formalizem mecanismos de prevenção contra a violência infantil, incluindo medidas que possibilitem aos meninos e meninas denunciar maus tratos e, principalmente, serem ouvidos.

O relatório Mundial sobre a Violência e a Saúde (2002) e o Relatório sobre a Violência contra as Crianças, produzido pelo especialista Paulo Sérgio Pinheiro em 2006 para a ONU, conceituam a violência como o uso deliberado da força física ou do poder contra uma criança por uma pessoa ou por um grupo, seja por uma ameaça ou de forma efetiva, que cause ou tenha muitas probabilidades de causar prejuízo efetivo ou potencial à saúde dessa criança, à sua sobrevivência, seu desenvolvimento ou sua dignidade. Uma grande proporção de crianças e adolescentes em todo o mundo sofre significativa violência em seus lares. O estudo afirma, ainda, que grande parte da violência exercida contra o público infanto-juvenil permanece, por muitas causas, acobertada, dificultando a aplicação da justiça. Uma das razões para isso é o medo: muitas crianças têm temor de denunciar os episódios de violência que sofrem. Em outros casos, pais e mães, que deveriam proteger seus filhos, também por medo preferem o silêncio, principalmente se o responsável pela violência é o cônjuge ou algum membro da família.

palmadas 3A aceitação social da violência é um fator fundamental. Tanto as jovens vítimas quanto os agressores podem aceitar a violência física, sexual e psicológica como algo inevitável. E a disciplina cumprida mediante castigos físicos e humilhantes, intimidação e abuso sexual, com frequência é percebida como algo normal, especialmente quando não produz danos físicos “visíveis” ou imediatos.

Na publicação Situação Mundial da Infância 2007, o Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef aponta que, todos os anos, 275 milhões de meninos e meninas de todo mundo sofrem violência doméstica e padecem das consequências de uma turbulenta vida familiar. No próprio lar podem ser identificados diferentes tipos de violência como a física, gerada ao se aplicar castigos corporais; a verbal e psicológica, manifestada por palavras ofensivas, xingamentos, humilhações, gritos e insultos; e a violência sexual contra crianças e adolescentes, que consiste em praticar condutas sexuais seja por ameaças, agressão física ou chantagem emocional.

Mesmo que meninos e meninas não sejam o alvo imediato da violência familiar, as consequências para seu desenvolvimento futuro são grandes e graves. Estudos demonstram que algumas crianças que foram expostas à violência doméstica acabaram se transformando também em agressores, perpetuando o círculo vicioso durante gerações. Pesquisas realizadas em alguns dos principais países em desenvolvimento – como China, Colômbia, Egito, Filipinas, Índia, México e África do Sul – indicam que existe uma notável correlação entre a violência contra as mulheres e a violência contra a infância.

Já na maioria dos países da América Latina, segundo a organização Save the Children Suécia, a magnitude do problema do maltrato infantil não está suficientemente visível. As estatísticas que descrevem a violência física contra meninos e meninas correspondem a fontes de informação parciais, uma vez que em nenhum desses países existem dados oficiais centralizados que quantifiquem as diferentes intervenções de instituições públicas e privadas que cuidam das vítimas infanto-juvenis.

Lesões Físicas e Psicológicas – A eficácia do castigo físico diminui com o tempo e o grau de severidade tem que ser aumentado sistematicamente. O castigo corporal contra crianças e adolescentes pode lhes causar não só lesões, mas danos permanentes e até levá-los à morte. Atitudes extremas como essas constituem o maltrato infantil, forma distinta de castigo físico. Nos Estados Unidos, uma revisão de 66 casos de maltrato infantil concluiu que tanto o abuso quanto o maltrato ocorrem na maioria das vezes como “uma extensão de ações disciplinares que, em algum momento, e aos poucos, cruzam a linha que separa o castigo corporal autorizado do maltrato infantil não autorizado”.

O relatório mundial sobre Violência e Saúde da Organização Pan-americana de Saúde, divulgado em 2003, investigou provas de que enfermidades importantes da idade adulta – entre elas a cardiopatia isquêmica, o câncer, doença pulmonar crônica, a síndrome do intestino irritável e a fibromialgia – podem estar relacionadas com experiências de maltrato durante a infância. Em casos extremos, apanhar quando pequeno pode trazer, ainda, consequências mais graves para a saúde, como transtornos psiquiátricos e comportamento suicida.

De acordo com uma investigação feita pelo professor Murray Straus, da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, meninos e meninas castigados fisicamente apresentam, depois de quatro anos, um coeficiente intelectual baixo em comparação com os que nada sofreram. No grupo mais jovem, as crianças que não apanharam apresentaram 4 pontos a mais em seu coeficiente de inteligência do que as crianças que foram castigadas fisicamente. No grupo de crianças entre os 5 e 9 anos de idade, aqueles que não apanharam tiveram 2.8 pontos a mais em seu coeficiente intelectual que do os que sofreram castigos físicos, depois de quatro anos.

violencia criançaJá um informe elaborado por profissionais da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, destacou que o castigo físico põe em risco as crianças, gerando problemas de saúde mental e comportamento anti-social. Os castigos corporais não melhoram a conduta dos pequenos, como se pensa. Ao contrário disso, as vítimas tendem a perder a concentração nos estudos e aumentam suas possibilidades de se tornarem pessoas agressivas, competidoras e com predisposição a desenvolver, no futuro, relações violentas.

Segundo Márcia Oliveira, oficial de Programa para a América Latina e o Caribe da Save the Children Suécia, a temática dos castigos físicos no Brasil já foi vista com muita resistência. Mas foi a partir de 2005 que começou a surgir adesão de alguns grupos locais, provavelmente como reflexo do movimento internacional que estava sendo configurado. “A violência punitiva no Brasil começou com os escravos, depois com a mulher. A mulher lutou muito contra isso e nem em relacionamentos é mais permitido qualquer tipo de agressão, principalmente depois da lei Maria da Penha. Até com os animais é proibido o uso de violência, nos circos existe todo um cuidado, uma cobrança. Só com as crianças que a violência física continua sendo permitida. Temos que pular esta etapa de igual forma, ainda mais quando o que sustenta esta prática é o mito da validade do castigo com fins de educação”, defende.

Márcia lembra que muitas pessoas não percebem os castigos físicos e humilhantes como uma forma de violência. E é essa violência que pode, em alguns casos, levar a criança para a rua. “Não é tanto a questão da pobreza, mas é a violência que leva a criança e o adolescente para a exploração sexual, para as drogas, para a prática do bullying. Não é uma causa única, mas contribui para o processo. Uma criança ou um jovem que pratica o bullying contra os colegas, por exemplo, normalmente está refletindo o que vive em casa, propagando a violência para o ambiente escolar”, aponta. “Se há presença da violência no espaço de maior proteção da criança, que é a família, imagina nos outros espaços”, lamenta Márcia.

Saiba mais:

>>Relatório sobre o Castigo Corporal e os Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2009 – Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) (em espanhol)

>> Situação Mundial da Infância 2007 – Unicef (em PDF)

>>Abuso Sexual Infantil e Exploração Sexual Comercial Infantil na América Latina e no Caribe 2006 – Save the Children Suécia (em espanhol)

>>Rede Não Bata, Eduque

>>Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância

**Material encaminhado ao blog via email pela assessoria de comunicação da ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância)

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Direito sem mistério: furto x roubo

O Conversa de Menina inaugura uma nova série a partir de hoje. Direito sem mistério vai abrigar pequenos comentários sobre algumas dúvidas frequentes relacionadas às ciências jurídicas. A ideia aqui, a princípio, é apenas delimitar alguns conceitos que caem no gosto popular, mas que nem sempre coincidem com a realidade do conceito. Daí que muitos meios de comunicação acabam reproduzindo os conceitos erroneamente, eles vazam na internet na dimensão errada, e vamos mantendo essa multiplicação equivocada do conhecimento.

Como há muito disso no direito, decidimos abrir esta categoria. E vamos precisar bastante da contribuição de vocês, leitores, com sugestões do que podemos tratar nesta seção. Basta mandar a sugestão para o e-mail [email protected] e incluiremos um post esclarecendo a dúvida e, quando possível, indicando bibliografia interessante para os mais curiosos. Claro que temos ideias de ampliar esse debate. Mas vamos começar com calma… aos poucos trazemos as novidades.

Direito penalFurto x roubo – Para inaugurar a categoria, vamos esclarecer a diferença entre as expressões “furto” e “roubo”. Muitos usam-nas como sinônimos, outros usam uma em lugar da outra, mas o código penal (CP), que é a legislação básica do direito penal brasileiro, traz a distinção ao tratar as duas condutas humanas de forma diferente, embora estejam ambas no capítulo dos crimes contra o patrimônio.  O furto está previsto no artigo 155 do CP, com a seguinte descrição: “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Em outras palavras, significa pegar alguma coisa de outrem, com a intenção de ficar com ela ou de dá-la a alguém. Coisa, para o direito, é um objeto material, corpóreo, que tenha valor afetivo ou de uso para o dono. Alheia quer dizer que aquela coisa deve pertencer ao patrimônio de terceiro (se o indívuo pega uma pedra na rua, ou recolhe aquele armário abandonado pelo dono, isso não é furto). Móvel dá a noção de que aquela coisa pode ser levada para além da vigilância do lesado, pode ser deslocada (não existe furto de uma casa, por exemplo, porque é imóvel).

O roubo, por sua vez, está tipificado no artigo 157 do CP, que diz: “subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”. Os conceitos básicos a gente já viu lá em cima. O que vale aqui é trazer a grande diferença entre os dois crimes. No roubo, existe a ação típica do furto, que é a subtração da coisa alheia móvel, só que com um diferencial: o constrangimento ilegal, que pode ser traduzido na violência, na grave ameaça (que é quando o autor do crime promete fazer um mal ao indivíduo, caso ele não entregue a coisa), ou em qualquer forma de redução da capacidade de resistência do indivíduo lesado. O roubo, assim, traz um dano para a integridade da pessoa, física ou moral. Resumindo, se alguém pegou a coisa que te pertence e você nem viu, é furto. Se alguém colocou uma arma, fez alguma ameaça para você entregar a coisa, é roubo. Daí porque o roubo tem pena mais dura que o furto. Quem pratica furto pode pegar de 1 a 4 anos, e multa. Quem pratica o roubo pode pegar a pena de 4 a 10 anos, e multa.

Claro que tem uma série de outras especificidades, que vai qualificar o furto e o roubo, que podem aumentar ou diminuir a pena. Mas aqui a proposta não é entrar nestes pormenores. Apenas clarear conceitos que estão no nosso cotidiano. Caso tenha ficado alguma dúvida, comenta no post, que tentaremos esclarecer. Sobre a bibliografia, aqui serve qualquer manual básico de direito penal que trate dos crimes contra o patrimônio. Os autores que recomendo: Luiz Régis Prado, Damásio de Jesus, Rogério Greco, Cezar Roberto Bitencourt.

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Mulheres de Salvador se mobilizam contra violência

Cerca de 700 moradoras de comunidades de Salvador que sofrem com os altos índices de violência irão atuar em prol do Programa Território da Paz, lançado nesta quarta-feira, 29, na capital baiana, pelos governos federal e estadual. O Território da Paz faz parte do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Salvador é a oitava capital do país a receber o projeto.

Dentre as ações do programa para combater a violência, está o Projeto Mulheres da Paz, capitaneado pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes), e no qual atuarão 700 moradoras de comunidades vulneráveis da Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Todas terão como desafio ajudar na prevenção e enfrentamento às violências que envolvem crianças e jovens em risco social. As mulheres serão capacitadas sobre a rede socioassistencial, relações sociais, direitos humanos, cidadania e mediação de conflitos. Serão treinadas para serem um dos principais grupos sociais coadjuvantes do Pronasci, programa que defende a participação social e a prevenção como caminhos para a redução da violência no país.

O Território da Paz prevê também o pagamento de uma bolsa auxilio no valor de R$ 190 para as integrantes do grupo, durante um ano.

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O que estão fazendo com nossas crianças?

Crianças detidas no AfeganistãoHá alguns dias assisti à matéria veiculada no Repórter Record, sobre prisões de crianças pelo mundo. É revoltante. É revoltante a forma como o poder público lida com nossas crianças. São tratadas como animais, são treinadas para tornarem-se verdadeiros monstros sociais. A prisão de menor é proibida por lei. Mas, mandados para reformatórios, acabam em prisões tão cruéis quanto aquelas para as quais são encaminhados adultos criminosos.

Será que ninguém enxerga isso? É mesmo mais fácil tapar os olhos, ignorar o que acontece à nossa volta. Mas, esquecem-se nossos governantes, que ali está o futuro. Que aquelas crianças serão resultado do que estamos fazendo com elas hoje. Criança detidaA vulnerabilidade dos pequenos é protegida por lei. O Estatuto da Criança e do Adolescente reconhece esta vulnerabilidade. O problema é que as leis acabam transformando-se em verdadeiras piadas.

Ontem, em uma propaganda na televisão, li uma frase interessante. Dizia que em um mundo de honestos a lei é desnecessária, e em um mundo de corruptos a lei é inútil. Isso reflete bem a nossa sociedade. Tenho me indignado muito nos últimos tempos. É revoltante assistir aos casos de violência contra a mulher, contra a criança, contra o idoso. É revoltante como são tratadas estas pessoas. São seres humanos, mas cadê o respeito?

Na reportagem de televisão que deu início a este post, as crianças são autoras de crimes. Mundo afora, elas roubaram para arranjar comida para a irmã pequena faminta e o avô que, doente, não pode trabalhar. Elas fumaram craque, injetaram heroína, cheiraram cocaína. Largadas nas ruas, se abraçaram no vício das drogas e foram presas porque entraram nesse mundo. Mas quem é mesmo o grande responsável por esses crimes?

Assista ao programa do Repórter Record exibido em 21/06

Eu não consigo conceber que uma criança tenha discernimento e noção das consequências de suas atitudes. Não aceito a ideia de que são elas responsáveis pelos próprios atos. Essa vulnerabilidade é ainda maior nos países subdesenvolvidos, claro. Crianças presasNão há educação, e cidadania e direitos humanos são palavras que só existem no dicionário. Elas convivem com a falta de perspectivas, sem expectativas. Esperança? De quê?

Os adultos são reflexo da criação que tiveram quando crianças, são resultado do ambiente em que cresceram. Qualquer preocupação com o futuro precisa perpassar pelo cuidado com o desenvolvimento das nossas crianças. Elas serão as cabeças pensantes do amanhã. Serão elas as responsáveis pelo mundo que é jogado em suas costas. Mas se este mundo as trata com desprezo, com indiferença, o que esperar delas? E, mais uma vez, de quem é a culpa?

Crianças detidas em presídiosFico me perguntando o que pensar do futuro de uma nação na qual 90% das crianças de zero a três anos não frequentam creches. Ou em que 932 municípios foram identificados como áreas de exploração sexual de crianças. E ainda 1,9 milhão de crianças e adolescentes na faixa de 5 a 14 anos sofrem exploração de trabalho infantil. Isso é o Brasil, minha gente.

Em 2006, 60 mil adolescentes cumpriam medidas sócio-educativas. Já nos Estados Unidos, eram 2387 crianças em prisão perpétua em 2007. Um dos maiores centros de detenção de menores na terra do tio Sam, a prisão de Tallulah, tem 33 edifícios e abrigava entre suas paredes 620 rapazes entre os 11 e os 20 anos. Vocês acham, de coração, que estas medidas resolverão? Como será o futuro destas crianças, você consegue imaginar?

Crianças presasLugar de criança é na escola. Se quer ressocializar, dê educação, faça aquela criança acreditar que há possibilidades, que há esperança. Eduque, profissionalize, socialize, trate-a como criança. Não dá para imaginar um mundo melhor vendo nossas crianças serem destratadas, ignoradas, violentadas física e moralmente. Os centros que acolhem estas crianças que cometem infrações deveriam ter o condão de educar.

Do jeito que está não dá pra ter esperança de um mundo melhor. Esse post é pra abrir a discussão, é para fazer-nos refletir. Eles cometem crimes, estão nas ruas, entregam-se às drogas. Mas de quem é a responsabilidade? De quem é a culpa? Será que estas crianças têm autonomia? São capazes de gerir suas próprias vidas? Nós, adultos, caímos diante de tantas dificuldades, como exigir que estas crianças mantenham-se de pé?

Crianças detidasVamos parar pra pensar, gente. Diminuir a maioridade penal não vai resolver. Se é a educação que tranforma, como vamos alimentar a vontade de trancafiar nossas crianças entre as grades de uma prisão? Estes pequenos precisam da gente. Vamos pensar sobre isso, vamos brigar por um tratamento mais digno à nossas crianças. Elas são apenas crianças.

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Informe-se sobre o assunto:
>> Vulnerabilidades e fatores de risco na vida de crianças e adolescentes
>> Crianças e adolescentes no Brasil: a busca pela visibilidade
>> Não bata. Eduque. Campanha contra os castigos físicos e humilhantes
>> Dicas para ajudar na educação das crianças
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Violência contra crianças em foco

violencia contra criançaO Dia da Criança é só em outubro, mas o mês de junho tem importantes datas para a proteção dos direitos da infância. No próximo dia 04, é o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão. No dia 12, é o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil. Paralelo a essas duas datas, uma psicóloga brasileira acaba de lançar um livro em que discute o fenônemo de bullying nas escolas. Para quem não sabe o que é, bullying é a violência psicológica, geralmente praticada pelos próprios colegas, que perseguem, humilham, agridem verbalmente e às vezes até fisicamente, um outro coleguinha, praticando a intimidação, com consequências desastrosas para a autoestima da vítima.

Michael Moore discute a fixação americana por armas e o bullying nas escolas em Tiros em Columbine
Michael Moore discute a fixação americana por armas e o bullying nas escolas em Tiros em Columbine

A psicopedagoga Carmen de Paula escreveu o livro Bullying nas Escolas a partir de uma triste experiência pessoal. Seu filho foi vítima de violência por três anos. Muita gente já deve ter ouvido falar do fenômeno através de documentários sobre as escolas norte-americanas, onde o problema é recorrente, ou em reportagens que mostram desfechos trágicos para situações de maus-tratos, atitudes agressivas, intimidação, opressão e humilhação tanto entre crianças pequenas, quanto entre os jovens. Tiros em Columbine, o filme premiado de Michael Moore, que fala sobre um crime ocorrido em uma escola americana e cujas causas podem ter profunda ligação com o bullying, é um exemplo. Por trás das agressões, muitas vezes, esconde-se a intolerância, seja religiosa, segregação social, ou racismo, misoginia e homofobia.

bullyingO livro de Carmen define e descreve a incidência do bullying nas escolas de Ensino Fundamental e ajuda a identificar as ações necessárias para que pais e profissionais reajam com eficácia nesses casos.  A publicação foi baseada no trabalho de pós-graduação da autora. E o fenômeno é mais comum do que a gente pensa. Pesquisa realizada em 2008 em seis estados brasileiros aponta que 70% de 12 mil alunos consultados afirmaram ter sido vítimas de violência escolar. O problema é que tem gente que ainda acha que isso “é coisa de criança”. Por pensar assim, às vezes pais e professores demoram para identificar a ocorrência do fenômeno.

No livro, a autora alerta para alguns sintomas de que a criança está sendo vítima de agressão no ambiente escolar tais como falta de interesse de ir para a escola, nunca ser chamado para a casa de colegas, não convidar colegas para vir em casa, baixo rendimento, não querer falar da escola em casa, tristeza profunda, agressividade quando se fala da escola, complexo de inferioridade, chegar em casa com machucados e não contar o motivo.

Para ler e saber mais:

Bullying nas Escolas

Autora: Carmen de Paula

Editora: Pajú

Páginas: 95

Preço: R$20,00

Livros falam de outras formas de agressão

Aproveitando a proximidade do 4 de junho, Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão, a Edições SM lança alguns títulos que ajudam a conscientizar contra o problema.

Em Diferentes somos todos, a brasileira Alina Perlman retrata a exclusão social, a qual também pode ser considerada uma forma de violência. O livro conta a história de Carminha, que ganha uma bolsa de estudos para frequentar uma escola de pessoas mais ricas. Mas se sente excluída, pois mora na periferia. Esse sentimento irá mudar quando encontra Laura e descobre que tem algo em comum com a amiga: ambas têm irmãos com Síndrome de Down. Juntas, elas resolvem batalhar pela inclusão das crianças e resgatam valores importantes como companheirismo e respeito pelos outros.

Com linguagem poética e ilustrações delicadas que revelam o abismo entre os sonhos da infância e a violência das guerras, Nenhum peixe aonde ir, da canadense Marie-Francine Hébert, conta a história de uma menina e de sua família, que são obrigados a fugir de casa num dia ensolarado. Pode o inimigo ser alguém de quem gostamos? O que levar quando é preciso fugir? Deixar para trás o peixe a quem se prometeu o mais belo universo? A leitura é indicada para crianças a partir dos 10 anos e ajuda a entender os conflitos que agitam muitas partes do mundo e que chegam para a maioria em cenas nos telejornais.

Meninas eram proibidas de frequentar a escola no Afeganistão dominado pelos radicais talibãs
Meninas eram proibidas de frequentar a escola no Afeganistão dominado pelos radicais talibãs

Nakusha, a indesejável: mulheres oprimidas na Ásia, da francesa Laurence Binet, é outra boa indicação. O livro traz dois depoimentos ficcionais sobre meninas que são perseguidas simplesmente por terem nascido mulheres. No primeiro, Nakusha vive na Índia como uma verdadeira escrava, submetida às vontades do pai. No segundo, Latifa, que vive no Afeganistão, vê sua liberdade roubada pela guerra civil e pelo fanatismo religioso.

Ja Crianças feridas: uma mina, uma vida amputada, da francesa Reine-Marguerite Bayle, traz dois relatos ficcionais sobre crianças que sofreram mutilações decorrentes de minas explosivas enterradas durante períodos de conflito armado. A primeira narrativa se passa no Camboja, Ásia, e a outra em Moçambique, África. Por meio dos relatos, a autora discute com sutileza um tema forte e atual: como a guerra continua destruindo vidas mesmo depois de encerrada.

Para saber mais sobre estes e outros títulos, visite o site da Edições SM

Campanha contra o trabalho infantil

trabalho infantilO Congresso Nacional lança nesta quarta, dia 03, a campanha “Com Educação nossas crianças aprendem a escrever um novo presente, sem trabalho infantil”. Encabeçada pelo Fórum Nacional de Proteção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI).

A iniciativa conta com o apoio da Agência de Notícia dos Direitos da Infância (ANDI), Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança, Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, Organização Internacional do Trabalho (OIT), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Plenarinho, da Câmara dos Deputados.

12 de Junho – Desde 2002, a Organização Internacional do Trabalho escolheu o 12 de junho como o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, data em que foi lido relatório sobre o tema na Conferência do Trabalho que ocorre anualmente em Genebra (Suíça). No Brasil, a data foi decretada como o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Infantil pela lei 11.542 de 2007, sancionada pelo presidente Lula.

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Voz para as mulheres

Neste começo de semana, duas notícias importantes para nós mulheres.

A partir de junho, o Governo Federal irá promover encontros de mulheres em sete cidades brasileiras com o objetivo de ouvi-las sobre segurança pública. A intenção é retirar as mulheres da condição apenas de vítimas da violência, direta ou indiretamente, e colocá-las no centro da discussão, aproveitando o olhar feminino sobre a sociedade para repensar o papel das policiais e as ações de combate a criminalidade e a violência.

Participarão das discussões grupos de 30 mulheres das mais variadas classes sociais e profissões, desde profissionais liberais como médicas, até prostitutas, operárias, donas de casa, comerciárias, trabalhadoras domésticas e ex-presidiárias. Os encontros acontecerão em Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Belém (PA) e Porto Alegre (RS). Os resultados das discussões serão levados para o I Encontro Nacional de Segurança Pública, em agosto, em Brasília.

Ouça reportagem completa sobre os debates aqui.

E por falar em trabalhadoras domésticas –  Nesta segunda, 27, é o Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas. Elas aproveitam a data para reinvindicar mudanças na Constituição de 1988. Segundo a carta magna, as domésticas não tem direito ao FGTS e por isso também não recebem a multa de 40% sobre o fundo de garantia, em caso de demissão sem justa causa. Não recebem também o salário família, hora extra, adicional noturno ou seguro desemprego. A Constituição reflete a ideia herdada da escravidão, de que trabalhador doméstico não é um prestador de serviço como os outros. Essa é a mesma lógica que faz com que as donas de casa sejam vistas como pessoas que não fazem nada de importante, que não tem profissão. No entanto, as domésticas prestam um serviço essencial, seja arrumando e limpando a casa, cozinhando ou ainda cuidando dos nossos filhos, gerenciando a nossa casa enquanto nós trabalhamos fora. É uma troca, um serviço, um vínculo de trabalho igualzinho aquele que temos nos nossos empregos e que deve ser estabelecido com o mesmo grau de compromisso e respeito, tanto pela doméstica quanto por seu empregador.

A Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas quer mudar o artigo da Constituição Federal que versa sobre os seus direitos, justamente para que o trabalho delas seja enquadrado na mesma legislação que garante os benefícios dos outros trabalhadores. É justo que a lei mude, porque já não vivemos numa sociedade escravista. Se já era um equivoco e uma arbitrariedade naqueles tempos da colonização, pois nada justifica a exploração da mão-de-obra de outro ser humano, imaginem agora, em pleno século XXI, deixar de reconhecer que as trabalhadoras domésticas são parte integrante da economia! Os direitos da categoria vem sendo conquistados em doses homeopáticas e numa velocidade muito menor do que os direitos de outras categorias, mas está na hora da legislação trabalhista evoluir e contemplar não só essa profissão quanto todas as outras que surgiram nos últimos anos devido aos processos de transformação social.

Leia reportagem sobre a reinvindicação das trabalhadoras domésticas aqui.

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Leia também:

>>Trabalhadores domésticos lutam contra exploração infantil e violência

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Assista o trailer de Domésticas, O filme:

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